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Guias e Dicas
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Camões - Lusíadas- Adamastor, Esquemas de Português (Gramática - Literatura)

Lusíadas "Adamastor" Conteúdo de Resumo Esquemático

Tipologia: Esquemas

2022
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Compartilhado em 08/12/2022

MrIogurtes
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Baixe Camões - Lusíadas- Adamastor e outras Esquemas em PDF para Português (Gramática - Literatura), somente na Docsity! 1 ADAMASTOR Estátua de Apolo, na ilha de Rodes O Colosso de Rodes – enorme estátua do deus Apolo, à entrada do porto da ilha de Rodes, com 33 metros de altura, que é considerada uma das sete maravilhas do mundo (verso 4 – estância 40). As restantes seis são as pirâmides de Gizé, no Egito; os jardins suspensos da Babilónia; o farol de Alexandria; a estátua de Zeus no Olimpo; o Mausoléu (túmulo do Rei Máusolo) em Halicarnasso e o Templo de Diana em Éfeso. Adamastor Estâncias 37-60 do canto V de Os Lusíadas • Estrutura externa: Canto V, est. 37 – 60 • Estrutura interna: Narração; • Narrador: Vasco da Gama • Plano narrativo: Plano da Viagem DIVISÃO DO EPISÓDIO EM PARTES Inspirado em Homero e Ovídio, o episódio do Gigante Adamastor é o mais rico e complexo episódio do poema, de natureza simbólica, mitológica e lírica. É composto por vinte e quatro estrofes (canto V, est. 37 - 60), assim distribuídas: Estâncias 37-38: introdução (2): cenário da aparição do Adamastor Estâncias 39-48: Adamastor (10): retrato do Adamastor e o seu discurso Estância 49: transição (1): Vasco da Gama interpela o Gigante Estâncias 50-59: Adamastor (10): drama amoroso do Adamastor Estância 60: epílogo (1): O Gigante desaparece Como se vê, há uma distribuição muito equilibrada das estâncias: das vinte e quatro estrofes, quatro destinam-se à introdução, transição e epílogo; as vinte restantes, divididas ao meio, apresentam o herói da sequência. Tanto Vasco da Gama como o Adamastor aparecem como narradores e como personagens. PORTUGUÊS – 9º Ano Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões 2 Este episódio é muito importante, pois nele concentram-se as grandes linhas da epopeia: 1. O real e o maravilhoso (dificuldade na passagem do cabo/ personificação do cabo num Gigante); 2. A existência de profecias (Adamastor profetiza a história de Portugal); 3. Lirismo (história de amor, que irá ligar-se mais tarde, à narração do maravilhoso da Ilha dos Amores); 4. É também um episódio trágico, de amor e morte; 5. É um episódio épico, com a vitória do Homem sobre os elementos (água, fogo, terra, ar). ANÁLISE TEMÁTICA Já no meio da viagem, os portugueses deparam-se com o maior dos perigos e dos medos: o gigante Adamastor. Vasco da Gama narra também este episódio ao rei de Melinde, revelando toda a sua experiência e sentimentos. Antes de mais, é importante considerar que se trata de um episódio simbólico. Adamastor é o símbolo dos perigos e das dificuldades que se apresentam ao Homem que sente o impulso de conhecer, de descobrir. Só superando o medo, o Homem poderá vencer (Humanismo). O Adamastor é portanto, uma figura mitológica criada por Camões, na qual concentrou todos os perigos e dificuldades que os portugueses tiveram que transpor. Não é por acaso que o episódio do Adamastor ocupa o lugar central no poema épico. O canto V marca o meio da obra e é com ele que termina o primeiro ciclo épico da narração. Marca também a passagem do mundo conhecido para o desconhecido, a passagem do Ocidente para o Oriente. Na estância 49, Vasco da Gama dá mais uma prova de ousadia da gente Lusitana, uma vez que mesmo mediante as trágicas profecias, tem a coragem de interpelar o Gigante e perguntar-lhe quem é. A simples pergunta “Quem és tu?” provoca uma brutal mudança na intenção, na postura e até no tom de voz do Adamastor que, da estância 50 à 59, narra a história da sua vida, destacando de forma lastimosa e magoada o amor frustrado com Tétis (narrativa secundária encaixada). Finda a narração, o Adamastor retira-se, tal como tinha surgido, deixando o caminho livre para os nautas passarem (estânciaa 60), o que leva Vasco da Gama a interceder pela sua vida e pela dos marinheiros, dirigindo-se a Deus e pedindo-lhe “que removesse os duros/casos que Adamastor contou futuros”. A ousadia de Vasco da Gama abriu a passagem para a Índia. O medo estava vencido, passando o cabo das Tormentas a designar-se cabo da Boa Esperança. Depois de relatar este episódio, Vasco da Gama termina a narração ao rei de Melinde. Agora é o momento de prosseguir viagem e continuar a fazer História Tema e seu desenvolvimento Cinco dias depois da paragem na Baía de Santa Helena, chega o Gama ao Cabo das Tormentas e é surpreendido pelo aparecimento do colossal gigante Adamastor, uma figura mitológica criada por Camões para significar todos os perigos, as tempestades, os naufrágios e “perdições de toda sorte” que os Portugueses terão de enfrentar e transpor nas suas viagens. Mas mesmo os gigantes têm os seus pontos fracos. Este que o Gama enfrenta é também uma vítima do amor não correspondido. Apaixona-se pela bela Tétis, que o rejeita pela “grandeza feia do seu gesto”. Decide, então, “tomá-la por armas” e revela o seu segredo a Dóris, mãe de Tétis, que serve de intermediária. A resposta de Tétis é ambígua, mas ele acredita na sua boa fé. Acaba por ser enganado. Quando, na 5 Estância 44 - O Gigante afirma que se vingará ali mesmo do seu descobridor, Bartolomeu Dias, e que outras embarcações portuguesas serão destruídas por ele. As afirmações são ameaçadoras: profetiza males de toda a sorte, dos quais o menor será a morte. Estância 45 - É citado D. Francisco de Almeida, primeiro vice-rei da Índia, e sua vitória sobre os turcos. O Adamastor continua ameaçador e profetiza o naufrágio das embarcações da armada do vice-rei e a sua morte naquelas águas. Estância 46 - Nesta estrofe o Gigante narra a desgraça da família de Manuel de Sousa Sepúlveda, cujo destino será tenebroso: depois de um naufrágio, sofrerão muito, até morrerem de forma extremamente cruel. Estância 47 - O Adamastor continua a profetizar os detalhes do naufrágio da família Sepúlveda e afirma que os filhos queridos de Manuel de Sousa Sepúlveda morrerão de fome e sua esposa será vítima da violência dos habitantes de África, depois de caminhar nua e desamparada pelas areias do deserto. Estância 48 - Os sobreviventes deste naufrágio verão Manuel de Sousa Sepúlveda e sua esposa morrerem juntos, abraçados, no mato quente e inóspito. Estância 49 - O Gigante continuaria fazendo terríveis profecias, se Vasco da Gama não o interrompesse, interpelando- o. Então, pergunta-lhe quem é ele e faz referência à sua figura verdadeiramente espantosa. O Adamastor responde com voz pesada, porque a pergunta fá-lo relembrar o seu triste passado. Estância 50 - O Gigante apresenta-se: ele é o Cabo das Tormentas, nunca conhecido pelos geógrafos da Antiguidade, última porção de terra do continente africano, que se alonga para o Pólo Sul. Mais uma vez reforça a ofensa, que em seu entender, foi praticada pelos portugueses, ao cruzarem aqueles mares. Estância 51 - Adamastor diz que era um dos Titãs, gigantes que lutavam contra Júpiter e que sobrepunham montes para alcançar o Olimpo. Ele, no entanto, buscava a armada de Neptuno, nos mares, e contra ela lutava, por desejar tomar Tétis para si. Estância 52 - Adamastor cometeu a loucura de lutar contra Neptuno por amor a Tétis, por quem desprezou todas as deusas do céu. Um dia, viu-a nua na praia e apaixonou-se por ela, e ainda agora não há nada que mais deseje do que tê-la para si. Estância 53 - Como sabia que jamais conquistaria Tétis, por ser muito feio, Adamastor resolveu conquistá-la por meio da guerra e manifestou a sua intenção a Dóris, mãe de Tétis, que ouviu da filha a seguinte resposta: como poderia o amor de uma ninfa ser suficiente para o amor de um gigante? Estância 54 - Continua a resposta de Tétis: ela, para livrar o oceano da guerra, tentará solucionar o problema com dignidade. O gigante afirma que, porque estava cego de amor, não percebeu que as promessas que Dóris e Tétis lhe faziam eram mentirosas. Estância 55 - Uma noite, louco de amor e tendo desistido da guerra, apareceu-lhe o lindo rosto de Tétis, bela e nua. Como louco, o Gigante correu, abrindo os braços para aquela que era a vida de seu corpo e começou a beijá-la. Estância 56 - Adamastor não consegue expressar a mágoa que sentiu, de tão profunda e intensa que esta é, porque, achando que beijava e abraçava Tétis, encontrou-se abraçado a um duro monte. Sem palavras e imóvel, sentiu-se como uma rocha diante de outra rocha. 6 Estância 57 – Então Adamastor, no auge do sofrimento, invoca Tétis, perguntando por que razão, se ela não o amava, o manteve na ilusão de que a poderia ter. Dali ele partiu, quase louco pela mágoa e pela desonra, e foi à procura de outro lugar, em que não houvesse quem risse de sua tristeza. Estância 58 – Entretanto, os Titãs tinham sido vencidos e soterrados, para maior segurança dos deuses, contra quem não é possível lutar. Adamastor anuncia, então, o seu castigo e triste destino. Estância 59 - A carne do Gigante transformou-se em terra e os ossos em pedra; os seus membros e a sua figura alongaram-se pelo mar; os deuses fizeram dele um Cabo. E para que sofra em dobro, Tétis costuma cercá-lo naquelas águas. Estância 60 – Nesta altura, o Adamastor desaparece chorando e o mar soou longínquo. Vasco da Gama ergue os braços ao céu e pede aos anjos que os casos futuros (profecias) contados por Adamastor não se realizem. INTERPRETAÇÃO DO EPISÓDIO A – Introdução e aparecimento do gigante • As condições em que decorreu a viagem desde a Baía de Santa Helena estão presentes na est. 37 - A viagem decorreu tranquilamente e com tempo favorável (“Prosperamente os ventos assoprando”). • Essas condições contribuem para acentuar o efeito de surpresa provocado pelo aparecimento do gigante: o tempo favorável descuidara os marinheiros, que são surpreendidos pelo gigante. • Há alterações meteorológicas que antecedem o aparecimento do gigante: surge repentinamente uma nuvem tão escura e carregada, acompanhada do bramido do mar, que os marinheiros ficam instintivamente tolhidos pelo medo. • Antes de nos dar conta do primeiro discurso do Adamastor, o narrador – Vasco da Gama – prepara-nos para o aparecimento do Gigante: ▪ Num primeiro momento, Gama dá-nos conta do ponto do percurso em que se encontravam (tinham saído há cinco sóis da baía de Santa Helena) e da forma como estava a decorrer a viagem (com ventos favoráveis). ▪ Porém, o aparecimento súbito de uma nuvem densa e escura, acompanhada do rugir do mar ao longe, trouxe o receio ao espírito dos navegantes e inquietação a Vasco da Gama, pois perceberam que aquilo que se aproximava era algo mais grave do que uma tempestade. ▪ As aliterações em r e em n acentuam o caráter tenebroso da nuvem que se levantou, permitindo entender o medo dos marinheiros. ▪ Ainda na estância 38 Vasco da Gama pede ajuda divina (“Potestade sublimada”) para entender o que se passa e pedir proteção. • Estâncias 39 e 40 - Caracterização física e psicológica do Gigante: Retrato físico: - “hũa figura / (…) robusta e válida”, “disforme e grandíssima estatura”; - “barba esquálida”, “olhos encovados”; - “cor terrena e pálida”; - “Cheios de terra e crespos os cabelos, / A boca negra, os dentes amarelos.” - “tom de voz (…) horrendo e grosso”. Retrato psicológico: - “rosto carregado” (rosto sombrio, carrancudo); 7 - “postura medonha e má” (atitude ameaçadora e hostil). • o gigante caracterizado com tantos pormenores para acentuar o seu caráter grotesco e terrífico e justificar o medo sentido pelos marinheiros. • Recursos expressivos utilizados nessa caracterização: - Comparação e hipérbole: o tamanho dos seus membros é tal que o Adamastor é comparado ao colosso de Rodes, comprovando-se assim, o seu tamanho anormal. - Adjetivação expressiva: acentua o tom de voz aterrorizador. • As características do gigante poderiam ser sintetizadas num único adjetivo, por exemplo: horrendo, terrífico, assombroso, tremendo, descomunal…. • Os versos que descrevem a reação dos marinheiros à visão do gigante são os seguintes “Arrepiam-se as carnes e o cabelo/ A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo”- estes versos revelam as reações de medo e repulsa provocadas pelo que os marinheiros veem e ouvem. • Este é um episódio de contrastes: nesta primeira parte evidencia-se o contraste da grandeza do gigante perante a pequenez dos marinheiros. B – Interpelação do gigante aos portugueses • As palavras do Adamastor são dirigidas aos Portugueses através da apóstrofe “Ó gente ousada” (est.41) • O Gigante exprime sentimentos contraditórios em relação à “gente ousada” que se atreveu a navegar nas suas águas: o Gigante nutre pelos Portugueses admiração pelo seu atrevimento, coragem e determinação e, simultaneamente, ódio pelo facto de essa “gente ousada” vir desvendar os segredos do mar que, até aí, era só seu (est. 41 e 42, vv. 1 – 2). • O Adamastor faz advertências a estes homens corajosos: Ele avisa os Portugueses de que serão castigados pelo seu “atrevimento” (est. 42, vv 5 – 6), pois todas as naus que fizerem aquela viagem terão como inimigo aquele lugar, com “ventos e tormentas desmedidas” e a primeira armada que por ali passar há de ter um inesperado e destruidor castigo (est. 43). • Nesta parte do discurso podemos identificar exemplos do uso da hipérbole. Este recurso expressivo contribui para o retrato que o gigante traça dos portugueses: o reconhecimento de que o português é um povo ousado, determinado e corajoso evidencia-se nas hipérboles das estâncias 41 e 42: “Mais que quantas/ No mundo cometeram grandes cousas”; “tais e tantas”; “nunca repousas”; “os vedados términos quebrantas”; “A nenhum grande humano concedido”. • Na estância 42, no verso “Ouve os danos de mi que apercebidos”, o gigante enuncia as profecias de desgraças que vai provocar para castigar os Portugueses pelo seu atrevimento. A partir da estância 43, o gigante usa um tom preditivo para profetizar essas perdições. O tempo verbal mais utilizado é o futuro do indicativo, já que são anunciadas as tragédias que os portugueses sofrerão por terem ousado passar por aqueles mares. • Luís de Camões colocou estes casos na boca do Gigante porque, como se tratam de casos futuros que ainda não podiam ser do conhecimento de Vasco da Gama, são relatados como vaticínios pelo Adamastor. (Note-se que todas as profecias se concretizarão. Camões que publicou a sua obra 74 anos após a viagem de Vasco da Gama, torna as palavras do gigante mais realistas ao referir casos conhecidos). • De acordo com as palavras do Gigante todas as naus que passarem por aquele cabo “inimiga terão esta paragem” (est. 43) e sofrerão “Naufrágios, perdições de toda sorte” (est.44). 10 - Estão presentes os sentimentos de uma louca paixão que que provoca a dependência, a cegueira e a falta de discernimento. E – Desfecho do episódio (estância 60) • Quando o Adamastor desaparece da vista dos marinheiros o seu estado de espírito e os sentimentos provocados pela sua figura são muito diferentes: Ao contrário do sucedido no momento em que aparece (est. 39 e 40), infundindo o medo pela sua figura e pelo tom da sua voz, o Gigante desaparece subitamente chorando, humilhado pela recordação do seu sofrimento e, provavelmente, pro ter tomado consciência que a sua força aparente se transforma facilmente em fraqueza. • No final do episódio Vasco da Gama invoca a proteção divina, pedindo a Deus que não permitisse que os casos vaticinados pelo Adamastor viessem a acontecer (est. 60, vv. 5-8). • Simbolismo do Adamastor. O Adamastor simboliza a vitória sobre os perigos do mar e sobre o medo do desconhecido. ANÁLISE ESTILÍSTICA - SÍNTESE Na primeira parte do texto (estâncias 37 e 38), tratando-se da descrição da mudança de ambiente que precede o aparecimento do gigante, são especialmente visíveis: - Metonímia: o autor quer referir-se ao tempo de cinco dias e cinco noites e ao mar, definindo-os por uma das suas qualidades. (37) "Porém já cinco sóis eram passados" (sóis por dias) (42) "Da natureza e do húmido elemento" (húmido elemento por água) Nota: metonímia: (latim metonymia, -ae) s. f.- Figura de retórica que consiste no emprego de uma palavra por outra com a qual se liga por uma relação lógica ou de proximidade, de qualidade ou de característica. - Personificação: o Poeta atribui ao mar e às ondas atributos genuinamente humanos. Aliás, "bramir" é sinónimo de "bradar", mas este vocábulo, que pode referir-se indistintamente ao barulho da natureza e à voz humana, foi usado pelo Poeta no segundo sentido (não teria sentido referir-se ao barulho das ondas duas vezes no mesmo verso). (38) "Bramindo o negro mar de longe brada" (43) "Fizer por estas ondas insofridas" - Adjetivação expressiva (dupla, simples e no superlativo): figura “robusta e válida”; “De disforme e grandíssima estatura”; “rosto carregado” e “barba esquálida” ;“olhos encovados”; “Postura medonha e má a cor terrena e pálida” ; “Cheios de terra e crespos os cabelos”; “boca negra” ; “dentes amarelos”; “tom de voz horrendo e grosso”; (“cortadora”, “temerosa”, “carregada”); -Apóstrofe: est.41, v.1 - Anáfora: est. 47, v.1-3 - Metáfora: “E navegar meus longos mares ousas, / Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho, / Nunca arados de estranho ou próprio lenho” (est. 41, vv. 6-8) sugere implicitamente a identificação dos mares com campos “arados”, lavrados pelas naus. O gigante Adamastor comunica como pretende dar fim à vida dos navegantes (45) "Serei eterna e nova sepultura"; est.48, v.8. 11 - Comparação/ comparação hiperbólica:["Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso, / Que pareceu sair do mar profundo" (est. 40, vv. 5-6)]; est. 40, vv. 1-3 - Polissíndeto: (repetição expressiva de conjunções coordenativas) “De disforme e grandíssima estatura; / Os olhos encovados, e a postura / Medonha e má e a cor terrena e pálida; / Cheios de terra e crespos os cabelos,". - Assíndeto (enumeração assindética): est. 47, v.6 • o jogo de contrastes (os “cinco sóis”, a luminosidade anterior àquela noite em que “uma nuvem negra que os ares escurece”, “temerosa” e “carregada”, “pôs nos corações um grande medo” e “o negro mar de longe brada”); • as sensações visuais (o predomínio do negro e das trevas) e auditivas (“Bramindo, o negro mar de longe brada, / Como se desse em vão nalgum rochedo”); • o uso do gerúndio (“cortando”, “assoprando”, “estando” “vigiando”, “bramindo”) para caracterizar a serenidade da situação anterior, de repente alterada pelo surgimento da nuvem ameaçadora, traduzido já pelo presente e imperfeito do indicativo (“escurece”, “aparece”, “brada” e “vinha”); • o uso da aliteração em r e dos sons fechados e nasais que, pela sua maior amplitude, sugerem o ruído do mar (onomatopeia): “Bramindo o negro mar de longe brada”; • na intervenção do Gama são de salientar o vocativo (“Ó Potestade”) e a interrogação (últimos três versos). - Apóstrofe: na primeira parte do discurso do Adamastor “Ó gente ousada, (est. 41, v.1). - Nesta parte do discurso, predominam o Imperativo (“ouve”, “sabe”), os Futuros do Indicativo [“terão”, “farei”, “acabará”, “vereis”, “serei”, “porá”, “virá”, “trará”, “terá dado”, “deixará”, “verão” e do Conjuntivo (“fizerem”, “fizer”, “ficarem”, “abrandarem”), adequados ao caráter ameaçador e profético; - Gradação (enumeração de elementos por ordem crescente ou decrescente de intensidade): “Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada?” (est. 57, v. 4) - Hipérbato: “que removesse os duros/casos que Adamastor contou futuros”; est. 45, vv. 5,6 - Sinédoque e eufemismo: est. 48, vv.7,8 Em resposta à invocação do Gama surge a figura colossal e medonha de Adamastor, em cuja caracterização predomina uma riquíssima adjetivação, por vezes dupla e superlativada: “figura robusta e válida”; “disforme e grandíssima estatura” (superlativo absoluto sintético); “o rosto carregado”; “a barba esquálida”; “os olhos encovados”; “a postura medonha e má e a cor terrena e pálida”; “Cheios de terra e crespos os cabelos, /A boca negra, os dentes amarelos”; “De Rodes estranhíssimo (superlativo absoluto sintético) coloco”; “Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso”; “estupendo corpo” (estância 49). Camões utiliza ainda a comparação para melhor visualizar a figura de Adamastor e até para o caracterizar psicologicamente: • “… este era o segundo/ De Rodes estranhíssimo colosso”; • “Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso. / Que pareceu sair do mar profundo”; • “…com voz pesada e amara, / Como quem da pergunta lhe pesara” (49) Por outro lado, a primeira parte do discurso inicia-se com a célebre apóstrofe “Ó gente ousada” e nele predominam o imperativo (“ouve”, “sabe”) e o futuro do indicativo (“terão”, “farei”, “acabará”, “vereis”, “serei”, “porá”, “virá”, “trará”, 12 “terá dado”, “deixará”, “verão” (quatro vezes), “soltarão”) e do conjuntivo (“fizerem”, “fizer” (duas vezes), “ficarem”, “abrandarem”), perfeitamente adequados ao seu caráter profético e ameaçador. Realmente, a tentativa de intimidação que levasse à cessação das viagens de descoberta dos Portugueses através do anúncio de todo o tipo de catástrofes e perdições não podia ser mais convincente. Por isso abundam ainda os adjetivos, especialmente na “antevisão” do célebre naufrágio dos Sepúlveda: • “Outro também virá, de honrada fama,/ Liberal, cavaleiro, enamorado,/ E consigo trará a fermosa dama”. • “triste ventura e negro fado os chama/ Neste terreno meu, que, duro e irado, / Os deixará de um cru naufrágio vivos,/ Para verem trabalhos excessivos”. • “Verão os Cafres, ásperos e avaros”; • “Cos delicados pés a areia ardente”; • “Os dois amantes míseros ficarem/ Na férvida e implacábil espessura”; • “Abraçados, as almas soltarão/ Da formosa e misérrima prisão”. A extensão e o dramatismo emprestados pelo Gigante a esta morte trágica de dois amantes poderá resultar do facto de ele próprio ser também uma vítima do amor não correspondido. E isso poderá explicar também o belo eufemismo dos dois últimos versos da estância 48 já atrás citados. A reação do Gama, estância 49, inquirindo o Gigante sobre a sua identidade, irá desencadear um autêntico refluxo da sua agressividade. Obrigado a pensar sobre si próprio, muda o tom (“voz pesada e amara”), evoca o seu passado de luta contra Júpiter, de que desistiu quando se apaixonou por Tétis. Esta engana-o e, quando julgava abraçar o seu belo corpo, nada mais cinge que um rochedo, ele próprio também transformado em penedos, o Cabo das Tormentas. O seu discurso magoado de amoroso não correspondido atinge o clímax na estância 57: “Ó Ninfa, a mais fermosa do Oceano,/ Já que minha presença não te agrada,/ Que te custava ter-me neste engano,/ Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada?” Finalmente, na estância 60, temos a contraposição entre o “medonho choro” do Gigante fragilizado pelas recordações tristes do passado, que desaparece tão subitamente como aparecera, e um Gama confiante que, num arrojado hipérbato, suplica “ao santo coro dos Anjos” que afaste os “duros casos que Adamastor contou futuros”. ANÁLISE DO SIMBOLISMO DO EPISÓDIO 1. A representação do “terrífico”: logo na descrição do ambiente estão presentes elementos associados ao medo, como a escuridão, o ruído intenso, o tamanho e a postura ameaçadora do Gigante, a sujidade repelente, a cor cadavérica e o tom de voz; 2. A exaltação do herói: por serem ditas por um ser tão terrível, as palavras do Adamastor sobre a ousadia dos nautas têm um efeito claramente exaltante no que se refere ao desvendar do desconhecido, que nenhum ser se tinha atrevido a tentar – é uma forma de destacar que o grande feito da viagem foi a conquista do conhecimento; 3. A afirmação do herói: a coragem do herói afirma-se pelo enfrentar do medo, por ousar conhecer e decifrar o desconhecido – a pergunta de Vasco da Gama sobre a identidade do monstro (“quem és tu?”) é um momento simbólico da afirmação da grandeza do Homem Português;
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