Baixe Hormônios Tireoideanos: Funções, Deficiências e Tratamentos e outras Notas de estudo em PDF para História, somente na Docsity! Dr. Gustavo Zanelatto Médico endocrinologista - NGA Aula promovida pelo Programa de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas não Transmissíveis Janeiro,2019 RESUMO DA FISIOLOGIA INTERPRETAÇÃO DAS DOSAGENS HORMONAIS HIPOTIREOIDISMO HIPERTIREOIDISMO ALTERAÇÃO DA FUNÇÃO TIREOIDIANA NA GESTAÇÃO NÓDULOS DE TIREOIDE Síntese dos hormônios tireoidianos Iodo necessidade diária 150mcg/d. A média de ingestão diária de iodeto é de 400mcg/d nos EUA. O iodeto é ativamente concentrado na glândula tireoide, glândulas salivares, gástricas, lacrimais, mamárias e plexo coróide. 70-80mcg de iodeto são captadas e liberadas diariamente pela tireoide de um total circulante de 250 a 750 mcg O conteúdo total de iodeto da glândula é de 7500mcg. 75% do iodo é liberado como hormônio tireoidiano e o restante iodeto livre. 1% do iodeto armazenado na forma de hormônio é reciclado ao longo do dia, protegendo o indivíduo dos efeitos da deficiência de iodeto por 2 meses Desde a década de 50 é obrigatória a iodação de todo o sal destinado ao consumo humano. Nessa época, aproximadamente 20% da população apresentavam Distúrbio por Deficiência de Iodo (DDI). prevalência de DDI no Brasil (20,7% em 1955; 14,1% em 1974; 1,3% em 1994; e 1,4% em 2000). http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pcan.php?conteudo=deficiencia_iodo Sistema hipotálamo-hipófise-tireoide Tsh – hormônio estimulante da tireoide É sintetizado pelos tireotrofos que representam 5-10 % das células da hipófise. Interage com receptores de membrana das células foliculares tireoidianas estimulando a expressão de proteínas envolvidas em efeitos proliferativos e na biossíntese e secreção de hormônios tireoidianos. Seu excesso leva a hipertrofia e hipersecreção de hormônios tireoidianos. INTERPRETAÇÃO DAS
DOSAGENS HORMONAIS
Interpretação das dosagens hormonais Bócio Bócio significa qualquer aumento do volume tireoidiano e pode ser difuso ou nodular. Sua presença nem sempre implica disfunção hormonal glandular. bócio tóxico ( bócio + hipertireodismo) e bócio atóxico (bócio sem hipertireodismo ) HIPOTIREODISMO
Fatores de risco para hipotireodismo primário Idade > 60 anos Sexo feminino Bócio História familiar de doença tireoidianna História de radioterapia para cabeça e pescoço Doença autoimune tireoidiana e extratireoidiana Fármacos- amiodarona, lítio, interferon Baixa ingestão de iodo, sd de Down, Sd de Turner Tireoidite de Hashimoto ou tireoidite linfocítica crônica tem etiologia autoimune é a forma mais comum de tireoidite. é causa mais comum de hipotireoidismo em nosso meio acomete em torno de 5% da população adulta 3-5X mais freqüente no sexo feminino. Ocorre em qualquer idade, pico 3ª-5ª década incidência 3,5 casos/1.000 mulheres/ano e 0,8/1.000 homens/ano. •Patogênese: provável defeito na tolerância aos antígenos tireoidianos, resultando em dano a tireóide; •Desencadeado por fatores genéticos ( herança genética) e não genéticos: sexo feminino , idade ( aumenta com idade ), ingestão elevada de iodo e medicamentos com iodo ( lesão celular tireoidiana/ alterção da resposta imune), uso de interferon e IL-2/ radiação e infecções. Manifestações clínicas Maioria dos pacientes é assintomática Diagnostico por investigação a partir de anormalidades em exames de rotina ou pela detecção de um bócio discreto ao exame físico Sintomas de hipotireoidismo: queixa inicial em 10 a 20% dos casos. Hipertireoidismo em torno de 5% dos casos Bócio: é difuso e indolor, de consistência firme, superfície irregular ou lobulado e de tamanho variável pode ser uni ou multinodular. Dor local é raro e leve intensidade se presente Bócio volumoso pode causar disfagia, dispneia e rouquidão por pressão sobre estruturas cervicais. Existe ainda a tireoidite atrófica – sem bócio SINAIS E SINTOMAS NEURO-PSIQUIÁTRICOS E ORGÃOS DOS SENTIDOS : Sonolência Cefaléia Parestesias Tontura Zumbido Lentificação psicomotora Hiporreflexia Déficits cognitivos: cálculo, memória, atenção e concentração Humor deprimido Astenia adinamia Fala lenta ou arrastada Sintomas psicóticos Distúrbios visuais Deficiência auditiva SINAIS E SINTOMAS DERMATOLÓGICOS Pele seca, descamativa e áspera, que pode ficar amarelada devido ao acumulo de caroteno. Cabelos secos e quebradiços, queda de cabelos, Fragilidade ungueal Rarefação do terço distal das sobrancelhas (madarose) Edema facial/ periorbital Lenta cicatrização de feridas e ulcerações SINAIS E SINTOMAS CARDIOLÓGICOS Tolerância reduzida aos exercícios Angina Bradicardia Hipertensão diastólica Cardiomegalia Derrame pericárdico Hipofonese das bulhas cardíacas Baixa voltagem do QRS e alterações inespecíficas do ST-T Maior risco para doença arterial coronariana aterosclerotica SINAIS E SINTOMAS RENAIS Redução da taxa de filtração glomerular pela redução do débito cardíaco e do volume sanguíneo levando a elevação da creatinine Proteinúria discreta Ganho de peso em torno de 3-5 kg – devido à retenção hídrica Edema SINAIS E SINTOMAS MUSCULO- ESQUELÉTICOS Fadiga muscular generalizada Mialgias Cãibras Artralgias Derrame articular Síndrome do túnel do carpo Pseudogota Elevação de CPK SINAIS E SINTOMAS SISTEMA REPRODUTOR Em mulheres: irregularidades menstruais (oligomenorréia, amenorréia primária ou secundária e menorragia) Anovulação Infertilidade Redução da libido Em homens: Redução da libido Disfunção erétil Oligospermia. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Hipotireoidismo primário: Primeiro há elevação do TSH e posteriormente redução do t4l, nem sempre ocorre redução do t3 Valor normal de TSH se eleva com idade ate os 65 anos : até 4,5 mUI/L de 65 a 75 anos : até 6 mUI/L >75 anos : até 10 mUI/L TRATAMENTO Levotiroxina ( L-T4) : tem meia vida de 7 dias – tomada única diária Melhor absorção em jejum – 60 minutos antes da refeição Comparando horários de tomada há melhor absorção na seguinte ordem : 60 min antes do café ( absorção de aprox 80%) Ao deitar 30 minutos antes do café Com o café da manhã ( absorção de aprox 64%) Outros medicamentos devem ser tomados idealmente 1 hora após a levotrixina Polivitaminicos que contenham calcio ou ferro devem ser tomados somente após 4 horas A principal causa de não controle do hipotireodismo quando em doses adequadas de reposição do hormônio tireoidiano é o uso incorreto do medicamento – falta de adesão Apresentações disponíveis de levotiroxina 12,5 mcg 25 mcg 37,5 e 38mcg 50 mcg 62,5 mcg 75 mcg 88 mcg 100 mcg 112 mcg 125 mcg 137 mcg 150 mcg 175 mcg 200 mcg 300 mcg O hipotireoidismo deve ser investigado em pacientes sintomáticos Avaliar screening em paciente com fatores de risco e condiçoes especiais Hipotireoidismo subclínico Definido por elevação persistente (>6 meses) do TSH sérico (> 4,5 mUI/L e < 20 mUI/L) e níveis normais do T4 livre Em 50% dos pacientes é transitório, com normalização do TSH na segunda determinação. Tem sido associadas a efeitos deletérios no sistema cardiovascular, no sistema esquelético, bem como na qualidade e na expectativa de vida. Apesar da elevada prevalência o significado clinico e a necessidade de tratamento permanecem controversos Dislipidemia: controverso – alguns estudos mostraram melhora do LDL em pacientes tratados Pode haver efeitos deletérios relevantes sobre o sistema cardiovascular : Risco aumentado de hipertensão arterial, disfunção endotelial, disfunção diastólica do ventrículo esquerdo (DDVE), aterosclerose e doença arterial coronariana (DAC). Indicação de tratamento Se TSH > 10 ( maior risco de progressão) Para TSH 4,5-10 : sempre tratar na gestação ou pré gestacional outros casos controverso – ponderar Em pacientes com elevado risco cardiovascular ou doença cardiovascular instalada ( > risco de DAC e motalidade por DAC) Infertilidade, bócio Doenças psiquiátricas ou sintomas de hipotireodismo– teste terapêutico por 3 meses- se não resposta – suspender Tireotoxicose: elevação dos hormônios tireoideanos devida a qualquer causa (excesso de produção, liberação excessiva) Hipertireoidismo: produção excessiva de hormônios tireoideanos pela glândula tireóide Crise Tireotóxica: Exacerbação aguda da tireotoxicose, manifestação extrema da tireotoxicose ETIOLOGIA Doença de Graves Adenoma Tóxico Bócio multinodular tóxico Tireorotixose factícia ( ingestão de hormônio tireoidiano) Tireoidite silente Tireoidite Subaguda Hipertireoidismo induzido pelo iodo Tireotoxicose induzida por drogas Tireoidite induzida por amiodarona Tireotoxicose gestacional Gravidez Molar Struma ovarii ( teratoma ovariano produtor de hormonio tireodiano) Metástase funcionante de carcinoma folicular de tireóide (raro) Doença de Graves Etiologia mais comum de hipertireoidismo (80% dos casos). Tem origem autoimune Afeta 0,4 a 1% da população. 5 a 10 vezes mais comum em mulheres Pico de incidência segunda e quarta década De 10 a 20% dos pacientes apresentam remissão espontânea 50% tornam-se hipotireoideos apos 20 a 30 anos (destruição auto imune) Bócio multinodular tóxico O BMNT é uma complicação tardia comum do bócio multinodular atóxico sua incidência exata é desconhecida. ocorre após os 50 anos de idade, com predominância no sexo feminino, em pacientes que mantiveram um bócio multinodular atóxico por muitos anos É mais comum em áreas com carência de iodo na alimentação, nas quais pode corresponder a mais de 30% dos casos de hipertireoidismo Comumente causam hipertireodismo os nódulos com mais de 3 cm Adenoma Tóxico Ou Doença de Plummer pode se manifestar em qualquer idade, mais comum na terceira ou quarta década de vida, com maior freqüência no sexo feminino No início pode haver hipertireodismo subclínico Geralmente produzem menor quantidade de hormônios que a doença de Graves Manifestações clinicas da tireotoxicose são menos evidentes. SINAIS E SINTOMAS São decorrentes do efeito estimulatório dos hormônios tireoidianos sobre o metabolismo e os tecidos. nervosismo, irritabilidade, labilidade emocional, insônia emagrecimento (apesar da polifagia), polidipsia e poliuria Hiperdefecação, dispepsia e náusea taquicardia, palpitações, taquiarritmias ( sinusal, fibrilação atrial), dispnéia aos esforços, ICC de alto débito intolerância ao calor, sudorese excessiva com pele quente e úmida, tremores ,prurido queda de cabelo Sinais e sintomas exclusivos na doença de graves – mixedema pré-tibial o 5 a 10% dos pacientes. o Há espessamento da pele, particularmente na área pré- tibial, devido ao acumúlo de glicosaminoglicanos. o Lesões em placas com pele espessada com aspecto de casca de laranja e coloração violácea o Pode envolver toda a parte inferior da perna até os pés. Sinais e sintomas exclusivos na doença de graves – oftalmopatia de graves •A oftalmopatia pode preceder (20% ), suceder (40%) ou surgir concomitantemente (40%) com o hipertireoidismo •Decorre do aumento de volume dos músculos extra oculares ( por infiltração linfocitária e secreção de glicosaminoglicans pelos fibroblastos )e da gordura retrobulbar levando a protrusão do globo ocular (proptose ou exoftalmia) e diminuição da drenagem venosa, resultando em edema periorbital, edema da conjuntiva (quemose) e hiperemia conjuntival •Pode acontecer ainda diplopia, ptose palpebral •Nos casos graves: disfunção do nervo óptico , defeitos no campo visual, distúrbios da visão em cores e/ou perda da visão. •Homens idosos e fumantes apresentam maior risco de desenvolver oftalmopatia grave •A exoftalmia pode ser unilateral ( nesse caso fazer imagem para excluir tumor retrobulbar ou malformacao arteriovenosa) • Exoftalmia grave impede o fechamento da pálpebra durante o sono, podendo levar a lesões na córnea (queratite) Tratamento Drogas antitireoidianas – tionamidas ( mais usada no Brasil) Iodo radioativo Cirurgia Tionamidas Impedem a síntese do hormônio tireoideano, impedindo a transferência do iodo aos resíduos de tirosina ( inibiçao da TPO – peroxidase tireoidiana) Não afetam a liberação dos hormônios já sintetizados e estocados dentro da glândula. Também exercem efeitos imunossupressores: Reduzem nível sérico de TRAb Tionamidas Tiamazol e Propiltiouracil (PTU) são rapidamente absorvidos no trato gastrointestinal, atingindo pico sérico dentro de 1 a 2 horas após a ingestão da droga. Os efeitos antitireoideanos duram cerca de 12 a 24 horas com o PTU, e possivelmente mais de 24h com o tiamazol. A longa duração do tiamazol permite sua administraçào em dose única diária, o que facilita a melhor adesão ao tratamento. O PTU deve ser administrado, pelo menos, em 2 a 3 tomadas diárias. Após início do tratamento, reavaliar idealmente a cada 4 a 6 semanas. Após atingido o eutireoidismo, reduzir até a menor dose que mantenha o paciente eutireóideo. Obs: A dose é reduzida quando T3 e T4l se normalizam Se T4l/ T3 elevados – aumentar a dose da tionamida Se T4l/T3 baixos ou em níveis normal baixo de referência- reduzir a dose da tionamida Obs 2: TSH pode continuar supresso por vários meses após obtenção do eutireoidismo, e mesmo em hipotireoidismo (T4l baixo) Reações adversas •Em caso de efeitos colaterais leves (erupção cutânea, artralgia), pode-se trocar por outra tionamida. •Pacientes que desenvolvam reação adversa séria (vasculite, hepatite, agranulocitose) com uma tionamida, não devem ser medicados com outro composto do mesmo grupo Agranulocitose Reação adversa às tionamidas mais temida. Contagem absoluta de granulócitos abaixo de 500/mm3. Potencialmente fatal, caso a droga seja mantida. Sintomas geralmente relacionados a infecções de orofaringe. Não está indicada monitorização de rotina do leucograma, visto que a agranulocitose surge de maneira súbita. Como leucopenia pode ocorrer na Doença de Graves, deve-se fazer um leucograma antes de iniciar o tratamento. Beta bloqueador Tem rápido efeito sobre as manifestações que resultam do sinergismo entre os hormônios tireoidianos e o sistema nervoso simpático (nervosismo, insônia, taquicardia, palpitações, tremor, sudorese ). Propranolol também causam modesta redução nos níveis do T3 sérico, bloqueando a conversão periférica do T4 em T3. Propranolol (40 a 120 mg/dia, em duas a três tomadas) Atenolol, 50 a 100 mg/dia Os betabloqueadores são geralmente suspensos após melhora do hipertireodismo Caso estejam contraindicados (p. ex., pacientes com asma brônquica, doença pulmonar obstrutiva crônica ou bloqueio cardíaco), a taquicardia pode ser controlada com diltiazem ou verapamil Critérios de Remissão Níveis séricos normais de TSH e T4l 1 ano após a descontinuação da tionamida. 50% dos pacientes terão uma remissão duradoura apos 12 a 18 meses de tratamento. Em caso de recidiva, pode-se tentar um segundo curso de tratamento com tionamidas, Ou opta-se por um outro tipo de terapia; iodo radioativo ou tireoidectomia Fatores que interferem com as chances de Remissão Definitiva após o Tratamento com as Tionamidas Menor Chance: Bócio grande Crianças e adolescentes Doença com elevação predominante de T3l TRAb em títulos elevados (>30U/l) ao final do tratamento Uso de tionamidas por menos de 1 ano Supressão do TSH ao final do tratamento Presença de oftalmopatia Rinite alérgica Elevada ingestão de iodo Tabagismo Tireoidectomia Tireoidectomia total ou quase total ( risco de recidiva) Indicações: bócios muito volumosos (> 150 g), existência de sintomas compressivos locais ou nódulos com suspeita de malignidade apos PAAF não controle com tionamidas e não querer iodo Desejo de engravidar rápido Hiperparatireoidismo primário associado Em crianças e adolescentes não responsivos as tionamidas ou que recidivaram Complicações da cirurgia: hipotireoidismo hipocalcemia (que pode ser transitória ou permanente) lesão dos nervos laringeo recorrente ou laringeo superior (que pode ser temporária ou permanente) sangramento pós-operatório e complicações relacionadas com a anestesia geral Crise tireotoxica peri ou pós-operatório é uma rara complicação da cirurgia e pode ser prevenida pela obtenção do eutireoidismo antes do procedimento Hipertireodismo subclínico TSH baixo com níveis normais de T3 e T4 livre. Repetir dosagem e avaliar causa. Progressão para hipertireoidismo franco varia de acordo com etiologia subjacente, geralmente 1 a 5% ao ano.