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Dialética do Concreto: Entendendo a Filosofia Marxista, Traduções de Sociologia

DialéticaMarxismoFilosofia

Este texto apresenta uma resenha de uma obra intitulada 'dialética do concreto', que explora conceitos centrais do marxismo, como a dialética da totalidade concreta, a pseudoconcreticidade, a destruição da pseudoconcreticidade e a compreensão da realidade como um todo estruturado. O autor destaca a importância de distinguir a representação da coisa em si, a análise da realidade como um todo e a necessidade de superar a pseudoconcreticidade para chegar à verdade.

O que você vai aprender

  • Qual é a importância de distinguir a representação da coisa em si na compreensão da realidade?
  • Qual é a importância da dialética na compreensão da realidade?
  • O que é a pseudoconcreticidade e por que é importante destruí-la?
  • Como a compreensão da realidade como um todo difere da compreensão de todos os fatos da realidade?
  • Como a dialética permite que se conheça a 'coisa em si'?

Tipologia: Traduções

2020

Compartilhado em 24/01/2020

elaine-sallas
elaine-sallas 🇧🇷

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Baixe Dialética do Concreto: Entendendo a Filosofia Marxista e outras Traduções em PDF para Sociologia, somente na Docsity! Revista Educação e Políticas em Debate - v. 1, n. 1, - jan./jul. 2012. 236 RESENHA KOSIK, Karel. Dialética do concreto. Trad. NEVES, Célia; TORÍBIO, Alderico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010. CLÁSSICO MARXISTA: “DIALÉTICA DO CONCRETO” Responsável pela Resenha: Leonice Matilde Richter1 Universidade Federal de Uberlândia Nos últimos anos, observamos a retomada de muitas obras, desconsideradas por muitos pesquisadores no final do século passado, quando o marxismo foi taxado de ultrapassado e subjulgado a não mais atender às demandas do mundo atual. Ironicamente, a contradição ronda essa afirmação e observamos a própria história apontar que parte da academia enterrou cedo demais o marxismo, o qual continua necessário, atual e, ainda, insubstituível na crítica da estrutura capitalista, assim como na indicação das possibilidades de sua superação. A demanda do método marxista no estudo da realidade coloca em destaque a presente obra resenhada. O autor do livro a “Dialética do concreto”, Karel Kosik, de origem tcheca, nasceu em Praga no ano de 1926 e, ao longo da vida, participou como membro do Partido Comunista Tcheco, no qual atuou na resistência clandestina e em diferentes frentes em busca do socialismo humanista. O tomo, ainda que escrito no vigor dos trinta e poucos anos do autor, representa uma densa e consistente obra filosófica marxista, que se propõe à análise do materialismo dialético, retomando um problema fundamental que busca compreender o que é propriamente, no marxismo, a práxis. A necessidade prática do autor de retomar a exposição a partir da raiz, a impossibilidade de tocar diretamente nos problemas fundamentais sem primeiro ter eliminado as falsas colocações e o apreço de conceitos clássicos das obras de Marx dão a aparência de um livro modesto, mas que se compõe complexo e essencial para aqueles que trilham a vertente marxista. 1 Professora da s Faculdades Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia. Doutoranda do Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: rleonice@pontal.ufu.br Revista Educação e Políticas em Debate - v. 1, n. 1, - jan./jul. 2012. 237 O livro apresenta quatro capítulos que demandam ao leitor a visão completa da obra para a sua compreensão, visto que o próprio autor definiu o livro como um todo orgânico. Inicialmente, encontramos uma pequena nota sobre o autor, a qual destaca Kosik como “uma das mais eminentes figuras da cultura marxista” (p.07). Em seguida, encontramos uma “Advertência do autor”, redigida em 1961, dois anos antes da sua publicação original em tcheco no ano de 1963, na qual o autor enfatiza que os conceitos fundamentais do livro abarcam dois trabalhos apresentados por ele na década de 60, “Dialectique Du concret e Filosofické problémy strucktury a systému”. O primeiro capítulo da obra é intitulado “Dialética da totalidade concreta”, no qual o autor trabalha três pontos centrais: “O mundo da pseudoconcreticidade e a sua destruição”; “Reprodução espiritual e racional da realidade” e “A totalidade concreta”. Inicia a reflexão, destacando que a realidade não se apresenta imediatamente ao homem, por isso, na dialética, se distinguem a representação e o conceito da coisa em si, que são duas dimensões de conhecimento da realidade; mais do que isso, duas qualidades das práxis humana. Tal fato decorre porque o homem perante a realidade não se constitui como um abstrato sujeito cognoscente, e sim como ser que age objetiva e praticamente sobre a natureza diante de seus interesses/necessidades, permeado por um conjunto de relações sociais. Nesse sentido, o homem, inserido concretamente neste mundo, experimenta, inicialmente, uma atividade prático-utilitária por meio da qual ele cria as suas próprias representações das coisas, gerando as formas fenomênicas da realidade. Entretanto, essas formas fenomênicas são distintas e mesmo contrárias em relação ao núcleo interno essencial e seu conceito correspondente da coisa. Na vertente do autor, a práxis utilitária é, portanto, envolvida pelo senso comum e não pela compreensão consciente do real. Assim, é necessário avançarmos para além da pseudoconcreticidade, desnaturalizar o que se coloca como natural. O complexo dos fenômenos que povoam o ambiente cotidiano e a atmosfera comum da vida humana, que, com a sua regularidade, imediatismo e evidência, penetram na consciência dos indivíduos agentes, assumindo um aspecto independente e natural, constitui o mundo da pseudoconcreticidade (KOSIK, 2010, p. 15) Como característico, nesse mundo da pseudoconcreticidade, permanecemos na superficialidade, ficamos distantes do que é realmente essencial, vivemos uma práxis fetichizada. Por conseguinte, é importante perceber que a essência não se apresenta imediatamente, ela é mediata ao fenômeno, o qual ao mesmo tempo a revela e a esconde. Para captarmos a essência, é necessário analisar o fenômeno, entender como a coisa em si se manifesta nele. Pela manifestação Revista Educação e Políticas em Debate - v. 1, n. 1, - jan./jul. 2012. 240 o que é essencial e o que é secundário sem submetê-la à própria investigação científica. Essa que está fadada à dúvida quanto a sua licitude, pois nesse caminho se deseja chegar à realidade por meio de um salto que coloca a investigação acima das aparências fenomênicas, mesmo sem examinar tais aparências, ou seja, sem o complicado processo regressivo-progressivo. “É profundamente errônea a hipótese de que a realidade no seu aspecto fenomênico seja secundária e desprezível para o conhecimento filosófico e para o homem: deixar de parte a aparência fenomênica significa barrar o cominho ao conhecimento real” (KOSIK, 2010, p. 68). A metafísica da vida cotidiana é empreendida pelo autor em relação aos conceitos: “preocupação”, cotidianidade e a história. “Preocupação” não é um estado psíquico ou um estado negativo do espírito que se alterna com outro positivo, é sim a transposição subjetiva da realidade do homem como sujeito objetivo. A “preocupação” é o enredamento do indivíduo no conjunto das relações que se apresentam a ele como mundo prático-utilitário, assim, ao viver, o homem pertence à preocupação. Nessa vertente, ela é o mundo no sujeito, é: 1. inserimento do indivíduo social no sistema de relações sociais sob o fundamento de seu engagement e da sua práxis2 utilitária; 2. o agir desse mesmo indivíduo, agir que – no seu aspecto elementar – se manifesta como solicitude e preocupação; 3. sujeito de ação (preocupação e solicitude) que se manifesta como indiferenciação e anonimidade” (KOSIK, 2010, p.73). A preocupação é o aspecto fenomênico do trabalho abstrato. A substituição do “trabalho” pela “preocupação” exprime a modificação da própria realidade objetiva, reflete de maneira mistificada o processo da fetichização das relações humanas, em que o mundo se manifesta à consciência diária como um mundo já pronto, no qual o movimento social do indivíduo se desenvolve como empreendimento, ocupação, como “preocupação”. Homem perde a consciência de que o mundo é criação do homem, pois a “preocupação” invade toda a vida. O preocupar-se é a práxis no seu aspecto fenomênico alienado, que já não alude à gênese do mundo humano (o mundo dos homens, da cultura humana e da humanização da natureza), mas exprime a práxis das operações diárias, em que o homem é empregado no sistema de “coisas” já prontas, isto é, dos aparelhos, sistemas em que o próprio homem se torna objeto de manipulação. (KOSIK, 2010, p.74, destaques do autor) Para Kosik, a “preocupação” é a manipulação na qual as ações, repetidas todos os dias, se transformaram em hábito e assim são executadas mecanicamente. Gera o caráter coisificado da práxis (preocupar-se), no qual a manipulação não se trata mais da obra que se cria, mas do 2 Nota técnica: na obra resenhada a palavra práxis é grafada como “praxis”. No presente trabalho redigimos com acento, mesmo as palavras presentes nas citações diretas. Revista Educação e Políticas em Debate - v. 1, n. 1, - jan./jul. 2012. 241 homem no mero ocupar-se no mundo já feito e dado, não mais criação do mundo humano, pois já não pensa a obra. Ao trabalhar esse conceito, o autor retoma a reflexão sobre a divisão do trabalho, trabalho humano abstrato no aspecto fenomênico e a realidade do mundo capitalista do séc. XX. Nesse contexto, se dá a práxis mistificada que não se apresenta como transformadora, mas sim como manipuladora de coisas e homens. Na complexidade do mundo moderno, o autor analisa o mundo dos aparelhos e da sua manipulação, no qual o homem como “preocupação” manipula-os (televisão, automóvel, elevador, etc.) sem compreender a realidade técnica e os sentidos desses aparelhos. Finaliza, salientando que o indivíduo como “preocupação” não vive o presente, mas sim o futuro, pois nega o que existe e antecipa aquilo que ainda não existe, assim reduz a sua vida à inautenticidade. O leitor encontra ainda, nesse capítulo, a análise da cotidianidade e da história, pois o autor assume que todo modo de existência humana ou de existir no mundo possui a sua própria cotidianidade, como na idade feudal, na qual ainda que na diferença entre as camadas todos viviam a sociedade feudal. O mesmo se dá no mundo capitalista, por exemplo. As gerações vivem a cotidianidade de sua vida como em uma atmosfera natural, sem se indagarem sobre o sentido dessa cotidianidade. Há a compreensão da vida de cada dia como banalidade em oposição à História, a qual, como exceção, constitui o resultado da mistificação. Segundo o autor, essa consciência ingênua vê a cotidianidade como natural ou como realidade íntima, e a História lhe aparece como realidade transcendente, que se desenvolve à socapa que rompe a vida de cada dia de forma abrupta, dividindo a vida em cotidianidade e história que para essa consciência ingênua se apresenta como destino. “Essa divisão corta de um só golpe a realidade em historicidade da história e a-historicidade do cotidiano. A História muda, a cotidianidade permanece constante” (p.82). Nessas reflexões, o autor explora como a cotidianidade (que é um produto histórico) é posta à margem da História e vista, consciência ingênua, como oposto da transformação. Assim, entrelaçando os capítulos do livro, define: “a cotidianidade é o mundo fenomênico em que a realidade se manifesta de um certo modo e, ao mesmo tempo, se esconde” (KOSIK, 2010, p.83). Nesse momento da obra, reafirma-se a teoria materialista, na qual todo processo humano é histórico e, assim, se supera a antinomia entre cotidianidade e História, ou seja, entre a cotidianidade não-histórica e a historicidade da história. Tanto na concepção idealista quanto na naturalista, a cotidianidade se vê destituída de dimensões históricas, na primeira se conduz à mistificação da história (ocorre como catástrofe sobre a cotidianidade) e o esvaziamento da cotidianidade (imutabilidade) e, na segunda, “a atenção se concentra na mesquinhez das anedotas Revista Educação e Políticas em Debate - v. 1, n. 1, - jan./jul. 2012. 242 cotidianas, nas simples enumerações e nos quadros documentários da vida imediata” (KOSIK, 2010, p.84). Nessa reflexão, o leitor encontra a análise acerca do sujeito social, falsa coletividade e a relação entre sujeito e objeto. Destaca-se, ainda, que originalmente o que se procura não é o sentido da cotidianidade, mas sim da realidade. Portanto, para que se possa descobrir a verdade da cotidianidade alienada, o homem deve conseguir dela se desligar, liberá-la da familiaridade, exercer sobre ela uma “violência”. É, nesse ponto, que o autor trabalha a arte moderna como elemento capaz de gerar essa “violência” sobre a cotidianidade, a destruição da pseudoconcreticidade. Retoma a obra de Franz Kafka como exemplo da destruição artística da pseudoconcreticidade. Entretanto, não basta que se represente a verdade da realidade ao homem, essa tem de ser praticada pelo próprio homem. A autenticidade é uma opção histórica, com um conteúdo social e de classe, precisamente determinado. Em relação à “Metafísica da ciência e da razão”, Kosik se propõe à retomada do sentido da ciência dos novos tempos. O que é a realidade e como conhecê-la? Considerando essa questão, o autor destaca a influência de Galileu sobre a ciência da economia, sujeita-se assim a leis de maneira análoga às leis da natureza física. Na concepção dos fisiocratas, a economia se identifica com a forma burguesa de produção, leis que são vistas como independentes da vontade e da política. A forma de visão da teoria da sociedade como sistema e homo oeconomicus como parte do sistema, segundo o autor, é apreendida com aparência natural e espontânea. A economia é vista como sistema de leis e aponta ao homem características para o seu funcionamento como a racionalidade do comportamento e o egoísmo. Kosik destaca, ainda, a teoria do interesse de Helvetiuns e a teoria da economia de Ricardo, salientando o ensejo dos equívocos. Apoiado em Gramsci, o autor assinala a conexão do “homem econômico” com a problemática e a realidade da estrutura econômica, em que se produziu a abstratividade do homem. Abstração que se dá ao acentuar certas qualidades do homem e prescindir outras. A economia é a esfera que transforma o homem em homem econômico. É, nesse sentido, que o homem econômico liga-se ao capitalismo como sistema e, como elemento desse sistema, é uma realidade. Na economia clássica, tudo é passível de cálculo, desde o valor dos homens às questões sutilmente morais. O homem na economia clássica é irreal fora do sistema, no sistema é definido de acordo com as suas demandas (como homo oeconomicus). Desde que a realidade social foi entendida como natureza em sentido físico e a ciência econômica como física social, a realidade social se transformara de realidade objetiva em realidade objetual, no mundo dos Revista Educação e Políticas em Debate - v. 1, n. 1, - jan./jul. 2012. 245 verdade objetiva” (p.145). Para o autor, a realidade humana não é apenas produção do novo, mas também reprodução (crítica e dialética) do passado. A realidade humana não é uma substância imutável, anterior ou superior à história, ela se cria na história. A sociedade em que brotou a genial intuição de Heráclito, o tempo em que surgiu a arte de Shakespeare, a classe em cujo “espírito” se formou a filosofia de Hegel desapareceram no passado sem retorno, mas o “mundo de Heráclito”, o mundo de Shaskespeare”, o “mundo de Hegel” vivem e existem como monumento vital do presente porque enriquecem continuamente o sujeito humano (KOSIK, 2010, p.150). Portanto, no segundo capítulo, Kosik trilha reflexões sobre a metafísica. Na cultura, destaca a fé no fator econômico, fruto da investigação analítico-metafísica que transforma cada aspecto do complexo social em categorias particulares e em forças independentes (transformado em abstrações metafísicas) e a conexão entre os “fatores” abstratos é apenas formal ou mecanicamente causal. Na metafísica da ciência e da razão, se transforma o homem em suma unidade abstrata, inserida em um sistema cientificamente analisável e matematicamente descritível. Na metafísica da vida cotidiana, o homem, visto com “preocupação”, é a subjetividade fora de si, assim a transcendência do homem significa que esse com a sua atividade é suprassubjetivo e supraindividual (passagem do idealismo objetivo de Hegel para idealismo subjetivo de Heidegger). O trabalho de tão subdividido e despersonalizado já se apresenta apenas como ocupar-se, essa passagem do “trabalho” para a “preocupação” reflete de maneira mistificada o processo de fetichização das relações humanas em um mundo visto como já pronto. É a crítica análise da metafísica que dá base para o terceiro capítulo “Filosofia e Economia”, no qual o autor trabalha dois subtítulos: “A problemática de „O Capital‟ de Marx” e “O homem e a coisa ou a natureza da economia”. No primeiro tópico, o tema de reflexão é o significado da obra “O Capital”, mas não os conceitos particulares, e sim o significado total da obra de Marx. Explora os problemas que normalmente ocorrem na leitura da obra de Marx, em especial, dos manuais que, com seus limites podem alterar o próprio texto de Marx, pois eliminam, normalmente, a análise dos dados envelhecidos; eliminam trechos que avaliam não estarem diretamente associados à problemática da economia, vulgarizam com a justificativa de tornar o texto acessível(...). Tais questões o levam a uma análise intensa sobre o sentido histórico do texto e como as releitoras são influenciadas e ocultam concepções. Define que a autêntica interpretação garante a especificidade do texto, ou seja, o princípio específico da estrutura da abra. Em “O Capital”, tivemos muitas exposições que não sabiam como proceder aos seus “trechos filosóficos”, gerando a impossível compreensão da natureza do texto. E um único texto Revista Educação e Políticas em Debate - v. 1, n. 1, - jan./jul. 2012. 246 é praticamente dividido em dois textos, por isso “O Capital” provocou confusões entre os intérpretes desde o início. “Confusão na qual só um ponto era completamente certo: não se trata de uma obra econômica no sentido comum da palavra, nessa obra a economia é concebida de maneira particular, a economia se entrelaça de maneira particular com a sociologia, a filosofia da história e a filosofia” (KOSIK, 2010, p.160). Assim, o autor apresenta ao leitor análises sobre a história das interpretações da obra de Marx, com suas diferentes concepções (interpretações logicizantes e metodologicizantes; tomista (...)). Kosik também busca compreender de que modo Marx concebeu e formulou a relação entre filosofia e economia em cada fase do seu pensamento. Por isso, lança análise sobre as diferentes interpretações realizadas sobre esse processo de Marx. Ao explorar a relação entre o princípio estrutural e a expressão literária da obra “O Capital”, Kosik faz importantes apontamentos ao campo da pesquisa e sobre os desdobramentos do método. “A arquitetura de „O Capital‟ como „todo artístico‟ ou „articulação dialética‟ está, sim, em conexão tanto com a elaboração literária da matéria, quanto com o método da exposição científica” (KOSIK, 2010, p.179, destaques do autor). Dessa maneira, o leitor da obra de Kosik tem acesso à análise que o autor faz dos caminhos desenvolvidos por Marx para a chegada à teoria crítica do capital. O sistema é descrito na sua totalidade e concreticidade quanto se descobrem as leis imanentes do seu movimento e da sua destruição. O conhecimento ou a tomada de consciência da natureza do próprio sistema, como sistema de exploração, são a conditio sine qua non para que a odisseia da forma histórica da práxis chegue a termo na práxis revolucionária. (KOSIK, 2010, p.185-186) Por fim, no quarto capítulo intitulado “„Práxis‟ e Totalidade”, o foco do autor é “A „práxis‟”; “História e liberdade” e “O homem”. A práxis é o grande conceito da filosofia materialista segundo Kosik, o que soa contraditório para a consciência ingênua, que se sustenta na ilusão da certeza. Tal questão aponta o papel da filosofia em abalar a certeza do mundo comum e da realidade fetichizada. “A consciência comum toma como óbvio aquilo que a filosofia descobriu, tirando-o da ocultação, do esquecimento e da mistificação e tornando-o evidente”. (KOSIK, 2010, p. 218) Nessa obviedade, esse esforço filosófico volta a cair no anonimato e na obscuridade. Esse processo aponta para o autor o percurso do conceito de práxis seguiu, visto que permaneceu na consideração acrítica apenas a ideia de que a “práxis é algo incomensuravelmente importante e que a unidade de teoria e prática tem o valor de postulado supremo” (218) levando, muitas vezes, à modificação histórica do próprio conceito. Revista Educação e Políticas em Debate - v. 1, n. 1, - jan./jul. 2012. 247 A práxis foi entendida como sociedade, e a filosofia materialista como doutrina da “sociedade do homem”. Em outra transformação, a “práxis” tornou-se mera categoria e começou a desempenhar a função de correlato de conhecimento e de conceito fundamental da epistemologia. Após outra metamorfose, a práxis se identificou com a técnica no sentido mais amplo da palavra, e foi entendida e praticada como manipulação, técnica do agir, arte de dispor homens e coisas, em suma, como poder e arte de manipular o material humano e as coisas. (KOSIK, 2010, p.218) Com essas mudanças, o próprio sentido da filosofia, o conceito de homem e do mundo modificou-se. Desse modo, nesse percurso da obra, o leitor encontra uma rica análise de Kosik sobre cientificismo e o maquiavelismo. Aponta os equívocos, nos quais o homem é visto como moldável, objeto de uma manipulação calculada e baseada na ciência, ou seja, o homem sob o sórdido aspecto do espectador. Em oposição a essas vertentes, a problemática da práxis na filosofia materialista envolve as questões filosóficas “quem é o homem, o que é a sociedade humano-social, e como é criada esta sociedade?” (KOSIK, 2010, p.221). Sustenta o autor o conceito da realidade humano-social como o oposto do ser dado, ou seja, como formadora e ao mesmo tempo forma específica do ser humano. Assim, o caráter da criação humana é assumido como realidade ontológica. A práxis, na sua essência, é a revelação do segredo do homem como ser ontocriativo. A existência não é somente “enriquecida” pela obra humana; na obra e na criação do homem, é que se manifesta a realidade e, de certa forma, se realiza o acesso a ela. Portanto, a práxis na sua essência é a determinação da existência humana como elaboração da realidade. Ser que cria a realidade humano-social e compreende a realidade em sua totalidade (humana e não- humana). A práxis é ativa, mas é atividade que se produz historicamente, é unidade do homem e do mundo, da matéria e do espírito, de sujeito e objeto, do produto e da produtividade. Na filosofia materialista, o homem sobre os fundamentos da práxis e na práxis como processo ontocriativo, cria também a capacidade de penetrar historicamente por trás de si e em torno de si, e, por conseguinte, de estar aberto para o ser em geral. O homem não está encerrado na sua animalidade ou na sua socialidade porque não é apenas um ser antropológico; ele está aberto à compreensão do ser sobre o fundamento da práxis e é por isso um ser antropocósmico (KOSIK, 2010, p.226) O homem faz a história e, ao mesmo tempo, se realiza e se humaniza na história. É retomando diferentes concepções de história que Kosik sustenta duas premissas fundamentais, a primeira, como destacamos, é que a história é criada pelo homem e, a segunda, é a continuidade, no
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