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A Filosofia Marxista na URSS, Teses (TCC) de Filosofia

O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo analisar como os primeiros pensadores soviéticos da década de 1920 interpretaram a filosofia marxista, explicaremos de forma introdutória também o surgimento da palavra “materialismo dialético”, veremos que o materialismo dialético foi palco de grandes controvérsias logo nos primeiros anos de existência da URSS, e como essa controvérsia serviu para o desenvolvimento teórico do país. Essa analise não tem como finalidade a de investigar o momento político sócio econômico em que esses pensadores estavam inseridos, mas sim o conteúdo teórico-filosófico que eles apresentavam, quais eram as principais figuras da filosofia soviética, em quais grupos eles se identificavam, quais eram as suas influências, e principalmente, quais eram as suas divergências teóricas

Tipologia: Teses (TCC)

2023

Compartilhado em 13/06/2023

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Baixe A Filosofia Marxista na URSS e outras Teses (TCC) em PDF para Filosofia, somente na Docsity! UNIVERSIDADE PAULISTA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA CHARLES TEIXEIRA PINTO A FILOSOFIA MARXISTA NA PRIMEIRA DÉCADA DA URSS Os Mecanicistas, os Dialéticos e os Bolcheviques Caraguatatuba, SP 2023 CHARLES TEIXEIRA PINTO A FILOSOFIA MARXISTA NA PRIMEIRA DÉCADA DA URSS Os Mecanicistas, os Dialéticos e os Bolcheviques Trabalho de conclusão de curso para obtenção no título de graduação de licenciatura em filosofia à Universidade Paulista – Polo Caraguatatuba. Orientador: Renato Bulcão de Moraes ______________________________________ ABSTRACT In this final paper we aim to analyze how the first Soviet thinkers of the 1920s interpreted Marxist philosophy, we will also explain in an introductory way how the word “dialectical materialism” appears, we will see that dialectical materialism was at the scene of great controversies in the first years of the USSR's existence, and how this controversy served to its own theoretical development of the country, this analysis is not intended to investigate the socio-economic political moment in which these thinkers were inserted, but rather the theoretical-philosophical content they presented, who were the main figures of Soviet philosophy, in which groups they identified themselves, what were their influences, and mainly, what were their theoretical divergences. Key words: Marxist philosophy. Soviet philosophy. Dialectical Materialism. Marxism- leninism. Sumário INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 7 1. O MATERIALISMO DIALÉTICO, A FILOSOFIA OFICIAL E NÃO OFICIAL MARXISTA ............................................................................................................................... 8 1.1 CONCEITUANDO O TERMO ............................................................................ 8 1.2 UMA INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO CONCEITO ...................................... 8 1.3 O MATERIALISMO DIALÉTICO NA URSS .................................................... 9 2. A REVISTA “ПОД ЗНАМЕНЕМ МАРКСИЗМА” (SOBRE A BANDEIRA DO MARXISMO) ........................................................................................................................... 15 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DA REVISTA .............................. 15 3. OS DIALÉTICOS CONTRA OS MECANICISTAS ................................................ 19 3.1 OS MECANICISTAS ......................................................................................... 19 3.2 OS DIALÉTICOS ............................................................................................... 22 3.3 OS DIALÉTICOS SAEM VITORIOSOS .......................................................... 24 3.4 UMA PAZ TEMPORÁRIA E O SURGIMENTO DOS “BOLCHEVIQUES” . 25 4. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 28 7 INTRODUÇÃO O nascimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas causou um grande impacto no século passado, em sua longa existência a URSS foi palco dos principais acontecimentos políticos do século XX, junto a isso, mesmo com suas contradições internas, o país se desenvolveu de formas astronômicas e não apenas economicamente, mas culturalmente e intelectualmente também, por conta da sua existência e da sua força política internacional, a URSS transforma a “doutrina” marxista (principalmente aquilo que chamamos de marxismo- leninismo) no pensamento hegemônico do movimento operário internacional, esse pensamento contém uma teoria filosófica bem definida de “visão de mundo” e, apesar das várias correntes do pensamento marxista, o Materialismo Dialético é a principal interpretação que os marxistas e os não marxistas dão para aquilo que é chamado de a “filosofia de Marx” ou o “pensamento filosófico marxista”, dentro da URSS o materialismo dialético ganha status de “filosofia oficial de Estado”, isto é, um pensamento guia, fora da URSS, o conceito é palco de grandes debates ao longo de sua história, principalmente debates sobre a sua validade teórica de fato — Escola de Frankfurt, Sartre entre outros —, mesmo o conceito tendo um status de filosofia oficial de Estado dentro da União Soviética, a intelectualidade soviética não teve uma linha harmônica e contínua de pensamento sobre como o materialismo dialético deveria ser tratado, mas o contrário, foi palco de constantes debates que perpassou durante toda a história do país, desde a década de 1920 com as primeiras interpretações até a dissolução do país em 1991. 10 filosófica do partido marxista-leninista, criada por Marx e Engels e aperfeiçoada por Lenin e Stalin.” (ROSENTHAL e YUDIN, 1939, p. 201, tradução nossa) Julgo essa definição do materialismo dialético a mais correta para a análise do pensamento soviético, uma vez que estaremos analisando a filosofia soviética, nada mais justo que partir da fonte principal, da forma como os próprios soviéticos pensavam esse conceito. No entanto, creio que essa definição ainda não é satisfatória, pois esse livro é de 1939, e, mesmo sendo de pensadores soviéticos, essa definição representa o pensamento soviético do final da década de 1930 que durará até a metade da década de 1950 com a morte de Stalin, precisamos achar então uma definição do conceito para a década de 1920, precisamos ir mais a fundo, além do que os dicionários nos mostram. É no livro Tratado de Materialismo Histórico de Nikolai Bukharin, publicado em 1921 que encontramos a definição mais adequada para conceituar o materialismo dialético nos primeiros anos de existência da URSS, trata-se do segundo manual soviético que serviu para o estudo geral do pensamento marxista, o primeiro livro é o ABC do Comunismo de 1920, os 2 livros (que se complementam) foram encomendados pelo Comitê Central do partido Bolchevique, o primeiro livro sendo escrito por Bukharin e Evgeni Preobrajenski, e o segundo escrito apenas por Bukharin, esses dois livros foram criados com o intuito de uma formação política para novos quadros fora e dentro do partido bolchevique. No terceiro capítulo do livro Tratado de Materialismo Histórico, Bukharin se encarrega de conceituar o termo materialismo dialético, e é com esse livro que trabalharemos. Vemos que a primeira preocupação que se dá ao falarmos sobre o materialismo dialético é a afirmação de um princípio, e qual seria esse princípio? A da existência (matéria) sobre o ser (mente, espírito), o princípio do materialismo, isto é, de que a matéria é uma categoria inerente ao ser, à mente humana, de que o espírito/mente não é algo criador, mas algo criado, secundário, Bukharin afirma que: “Quando a terra não era ainda um planeta extinto, mas um globo incandescente, no gênero do nosso atual sol, não havia vida sobre ela, nem seres pensantes. Foi da natureza "morta" que se desenvolveu a natureza viva e foi da viva que saiu aquela que pensa. Existia, a princípio, uma matéria que não podia pensar, e dela se formou a natureza pensante: o homem. Se assim é — e as ciências naturais o provam, — está claro que foi a matéria que gerou o espírito e não o espírito a matéria.” (BUKHARIN, 1970, p. 55, grifo nosso) Partindo desse princípio, vemos que o nosso pensamento, nossa imaginação é uma manifestação complexa das formas da matéria, não é algo transcendente, não é algo divino, pode sim ser algo abstrato, mas esse algo abstrato vem da forma como nos relacionamos com a natureza (matéria), como Bukharin fala: 11 “Não sabemos com certeza se existem outros seres organizados de uma maneira superior, sobre outros planetas. Certamente que existem, pois que o número de planetas é infinito. Mas vemos claramente que o ser pensante que se chama homem nada tem de divino, de exterior ao mundo, e que ele não caiu na terra vindo de um mundo desconhecido, misterioso. Ao contrário, sabemos pelas ciências naturais que o homem é um produto da natureza, uma parte desta natureza submetida às leis gerais.” (BUKHARIN, 1970, p. 55) Isto é: “Em outros termos, a matéria existe objetivamente, independentemente do "espírito". Ao contrário, os fenômenos psíquicos, o pretendido espírito, não existe nunca e em parte alguma sem a matéria, independentemente dela. Os pensamentos não existem sem cérebro, os desejos sem o organismo que deseja. O "espírito" é sempre fortemente ligado à "matéria" (foi somente na Bíblia que ele planava por cima dos abismos). Em outras palavras, os fenômenos psíquicos, os fenômenos da consciência não são outra coisa senão uma qualidade da matéria organizada de outra maneira, sua "função" (a função de uma grandeza qualquer é uma outra grandeza que depende da primeira).” (BUKHARIN, 1970, p. 56) Mas o materialismo dialético não coloca o conceito filosófico de matéria apenas como princípio das coisas, do mundo, mas também em antagonismo com outras interpretações filosóficas do mundo e da história, em particular a corrente de pensamento do idealismo, o autor afirma que: “Não é difícil ver que o idealismo, isto é, a doutrina que considera as idéias, "o espírito", como base de tudo que existe, não é outra coisa senão uma forma amenizada das concepções religiosas. O sentido destas concepções religiosas consiste precisamente no fato de uma força divina e misteriosa estar colocada, acima da natureza, de que a força humana é considerada como uma faísca dessa força divina, e de que o homem é um ser eleito por Deus.” (BUKHARIN, 1970, p. 57) Importante notar que não podemos confundir aqui materialismo e idealismo no mundo da prática, mas sim suas concepções teóricas, o próprio Bukharin nos aleta sobre isso, explicando que: “É preciso não confundir "o idealismo prático" e o “materialismo” com o materialismo e idealismo teóricos. São coisas que nada têm de comum com as doutrinas que acabamos de analisar. Dá-se o nome de idealista, no sentido prático da palavra, a um homem dedicado a uma idéia e pronto a fazer todos os sacrifícios por ela. Está claro que um tal idealista pode ser o adversário mais encarniçado do idealismo filosófico, do idealismo teórico. Um comunista que sacrifica a sua vida é um idealista prático, e ao mesmo tempo materialista até a medula dos ossos. Um burguês que suspira pelo bom Deus tem habitualmente concepções muito idealistas, o que não impede de ser bastante covarde, obtuso e egoísta.” (BUKHARIN, 1970, p. 59) A ciência, o fazer a ciência, não está livre das concepções filosóficas idealistas do mundo, porém ao usarmos o materialismo como base filosófica de um certo método científico, chegaremos a resultados muito mais condizentes com o da realidade, o materialismo não tem apenas uma preocupação teórica, mas uma preocupação prática, ou seja, porque os homens fazem certa coisa? Quais são as suas causas? Qual seria o resultado de um certo fenômeno social? Bukharin chama essas relações sociais humanas de forças produtivas, isto é: “Em outros 12 termos, a vida espiritual da sociedade depende, e não pode deixar de depender, do estado da produção material, do grau de desenvolvimento das forças produtivas da sociedade.” (BUKHARIN, 1970, p. 63, grifo nosso). Uma outra preocupação muito importante ao conceituar o materialismo dialético, não é apenas a de afirmar o seu princípio mas também o seu movimento, a sua história, isto é, não é apenas matéria como princípio estático das coisas, um universal e a partir dele surgem variantes desse universal, mas afirmar o movimento dessa matéria, a sua dinâmica com os fenômenos, Bukharin nos mostra que: “O mundo não é mais do que matéria em movimento. Eis porque para se compreender um fenômeno, é preciso examiná-lo em sua origem (como, de onde e porque tem ele lugar), no seu desenvolvimento e no seu fim; em uma palavra, em movimento e não no decurso de um repouso imaginário. Esta concepção dinâmica se chama também dialética (a dialética tem ainda outros sinais característicos dos quais falaremos adiante).” (BUKHARIN, 1970, p. 67, grifo nosso) Essa dinâmica da matéria em movimento não é algo fora das relações sociais, ela está em constante relação com a natureza e com os homens e suas relações sociais, nunca como algo fora, mas junto, uma interdependência dos fenômeno, pois: “Do fato de estar o mundo constantemente em movimento resulta a necessidade de se examinarem os fenômenos nas suas relações mutuas e não como fenômenos absolutamente separados (isolados). Todas as partes do mundo são, na realidade, ligadas entre si e influem umas sobre as outras. Basta uma modificação mínima num lugar para que tudo mude.” (BUKHARIN, 1970, p. 68) Assim, a concepção de que tudo está em movimento e esse movimento não é separado entre natureza e humanidade, mas que, os dois se desenvolvem e se relacionam constantemente no decorrer da história, pode-se afirmar que o método dialético — método aqui extraído a partir da análise das relações dos fenômenos da natureza e da sociedade — exige um estudo de todos os fenômenos, primeiro das suas relações mútuas e indissolúveis e em seguida de seu movimento (BUKHARIN, 1970). Importante ainda mostrar que, por mais que esse método exige um estudo geral dos fenômenos da natureza e da história, ele não é um método com uma lei geral que explica toda a história, uma teoria “fechada”, ele tem sim concepções gerais sobre o movimento, porém cada período histórico, cada sociedade que existe ou deixou de existir teve suas leis particulares e essas leis precisam ser estudadas em suas particularidades, o próprio Bukharin fala pra tomarmos cuidado ao usarmos o método dialético, afirmando que: “Do fato de tudo se mover no mundo e de tudo estar ligado indissoluvelmente, decorrem certas consequências determinadas para as ciências sociais. [...] 15 2. A REVISTA “ПОД ЗНАМЕНЕМ МАРКСИЗМА” (SOBRE A BANDEIRA DO MARXISMO) 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DA REVISTA 1917 é o ano mais importante para a história do marxismo, após as consequentes falhas do governo tzarista na Primeira Guerra Mundial, Tzar Nicolau II cai, sendo substituído por um governo provisório de transição, porém esse governo não dura muito tempo, após a revolução de outubro o partido bolchevique chega ao poder, um ano após o estabelecimento dos bolcheviques no poder a Rússia entra em uma guerra interna causada por inimigos do partido (em particular o partido tzarista que visava a volta da monarquia russa no poder), com a ajuda desses inimigos internos a Rússia é invadida por várias potenciais mundiais na época, iniciando assim a chamada guerra civil russa, que começa em 1918 e acaba só em 1922 após a vitória definitiva dos bolcheviques.1 Após a tomada de poder e seu estabelecimento definitivo pós guerra civil, o partido vê a necessidade de criar escolas e universidades para a propagação ideológica do marxismo na Rússia, bem como uma revista filosófico-científica, revista essa que teria como foco a criação de artigos e resenhas/críticas de livros onde se discutiria filosofia, ciência e economia política o marxismo como base ideológica dessas discussões. Cria-se então em 1922 a revista Под знаменем марксизма (Pod Známeniem Marksizma, Sobre a Bandeira do Marxismo, tradução nossa), além de livros e jornais, é nessa revista que os principais intelectuais soviéticos vão discutir teorias marxistas e não marxistas, vão discutir novas ideias para a filosofia marxista bem como debater essas ideias, Trotsky é o primeiro convidado a publicar um artigo no primeiro volume dessa revista, por meio de uma carta Trotsky afirma que “A ideia da publicação de uma revista que introduzisse a juventude proletária de vanguarda à esfera da concepção materialista do mundo parece-me extremamente valiosa e fecunda.” (TROTSKY, 1922), ao falar da importância da criação dessa revista, Trotsky também fala sobre a importância do combate ideológico e teórico do materialismo marxista perante outras correntes do pensamento filosófico, bem como a importância da formação ideológica da juventude operária: “Por outro lado, justamente em tempos cruciais como esses, especialmente o nosso, se ele arrastar-se longamente, isto é, se o ritmo dos eventos revolucionários no Ocidente mostrar-se mais vagaroso do que o esperado, potencializam-se ao extremo as tentativas das diversas escolas e seitas filosóficas idealistas e semi-idealistas de apoderar-se da consciência da juventude operária. Pegas de surpresa pelos 1 Para uma melhor compreensão desse momento na Rússia, recomendamos a monumental obra em 14 volumes do historiador Edward Hallett Carr The History of Soviet Russia (História da Rússia Soviética, tradução nossa), onde os 3 primeiros volumes dessa coleção são focadas apenas na revolução e no período da guerra civil russa, para aqueles que não tem um conhecimento intermediário do idioma estrangeiro, recomendamos o livro de Charles Bettelhein A Luta de Classes na União Soviética – Primeiro Período (1917-1923). 16 acontecimentos – sem a rica experiência prévia da prática nas lutas de classe –, as mentes dos jovens operários podem mostrar-se indefesas às diversas doutrinas idealistas, que não são nada mais do que a tradução dos dogmas religiosos para uma linguagem pseudofilosófica. Todas essas escolas, apesar das diversas denominações idealistas, kantianas, empiriocriticistas e outras, no fim das contas convergem ao afirmar que a consciência, o pensamento, a cognição precede a matéria, e não o contrário. A missão da educação materialista da juventude operária consiste em revelar-lhe as leis fundamentais do desenvolvimento histórico, sendo a mais importante delas aquela segundo a qual a consciência humana não constitui um processo psicológico livre e independente, mas uma função da base material econômica, isto é, a ela serve e por ela é determinada.” (TROTSKY, 1922, p. 6, tradução nossa) A revista apesar de ter essa posição de antagonismo com outras correntes de pensamento, não foi criada com o intuito apenas de atacar, mas também de absorver teorias que não fizesse parte do escopo ideológico marxista, Lenin em seu artigo Sobre o Significado do Materialismo Militante comenta a importância de uma aliança entre os intelectuais comunistas e não-comunistas materialistas, pois: “Nesta declaração diz-se que nem todos aqueles que se agrupam em torno da revista Pod Známeniem Marksizma são comunistas, mas que todos são materialistas consequentes. Penso que esta aliança de comunistas com não comunistas é absolutamente necessária e determina acertadamente as tarefas da revista. Um dos maiores e mais perigosos erros dos comunistas (como em geral dos revolucionários que tenham realizado com êxito o começo duma grande revolução) é imaginarem que a revolução pode ser levada a cabo só pelos revolucionários. Pelo contrário, para o êxito de qualquer trabalho revolucionário sério, é necessário compreender e saber tornar realidade a ideia de que os revolucionários só podem desempenhar um papel como vanguarda da classe verdadeiramente vital e verdadeiramente avançada. A vanguarda só cumpre as suas tarefas de vanguarda quando sabe não se desligar da massa que dirige, mas fazer avançar realmente toda a massa. Sem a aliança com os não comunistas, nos mais diversos campos de atividade, não pode sequer falar-se de qualquer construção comunista eficaz. (LENIN, 1978, p. 191, tradução nossa) Um movimento filosófico importante com a qual Lenin defendia a sua propagação e ideário por meio da revista era a do ateísmo, em particular o ateísmo militante, Lenin afirma que: “Tal revista deve ser, em segundo lugar, um órgão do ateísmo militante. Temos departamentos ou, pelo menos, instituições estatais, que dirigem este trabalho. Mas dirigem este trabalho de um modo extremamente apático, extremamente insatisfatório, sofrendo pelos vistos a pressão das condições gerais do nosso burocratismo autenticamente russo (embora soviético). Por isso é extraordinariamente essencial que, complementando o trabalho das correspondentes instituições do Estado, corrigindo-o e animando-o, a revista que se consagra à tarefa de se tornar um órgão do materialismo militante conduza uma propaganda e uma luta ateístas infatigáveis. É necessário seguir atentamente toda a literatura respectiva em todas as línguas, traduzindo-a ou, pelo menos, resumindo tudo o que é minimamente valioso neste domínio. [...] A revista Pod Známeniem Marxiszma, que se propõe ser o órgão do materialismo militante, deve dedicar muito espaço para a propaganda ateísta, para a análise da literatura sobre o tema e corrigir as enormes falhas de nosso trabalho estatal nesse terreno.” (LENIN, 1978, p. 193-195) 17 Como Lenin previamente avisou, a importância da aliança entre os comunistas e os não- comunistas materialistas era mais do que necessário, pois: “Além da aliança com os materialistas consequentes que não pertencem ao partido comunista, não é menos importante, mas talvez ainda mais, para o trabalho que o materialismo militante deve realizar, a aliança com os representantes das ciências naturais modernas que tendam para o materialismo ou não receiem defendê-lo nem propagá-lo contra as vacilações filosóficas em voga para o lado do idealismo e do cepticismo dominantes na chamada “sociedade culta”. O artigo de A. Timiriázev sobre a teoria da relatividade de Einstein, publicado em Pod Známeniem Marxiszma, núm. 1-2, nos permita confiar que a revista logrará também êxito em realizar esta segunda aliança.” (LENIN, 1978, p. 196-197, tradução nossa) Lenin também fala sobre a importância da filosofia, em particular o estudo da dialética, o estudo da dialética hegeliana e como um materialista deve prestar atenção nos escritos de Hegel, Lenin afirma que: “Para que a nossa atitude sobre semelhante fenômeno seja politicamente consciente, devemos compreender que sem um sólido fundamento filosófico nenhuma ciência natural nem materialismo algum pode suporta a luta contra a ofensiva das ideais burguesas, contra a restauração da concepção burguesa do mundo. Para sustentar essa luta e levá-la com pleno êxito ao fim o naturalista deve ser um materialista moderno, partidário consciente do materialismo representado por Marx, isto é, deve ser um materialista dialético. Para atingir este fim, os colaboradores da revista Pod Známeniem Marksizma devem organizar o estudo sistemático da dialética de Hegel do ponto de vista materialista, ou seja, a dialética que Marx aplicou praticamente em O Capital e em seus trabalhos históricos e políticos [...] Naturalmente, este estudo, esta interpretação e difusão da dialética hegeliana é extremamente difícil, e os primeiros ensaios neste sentido estarão sem dúvida alguns acompanhados de erros. Mas só quem não faz nada não se engana. Com base no método que Marx aplicava a dialética de Hegel, concebida de maneira materialista, podemos e devemos desenvolver a dialética em todos os seus aspectos, publicar na revista extratos das principais obras de Hegel, interpretá-las de modo materialista, comentando-as com a ajuda de exemplos da aplicação da dialética por Marx e também com exemplos da dialética no domínio das relações económicas e políticas, exemplos que a história contemporânea, sobretudo a guerra imperialista e a revolução atuais, nos oferecem em quantidade extremamente abundante.” (LENIN, 1978, p 197-198, tradução e grifo nosso) O historiador americano Richard T. De George em seu livro Patterns of Soviet Thought (Padrões do Pensamento Soviético, tradução nossa), explica a situação filosófica na URSS em 1922 e o contexto em que a revista foi criada: “O sucesso da Revolução de Outubro na Rússia marca o começo de uma nova fase no pensamento Soviético. [...] Uma vez que a revolução foi um sucesso, a preocupação central da teoria perante o desenvolvimento na Rússia não poderia ser mais a da revolução; mas sim a da construção da sociedade comunista. Além disso, pela primeira vez na história de seu desenvolvimento, o Marxismo moveu para a universidade. Marx, Engels, e Lenin eram revolucionários, não acadêmicos, eles estavam preocupados com a teoria em prol da prática, não com a teoria em prol de si mesma. Depois da revolução, no entanto, o marxismo veio a substituir todas as demais filosofias: os marxistas substituíram a filosofia burguesa nas universidades, o jornal filosófico Pod Známeniem Marksizma (Sobre a Bandeira do Marxismo) foi estabelecido, o Instituto de Filosofia foi fundada, o trabalho técnico de produção de textos tinha começado, e a tradução de trabalhos de filósofos ocidentais foi 20 dialética atualmente poderia ser expresso em termos da mecânica. Nessa disputa eles acharam apoio de Bukharin em seu Materialismo Histórico, que, quando foi publicado em 1922, era geralmente considerado como a declaração mais avançada da teoria Marxista. Uma vitória no primeiro ponto colocaria a ciência empírica independente da filosofia oficial.” (BAUER, 1952, p. 24-25, tradução e grifo nosso) Vale lembrar que Bukharin apesar de não ter sido totalmente ativo nesse debate e nem de ter declarado algum tipo de apoio público aos mecanicistas, foi tido como mecanicista pois em seu manual Tratado de Materialismo Histórico, ao falar sobre método dialético, o mesmo afirma que: “Nós consideramos perfeitamente possível traduzir a linguagem “mística”, como chamou Marx, da dialética de Hegel, para a linguagem mecânica moderna. [...] Na hora atual, graças a teoria dos electrons e dos átomos considerados como sistemas inteiros, análogos ao sistema solar, não há mais razão para temer as definições mecânicas” (BUKHARIN, 1970, p. 80, grifo nosso) O historiador americano John Somerville em seu artigo Basic Trends in Soviet Philosophy (Tendências Básicas da Filosofia Soviética, tradução nossa) cita alguns nomes que foram famosos dessa escola de interpretação: “Uma figura em destaque deles era Timiryazevm, filho de um famoso psicólogo dos tempos tzaristas. Outras figura proeminente eram Timyanski, Axelrod, e Stepanov.” (SOMERVILLE, 1946, p. 250). Os mecanicista, por conta de suas interpretações positivistas da filosofia, viam a dialética como uma ferramenta teórica de “apoio” das ciências naturais, mas nunca como uma base, a dialética então era só uma forma diferente do método da mecânica clássica, Somerville cita um artigo de Stepanov na revista Pod Známeniem Marksizma de 1925 em que: “Stepanov categoricamente intitulava um de seus artigos como “O entendimento dialético da natureza É o entendimento Mecânico.” (SOMERVILLE, 1946, p. 250). Os mecanicistas então tinham uma atitude bem hostil à filosofia, colocando a ciência como a única área válida do conhecimento, sem a necessidade de nenhuma base filosófica, a dialética como método muitas vezes era rejeitada por conta da sua forte ligação com a tradição hegeliana, muitas vezes sendo substituída pelo método da mecânica clássica, além disso, os mecanicistas viam o conceito do movimento não como algo interno, com suas contradições próprias e sua interdependência mútua, mas sim vindo de forças externas, Wetter explica que: “Eles atribuíam todo o movimento à impulsos vindo de fora, e por conta disso abandonaram aquele atributo da matéria que os materialistas dialéticos consideravam como o mais essencial, nomeadamente a sua vivacidade interior, aquela espontaneidade da qual ele descreviam, em sua terminologia hegeliana, como a do “automovimento” da matéria (samodvizhnost’).” (WETTER, 1958, p. 140, tradução nossa) A. Emery em seu artigo de 1935 Dialectics versus Mechanics (Dialéticos versus Mecânicos, tradução nossa) explica o conceito de força da mecânica clássica, isto é, os objetos 21 materiais que existem no mundo não são processos, ou seja, o átomo no significado antigo da palavra é algo rígido e isolado, ele não tem nenhum atributo externo além da sua força. Cada átomo só pode exercer a sua força, isto é, em um espaço nós temos vários átomos separados, isolados, que podem exercer apenas as suas forças, ou seja, apenas forças de diferentes pontos e para diferentes direções. Com as descobertas da física moderna do átomo como um sistema complexo divisível e em movimento, ao ver que um átomo não é algo isolado, os físicos que tinham uma bagagem teórica newtoniana, passaram logo a procurar nesse sistema uma “última unidade”, um “princípio”, e a “força principal” que coloca esse sistema em equilíbrio (EMERY, 1935), isto é: “Se toda partícula material exerce uma força, as contradições só podem vir do externo. Então não temos uma contradição interna, unidade dos opostos, é conhecida na mecânica. Toda contradição que parece imanente é cortada em duas, exteriorizada em conflitos de forças corporificadas em diferentes partículas materiais. Esta é a herança mecânica de Newton.” (EMERY, 1935, p. 15, tradução e grifo nosso) Uma outra característica dos mecanicistas eram a suas posições políticas e sociais, Wetter nota que muitos deles eram a favor da teoria da espontaneidade, de que os fenômenos sociais acontecem de forma espontâneas e terão um mesmo resultado, ou seja, uma visão determinista e economicista da sociedade, para Wetter: “Nesse respeito os mecanicistas se posicionam com o determinismo dos primeiros marxistas russos” (WETTER, 1958, 142). Um ataque que veio dos mecanicista era a de diminuir a importância do estudo da história da filosofia e de figuras famosas da filosofia, Spinoza foi um exemplo, Somerville aponta isso em seu artigo ao afirmar que: “Assim como os mecanicistas tendiam a “minimizar” o estudo da história da filosofia como um todo, eles tendiam a menosprezar o papel dos filósofos clássicos e sua relação com o desenvolvimento do materialismo dialético. [...] Na discussão centrada em Spinoza, a questão principal dizia respeita ao significado de sua obra para as construções filosóficas do materialismo dialético. Os mecanicistas, em particular pessoas como Axelrod e Timyanski, estavam inclinados em simplificar o caso declarando Spinoza um idealista absoluto.” (SOMERVILLE, 1946, P. 254, tradução nossa) Como vimos, a forte hostilidade perante a importância da filosofia, à história da filosofia e de figuras clássicas filosóficas, bem como conceitos como o da dialética por conta de sua “tradição hegeliana”, a forte visão positivista de um ciência pura com seu método único e empirista, a interpretação sobre conceitos físicos como o movimento vindo de objetos externos e não a de um automovimento dialético e contraditório, a visão extremamente determinista da natureza e da sociedade, a defesa do método da mecânica clássica como o único método de interpretação da natureza — substituindo assim o método dialético — foram os principais traços teóricos da “escola” mecanicista. 22 3.2 OS DIALÉTICOS Apesar dos mecanicistas serem maioria nos primeiros anos da revista Pod Známeniem Marksizma, Sommerville nota que: “De fato foi possível que Stepanov escrevesse, em 1925, que existia manifestações de “duas tendências opostas no Marxismo”. No meu lado [os mecânicos] aparenta ser a maioria esmagadora... do outro lado, há um número muito pequeno” (SOMERVILLE, 1946, p. 251, tradução nossa) As suas posições não passaram batidas dentro da intelectualidade soviética, desde o começo, os seus ataques à filosofia causaram uma grande animosidade dentre professores universitários e filósofos, esses professores rapidamente se organizaram para protestar contra as posições dos mecanicistas, como Raymond A. Bauer nota: “Resistencia a esse ataque foi organizada entre grupos de filósofos liderado por A. M. Deborin na Academia Comunista, um órgão do Comitê Central do Partido. Uma Sociedade de Militantes Dialéticos Materialistas foi organizada, o apoio foi obtido de filósofos no Instituto Lenin, no Instituto Marx-Engels, e no Instituto dos Professores Vermelhos. Os Dialéticos, que originalmente eram quase exclusivamente de professores, treinaram os seus próprios cientistas, que então carregaram a luta contra os cientistas mecanicistas, oferecendo as teorias de Einstein e Heisenberg como um suporte para a suas posições.” (BAUER, 1952, p. 25, tradução e grifo nosso) Esses professores eram intitulados, como Bauer indica, de dialéticos, mas além desse termo eles eram também chamados de “Deborinistas”; deborinistas pois a principal figura desse grupo foi Abraham Moiseyevich Deborin (1881-1963), Deborin já era uma figura bem conhecida na intelectualidade soviética, filósofo marxista dos tempos do Império Russo, famoso por seus escritos sobre o materialismo dialético, Deborin era também uma figura muito relacionada com Plekhanov, o marxista responsável por popularizar as ideias de Marx e Engels na Rússia, Plekhanov inclusive prefaciou o livro de Deborin Введение в Философию диалектического материализма (Introdução à filosofia do Materialismo Dialético, tradução nossa) de 1916. Os dialéticos, totalmente descontentes com a posição dos mecanicistas saem em defesa da necessidade da filosofia marxista ser totalmente independente da ciência, acusam os mecanicistas de terem uma posição reacionária na ciência, principalmente com uma influência positivista. Na década de 1920 dois escritos de extrema importância são lançados, o livro Dialética da Natureza de Engels, e o artigo de Lenin Sobre a Questão da Dialética, Raymond A. Bauer nota que “A posição dos dialéticos recebeu apoio valioso em 1925 por publicações do Instituto Marx-Engels de dois importantes fragmentos, a Dialética da Natureza de Engels e alguns escritos dos cadernos filosóficos de Lenin.” (BAUER, 1952, p. 25, tradução nossa), a posição dos dialéticos era a de defesa da filosofia, de eliminar a compreensão positivista de hierarquia do saber, e de defender a importância da influências dos filósofos para o pensamento 25 Richard T. De George da mais detalhes do momento político dessa discussão, de acordo com ele: “Até 1929 os Deborinistas eram os vitoriosos da controvérsia. Deborin era até o momento o editor da Sobre a Bandeira do Marxismo, diretor do Instituto de Filosofia, e tinha controle sobre a seção de filosofia da Enciclopédia Soviética; seus seguidores tinham controle sobre a seção filosófica da Editora Pública Estatal.” (DE GEORGE, 1966, p. 182, tradução nossa) O historiador soviético Iovchuk em seu livro Historia de La Filosofía Tomo II, mostra com clareza a posição dos soviéticos perante a escola mecanicista, argumentando que “O mecanicismo foi uma manifestação particular da influência do positivismo na filosofia marxista” (IOVCHUK, 1978, p. 287, tradução nossa). Iovchuk nos mostra a resolução oficial da conferência de 1929: “Ao combater, com rigor, a filosofia do marxismo-leninismo, ao não compreender as bases da dialética materialista e ao sobrepujar praticamente a dialética materialista revolucionária por um evolucionismo vulgar e o materialismo pelo positivismo, ao colocar objetivamente a penetração da metodologia do materialismo dialético no terreno da ciência natural, etc.”, o mecanicismo “constitui um evidente abandono das posições filosóficas marxista-leninistas” (IOVCHUK, 1978, p. 288, tradução nossa) Os mecanicistas perdem toda a sua influência dentro das universidades, os dialéticos se tornam o pensamento guia da filosofia soviética e Deborin se torna então até o momento a principal figura filosófica da União Soviética. 3.4 UMA PAZ TEMPORÁRIA E O SURGIMENTO DOS “BOLCHEVIQUES” Com a posição deborinista estabelecida tem-se a ideia de uma pacificação interna do pensamento soviético, mas não por muito tempo, ainda em 1929, especificamente em 27 de dezembro de 1929 Stalin em seu discurso Sobre a Questão de Políticas Agrária na URSS demonstra seu descontentamento com a situação teórica na URSS: “Mas, embora tenhamos motivos para nos orgulhar dos sucessos práticos alcançados na construção socialista, o mesmo não se pode dizer de nossos trabalho teórico no campo econômico geral e no da agricultura em particular. Mais do que isso, é preciso admitir que o pensamento teórico não acompanha os nossos sucessos práticos e o desenvolvimento do pensamento teórico. No entanto, é essencial que o trabalho teórico não só acompanhe o trabalho prático, mas se mantenha à frente dele e sustente nossos trabalhadores em sua luta pela vitória do socialismo.” (STALIN, 2021 p. 445, grifo nosso) O discurso tinha um cunho geral, porém, como nota Hecker, a partir dele, um grupo de professores de filosofia do Instituto dos Professores Vermelhos encorajados por esse discurso chamam a atenção para uma necessária mudança radical na “frente filosófica” (HECKER, 1933), esses professores se auto intitulavam “Bolcheviques” e usando o discurso de Stalin como base a intenção era clara, atacar não só os mecanicistas mas também os deborinistas por seus erros teóricos, e quais erros eram? Hecker numera alguns como: não reconhecer Lenin e o 26 leninismo como uma etapa superior no desenvolvimento teórico do marxismo; formalismo teórico, ou seja, o não reconhecimento da dialética materialista como uma “arma” para entender o mundo e muda-lo, acusação de flerte com o trotskismo, bem como afirmar que Deborin e os dialéticos fizeram uma cópia da dialética hegeliana e não a interpretou de forma materialista como Marx; Engels e Lenin. (HECKER, 1933). Os deborinistas logo se prepararam para defender as suas posições, porém, os bolcheviques, diferente dos mecanicistas, eram tão bem organizados quando os deborinistas, e além disso, os bolcheviques também tinham figuras políticas públicas ao seu favor, ao se ancorarem no discurso de Stalin, que com seu prestigio político, que, na posição de Secretário Geral do Comitê Central do PCUS, a única certeza da filosofia deborinista é de que o futuro era incerto. 27 4. CONCLUSÃO Como vimos, o materialismo dialético dentro da União Soviética não foi uma linha contínua com uma pensamento guia único doutrinário, mesmo que o conceito tenha sido aceito por praticamente todos os pensadores soviéticos ele foi palco de vários debates e controvérsias, a bagagem pessoal desses pensadores e o meio social em que eles viveram tem um peso enorme na forma em como eles interpretaram a filosofia marxista, e isso serve pra toda e qualquer filosofia, a filosofia não é uma disciplina criada a parte da sociedade, mas ela é um produto dessa própria sociedade, a filosofia tem sim um papel importante no desenvolvimento humano, no contexto histórico e social, mas ela sempre anda junto com esse devir histórico, até mesmo como um pensamento guia, uma filosofia oficial de Estado que foi o caso do materialismo dialético na URSS, a própria filosofia soviética não foi algo criado fora do contexto social do país, advinda de “grupos burocráticos” criados de uma forma artificial, mas sim de uma constante luta interna com participação intensa de professores e pensadores para estabelecer uma ou outra escola de pensamento como a mais correta.
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