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Aspectos da Relação cérebro comportamento : histórico e considerações neuropsicológicas, Resumos de Neurociência

Estudar a relação entre o cérebro e o comportamento é o principal objetivo da Neuropsicologia. É por meio dessa área de atuação que se pode entender como diferentes áreas cerebrais atuam em conjunto para produzir comportamentos complexos, tal como é o caso da aprendizagem. Problemas em qualquer área do sistema nervoso central podem gerar disfunções e prejudicar o aprendizado. Depreende-se, então, que o profissional que lida com a criança deve ter conhecimentos básicos sobre a neuropsicologia...

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 22/02/2022

thaina-improta
thaina-improta 🇧🇷

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Baixe Aspectos da Relação cérebro comportamento : histórico e considerações neuropsicológicas e outras Resumos em PDF para Neurociência, somente na Docsity! Relação céRebRo-compoRtamento Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 117-26 117 ARTIGO DE REVISÃO RESUMO – Estudar a relação entre o cérebro e o comportamento é o principal objetivo da Neuropsicologia. É por meio dessa área de atuação que se pode entender como diferentes áreas cerebrais atuam em conjunto para produzir comportamentos complexos, tal como é o caso da aprendizagem. Problemas em qualquer área do sistema nervoso central podem gerar disfunções e prejudicar o aprendizado. Depreende-se, então, que o profissional que lida com a criança deve ter conhecimentos básicos sobre a neuropsicologia, de modo a compreender as funções mentais. Nesse sentido, a proposta desse artigo de revisão é abordar os fundamentos básicos da neuropsicologia, partindo dos primórdios do conhecimento cerebral, chegando às questões relativas à localização das funções e finalizando com a teoria de Luria sobre o funcionamento cerebral. Espera- se, ainda, motivar os profissionais a buscar novos conhecimentos sobre esse órgão extremamente complexo, que origina todos os comportamentos tipicamente humanos. UNITERMOS: Neuropsicologia. Ciências do comportamento. Psicofisiologia. Cérebro/fisiologia. aspectos da Relação céRebRo-compoRta- mento: históRico e consideRações neuRopsicológicas Sônia das Dores Rodrigues – Pedagoga/Psicopedagoga e pesquisadora do DISAPRE (Laboratório de Distúrbio, Dificuldade de Aprendizagem e Transtornos da Atenção) FCM/Unicamp. Sylvia Maria Ciasca – Profa Livre Docente do Departamento de Neurologia – FCM/Unicamp; Coordenadora do DISAPRE (Laboratório de Distúrbio, Dificuldade de Aprendizagem e Transtornos da Atenção) FCM/Unicamp. Correspondência Sônia das Dores Rodrigues Rua Luis Gama, 937 apto 64 – Castelo – Campinas, SP – CEP 13070-170 E-mail: sdr@fcm.unicamp.br Sônia das Dores Rodrigues; Sylvia Maria Ciasca RodRigues sd & ciasca sm Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 117-26 118 INTRODUÇÃO Historicamente, diferentes áreas de conheci- mento têm se interessado pelo estudo do sistema nervoso, dentre as quais se destacam a medicina, a psicologia, a física, a química e a matemática1-5. Entretanto, a conscientização de que a interdis- ciplinaridade favoreceria a melhor compreensão do cérebro humano possibilitou a criação de uma nova área de conhecimento (as Neurociências) e revolucionou os estudos científicos sobre o tema. Conforme se verifica no Quadro 1, atualmente diferentes disciplinas estão envolvidas no estudo do desenvolvimento e funcionamento cerebral. Os diferentes profissionais envolvidos com o estudo do cérebro (comumente denominados de neurocientistas) têm que interagir com as demais áreas de conhecimento, de modo a ana- lisar o funcionamento cerebral sob diferentes ângulos e pontos de vista. Aqui interessa-nos, principalmente, investigar a relação entre cé- rebro e comportamento e, portanto, os aspectos neuropsicológicos do desenvolvimento. A visão do cérebro no decorrer dos séculos Embora a palavra neurociência seja nova, existem evidências que mostram que os nossos ancestrais pré-históricos já compreendiam que o encéfalo (cérebro, cerebelo e tronco encefálico) era essencial para a vida. Um exemplo disso é a prática da trepanação, realizada por volta de 7.000 anos atrás (Figura 1). Especula-se que essa técnica, que consistia em se fazer orifícios em crânios de indivíduos vivos, Quadro 1 - Áreas de conhecimentos das neurociências. Profissionais Disciplina Área de interesse Neuroquímicos Neurociência molecular Estuda as reações químicas entre as moléculas que são importantes para o funcionamento do sistema nervoso Neurofisiologistas Neurociência celular Estuda os circuitos elétricos e celulares que possibili- tam a comunicação do sistema nervoso Neurobiólogos Neurociência comportamental Estuda os circuitos complexos de células neuronais que produzem comportamentos e outros fenômenos psicológicos, tais como sono, comportamento emo- cional, sexual, etc Neuropsicólogos Neurociência cognitiva (ou Neuropsicologia) Estuda a relação entre cérebro e comportamento, destacando-se as capacidades mentais mais com- plexas típicas do ser humano, como linguagem, autoconsciência, memória e aprendizagem Figura 1 - Evidência de cirurgia cerebral pré-histó- rica (mais de 7.000 anos), onde se nota os orifícios no cérebro (modificado de Bear et al.1, 2002). Relação céRebRo-compoRtamento Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 117-26 121 (1823) a teoria que veio a ser conhecida como teoria do Campo Agregado. Utilizando o método de ablação experimental em animais (pássaros principalmente), que consiste em destruir partes do sistema nervoso e testar os déficits sensoriais e motores causados pela destruição, ele com- provou o papel do cerebelo nos movimentos motores, comprovando a hipótese levantada por Bell e Magendie. Concluiu o autor que não existiam regiões cerebrais únicas para com- portamentos específicos. Ao contrário, sugeriu que todas as regiões do cérebro participariam de cada função mental, em especial as regiões cerebrais do telencéfalo. Essas duas correntes de pensamento ganha- ram adeptos de várias áreas de atuação que, por sua vez, levaram a cabo a discussão da localiza- ção ou não das funções mentais complexas até mais ou menos a metade do século XX. Na linha localizacionista, destacam-se os trabalhos desenvolvidos pelo médico cirurgião Paul Broca e pelo neurologista e psicólogo Karl Wernicke. Broca, em 1861, descreveu o caso de um paciente que tinha lesão na região da parede posterior do lobo frontal (Figura 5). Embora esse paciente não apresentasse qualquer problema motor em sua língua, boca ou cordas vocais, ele era incapaz de falar gramaticalmente em frases completas, ou de expressar seu pensamento por escrito (afasia motora). Tais achados levaram Broca a concluir que a função da linguagem estaria localizada nesta região específica. A importância desse trabalho é tanta que, atu- almente, ele é considerado o marco inicial da neuropsicologia. Wernicke, por outro lado, descreveu, em 1876, casos de lesões da parte posterior do lobo temporal. Contrariamente ao paciente de Broca, os pacientes de Wernicke tinham capacidade de falar, porém eram incapazes de compreender o que falavam (afasia sensorial). Concluiu, então, que o progra- ma motor, responsável pela execução da fala, estaria na área apontada por Broca, enquanto o programa sensorial estaria na área por ele descrita. Esse pesquisador sugeriu, ainda, o seguinte mo- delo de organização cerebral para a linguagem: a percepção inicial da fala seria decodificada em áreas sensoriais (visuais ou auditivas), em seguida, a informação seria processada no giro angular; posteriormente, iria para a região posterior do lobo temporal, onde a linguagem seria associada a um significado e, por fim, iria para a região posterior do lobo frontal, que se encarregaria de transformar a sensação sensorial em representação motora. Mais recentemente, o chamado modelo Wernicke-Geschwind procura explicar como se dá o processamento da palavra falada e da palavra escrita nas diversas áreas cerebrais relacionadas à linguagem (Figura 6). Retornando à questão da localização, outras pesquisas desenvolvidas à época do debate também relatavam a localização de outras fun- ções em áreas específicas do cérebro, tais como a do neurologista Panizza, que descreveu, em 1855, casos de indivíduos com cegueira perma- nente após lesão na região occipital, e de John M Harlow (1848-1949), que descreveu o conhe- cido caso de Phineas Gage, paciente que passou a apresentar alterações comportamentais após sofrer lesão na região frontal. Paralelamente a essas questões, as investiga- ções histológicas davam um salto de qualidade com Figura 5 - Lesão produzida no lobo frontal que resultou em afasia motora (modificado de Bear et al.1, 2002). RodRigues sd & ciasca sm Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 117-26 122 as descobertas do médico italiano Camilo Golgi e do histologista Santiago Ramon y Cajal. O primeiro desenvolveu o método de coloração por prata, que possibilitou a identificação ao microscópio de toda estrutura do neurônio (corpo celular, dendritos e axônios). Ramon y Cajal, por outro lado, utilizou o método desenvolvido por Golgi e demonstrou que o tecido neural era uma rede de células, e não uma massa contínua, como se acreditava até então. As investigações farmacológicas também davam a sua contribuição ao demonstrar a na- tureza química da comunicação entre as células neurais, merecendo destaque os trabalhos de- senvolvidos por Claude Bernard (França), Paul Ehrlich (Alemanha) e John Langley (Inglaterra). Ainda na linha localizacionista, Korbinian Broadman, anatomista alemão, reforçou essa teoria quando se inspirou nos trabalhos de Wer- nicke e Broca e diferenciou, no início do século XX, 52 áreas funcionalmente distintas (Figura 7) no córtex cerebral. Entretanto, apesar das evidências apresen- tadas, os adeptos da linha do campo agregado continuavam a questionar a validade do prin- cípio da localização nas atividades mentais complexas. Karl Spencer Lashley (1890-1958), por exemplo, estudou a aprendizagem de ani- mais em situações experimentais e, do mesmo modo que Flourens, concluiu que quando uma parte do cérebro animal era lesada, outra parte compensava a perda da função destruída e essa compensação estava relacionada com o tama- nho da lesão, e não com a localização da mesma. Pelo que se depreende da literatura, pare- ce ser consenso que a resposta a esse conflito (localização ou não das funções mentais) só co- meçou a tomar novo rumo com as investigações de Alexander Ramanovich Luria (1902-1977) em pacientes com lesão do sistema nervoso central. Em seu trabalho, Luria demonstrou que as funções superiores organizam-se em sistemas funcionais complexos, ou seja, não há participa- ção de apenas uma área específica do cérebro, mas sim da ação de várias áreas. Além disso, preconizou Luria que cérebro está organizado em três unidades funcionais principais, cuja atuação “em concerto” possibilita qualquer tipo de atividade mental (Figura 8). Figura 7 - Esquema cerebral onde se visualiza as áreas citoarquitetônicas de Broadman. Figura 8 - Unidades funcionais, segundo Luria5. Figura 6 - Modelo de processamento da linguagem (modificado de Bear et al.1, 2002). PALAVRA ESCRITA PALAVRA FALADA Processamento auditivo inicial Córtex auditivo primário Reconhecimento auditivo da palavra Córtex têmporo-parietal (giro angular) e córtex temporal superior anterior Processamento visual inivial Córtex estriado Reconhecimento visual da palavra Córtex estra-estriado Associação semântica Codificação pré-motora Área motora suplementar Outros áreas próximas à fissura lateral Controle motor da fala Fala Relação céRebRo-compoRtamento Rev. Psicopedagogia 2010; 27(82): 117-26 123 Unidades funcionais de Luria Primeira unidade funcional Como se sabe, toda e qualquer atividade é desencadeada por algum tipo de estímulo físico. Esse estímulo, por sua vez, desencadeia um fluxo de corrente elétrica que trafega atra- vés de conexões neuronais, até atingir o córtex cerebral. É esse órgão extremamente complexo que se encarrega de processar a informação e enviar a resposta através das vias eferentes. Entretanto, no caso de funções mentais complexas, a primeira condição para o proces- samento adequado da informação no cérebro é a necessidade de o sujeito estar em estado de vigília. É a primeira unidade funcional que se encarrega de regular o tono, a vigília e os estados mentais do indivíduo. Dissertando sobre essa primeira unidade funcional, Luria5 atribuiu a Pavlov o mérito de não só ter inferido que a atividade organizada no homem dirigida a metas requer a existência de um nível ótimo de tono cortical, como tam- bém de ter estabelecido três leis neurodinâmi- cas que caracterizam esse tono. A primeira es- tabelece que a intensidade da resposta depende da intensidade do estímulo. A segunda refere que a resposta a um estímulo requer que haja concentração dos processos nervosos e equilí- brio entre a excitação e inibição e, a terceira está relacionada com a mobilidade dos proces- sos nervosos, característica que possibilita ao indivíduo mudar facilmente de uma atividade para outra. Todos esses atributos (intensida- de, concentração e mobilidade dos processos nervosos) são inibidos durante o sono, ou no estado que o precede. Interessante destacar que o tono cortical diminuído perturba a relação entre excitação e inibição, levando à perda da mobilidade e, consequentemente, prejudicando o processamento da informação. Posteriormente às inferências de Pavlov, descobriu-se que no cérebro há uma estrutura cerebral específica denominada de formação reticular, que é responsável pela manutenção do estado ótimo do tono cortical. Essa estrutura, constituída por uma rede nervosa de neurô- nios interconectados, situa-se no subcórtex e no tronco cerebral e tem como característica a geração de sinais gradativos (e não do tipo tudo-ou-nada) que modulam o sistema nervoso. As fibras da formação reticular formam dois sistemas: o sistema reticular ascendente e o sistema reticular descendente. O primeiro (sistema reticular ascendente) faz conexões com o tálamo, o núcleo caudado, o arquicórtex e com o córtex (Figura 9) e tem como função a ativação do córtex e a regulação do estado de Figura 9 - Esquema cerebral demonstrando a atuação da formação reticular. sua atividade. Já o segundo (sistema reticular descendente) tem fibras que correm no sentido oposto, ou seja, partem do neocórtex e seguem para o arquicórtex, o núcleo caudado, os núcleos talâmicos, as estruturas mais baixas no me- sencéfalo, no hipotálamo e no tronco cerebral. Assim, ao mesmo tempo que os sistemas da primeira unidade mantêm o tono cortical, eles próprios são influenciados pelo córtex. Segundo Luria5, diversos experimentos em animais e em humanos demonstraram que lesões e/ou estimulação na formação reticular levam a um ou mais destes estados: diminui- ção pronunciada do tono cortical, estado de sono pronunciado, estado de coma, mudanças
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