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CARBAMATO DE ETILA EM BEBIDAS ALCOÓLICAS ..., Esquemas de Destilação

O carbamato de etila (CE) é um contaminante químico presente em alimentos fermentados, como pão, iogurte, vinho, cerveja assim como em bebidas destiladas, ...

Tipologia: Esquemas

2023

Compartilhado em 17/01/2023

Nazareth85
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Baixe CARBAMATO DE ETILA EM BEBIDAS ALCOÓLICAS ... e outras Esquemas em PDF para Destilação, somente na Docsity! Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Ciências Farmacêuticas 2017 Júlia Teresa Santos CARBAMATO DE ETILA EM BEBIDAS ALCOÓLICAS DESTILADAS Araraquara Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Ciências Farmacêuticas 2017 Júlia Teresa Santos CARBAMATO DE ETILA EM BEBIDAS ALCOÓLICAS DESTILADAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Farmácia- Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara, da Universidade Estadual Paulista para obtenção do grau de Farmacêutica-Bioquímica Orientador: Prof. Dr. João Bosco Faria Coorientadora: Me. Mariana Gouvêa Rodrigues Araraquara Índice de ilustrações Figuras Figura 1. Fluxograma de etapas do processo de seleção dos estudos para a revisão. .............. 12 Figura 2. Formação de CE pela reação entre ácido ciânico e etanol (A) e ácido isociânico e etanol (B). Isomerização de ácido ciânico e isociânico (C). .................................................... 16 Quadros e Tabelas Quadro 1. Estudos selecionados para a revisão ........................................................................ 12 Tabela 1. Teores de CE analisados nos estudos selecionados em ug/L ................................... 19 Índice de abreviaturas e siglas BMDL: Limite inferior do intervalo de confiança da Dose de Referência BMDL10: Limite inferior do intervalo de confiança da Dose de Referência associado com um risco adicional de 10% de efeito adverso CE: Carbamato de Etila EFSA: Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos FAO: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura GC/MS: Cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas HPLC-ESI/MS: Cromatografia líquida de alta eficiência acoplada à espectrometria de massa por ionização eletrospray HPLC-FLD: Cromatografia líquida de alta eficiência com detector de fluorescência JEFCA: Comitê de Peritos em Aditivos Alimentares da FAO/OMS MOE: Margem de Exposição IARC: Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer OMS: Organização Mundial da Saúde Sumário Introdução ................................................................................................................................... 9 Desenvolvimento ...................................................................................................................... 11 1. Metodologia 11 2. Resultados 11 3. Discussão 13 3.1. Formação 14 3.2. Riscos à saúde 16 3.3. Métodos de análise 17 3.4. Teores encontrados na literatura 19 3.5. Propostas para diminuição 20 Conclusão ................................................................................................................................. 24 Referências bibliográficas ........................................................................................................ 26 Dados finais .............................................................................................................................. 33 9 Introdução O carbamato de etila (CE) é um contaminante químico presente em alimentos fermentados, como pão, iogurte, vinho, cerveja tal qual em bebidas destiladas, como o uísque e a cachaça. Em bebidas destiladas, a principal via de formação envolve a reação entre o etanol e composto nitrogenados (Cook et al. 1990). Logo na etapa de fermentação, ele já é formado a partir de ureia e proteínas como citrulina e carbamoíl-fosfato (Weber e Sharypov 2009). O cianato é possivelmente o último precursor do contaminante, responsável por sua formação durante e após a destilação (Cook et al. 1990). Também conhecido como uretana, é um composto genotóxico e carcinogênico. Doses únicas ou dosagem oral de curto prazo de 100-2000 mg/kg de peso corporal demonstraram indução de tumores em ratos, camundongos e hamsters (JEFCA 2006). Por isso é considerado um potencial carcinógeno para humanos, tendo sido reclassificado do grupo 2B (“possível carcinogênico para humanos”) para o grupo 2A (“provável carcinogênico para humanos”) pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2007. O Canadá foi o primeiro país a estabelecer um teor máximo de CE para bebidas alcoólicas, em 1986. Esses limites variam de 30µg/L para vinhos até 400µg/L para aguardentes de frutas. A República Checa segue os mesmos parâmetros do Canadá, enquanto a França difere apenas no limite para aguardente de frutas, que é de 1000µg/L (EFSA 2007). Para as demais bebidas destiladas, todos os países citados anteriormente apresentam o mesmo limite de 150µg/L (EFSA 2007), que também era o limite brasileiro para cachaça e aguardente de cana-de-açúcar, porém em 2014 foi alterado para 210µg/L pela Instrução Normativa no. 28, de 8 de agosto de 2014. (Brasil 2014). Em 2005, o Comitê de Peritos em Aditivos Alimentares da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e da Organização Mundial da Saúde (JECFA) se reuniu para avaliação dos riscos envolvidos com o CE. O JECFA utilizou um BMDL (limite inferior do intervalo de confiança da dose de referência) no valor de 300µg/kg de peso corporal por dia que foi baseado em um aumento da incidência de adenoma bronquial e alveolar ou carcinoma em camundongos. Considerando a ingestão diária estimada do CE proveniente dos alimentos de 15ng/kg de peso corpóreo, a margem de exposição (MOE) é 20.000. Quando bebidas alcoólicas são incluídas, a ingestão diária sobe para 80ng/kg de peso corpóreo, resultando em um MOE de 3.800 (JEFCA 2006). 10 Dessa forma, o JECFA concluiu que a ingestão do CE proveniente somente dos alimentos é de baixa preocupação, porém a ingestão na alimentação diária combinada com a de bebidas alcoólicas é motivo de preocupação, dessa forma recomenda estudos visando à diminuição deste contaminante nas bebidas alcoólicas (JEFCA 2006). Uma quantidade significativa de pesquisas tem sido destinada a prevenir ou diminuir a formação CE em bebidas alcoólicas. Os métodos atualmente disponíveis podem ser classificados em físicos, químicos, enzimáticos e até envolvendo rotas de engenharia metabólica. Esse trabalho de revisão bibliográfica teve como objetivo, reunir dados relativos à concentração do CE encontradas em bebidas alcoólicas destiladas de 2010 a 2015 para avaliação, visando assim conhecer a sua evolução nesses anos e com isso discutir a eficácia das medidas de incentivo a sua redução. 11 Desenvolvimento 1. Metodologia Revisão bibliográfica da literatura do tipo narrativa ou tradicional, cujo objetivo é descrever e discutir a concentração de CE em bebidas alcoólicas destiladas a partir de um ponto teórico e contextual de vista, em artigos científicos publicados entre 2010 e 2015. Tais trabalhos foram selecionados de bases de dados, seguindo a metodologia proposta por Bento (2012): 1º. Identificar uma lista com palavras-chave de acordo com o objetivo do trabalho para a pesquisa nas bases de dados; 2º. Buscar por fontes secundárias, que são as publicações escritas por autores que analisaram e interpretaram outros trabalhos, como por exemplo resumos e até outras revisões da literatura, que são importantes para adquirir uma visão geral sobre o tema; 3º. Recolher fontes primárias, que são os artigos mais relevantes para o trabalho, são a fonte original de autores e investigadores. Nessa etapa, é possível classificar cada fonte como “Muito importante”, “Importante”, “Pouco importante” como forma de melhor direcionar a leitura mais tarde; 4º. Criticamente, ler e resumir a literatura, a fim de alcançar uma síntese coerente sobre o assunto. Os artigos foram buscados nas bases de dados eletrônicas Web of Science, Science Direct, Scopus e PubMed, utilizando as palavras-chave “Ethyl carbamate” “Concentration” “Acoholic beverages” e o período determinado de 2010 a 2015. Foram analisados artigos em inglês e em português. As listas de referências dos artigos selecionados também foram analisadas. Apenas os estudos com classificação maior do que “Pouco importante” foram incluídos na revisão. Basicamente, foram excluídos artigos que não se referiam ao carbamato de etila e/ou que não estudaram o contaminante em bebidas alcoólicas destiladas. 2. Resultados Na Figura 1, está representado o Fluxograma de etapas do processo de seleção dos estudos para a revisão. 14 3.1. Formação Foram propostos diferentes precursores e meios de formação para o CE em alimentos e bebida, que dependem do produto e do seu processamento e armazenamento (EFSA 2007). No caso dos vinhos, foi proposto que a ureia e outros subprodutos reagem com o etanol e levam a formação de CE, além de fatores como temperatura de fermentação, pH, luz e tempo de armazenamento que estão associados com o aumento da concentração de CE (Lachenmeier et al. 2010a). Galinaro e Franco (2011) acompanharam a formação de CE em cachaças recém- destiladas em função do tempo de armazenamento, influência da luz, temperatura do processo e sistema de destilação (alambique ou coluna). Mais de 60% de todo CE é formado após a destilação, atingindo sua concentração máxima em 7 dias e permanecendo com o mesmo teor a partir dessa data, independente do sistema de destilação. Foi também observado que, as amostras destiladas em coluna apresentaram maiores teores do que as amostras destiladas em alambique e que o aumento da temperatura diminui o tempo de meia vida do CE, porém o teor máximo permanece inalterado. Com relação a influência da luz, a formação de CE não sofre alteração se o destilado é submetido à irradiação, independente do comprimento de onda (Galinaro e Franco 2011), ao contrário do que está descrito para outras bebidas destiladas (Lachenmeier et al. 2010a; EFSA 2007). Entretanto, essa informação difere dos dados encontrados no estudo de Zacaroni et al. (2015), que analisando amostras de cachaças em um período de 6 meses constataram um aumento do teor de CE em 70% das amostras armazenadas na presença de luz, em comparação às mesmas amostras armazenadas na ausência de luz e também que algumas amostras armazenadas na ausência de luz apresentaram diminuição do teor de CE ao final de 6 meses. Baffa Júnior et al. (2011) destacaram que o CE é formado na etapa de fermentação do caldo de cana-de-açúcar, da mesma maneira que nos vinhos. Entretanto, quase todo o CE formado nessa etapa fica concentrado na vinhaça, uma vez que sua temperatura de ebulição (182-185ºC) é maior do que as temperaturas geralmente utilizadas no processo de destilação (Aresta, Boscolo, e Franco 2001). Cook et al. (1990) sugeriram que a formação do CE ocorre gradualmente durante a estocagem da cachaça, pela reação entre ureia e etanol. Essa hipótese foi porém descartada em estudo que constatou que os níveis de ureia não se alteram mesmo 15 após longos períodos de armazenamento, e mesmo que a reação ocorresse, ela seria muito lenta (Andrade-Sobrinho et al. 2009). O cianato (NCO), seu tautômero isocianato (OCN) e seus respectivos ácidos (ácido ciânico e ácido isociânico) são os principais precursores para a formação de CE em cachaças (Aresta, Boscolo, e Franco 2001; Galinaro e Franco 2011; Da Silva et al. 2013). Eles são formados por reações enzimáticas e pela clivagem térmica de glicosídeos cianogênicos, como a amígdalina presentes nas frutas com caroço e a epiheterodendrina da cevada (Battaglia, Conacher e Page 1990; Cook et al. 1990). Não se sabe ao certo a fonte de cianeto na cana-de- açúcar, no entanto ela é classificada como uma cultura cianogênica (Galinaro e Franco 2011). O cobre presente em cachaças destiladas também apresenta um importante papel catalítico na formação desses precursores, pela reação de complexação de Cu2+ com cianeto (Aresta, Boscolo, e Franco 2001; Boscolo 2001). Alcarde et al. (2012a) estudando os teores de cobre e CE em uma segunda destilação de aguardente de cana-de-açúcar, verificaram que enquanto o teor de etanol diminui, os teores de CE e de cobre aumentam no decorrer da destilação. Em cachaças recém-destiladas, 0,8 mg/L de cobre é o suficiente para promover a formação de CE, contudo maiores teores do elemento não demonstram maior efeito catalítico (Bruno et al. 2007). Da Silva et al. (2013), Ohe et al (2014) e Galinaro et al. (2015) estudaram o decaimento de íons cianato correlacionado com o aumento dos teores de CE em soluções aquo/etanólicas e amostras de cachaça. Ainda, verificaram que quando cianato é adicionado na solução ao final da reação de formação de CE, mais CE é formado com o novo precursor. Não há aumento significativo de CE quando arginina, citrulina ou carbamoíl-fosfato são adicionados à solução e uma pequena quantidade de CE é formada quando ureia ou cianeto são adicionados, o que pode ser atribuído a vestígios de cianeto nesses precursores (Galinaro et al. 2015). No caso da adição de ureia ao caldo de cana-de-açúcar, como fonte de nitrogênio para as leveduras na fermentação, há aumento da concentração de cianeto no destilado (Ohe et al. 2014). A rota de formação proposta é a reação do etanol tanto com o ácido ciânico quanto com o ácido isociânico, levando a formação de CE (Figura 2). 16 Figura 2. Formação de CE pela reação entre ácido ciânico e etanol (A) e ácido isociânico e etanol (B). Isomerização de ácido ciânico e isociânico (C). Fonte: o Autor O teor de CE em aguardentes de cana-de-açúcar também depende da configuração do alambique, assim como do método de destilação. A formação de CE na bebida é ainda favorecida por altas temperaturas utilizadas no processo quando o sistema de destilação é defeituoso, ou apresenta uma configuração inadequada, ou tem baixas taxas de refluxo (Alcarde et al. 2012b). Nóbrega et al. (2009) e Nóbrega et al. (2011) também observaram maiores teores de CE em cachaças amarelas em comparação com cachaças brancas produzidas nas mesmas destilarias, demonstrando influência do armazenamento em madeira na formação de CE, apesar de não haver ainda uma explicação para tal até o período compreendido por essa revisão. 3.2. Riscos à saúde O CE é considerado genotóxico e está incluído no grupo 2A da IARC como provável carcinógeno humano (IARC 2007). Beland et al (2005) demonstraram que o CE provoca aumentos dose-dependentes em adenomas ou carcinomas no pulmão, no fígado e na glândula de Harder, hemangiossarcomas no fígado e coração, tumores nas glândulas mamárias e ovários em fêmeas, e papilomas de células escamosas bem como carcinomas da pele e do estômago de roedores machos. A EFSA recomenda a aplicação do cálculo de margem de exposição (MOE) para avaliar o risco de substâncias genotóxicas e cancerígenas. Em geral, um MOE maior ou igual a 10.000 é considerado de baixo nível de preocupação. Valores menores que 10.000 são utilizados para definir riscos à saúde pública (EFSA 2005). Em 2007, a EFSA calculou os MOEs para a população europeia, de acordo com a ingestão estimada da média dos teores do contaminante em alimentos e bebidas alcoólicas, e o valor de nível dose de referência (BMDL10) de 0,3 mg/kg/dia (10% de incidência de 19 3.4. Teores encontrados na literatura Foram 15 os estudos que quantificaram os teores de CE em bebidas alcoólicas destiladas, somando um total de 717 amostras analisadas (Tabela 1). A maior parte dos estudos analisou cachaças e aguardentes de cana-de-açúcar. Aguardentes de cereais, frutas e casca, vodca, conhaque, uísque, rum e bagaceira estão entre as outras bebidas estudadas. Com exceção da cachaça e aguardente de cana-de-açúcar, a maior parte das bebidas alcoólicas destiladas não apresentam teores excessivos de CE. Lachenmeier et al. (2010b) estudando a composição de vodcas não registradas do leste ucraniano, observou que apenas 1 amostra apresentou teor exorbitante de CE (1500ug/L). A incidência foi inferior à encontrava anteriormente para aguardentes de frutas registradas da Alemanha, onde o problema persiste especialmente nos produtos de pequenas destilarias (Lachenmeier et al. 2005). Tabela 1. Teores de CE analisados nos estudos selecionados em ug/L Bebida n >150a >400b min-máx Referências Cachaça e aguardente de cana-de- açúcar 518 ≥173c c NDd-960 Caruso et al. (2010); Galinaro e Franco (2011); Nobrega et al. (2011); Zacaroni et al. (2011, 2015); Machado et al. (2013); Valente et al. (2014); Bortoletto e Alcarde (2015); Serafim e Franco (2015); Aguardente de cereais 70 0 2,9-192 Liu et al. (2011); Wu et al. (2012) Vodca 65 2 ND-1500 Lachenmeier et al. (2010b) Aguardente de frutas 20 9 7 ND-2609 Deák et al. (2010) Conhaque 26 0 0 4,4-46 Alberts et al. (2011) Uísque 14 0 0 ND-90 Alberts et al. (2011); Nobrega et al. (2013); Valente et al. (2014) Rum 2 0 0 2,7-51 Alberts et al. (2011); 20 Valente et al. (2014) Aguardente de casca 1 0 0 1,9 Alberts et al. (2011) Bagaceira 1 0 0 ND Valente et al. (2014) No caso das aguardentes de frutas húngaras estudadas por Deák et al. (2010), apenas 2 amostras apresentaram teores exorbitantes de CE, com valores de 1390 e 2609ug/L. Ambas amostras foram produzidas em sistemas de pequena escala (domésticos), salientando a importância do controle das boas práticas de fabricação. Caruso et al. (2010) e Nobrega et al. (2011), que estudaram os teores de CE em cachaças comerciais, encontraram mais de 50% das amostras em inconformidade com a lei vigente até 2014, cujo limite máximo era de 150ug/L (Brasil 2005). Os resultados obtidos por Bortoletto e Alcarde (2015) foram melhores, mas nem tanto: 46% das 268 cachaças e aguardentes de cana-de-açúcar comerciais estavam acima de 150ug/L, e 104 amostras apresentaram teores acima de 210ug/L, teor máximo permitido pela atual legislação brasileira (Brasil 2014). De acordo com Riachi et al. (2014), pelo menos 42% das cachaças ou aguardentes brasileiras apresentam teor de CE acima de 210ug/L, valores concordantes com os encontrados por Bortoletto e Alcarde (2015), no qual 39% das amostras apresentaram teor acima do limite máximo estabelecido. Enquanto isso, para os produtores brasileiros de uísque as estatísticas são favoráveis. Nobrega et al. (2013) comparou a qualidade do uísque brasileiro com amostras de uísques escoceses. Em seu estudo, 6 de 7 amostras apresentaram teores de CE abaixo de 50ug/L, o mesmo que ocorre para os uísques escoceses. 3.5. Propostas para diminuição Existem diversos métodos propostos cujo objetivo é a redução dos teores de CE em bebidas alcóolicas. Galinaro e Franco (2011) e Alcarde et al. (2012a) estudaram o efeito da dupla destilação na diminuição do CE para aguardentes de cana-de-açúcar, concluindo que até a Limite máximo canadense para bebidas alcoólicas destiladas (EFSA 2007) e antigo limite máximo brasileiro para cachaça e aguardentes de cana-de-açúcar (Brasil 2005) b Limite máximo canadense para aguardentes de frutas (EFSA 2007) c Informações completas insuficientes d ND: não detectável 21 97% do CE formado na primeira destilação pode ser eliminado da bebida com o processo de redestilação. Uma técnica simples que se mostra eficaz na redução dos teores de CE é o armazenamento das bebidas alcóolicas destiladas na ausência de luz (JEFCA 2006; Zacaroni et al. 2015). Outro fator simples no caso das cachaças e aguardentes de cana-de-açúcar é a separação correta das frações de “cabeça”, “coração” e “cauda” (Baffa Júnior et al. 2011; Borges et al. 2014). Grande parte dos produtores faz a separação das frações por volume e provocam a contaminação pelo cianato, que deveria se concentrar apenas na fração “cabeça”. Essa fração por sua vez apresenta elevada concentração de álcoois, que reagem com o cianato e leva à formação de CE (Borges et al. 2014). Borges et al. (2014) verificaram que com o uso de cepas da levedura Saccharomyces cerevisiae selecionadas é possível reduzir até 70% dos teores de CE do mosto fermentado para a cachaça recém-destilada, enquanto que a fermentação espontânea reduz apenas 44% utilizando o mesmo processo de destilação. A fermentação com cepas de laboratório também reduz os teores de CE em aguardentes de frutas quando comparados às cepas comerciais, constatando a contribuição do metabolismo da levedura na formação do CE (Schehl et al. 2005). A composição do destilador e o modo que a destilação é conduzida também influenciam na concentração de CE do destilado. Galinaro e Franco (2011) verificaram uma grande diferença para um mesmo mosto fermentado de cana-de-açúcar destilado em alambique de cobre e em coluna de aço inox, que apresentaram respectivamente 204 e 423 µg/L de CE no destilado, ou seja, as aguardentes destiladas em alambique apresentam menor teor de CE quando comparadas às destiladas em coluna (Bruno et al. 2007; Nobrega et al. 2009; Andrade-Sobrinho et al. 2009). Isso pode ser explicado pelas reações dos compostos cianogênicos com o cobre na parte ascendente do alambique, que formam compostos não voláteis (Aresta, Boscolo, e Franco 2001; Boscolo 2001). Ainda, quando o alambique de cobre possui a parte descendente (tubo do condensador + refrigerador da bobina) feita em aço inox, a contaminação por cobre no destilado é muito pequena, prevenindo consequentemente a formação de CE (Nobrega et al. 2011). Sistemas de destilação utilizando temperaturas elevadas resultam bebidas com um teor mais elevado de CE, enquanto a presença de um deflegmador e sistema de resfriamento no alambique possibilitam a produção de aguardentes de cana-de-açúcar com menores teores 24 Conclusão Muitos estudos têm sido realizados na tentativa de melhor compreender o CE, principalmente envolvendo sua formação e métodos de prevenção e/ou eliminação em bebidas alcoólicas destiladas. A maior parte dos artigos deste trabalho, revelam uma preocupação crescente com o CE presente em cachaças e aguardentes de cana-de-açúcar brasileiras Entender a formação do CE é o primeiro passo para se estudar medidas preventivas. A maior parte do contaminante é formado após a destilação, por reação do etanol com o cianato e seus derivados (isocianato, ácido ciânico e ácido isociânico). A presença de cobre também é um diferencial, pois teores até 0.8 mg/L promovem maior formação de CE e além disso, fatores como calor, envelhecimento, e armazenamento na presença de luz também aumentam a concentração do contaminante. O método de análise oficial para o CE em bebidas alcoólicas é o GC/MS. Amostras de cachaça e aguardente de cana-de-açúcar não necessitam de pré-tratamento neste método, tornando-o mais fácil e rápido. Ainda assim, o método alternativo HPLC-FLD tem ganho espaço pela sua rapidez e níveis de detecção similares. Quando realizados corretamente, ambos os métodos são considerados bastante sensíveis. As bebidas que apresentam maiores teores de CE são as cachaças, aguardentes de cana-de-açúcar e aguardentes de frutas. Os maiores teores encontrados foram dentre as bebidas não registradas e produzidas em pequena escala. Os teores encontrados nas bebidas brasileiras apresentaram melhora de 2010 para 2015, no entanto muitas ainda não se encontram em conformidade com o limite máximo estabelecido pela lei (210 ug/L). O aumento do limite máximo brasileiro de 150 ug/L para 210 ug/L não aumenta consideravelmente o risco para a população, e ainda está muito abaixo do limite máximo canadense para aguardentes de frutas (400 ug/L). Além disso, a alteração da lei estimula a discussão acerca do tema, aumentando a preocupação com as boas práticas de fabricação, e também auxilia e facilita os produtores a se manterem em conformidade com a lei, principalmente aqueles que produzem em pequena escala. Propostas de prevenção e diminuição do contaminante têm sido amplamente estudadas e implementadas. Métodos bioquímicos tiveram bons resultados, como a utilização de cepas selecionadas na fermentação. 25 A velocidade, a temperatura e o modo que a destilação é conduzida, bem como o material do destilador, também fazem grande diferença nas concentrações de CE no destilado. Cachaças destiladas em alambique de cobre, com destilação lenta, o uso de deflegmador e sistemas de resfriamento, e a separação correta das frações “cabeça”, “coração” e “cauda”, apresentam menores teores de CE. Técnicas simples que previnem a formação do CE após a destilação envolvem o armazenamento em ausência de luz e sob temperaturas controladas. Redestilação e filtração com carvão vegetal são técnicas também utilizadas para reduzir os teores de CE no produto final. Diferentes métodos alinhados com boas práticas de fabricação resultam na diminuição e controle do CE, porém a maior preocupação, nacional e internacional, ainda envolve principalmente os pequenos produtores e produtos não registrados, que ocasionalmente apresentam os maiores teores de CE provocados pela falta de controle da produção e fiscalização adequada. 26 Referências bibliográficas Abreu S. M., Alves A., Oliveira B., Herbert P. (2005) Determination of ethyl carbamate in alcoholic beverages: an interlaboratory study to compare HPLC-FLD with GC-MS methods. Analytical and bioanalytical chemistry, 382(2):498-503 Alberts P., Stander M.A., De Villiers A. (2011) Development of a novel solid-phase extraction, LCMS/MS method for the analysis of ethyl carbamate in alcoholic beverages: application to South African wine and spirits. Food Additives & Contaminants: Part A, 28(7):826–839 Alcarde A.R., De Souza L.M. and Bortoletto A.M. 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