Baixe analise dos lusiadas e outras Resumos em PDF para Português (Gramática - Literatura), somente na Docsity! Época -
1524 (?) - 1580
Para melhor compreenderes a oposição da sociedade, dos valores e da cultura destas duas
épocas, observa o quadro.
Idade média
Renascimento
Estratificação social rígida:
m Ascensão social da burguesia.
NÍVEL SOCIAL Clero E Queda do prestígio do clero
Nobreza (reforma) e crise na igreja católica.
Povo |
NÍVEL ECONÓMICO |Economia agrária de tipo feudal E Economia mercantil.
m Certa independência do poder | m Centralização do poder real (cf.
NÍVEL POLÍTICO senhorial relativamente ao poder | Descobrimentos)
régio.
As características da epopeia:
* A epopeia é um género narrativo em verso;
* visa celebrar feitos grandiosos de heróis fora do comum reais ou lendários.;
* tem pois sempre um fundo histórico;
* é um género narrativo e que exige a presença de uma acção, desempenhada por
personagens num determinado tempo e espaço.
* O estilo é elevado e grandioso e possui uma estrutura própria, cujos principais aspectos
são:
PROPOSIÇÃO - em que o autor apresenta a matéria do poema;
Invocação — pedido de inspiração às musas ou outras divindades e entidades míticas
protectoras das artes;
DEDICATÓRIA - em que o autor dedica o poema a alguém, sendo esta facultativa;
NARRAÇÃO - a acção é narrada por ordem cronológica dos acontecimentos, mas inicia-se já
no decurso dos acontecimentos (“in medias res”), sendo a parte inicial narrada
posteriormente num processo de retrospectiva, “flash-back” ou “analepse”;
PRESENÇA DE MITOLOGIA GRECO-LATINA - contracenando heróis mitológicos e heróis humanos.
A narrativa organiza-se em Quatro planos:
Plano da viagem - A viagem de Vasco da Gama de Lisboa até à Índia.
Saída de Belém, paragem em Melinde e chegada a Calecut
Plano Mitológico, em alternância, ocupam uma posição importante.
Plano da História de Portugal —- Quando Vasco da Gama ou outro
narrador conta, por exemplo ao rei de Melinde, a História de Portugal.
Está encaixada na viagem.
Plano do Poeta — ou as considerações pessoais aparecem normalmente
nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a visão crítica do
poeta sobre o seu tempo.
A narrativa organiza-se de forma anacrónica:
Passado — reconto da História de Portugal desde as origens até D. Manuel |. (analepse)
Presente — tempo da acção central do poema, ou seja, da viagem de Vasco da Gama,
iniciada “ in media res”.
Futuro — Profecias . (prolepse)
» gu
Cabo Verde
NE tá FÃS mit >
dE, v
enterro Baia de Santal, e
Adamastor
enumeração
mbém as/memórias gloriosa
Conjunção
coordenativa
copulativa —
enumeração de
figuras a ser
exaltadas
12 pessoa do
singular —
envolvimento do
poeta
Gerúndio —
processo de
continuidade
E aqueles reis que estiveram
envolvidos na reconquista cristã
[nas cruzadas contra os
mouros/infiéis em África e na
Ásia
E aqueles que fazem obras com
valor e que, por isso, não cairão
no esquecimento — se vão
imortalizando
O sujeito poético compromete-
se a exaltar a louvar, a cantar os
feitos daqueles que enumerou
anteriormente. Usando a
primeira pessoa — plano do
poeta.
Herói de
Odisseia -
Ulisses
a”
Herói de
Eneida -
Eneias
Num tom imperativo, de ordem
As navegações grandes que fizeram; manda suspender/cessar a fama
dos gregos e romanos
Imperativo
de Alexandro e de Trajano
Manda suspender a fama das
vitórias de reis e imperadores
clássicos
A fama das vitórias que
Porque o poeta louva o povo
lusitano ao qual pertence.
Povo esse que dominou o mar
(Neptuno)e a guerra (Marte).
Conjunção /
subordinativa que a Musa antiga canta,
causal (= porque)
. Apresenta a ais alto se alevanta.
causa da
desvalorização
dos clássicos
Continua em tom imperativo,
ordenando que os clássicos
suspendam a sua fama, porque
agora há um novo povo que
apresenta feitos ainda mais
valerosos.
Neptuno — deus do mar
Marte — deus da guerra
1º pessoa do
singular —
envolvimento
Patriotismo,
valores
nacionais
do poeta
” Para demonstrar a superioridade e a legitimidade da realização desta epopeia, o
poeta compara os feitos dos Portugueses aos de Ulisses, herói da Odisseia de Homero e
aos de Eneias, o troiano que, na Eneida de Virgílio, chegou ao Lácio e fundou Roma, ou
seja compara o seu herói com os heróis das epopeias de referência.
Proposição
5 E OS BARÕES ASSINABADOS,
NTÃE PIRATA LUSITA
o ata ANDI Ca dA ND O A ADOS
Canto |, est. 1-3, : Ef
* Camões proclama ir cantar as grandes vitórias e os homens ilustres —
“as armas e os barões assinalados”;
*as conquistas e navegações no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. João Ill);
“as vitórias em África e na Ásia desde D. João a D. Manuel, que dilataram “a fé e o
império”;
* e, por último, todos aqueles que pelas suas obras valorosas “se vão da lei da morte
libertando”, todos aqueles que mereceram e merecem a “imortalidade” na memória
dos homens.
Funcionamento da língua
Identificação de orações subordinada SEaUSaIs / relativas
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandeslalefizeram
de Alexandro e de Trajano
A fama das vitória
[Que eu canto o peito lustre Lusitano)
e
Funcionamento da língua
Identificação de Conjugação perifrástica
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
E.
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando.
EE Ea
CU
no
Funcionamento da língua
Identificação de classes e subclasses de palavras
|
as pm JM Parse assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia Aforsahumana
E entre gentelr edificaram
Novo Reino,|queitanto sublimaram;
Em
Nome comum [o]
E EEE
= E
AS
E di o
[] Determinante artigo definido
Eltambém as memórias gloriosas
reis oram dilatando
A Fé, o Impéri as terras viciosas
D ERAS ancorar devastando;
E que obraslv
Se vão da lei da Morte libertan
Ii Pronome demonstrativo
=
RR Vs e
Invocação
Canto |, est. 4-5, o poeta pede ajuda a entidades mitológicas, chamadas musas. Isso
acontece várias vezes ao longo do poema, sempre que o autor precisa de inspiração:
Tágides ou ninfas do Tejo (Canto |, est. 4-5);
Calíope - musa da eloquência e da poesia épica (Canto Il, est. 1-2);
Ninfas do Tejo e do Mondego (Canto Vll, est. 78-87);
Calíope (Canto X, est. 8-9);
Calíope (Canto X, est. 145).
Auáfora - é uma figura de estilo
que consiste em repetir a
Invocação estrófes 4-5 póstrof É
Eai
fégidefminhas p ois criado
fTiOvO engenho ardente
Dai-me Aghra m som alto e sublirrade
Cet ide díloco e corrente,
Por quê de vossas aguas Febo ordene
Que nãq teNnham enveja às de Hipocre
Daire he
(adpeste avena O
Mas deftubá canora e
que Geo Acende as
(Dame Jpnareqnto dos FeRos da famose
iara
Que se &spalie ETIO Universo
à preço cabe em verso.
Conjunção
subordinativa
condicional
Q Imperativo
Rate
Metáfora -
Rar Cora enA
Invogár significa apelar, pedir, suplicar.
Déi a presença do Imperativo.
Nestas estrofes, Camões dirige-se às
Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-lhes
que o ajudem a cantar os feitos dos
portugueses de uma forma sublime.
Até aí apenas usou a inspiração na
humilde lírica, mas agora precisa de
uma inspiração superior.
portugueses
O estilo da epopeia aparece aqui descrito:
“alto e sublimado”
“Um estilo grandiíloco e corrente.“
“fúria grande e sonorosa”
“tuba canora e belicosa”
“Que se espalhe e se cante no Universo”
-“Que se espalhe e se cante no Universo, Se
tão Sublime preço cabe em verso” Ou seja
jCamões quer que a mensagem se espalhe e
que cante ao universo os feitos dos
Dedicatória ***(sem leitura obrigatória)
Canto |, est. 6-18, é o oferecimento do poema a D.
Sebastião, que encara toda a esperança do poeta,
que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de
retomar “a dilatação da fé e do império” e de
ultrapassar a crise do momento.
Termina com uma exortação ao rei para que
também se torne digno de ser cantado,
prosseguindo as lutas contra os Mouros.
Exórdio (est. 6-8) - início do discurso;
Exposição (est. 9-11) - corpo do discurso;
Confirmação (est. 12-14) - onde são apresentados os exemplos;
Peroração (est. 15-17) - espécie de recapitulação ou remate;
Epílogo (est. 18) - conclusão.
EUROPA
SENA
Esissou 1):
qa
o
Legenda:
|. Consího dos Deuses
2. Velho do Restelo
. Fogo-de-santelmo
Tromba marítima
Veloso
5. Adamastor
7, Escorbuto
Consílio dos Deuses marinhos
MOÇAMBIG Cd 9. Os doze de Inglaterra
o i 10, Tempestade
11. Chegada a Calecul
12. Ilha dos Amores
N Pi ado NES
CARO DAS É id 2101
El ORMENTA pocta = 1,8, 10,1
(8) Vasco da Gama ao
o BS INI Rei de Melinde — 2, 3, 4,5,6,7
Paulo da Gama ao Catual = |]
Veloso = 9
MELÍNDE 6)
MOMBAÇA ay
to dim Lad
se
| - plano mitológico Canto | - 19-41c
Consílio dos Deuses - plano mitológico Canto | — 19-41c
Os Deuses reúnem-se para decidir se ajudam ou não os portugueses a chegar à Índia.
Esta reunião foi presidida por Júpiter, tendo estado presentes todos os Deuses convocados.
Os Deuses sentem a necessidade de reunir face aos feitos gloriosos conseguido até ao
momento.
Júpiter decide ajudá-los, pois considera que os portugueses, pelos seus feitos passados,
são dignos de tal ajuda.
Baco, pelo contrário, não queria que os portugueses fossem para a Índia, com medo
de perder a sua fama no Oriente.
Vénus apoia Júpiter, pois vê reflectida nos portugueses a força e a coragem do seu filho
Eneias e dos seus descendentes, os romanos. Vénus defende os portugueses não só por se
tratar de uma gente muito semelhante à do seu amado povo latino e com uma língua
derivada do Latim, como também por terem demonstrado grande valentia no norte de
África.
Marte - deus defensor desta gente lusitana, porque o amor antigo que o ligava a Vénus o
leva a tomar essa posição e porque reconhece a bravura deste povo. Marte consegue
convencer Júpiter a não abdicar da sua decisão e assim, os portugueses serão recebidos
num porto amigo. Pede a Mercúrio - o Deus mensageiro - que colha informações sobre a
Índia, pois começa a desconfiar da posição tomada por Baco.
Este consílio termina com a decisão favorável aos portugueses e cada um dos deuses regressa
ao seu domínio celeste.
Descrição
de um local
rico,
luxuoso,
sublime.
m luzentes assentos, marchetados
De ouro e de perlas, mais abaixo esta
Os outros Deuses, todos assentados
Como a Razão e a Ordem concertavam
(Precedem os antigos, mais honrados,
Mais abaixo os menores se assentavam);
Quando Júpiter alto, assi dizendo,
24
— «Eternos moradores do luzente,
Apóstrofe
e perifrase
elífero Pólo e claro Assento:
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento,
Deveis de ter sabido claramente
Como é dos Fados grandes certo intento
Que por ela se esqueçam os humanos
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos. >
Enumeração
Cum tom de voz começa grave e horrendo:
Caracterização do espaço
do Olimpo e Organização
do espaço.
Os deuses sentam-se
segundo a sua hierarquia.
Introdução ao discurso de
Júpiter — Discurso directo.
Apóstrofe, indicação dos
destinatários do seu discurso —
os restantes deuses
Início do discurso de Júpiter
Júpiter começa por recordar
que é do conhecimento geral
que os Fados têm a intenção de
tornar este povo luso superior
aos antigos heróis.
25
Já lhe foi (bem o vistes) concedido,
Cum poder tão singelo e tão pequeno,
Tomar ag(Mouro forte e guarnecido
terra que rega o Tejo ameno.
6 Castelhanotão temido
pre alcançou favor do Céu sereno:
Pois contra
sinédoque
Assi que sempre, enfim, com fama e glória,
Os
inimigos
que teve
de
enfrentar
são
apresenta
dos como
“fortes” e
“temidos”,
reforçando
seu valo
Teve os troféus pendentes da vitória.
26
atrás a fama antiga,
Qde co a gente de Rómulo alcançaram,
Quando com Viriato, na inimiga
Guerra Romana, tanto se afamaram;
Também deixo a memória que os obriga
A grande nome, quando alevantaram
Um por seu capitão, que, peregrino,
Fingiu na cerva espírito divino.
Júpiter recorda as vitórias e
a protecção concedidas e
realizadas pelos lusos.
Lutou contra os Mouros e
contra os castelhanos e
sempre foi protegido pelas
divindades.
Júpiter continua a relembra as
raízes do povo português:
. Guerra com os Romanos,
. À importância e valor de Viriato,
. Lendas romanas.
27
<— Q Agora vedes bem que) cometendo
O duvidoso mar num lenho leve,
advérbio
“agora” —
antes
esteve a
falar do
passado,
“agora”
falará do
presente
Por vias nunca usadas, não temendo
de Áfrico e Noto a força, a mais s'atreve:
EH O:5555555335»
Que, havendo tanto já que as partes vendo
Onde o dia é comprido e onde breve,
Inclinam seu propósito e perfia
A ver os berços onde nasce o dia.
28
Prometido lhe está do Fado eterno,
Cuja alta lei não pode ser quebrada,
Que tenham longos tempos o governo
Do mar que vê do Sola roxa entrada.
A gente vem perdida e trabalhada;
Já parece bem feito que lhe seja
Mostrada a nova terra que deseja.
Júpiter reconhece a força a
coragem para descobrir e explorar
territórios em locais tão diferentes.
E diz que agora querem explorar o
oriente.
Júpiter reafirma que os Fados já
determinaram a glória dos
portugueses.
Júpiter considera os portugueses
merecedores de algum recobro e
reconforto, pois as tripulações
estão cansadas. Apresenta pois a
sua posição pessoal
Posição de Vénus
Sustentava contra ele Vénus bela,
Afeiçoada à gente Lusitana Vénus defendia os
portugueses:
Por quantas qualidades via nela -Descendentes dos
e il d % romanos;
Da antiga, tão amada, sua Romana; oocagene loiça
Nos fortes corações, na grande estrela demonstrada;
-Uso da língua com
Que mostraram na terra Tingitana, origem latina.
E na língua, na qual quando imagina,
Com pouca corrupção crê que é a Latina.
34
dO
. . : Vénus defendia os
Estas causas moviam Citereia, portugueses, pois sabe
+,
que se eles tiverem
sucesso ela também
Que há-de ser celebrada a clara Deia será louvada.
E mais, porque das Parcas claro entende
Onde a gente belígera se estende.
CÁssi que, um pela infâmia que arreceia, Enquanto Baco se
opõe, porque não
(£o outrôppelas honras que pretende, quer perder a fama,
Debatem, e na perfia permanecem; Vénus defendia, pois
deseja ser louvada.
A qualquer seus amigos favorecem.
Balanço da discussão
Qual Austro fero ou Bóreas na espessura
De silvestre arvoredo abastecida,
Rompendo os ramos vão da mata escura
A agitação dos ventos era
grande, evidenciando a
Brama toda montanha, o som murmura, agitação da discussão
gerada no Olimpo.
Rompem-se as folhas, ferve a serra erguida: A nauirsssrelleciao
EPP]. PPS
Tal andava o tumulto, levantado humor dos deuses.
Com ímpeto e braveza desmedida,
Entre os Deuses, no Olimpo consagrado.
Posição de Marte
Mas Marte, que da Deusa sustentava
Entre todos as partes em porfia,
C Ou porquê porquêjo amor antigo o obrigava,
ss porquêya gente forte o merecia,
qa antre os Deuses em pé se levantava:
Merencório no gesto parecia;
O forte escudo, ao colo pendurado,
Deitando pera trás, medonho e irado;
37
Aviseira do elmo de diamante
Alevantando um pouco, mui seguro,
Por dar seu parecer se pôs diante
De Júpiter, armado, forte e duro;
E dando íia pancada penetrante
Co conto do bastão no sólio puro,
O Céu tremeu, e Apolo, de torvado,
Um pouco a luz perdeu, como enfiado;
Marte, porque
amava Vénus,
ou porque a gente lusa o merecia,
tomou a palavra e uma posição.
| Descrição de Marte
Descrição de Marte —
deus forte, decidido, duro.
Faz-se ouvir e respeitar.
Episódio de Inês de Castro - plano história de Portugal — episódio lírico Canto Ill- 119- 135
Episódio inclui-se no plano da História de Portugal, pois:
* é narrado por Vasco da Gama, cujo narratário/destinatário é o Rei de Melinde.
* surge na continuidade da apresentação do reinado de D. Afonso IV.
Episódio é considerado um momento lírico, pois:
*Exploram-se os sentimentos pessoais do narrador;
* Dá-se expressão à emotividade e à exploração de sentimentos como o Amor, a
crueldade, o sofrimento...
* pode-se mesmo considerar que as principais características da tragédia clássica
estão patentes:
* Há o desenvolvimento de uma acção, que termina com a morte da
protagonista;
* Observa-se a lei das três unidades (acção, tempo e espaço);
* Há uma motivação para sentimentos de terror e piedade;
* A catástrofe é simbolizada pela morte da protagonista.
Estrutura deste episódio
A primeira parte, referente as causas da morte de Inês, vítima do amor.
A segunda, constitui o desenvolvimento em que se descreve o modo de vida feliz e
despreocupado que Inês tinha em Coimbra - é apresentada a razão de estado para que Inês
deixe a vida, pois o perigo que representa a ligação de D. Inês com D. Pedro, receia o domínio
espanhol.
O poeta põe em questão a grandeza moral do Rei por solucionar o problema de seu reino
mandando matar a sua própria filha:
“Tirar Inês co mundo, determina”;
“Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra úa fraca dama delicada ?”.
Também nesta segunda parte é redigido o discurso suplicante de Inês ao rei de Portugal, seu
pai. Ela utiliza súplicas e argumento para comover o Rei na sua determinação - apresenta a
sua situação de mãe e a orfandade de seus filhos, declara-se inocente perante toda a situação
de futuro conflito, comove o rei dizendo-lhe que sendo um cavaleiro que sabe dar morte,
também sabe “dar vida, com clemência” e como alternativa à morte, dá preferência ao exílio.
A terceira e última parte, constitui a reprovação do narrador, sublinhada pelo pranto
comovente das “filhas do Mondego” e pela animização da Natureza, que chora a morte de
Inês, sua antiga confidente.
122
De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo enfim, tu, puro amor, despreza,
Quando um gesto suave te sujeita.
E]D]]JDoIIIITA.
O Príncipe D. Pedro rejeita
todas as outras damas, pois
está apaixonado.
Vendo estas namoradas estranhezas
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo, e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
Reacção do pai, D. Afonso IV:
-O pai determina a morte de
Inês.
- tem em conta dois
elementos: o povo e o filho.
Eufemismo -
matar
Hipérbato:
Determina
tirar Inês ao
mundo
Tirar Inês ao mundo determina
Por lhe tirar o filho;que tem preso,
SM rrendo co'o sangue só da morte indina
Oração Matar do firme amor o fogo aceso.
subordinada
A
imparcialidade
do narrador
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra uma fraca dama delicada?
O rei acredita que ao matar
Inês de Castro acabará com
o seu amor
O narrador mostra a sua
indignação e questiona o
exercício deste poder e desta
força, pois usa-se a mesma
força contra o Mouro feroz e
contra uma fraca dama
delicada.
Desenvolvimento
124
Traziam-na 65 horríficos algozes
Ante o Rei, jáfnovido a piedade:
Mas o po VÔ,) om falsas e ferozes
RazõesZa morte crua o persuade.
Ela gôm tristes o piedosas vozes,
Oração
coordenada
Início da narração da sua
execução:
-Os executores trazem-na à
presença do rei;
- mais uma vez são apresentadas
as motivações desta morte, da
responsabilidade do povo;
- há aqui alguma
desresponsabilização do rei...
áídas só da mágoa, e saudade
Do seu Príncipe, e filhos que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,
125
Descrição da reacção de Inês à
prisão e condenação:
- O seu sofrimento não é pela sua
morte, mas por aqueles que
deixa: Pedro e os filhos.
Para o Céu cristalino alevantando
Anteposição
do adjectivo —
reforça a
crueldade dos
executores.
Com lágrimas os olhos piedosos,
Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
(duros ministros rigorosos;
1r
ao
E depois nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha, e tão mimosos,
Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:
-Inês com os olhos repletos de
lágrimas ...
-... etendo em atenção os seus
filhos, dirigiu-se ao rei, avô dos
seus filhos.
Introdução ao discurso de Inês.
Desenvolvimento
- "Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas têm o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento,
Como coa mãe de Nino já mostraram,
Início do discurso de Inês:
-Começa por referir que a
Natureza e as feras não
conseguem ser cruéis com as
crianças, protegem-nas.
- ilustra com exemplo latino.
E colos irmãos que Roma edificaram;
Oração
relativa e
explicativa a
(6 tu) que tens de humano o gesto e o peito,
(Se de humano é matar uma donzela
Apóstrofe
ao rei
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la)
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
Continuação do
discurso de Inês:
. Dirige-se directamente
ao rei:
-apelando à sua
humanidade e piedade;
-Invocando os seus
filhos.
- afirma-se fraca, frágil
e inocente.
Desenvolvimento
132
Tais contra Inês os brutos matadores
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez Rainha;
As espadas banhando, e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.
133
Bem puderas, ó Sol, da vista destes
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia.
sses)?)p?] pPPP]JBFBS»SB É*Ê>HÊ* <HH tiittI[ PE
Vós, 6 côncavos vales, que pudestes
À voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetisses!
Continuação da reprovação do
narrador e a exploração da
parte mais lírica.
Animização da Natureza, que
chora a morte de Inês, sua
antiga confidente.
Conclusão
134
Assim como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lascivas maltratada
Da menina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está morta a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas, e perdida
A branca e viva cor, coa doce vida.
135
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome amores.
- Estado contemplativo desta
morte, destacando-se as
características da inocente e
comparando-a às flores.
-É sublinhado o pranto
comovente das “filhas do
Mondego” e é apresentada a
animização da Natureza, que
chora a morte de Inês, sua
antiga confidente.
“Natureza que criou uma fonte
deste choro.
— Quinta das lágrimas.
Conclusão
136
Não correu muito tempo que a vingança
Não visse Pedro das mortais feridas,
Que, em tomando do Reino a governança,
Atomou dos fugidos homicidas.
Que ambos, imigos das humanas vidas,
O concerto fizeram, duro e injusto,
Que com Lépido e António fez Augusto.
137
Este, castigador foi rigoroso
De latrocínios, mortes e adultérios:
Fazer nos maus cruezas, fero e iroso,
-O narrador apresenta a
reacção feroz de D. Pedro a
esta execução:
- - logo que se tornou rei,
perseguiu e puniu os
executores de Inês.
- comparação com exemplos de
Espanha e dos clássicos.
-Pocto entre os reis que
obrigava um a entregar os
criminosos ao outro se os
capturasse
Eram os seus mais certos refrigérios.
EDJTTooO
As cidades guardando justiçoso
De todos os soberbos vitupérios,
D. Pedro tornou-se um rei
rigoroso e justo em relação a
todos os crimes.
D. Pedro, o justo.
Mais ladrões castigando à morte deu,
Que o vagabundo Aleides ou Teseu.
Conclusão
Batalha de Aljubarrota - Plano da História de Portugal Canto — IV 28-45
E?
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[e =
E
a
i HM
| Ea 4 1
Br
Es)
Episódio bélico apresentado em tom hiperbólico E,
E.
- referências ao número e valor dos inimigos a L—
. dé 1 nt
- pormenores dos preparativos a LE à ="
- valentia demonstrada o ST 2
Está Vasco da Gama a contar a História de Portugal ao Rei de Melinde;
- refere a morte de D. Fernando e respectivas consequências;
Depois da morte de D. Fernando, o Formoso, cuja filha D. Beatriz — com 11 anos apenas — casara com o rei
de Castela, Portugal insurge-se contra a ideia de ser governado por um estrangeiro.
A arraia-miúda das cidades e vilas e dos campos acompanhada por abastados mercadores e por alguns
fidalgos, aclama D. João, mestre de Avis, defensor e regedor ou regente do Reino.
-Refere toda a história da nomeação de D. João |, a Regedor e Defensor do Reino dá origem à
batalha contra Castela que se travou em 14 de Agosto de 1383.
-O Rei de Castela invade Portugal, e poucos eram os que queriam combater pela Pátria. Mas os
que estavam dispostos a defender o seu Reino, de entre os quais se destacava Nuno Álvares
Pereira, iriam defendê-lo com a convicção da vitória,
pois o país vizinho tinha enfraquecido bastante no reinado de D. Femando e D. João | era
garantia de valor e sucesso e nunca Portugal tinha saído derrotado dos combates contra os
Castelhanos.
Na descrição da batalha, destacam-se as actuações de Nuno Álvares Pereira e de D. João,
Mestre de Avis; salienta-se também o facto dos irmãos de Nuno combaterem contra a própria
Pátria, acabando por morrer numa batalha em que foram traidores de Portugal.
No final, Camões refere o desânimo e a fuga dos Castelhanos, que novamente foram
derrotados pelos lusitanos.
A partir do casamento, D. Leonor Teles tornara-se cada
vez mais influente junto do rei manobrando a sua
intervenção política nas relações exteriores, e ao mesmo
tempo cada vez mais impopular. Aparentemente, D.
Fernando mostra-se incapaz de manter uma
governação forte e o ambiente político interno ressente-
se disso, com intrigas constantes na corte. Em 1382, no
fim da guerra com Castela, estipula-se que a única filha
legitima de D. Fernando, D. Beatriz de Portugal, case
com o rei D. João | de Castela. Esta opção significava
uma anexação de Portugal e não foi bem recebida pela
classe média e parte da nobreza portuguesa.
Quando D. Fernando morre em 1383, a linha da dinastia
de Borgonha chega ao fim. D. Leonor Teles é nomeada
regente em nome da filha e de D. João de Castela, mas a
transição não será pacífica. Respondendo aos apelos de
grande parte dos Portugueses para manter o pais
independente, D. João, mestre de Avis e irmão bastardo
de D. Fernando, declara-se rei de Portugal. O resultado
foia crise de 1383-1385, um período de interregno,
onde o caos político e social dominou. D. João tornou-se
no primeiro rei da Dinastia de Avis em 1385.
33
Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,
Catilina, e vós outros dos antigos,
Que contra vossas pátrias, com profano
Coração, vos fizestes inimigos,
Se lá no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos,
Dizei-lhe que também dos Portugueses
Alguns tredores houve algumas vezes.
34
Rompem-se aqui dos nossos os primeiros,
Tantos dos inimigos a eles vão!
Está ali Nuno, qual pelos outeiros
De Ceita está o fortíssimo leão,
Que cercado se vê dos cavaleiros
Que os campos vão correr de Tetuão:
Perseguem-no com as lanças, e ele iroso,
Torvado um pouco está, mas não medroso.
35
Com torva vista os vê, mas a natura
Ferina e a ira não lhe compadecem
Que as costas dê, mas antes na espessura
Das lanças se arremessa, que recrescem.
Tal estã o cavaleiro, que a verdura
Tinge co'o sangue alheio; ali perecem
Alguns dos seus, que o ânimo valente
Perde a virtude contra tanta gente.
Apóstrofe a figuras que traíram a sua
pátria
Se estes traidores receberem castigos,
também os portugueses têm casos
destes.
Começa a haver perda de vidas.
Entre todos está Nuno Álvares Pereira,
general com experiência nas guerras de
Ceuta. Ele encontra-se a ser atacado,
perturbado, mas não com medo.
Valorização do perfil de Álvares Pereira.
A sua natureza guerreira faz com que
não desista e continue a lutar.
Morrem alguns portugueses, pois apesar
de corajosos enfrentavam um poder
maior.
|
=+
)
oo
|
|
[9º]
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fo
ds
[4º]
co
36
Sentiu Joane a afronta que passava
Nuno, que, como sábio capitão,
Tudo corria e via, e a todos dava,
Com presença e palavras, coração.
Qual parida leoa, fera e brava,
Que os filhos que no ninho sós estão,
Sentiu que, enquanto pasto lhe buscara,
O pastor de Massília lhos furtara;
37
Corre raivosa, e freme, e com bramidos
Os montes Sete Irmãos atroa e abala:
Tal Joane, com outros escolhidos
Dos seus, correndo acode à primeira ala:
-"Ó fortes companheiros, ó subidos
Cavaleiros, a quem nenhum se iguala,
Defendei vossas terras, que a esperança
Da liberdade está na vossa lança.
38
Vedes-me aqui, Rei vosso, e companheiro,
Que entre as lanças, e setas, e os arneses
Dos inimigos corro e vou primeiro:
Pelejai, verdadeiros Portugueses!"-
Isto disse o magnânimo guerreiro,
E, sopesando a lança quatro vezes,
Com força tira; e, deste único tiro,
Muitos lançaram o último suspiro.
D. João |, sabendo que D. Nuno Álvares
corria perigo, acudiu à linha da frente
para apoiar os guerreiros com a sua
presença e palavras de encorajamento.
Comparação com uma leoa que protege
as suas crias (norte de África)
-Apelo ao patriotismo, à coragem, à
superioridade, responsabilidade,
liberdade...
- reforça a ideia de que ele próprio está
no campo de batalha e deve ser o
exemplo a seguir!
Discurso de encorajamento de D. João |.
Com um único tiro, matou muitos
adversários.
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a]
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[9º
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Era]
[4º]
co
Reacção ao discurso de
rei
Entre os muitos mortos
são apontados: o mestre
de Santiago, D. Pe
Moniz, ou Munoz, e os
irmãos de D. Nuno, os
renegados, um deles
mestre de Calatra-va.
Alguns comentadores
dão, porém, o mestre de
Santiago como morto em
Valverde.
Perifrase -
inferno
Resultado da
Batalha
39
Porque eis os seus acesos novamente
Duma nobre vergonha e honroso fogo,
Sobre qual mais com ânimo valente
Perigos vencerá do Márcio jogo,
Porfiam: tinge o ferro o sangue ardente;
Rompem malhas primeiro, e peitos logo:
Assim recebem junto e dão feridas,
Como a quem já não dói perder as vidas.
40
A muitos mandam ver o Estígio lago,
Em cujo corpo a morte e o ferro entrava:
stre morre ali de Santiago,
Que fortíssimamente pelejava;
Morre também, fazendo grande estrago,
Outro Mestre cruel de Calatrava;
Os Pereiras também arrenegados
Morrem, arrenegando o Céu e os fados.
41
Muitos também do vulgo vil sem nome
Vão, e também dos nobres, ao profundo,
de o trifauce Cão perpétua fo
em das almas que passam deste mune
E porque mais ag amanse e dome
A soberba do amigo furibundo,
sublime bandeira Castelhana
oi derribada aos pés da Lusitana.
O ânimo volta e continuam a lutar
com coragem e progredindo na
batalha.
Já nem temem perder a vida.
São mortas várias figuras ilustres,
entre elas, os irmãos de Nuno
Alvares Pereira.
São mortos outros menos ilustres e
outros nobres.
Muitos são feridos, muitos
morrem, mas a bandeira
castelhana é derrubada aos pés
da lusitana.
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a]
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[9º
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[80]
ds
[4º]
co
atsS. OI
anto IV 83-89
o - plano da História de Portugal e início da viagem
94-104
Portugal (, 3 de Maio de
1455 — Alvor, 25 de
Outubro de 1495)
Portugal (, 31 de Maio
de 1469 — Lisboa, 13
de Dezembro de 1521)
O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi delineado
por D. João Il como medida de redução dos custos nas trocas
comerciais com a Ásia e tentativa de monopolizar o comércio
das especiarias. A juntar à cada vez mais sólida presença
marítima portuguesa, D. João almejava o domínio das rotas
comerciais e expansão do reino de Portugal que já se
transformava em Império. Porém, o empreendimento não seria
realizado durante o seu reinado. Seria o seu sucessor, D.
Manuel | que iria designar Vasco da Gama para esta expedição,
embora mantendo o plano original.
Na preparação da partida das naus de Vasco da Gama
para a Índia, sobressai no meio da confusão um
alvoroço e ao mesmo tempo um desejo de alcançar o
trajecto pretendido.
Após a citação do chamado Velho do Restelo, deu-se a
partida; ficaram para trás as terras portuguesas e
apenas o mar e o céu infinitos cabiam na visão dos
lusitanos.
Partida das naus , o velho do restelo -
plano da História de Portugal e início da viagem Canto — IV 83-89 / 94-104
Preparação do rei
Foram de Emanuel remunerados,
Porque com mais amor se apercebessem,
E com palavras altas animados
Para quantos trabalhos sucedessem.
Assim foram os Mínias ajuntados,
Para que o Véu dourado combatessem,
Na fatídica Nau, que ousou primeira
Apresentação dos
Tentar o mar Euxínio, aventureira.
84
marinheiros e e — a
soldados Tr Ejána porto da inclita Ulisseia
C'um alvoroço nobre, e é um desejo,
“M
Perifrase -
Lisboa
Narrador
participante:
Vasco da
Gama a
contar a
própria
viagem
Onde o licor mistura e branca afeta
o'o salgado Neptuno o doce Tejo
As naus prestes estao, e ndo refreia
Temor nenhum o juvenil despejo,
Porque a gente maritima e a de Marte
Pelas praias vestidos os soldados
De várias cores vêm e várias artes,
E não menos de esforço aparelhados
Para buscar do mundo novas partes.
Nas fortes naus os ventos sossegados
Ondeam os aéreos estandartes;
Elas prometem, vendo os mares largos,
De ser no Olimpo estrelas como a de Argos.
D. Manuel é o responsável pela
organização deste grupo. Té-lo-
á incentivado e motivado.
Tal como já acontecera no mar
Negro
Já no Porto de Lisboa, em
Belém, onde o rio Tejo encontra
o mar.
As naus já estão prontas e o
ânimo dos marinheiros e
soldados é elevado.
Descrição dos soldados, prontos
para descobrir novos mundos.
As naus são personificadas e
prometem levar aqueles
homens à imortalidade.
90
Qual vai dizendo: -" Ó filho, a quem eu tinha
Só para refrigério, e doce amparo
Desta cansada já velhice minha,
Que em choro acabará, penoso e amaro,
Por que me deixas, mísera e mesquinha?
Por que de mim te vás, ó filho caro,
A fazer o funéreo enterramento,
Onde sejas de peixes mantimento!" —
91
"Qual em cabelo: -"Ó doce e amado esposo,
Sem quem não quis Amor que viver possa,
Por que is aventurar ào mar iroso
Essa vida que é minha, e não é vossa?
Como por um caminho duvidoso
Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Nosso amor, nosso vão contentamento
Quereis que com as velas leve o vento?" -
92
Nestas e outras palavras que diziam
De amor e de piedosa humanidade,
Os velhos e os meninos os seguiam,
Em quem menos esforço põe a idade.
prófites de mais perto respondia
Quase movidos de alta piedade;
A branca areia as lágrimas banhavam,
a em multidão com elas se igualavam
Apresentam-se dois casos de
lamúrias/queixas:
- Os filhos que deveriam
acompanhar os pais e ajudá-los
são afastados.
- Os homens que abandonavam
os lares para se aventurarem no
mar.
* Crítica aos descobrimentos ao
facto de se abandonar o país eo
seu desenvolvimento.
O narrador diz que todos
tinham esta perspectiva.
E até a natureza responde a
esta dor.
Personificação
93
Nós outros sem a vista alevantarmos
Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,
Por nos não magoarmos, ou mudarmos
Do propósito firme começado,
Determinei de assim nos embarcarmos
Sem o despedimento costumado,
Que, posto que é de amor usança boa,
A quem se aparta, ou fica, mais magoa.
O narrador diz que a tripulação não parou os seus
olhos naqueles que deixava para não sofrerem,
nem se deixarem mover dos seus propósitos.
Vasco da Gama não quis demorar as despedidas
que sempre magoam.
Leitura
94
Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
95
- Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
Canto —V |
9-
No plano histórico, simboliza:
- a superação pelos portugueses do medo do “Mar Tenebroso”, das superstições medievais que povoavam o
Atlântico e o Índico de monstros e abismos.
- Adamastor é uma visão, um espectro, uma alucinação que existe só nas crendices dos portugueses. É
contra seus próprios medos que os navegadores triunfam.
No plano lírico é um dos pontos altos do poema, retomando dois temas constantes da lírica camoniana:
- o do amor impossível e o do amante rejeitado.
Adamastor, um dos gigantes filhos da Terra, apaixonou-se pela nereida Tétis. Não
correspondido, tenta tomá-la à força, provocando a cólera de Júpiter, que o transforma no
Cabo das Tormentas, personificado numa figura monstruosa, lançada nos confins do Atlântico.
Este episódio é importante, pois nele se concentram as grandes linhas da epopeia:
1. O real maravilhoso (dificuldade na passagem do cabo).
2. A existência de profecias (história de Portugal).
3. Lirismo (história de amor);
4. É também um episódio trágico, de amor e morte;
5. É um episódio épico, em que se consolida a vitória do homem sobre os elementos (água, fogo, terra, ar);
Resumo do Enredo
Introdução (est. 37, 38, Canto V):
* Preparação do ambiente para o aparecimento do gigante: depois de cinco dias claros, com
ventos calmos, com os marinheiros “descuidados”, surge uma nuvem negra “tão temerosa e
carregada” que põe “nos corações um grande medo” e leva Vasco da Gama interpelar o
próprio Deus todo-poderoso.
Aparecimento do monstro e sua descrição (est. 39, 40, Canto V).
* Caracterização directa e indirecta do monstro, sobretudo através de uma adjectivação
sugestiva e abundante, para realçar a imponência da figura e o terror e a estupefacção do Gama
e dos seus companheiros (“Arrepiam-se as carnes e o cabelo/A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-
lo” (est. 40. Vv- 7-8, Canto V).
Discurso do gigante (1º parte) (est. 41-48, Canto V). Glorificação épica.
* Discurso de carácter profético e ameaçador, através do qual Adamastor, num tom de voz
“horrendo e grosso” anuncia os castigos e danos por si reservados para aquela “gente ousada”
que invadira o seu reino (dos mares):
. À “suma vingança” (a morte) de quem o descobriu (Bartolomeu Dias);
. Amorte de D. Francisco de Almeida, primeiro Vice-rei da Índia;
. O naufrágio e a morte da família Sepúlveda;
. E, para além destes casos particulares, as naus portuguesas terão sempre “inimiga esta
paragem” através de “naufrágios, perdições de toda sorte/Que o menor mal de todos seja a
morte”,
Interpelação do Gama (est. 49, Canto V).
* Gama já incomodado com todas aquelas profecias de desgraça, interroga o monstro sobre a sua
identidade. É essa pergunta tão simples que promove a profunda viragem do seu discurso,
fazendo-o recordar a frustração amorosa passada e meditar na sua actual condição de degredado
solitário e petrificado.
Discurso do gigante (22 parte) (est. 50-59, Canto V). Lirismo amoroso e elegíaco.
"À resposta à pergunta de Gama tem carácter autobiográfico e tom elegíaco (lamentação, triste)
(“com voz pesada e amara”) e disfórico, pois assistimos à evocação do seu passado amoroso
infeliz.
Epílogo (est. 60, Canto V).
* Súbito desaparecimento do Gigante, agora choroso pela recordação do seu passado triste e
levando consigo a nuvem negra e o “sonoro bramido” do mar com que aparecera.
Pedido de Gama a Deus para que remova “os duros casos, que Adamastor contou futuros”,
41-
E disse: ais que quantas
undo to emrgrandes cousas,
ue por guerras cruas, tais e tantas,
or trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos quebrantas
E navegar nos longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados d'estranho ou próprio lenho:
is vens ver os segredos escondidos
atureza e do úmido elemento,
A nenhum gra Turmmano concedidos
De nobre ou de imortal! merecimento,
Ouve os danos de mi que apercebidos
Estão a teu sobejo atrevimento,
Por todo largo mar e pola terra
Que inda hás de sojugar com dura guerra.
41 - O gigante reconhece o mérito dos
portugueses.
Chama os portugueses de ousados e
afirma que nunca repousam e que tem
por meta a glória particular, pois
chegaram aos confins do mundo.
Realça-se o facto de aquelas águas nunca
terem sido navegadas por outros: o
gigante diz que aquele mar, que há tanto
ele guarda, nunca foi conhecido por
outros.
42 - Já que os portugueses descobriram os
segredos do mar, o gigante ordena- lhes
que ouçam os sofrimentos futuros,
conseguências do atrevimento de cruzar os
mares. (premonições)
OE CECTa|
43-
Sabe que quantas naus esta viagem
Que tu fazes, fizerem, de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem,
Com ventos e tormentas desmedidas!
E da primeira armada, que passagem
Fizer por estas ondas insufridas,
Eu farei d'improviso tal castigo,
Que seja mor o dano que o perigo!
44 -
Aqui espero tomar, se não me engano,
cobriu suma vingança.
E não se ó nisto o dano
De vossa pertinace“sqnfiança:
Antes, em vossas na
O gigante afirma que os navios que
fizerem a viagem que Vasco da Gama
está fazendo terão aquele cabo como
inimigo.
A primeira armada a que se refere
Adamastor é a de Pedro Álvares Cabral,
que se seguiu à de Vasco da Gama
perdeu ali quatro de suas naus: o dano -
o naufrágio — foi maior que o perigo, pois
os navegantes foram surpreendidos.
O gigante afirma que se vingará ali
mesmo de seu descobridor, Bartolomeu
Dias, e que outras embarcações
portuguesas serão destruídas por ele.
As afirmações são ameaçadoras, como se
verá: o menor mal será a morte.
Futuro - premonições
OE CECTa|
Viaje de Bartoioeme Dias
(ado may
Tocos
E Mi gula Ma tugas fito ir!
vi
) comigo o melhor
O ea
e” Pirodo Aleac
y A de -
anta Meteo AM céatar Ju amas
()
cedo A
tos Piper Soa do o do tome
Bady che tonta
Urempido da
femicera
—— oO o o o raia Cielhas
ve quloco Pira
[ra
A LONGA VIAGEM
Percurso completo de Cabral
49 -
Mais ia por diante o monstro horrendo
Dizendo nossos fados, quando, alçado,
Lhe disse eu: - Que és tu? Que esse estupendo
Corpo certo me tem maravilhado!
A boca e os olhos negros retorcendo
E dando um espantoso e grande brado,
Me respondeu, com voz pesada e amara,
Como quem da pergunta lhe pesara:
50 -
O gigante continuaria fazendo as
previsões se Vasco da Gama não
o interrompesse, perguntando
quem era aquela figura
maravilhosa. O monstro
responderá com voz pesada
porque relembraria seu triste
passado.
Interpelação do Gama
Eu sou aquele oculto e grande Cabo
A quem chamais vós outros Tormentóário,
Que nunca a Ptolomeu, Pompônio, Estrabo,
Plínio e quantos passaram fui notório.
Aqui toda a africana costa acabo
Neste meu nunca visto promontório,
Que pera o Pólo Antártico se estende,
O gigante apresenta-se e localiza-
se no espaço geográfico: eleé o
Cabo Tormentoso, nunca conhecido
pelos geógrafos da Antiguidade, última
porção de terra do continente africano,
que se alonga para o Pólo Sul,
extremamente ofendido com a
ousadia dos portugueses.
A quem vossa ousadia tanto ofende.
[o
(42)
a
D
po À
“
A
a
E
(D
ml
e+
-
Moro CrETa|
51 -
Fui dos filhos aspérrimos da Terra,
Qual Encélado, Egeu e Centimano;
Chamei-me Adamastor e fui na guêrra
«Lontra o que vibra os raios de Vulcano>
Não que pusesse serra sobre serra,
Mas conquistando as ondas do Oceano,
Fui capitão do mar, por onde andava
A armada de Neptuno, que eu buscava.
52 - sá
<= Amores da alta esposa de Peleu mA
Me fizeram tomar tamanha empresa;
Todas as Deusas desprezei do Céu,
Só por amargas águas a princesa'>
Um dia a vi, coas filhas de Nereu,
Sair nua na praia e logo presa
A vontade senti de tal maneira,
Que inda não sinto cousa que mais queira.
Perifrase - Jupiter
Adamastor diz que era um dos Titãs,
gigantes que lutavam contra Júpiter e
que sobrepunham montes para
alcançar o Olimpo.
A sua missão era procurar a armada
de Neptuno, nos mares.
Adamastor cometeu a loucura de
lutar contra Neptuno por amor a
Tétis, por quem desprezou todas as
Deusas.
Recorda o dia em que a viu nua na
praia e se apaixonou por ela.
Adamastor continua apaixonado por
ela.
Q
D
w
D
E
a
A
-.
D
3
[mal
o
53 -
Como fosse impossíbel alcançá-la
Pola grandeza feia de meu gesto,
Determinei por armas de tomá-la
E a Dóris meu caso manifesto.
De medo a Deusa então por mi lhe fala.
Mas ela, cum fermoso riso honesto,
Respondeu: - Qual será o amor bastante
De ninfa, que sustente o dum Gigante?
54 -
Contudo, por livrarmos o Oceano
De tanta guerra, eu buscarei maneira
Com que, com minha honra, escuse o dano.
Tal resposta me torna a mensageira.
cair não pude neste engano
(Que é grande dos amantes a cegueira),
Encheram-me, com grandes abondanças,
peito de desejos e esperanças.
Como jamais conquistaria
Tétis porque era muito
feio, Adamastor resolveu
conquistá-la por meio da
guerra e manifestou sua
intenção a Dóris, mãe de
Tétis, que comunicou à
filha, mas esta considera
este amor impossível
Continua a resposta de
Tétis: ela, para livrar o
Oceano da guerra, tentará
solucionar o problema
com dignidade.
O gigante afirma que, já
que estava cego de amor,
não percebeu que as
promessas que Dóris e
Tétis lhe faziam eram
mentirosas.
Q
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w
D
E
a
A
-.
D
3
[mal
o
59-
Converte-se-me a carne em terra dura;
Em penedos os ossos se fizeram;
Estes membros que vês e esta figura
Por estas longas águas se estenderam;
Enfim, minha grandíssima estatura
Neste remoto Cabo converteram
Os Deuses; e, por mais dobradas mágoas,
Me anda Tétis cercando destas águas.”
60 -
Assi contava; e, cum medonho choro,
Súbito d'ante os olhos se apartou.
Desfez-se a nuvem negra e cum sonoro
ramido muito longe o mar soou.
Eu, levantando as mãos ao santo coro
Dos Anjos, que tão longe nos guiou,
A Deus pedi que removesse os duros
Casos que Adamastor contou futuros.
A carne do gigante se transformou
em terra e os ossos em pedra;
seus membros e sua figura
alongaram-se pelo mar; os Deus
fizeram dele um Cabo.
Para que sofra em dobro, Tétis
costuma banhar-se nas águas
próximas.
Final do seu discurso.
O gigante desapareceu chorando.
Vasco da Gama ergue os braços
ao céu e pede aos anjos que as
premonições de Adamastor não
se realizem.
for: fo fifa
/ 92-94
—VI
Canto
t- plano da viagem —
EUROPA
SENA
Esissou 1):
qa
o
Legenda:
|. Consího dos Deuses
2. Velho do Restelo
. Fogo-de-santelmo
Tromba marítima
Veloso
5. Adamastor
7, Escorbuto
Consílio dos Deuses marinhos
MOÇAMBIG Cd 9. Os doze de Inglaterra
o i 10, Tempestade
11. Chegada a Calecul
12. Ilha dos Amores
N Pi ado NES
CARO DAS É id 2101
El ORMENTA pocta = 1,8, 10,1
(8) Vasco da Gama ao
o BS INI Rei de Melinde — 2, 3, 4,5,6,7
Paulo da Gama ao Catual = |]
Veloso = 9
MELÍNDE 6)
MOMBAÇA ay
to dim Lad
se
70-
Mas, neste passo, assim prontos estando
Eis o mestre, que olhando os ares anda,
O apito toca; acordam despertando
Os marinheiros duma e doutra banda;
porque o vento vinha refrescando,
Os traquetes das gáveas tomar manda:
“Alerta, disse, estai, que o vento cresce
Daquela nuvem negra que aparece."
71
Não eram os traquetes bem tomados,
Quando dá a grande e súbita procela:
“Amaina, disse o mestre a grandes brados,
Amaina, disse, amaina a grande vela!
“ Não esperam os ventos indinados
Que amainassem; mas juntos dando nela,
Em pedaços a fazem, com um ruído
Que o mundo pareceu ser destruído.
si
=
o
jo
[oJ e ja]
72 —
O céu fere com gritos nisto a gente,
Com súbito temor e desacordo,
Que, no romper da vela, a nau pendente
Toma grã suma d'água pelo bordo:
"Alija, disse o mestre rijamente,
Alija tudo ao mar; não falte acordo.
Vão outros dar à bomba, não cessando;
A bomba, que nos imos alagando!"
73-
Correm logo os soldados animosos
A dar à bomba; e, tanto que chegaram,
Os balanços que os mares temerosos
Deram à nau, num bordo os derribaram.
Três marinheiros, duros e forçosos,
A menear o leme não bastaram;
Talhas lhe punham duma e doutra parte,
Sem aproveitar dos homens força e arte.
si
=
o
jo
[oJ e ja]
74 - A força dos ventos
Os ventos eram tais, que não puderam
Mostrar mais força do ímpeto cruel,
Se para derribar então vieram
A fortíssima torre de Babel.
Nos altissimos mares, que cresceram,
A pequena grandura dum batel
Mostra a possante nau, que move espanto,
Vendo que se sustém nas ondas tanto.
75
A nau grande, em que vai Paulo da Gama,
Quebrado leva o masto pelo meio.
Quase toda alagada: a gente chama
Aquele que a salvar o mundo veio.
Não menos gritos vãos ao ar derrama
Toda a nau de Coelho, com receio,
Conquanto teve o mestre tanto tento,
Que primeiro amainou, que desse o vento.
E)
E
O
o
E]
Cm
[a]
[o
D
|
a
D
ta
[2]
nê
a)
pah
fo)
a
[o
o
Ea
a
D
ES
[s)
4