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fundamentos antropologicos, Manuais, Projetos, Pesquisas de Engenharia Ambiental

livro com conteudo de fundamentos antropologicos e sociologicos

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2011
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Compartilhado em 18/08/2011

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Baixe fundamentos antropologicos e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Engenharia Ambiental, somente na Docsity! FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS Raylane Andreza Dias Navarro Barreto Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 3 IE. UNIVERSIDADE TIRADENTES 22 Edição Prefácio A partir do século XIX o homem deixa de ser objeto exclusivo da Filosofia e passa a ser enfoque da Ciência. É quando se dá o desenvolvimento de outras áreas do saber, a exemplo da Antropologia, da Sociologia, da Ciência Política e da Psicologia. Tal abertura de novos campos de conhecimento é feita a partir da evolução das forças produtivas da Revolução Industrial. O desenvolvimento e a expansão do capitalismo propiciaram o florescimento de novos olhares. Em se tratando das áreas de Antropologia e Sociologia, objetos de estudo da Professora Raylane Andreza Dias Navarro Barreto, em sua obra Fundamentos Antropológicos e Sociológicos, sua essência, que é o estudo do outro por ser a ciência da alteridade, é bem trabalhada pela autora através dos itens A Institucionalização da Antropologia e da Sociologia, O Conhecimento Antropológico e Sociológico como base para a compreensão da sociedade, A Antropologia e a Sociologia no conhecimento das realidades sociais, A Antropologia e a Sociologia em algumas de suas especificidades. Quatro capítulos nos quais se destaca uma abordagem sobre o homem em seus aspectos cultural, biológico e social. A Professora não perde de vista em seu estudo que o homem é um ser essencialmente social e é papel da Sociologia a interpretação do universo humano e a forma como acontecem as relações no seu mundo. Ao longo da História, o desenvolvimento da Sociologia foi resultado de problemas próprios do capitalismo industrial, a exemplo de greves, urbanização não planejada, êxodo rural, violência e pobreza. Fatores que a Filosofia social e a Religião não comportavam por não disporem de suporte necessário para analisá-los. É a partir da necessidade de compreender a problemática social que se buscam pilares eficientes nas Ciências Antropologia e Sociologia para se entender essa modernidade em sua complexibilidade e as novas formas de relações sociais que esta trouxe. Tais aspectos estão muito bem fundamentados pela autora Raylane Andreza Dias, o que permite àqueles que tiverem contato com o seu texto uma abordagem clara e objetiva dos patamares que sedimentam a Antropologia e a Sociologia. Prof. Ms Gilton Kennedy Souza Fraga Pró-Reitor Adjunto de Assuntos Comunitários e Extensão Concepção da Disciplina Ementa O surgimento da Antropologia e da Sociologia como ciências. Seus idealizadores e principais teóricos. Análise antropológica e sociológica do processo identitário do homem cultural e social. O homeme a organização da sociedade. A perspectiva da Antropologia e da Sociologia na contemporaneidade mundial e brasileira. Saberes e fazeres antropológicos e sociológicos nas distintas áreas de atuação. Objetivos * Compreender a trajetória da Antropologia e da Sociologia * Identificar o nascimento da Antropologia e da Sociologia como ciências e seus principais teóricos. * Entender os mecanismos existentes na sociedade que controlam as ações dos indivíduos. * Entender e ampliar subsídios teóricos que possibilitem interpretações de fenômenos antropológicos e sociológicos calcadas em conceitos científicos. * Desenvolver um espírito científico e atento aos problemas que envolvem a função social da carreira que escolheram. Orientação para Estudo A disciplina propõe orientá-lo em seus procedimentos de estudo e na produção de trabalhos científicos, possibilitando que você desenvolva em seus trabalhos pesquisas, o rigor metodológico eo espírito crítico necessários ao estudo. Tendo em vista que a experiência de estudar a distância é algo novo, é importante que você observe algumas orientações: * Cuide do seu tempo de estudo! Defina um horário regular para acessar todo o conteúdo da sua disciplina disponível neste material impresso e no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Organize-se de tal forma para que você possa dedicar tempo suficiente para leitura e reflexão; *Esforce-se para alcançar os objetivos propostos na disciplina; * Utilize-se dos recursos técnicos e humanos que estão ao seu dispor para buscar esclarecimentos e para aprofundar as suas reflexões. Estamos nos referindo ao contato permanente com o professor e com os colegas a partir dos fóruns, chats e encontros presencias. Além dos recursos disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem - AVA. Para que sua trajetória no curso ocorra de forma tranquila, você deve realizar as atividades propostas e estar sempre em contato como professor, além de acessar o AVA. Para se estudar num curso a distância deve-se ter a clareza que a área da Educação a Distância pauta-se na autonomia, responsabilidade, cooperação e colaboração por parte dos envolvidos, o que requer uma nova postura do aluno e uma nova forma de concepção de educação. Por isso, você contará com o apoio das equipes pedagógicas e técnicas envolvidas na operacionalização do curso, além dos recursos tecnológicos que contribuirão na mediação entre você e o professor. A institucionalização da Antropologia e da Sociologia A partir deste momento, você dará início aos estudos sobre a trajetória da Antropologia e da Sociologia, além de identificar o nascimento dessas ciências e seus principais teóricos. Ao final dos temas 1 e 2 esperamos que você possa compreender a importância da Antropologia e da Sociologia e conhecer seus principais teóricos. Então, vamos começar? 1.1 Princírios QuE NORTEIAM O ENSINO DA ÂNTROPOLO= GIA E DA SOCIOLOGIA: A RUPTURA COM O SENSO COMUM. O que é Antropologia? — E Sociologia? — Para que servem? — O que elas acrescentam na minha vida profissional? Perguntas como estas povoam o imaginário do aluno que acaba de entrar na Universidade, fazendo dessas áreas do conhecimento algo estranho ou mesmo inconcebível para determinados campos de atuação, e é justamente com o 16 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos objetivo de esclarecer o que são essas áreas do conhecimento e sua aplicabilidade na vida cotidiana e profissional que se justifica a confecção desse livro. A importância das [Hiper (5) . - É denominada Ciências so- e, em especial, da Antropologia e da So- ciologia é diminuída ou mesmo despre- zada, pois suas áreas de compreensão ciais toda e qualquer ciên- cia que tem como objeto de estudo o homem em abarcam temas comuns ao homem . x sociedade. Dentre elas, te- contemporâneo, pertença ele a qual- . A . mos: além da antropologia quer classe, seja ela econômica, social . e da sociologia, a psicolo- ou intelectual. Todos, com raras exce- ções, têm opiniões acerca da família, do Estado, da relação empregador e em- gia, a história, a economia, entre outras. pregado, do desemprego, dentre outros temas não menos importantes. Com isso, a Antropologia e a Sociologia vão dando lugar ao senso comum, tipo de conhecimento não mais ad- missível ao universitário. A ruptura com o senso comum (para relembrar veja o assunto no livro de Metodologia Científica) passa a ser a ordem do diae o engajamento científico torna-se a bola da vez. Isso porque sua visão de mundo não é, ou não deve ser, a mesma. Agora o estudante do ensino médio dá lugar ao universitário e este, por sua vez, não pode opinar simplesmente por opinar. Suas opiniões devem estar embasadas, seu discurso deve ter algo de substancial, sua fala deve estar o mais lapidada possível e suas práticas, essas sim, devem ser as mais corretas. Você pode se perguntar: Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 19 a etnografia, que corresponde ao trabalho de campo ou aos primeiros estágios da pesquisa como a observação e a descrição, e a etnolo- gia, ou “um primeiro passo em direção à sínte- se”, ou em outras palavras, o estudo analítico e comparativo das culturas. A Antropologia, último estágio desse processo, seria a conclu- [3 são geral, ou o conhecimento construído, que USA NEO por sua vez tem na etnografia e na etnologia os SED Eu NIuud respaldos necessários. IO A Antropologia, entretanto, não nasceu DESSE ciência e comessa organização. Ela teve o que CERs CAES Laplantine (1986) chamou de fase pré-históri- SITES ca, cujo período se estende do século XV ao VE CO ELO xvI e é caracterizada pelos relatos de viajantes Dil ud] e missionários que, através de suas cartas, di- cient Law” de 1861. ários e relatórios, deram à Antropologia suas primeiras fontes. Tais fontes, cujos principais representantes aqui no Brasil são Pero Vaz de Caminha com sua “Carta do Descobrimento do Brasil” do século XVI; Hans Staden com “Duas Viagens ao Brasil”; Jean de Léry com “Viagem à Terra do Brasil”, todos do século XVI e Jean Baptiste Debret com “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil” do sé- culo XIX, foram primordiais para que a Antropologia sistematizasse o seu objetivo traduzido, à época, como o de entender a diversida- de cultural dos homens em sociedade. No século XIX, através de figuras como Maine com sua obra “Ancient Law” de 1861; Herbert Spencer com “Princípios de Biologia” de 1864; E. Taylor com “A Cultura Primitiva” de 1871; L. Morgan e “A Sociedade Antiga” de 1877 e James Frazer com o seu “O Ramo de Ouro” em 1890, os estudiosos da Antropologia foram sistematizan- do o conhecimento acumulado sobre as sociedades primitivas, de- senvolvendo a tese de um evolucionismo das sociedades primitivas para às sociedades civilizadas. A maior crítica que esses estudiosos 20 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos receberam foi a de que seus trabalhos eram eminentemente de gabinete. Eles não teriam ido a campo para tecer suas teorias acerca do parentesco, da religião, da organização social e demais áreas pe- las quais enveredaram. Nesse mesmo século XIX, a An- tropologia ganhou da Sociologia, mais precisamente da Escola francesa de Sociologia, um amparo científico e os fenômenos, eminentemente sociais, fo- ram reconhecidos como objetos de in- vestigação socioantropológica. Émile Durkheim e Marcel Mauss, nesse sentido, foram fundamentais para a elevação da Sociologia à categoria de ciência. Com “As regras do método so- ciológico” de 1895 e com “Algumas for- mas primitivas de classificação” escrito com Marcel Mauss em 1901 e com “As formas elementares da vida religiosa” de 1912, Durkheim inaugura o que se denominou de “Linhagem francesa” na Antropologia. Já Mauss, que escreveu Fonte: Au ERA NPR [UEC REIS Antropólogo que nas- ceu em Épinal/França no dia 10 de maio de 1872 e faleceu em no dia 10 de fevereiro de Ee) Ta elo ao] IScR Tendo como obras: Sociologia e Antropo- logia (1950) e Ensaios de Sociologia (1971). “Esboço de uma teoria geral da magia” de 1902-1903 em parceria com Henri Hubert; “Ensaio sobre a dádiva” de 1923-1924 e “Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a noção de eu” de 1938 lançaram para a Antropologia um de seus principais de- bates que era o intercâmbio (troca) e a dádiva. Na visão dele: dar, receber e retribuir são três momentos distintos cuja diferença é fun- damental para a constituição e manutenção das relações sociais. Fonte: wikipedia.org James George Frazer Antropólogo que nas- ceu em Glasgow, Escó- cia no dia 1 de janeiro de 1854, e faleceu em 7 de maio de 1941, Cambridge. Sua principal obra é “O ramo de ouro” (1890), [ole (PER Pe lumes, faz um estudo comparativo dos mitos e do folclore de várias sociedades e levanta a tese de que o pensa- mento humano evoluiu de um estágio mágico para outro religioso e daí para um nível cien- tífico. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 21 Ao longo do século XX, várias escolas vão surgindo e dando à Antropologia temas e conceitos que a institucionalizaram e a colocaram no patamar científico. W Escola funcionalista EefocNE-lafr 1920, represen- Escola funcionalista tada por Bro- nislaw Malino- wski, Radcliffe Brown, Evans- Pritchard, Ray- mond Firth, Max Glukman, Victor Turner, Edmund Leach, prioriza era a escola cujos par- ticipantes procuravam explicar aspectos da sociedade em termos de funções realizadas por indivíduos ou suas consequências para a sociedade como um todo. a cultura como totalidade e in- teressa-se pelas Instituições e suas fun- ções para a manutenção da totalidade cultural. Já o culturalismo norte-americano em 1930, cujos expoentes são Franz Boas, Margaret Mead e Ruth Benedict, dá ênfase à construção e identificação de padrões culturais ou estilos de cultu- ra, o chamado ethos. 24 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Sua criação não é produto de um único filósofo ou cientista, mas representa o resultado do trabalho de uma série de pensadores que se empenham em compreender as novas situações de existência que estavam em andamento. O século XVIII pode ser considerado a data de implantação da semente de Sociologia no útero da sociedade ocidental. As transformações econômicas, políticas e culturais que ocorreram nesta época colocaram problemas inéditos para o homem resolver. As duas revoluções que ocor- Para saber mais sobre a Revolução Industrial, ver: reram na Europa ocidental foram fundamentais para o nascimento da ETofoito [efe [- RP AM Revolução Industrial, http://www.portalbrasil. net/historiageral. revolucaoindustrial. htm na Inglaterra, significou mais do que a introdução de máquinas e aperfei- coamento de métodos produtivos. Ela converteu grande massa de trabalhadores em proletários (operá- rios) ou desempregados, incidindo, consequentemente, no modo de vida de cada cidadão. Estava criado um problema que precisava de solução, e aqueles que se propuseram, a princípio, não foram homens de ciência, mas aqueles voltados para a ação. São exemplos Robert Owen (1771-1858), William Thompson (1775-1833) e Jeremy Bentham (1748-1832) para citar alguns que desejavam mudar a situação vigente. Para você ter uma ideia ' do que, de fato, foi a Revolução | Industrial, sugiro que assista ao filme “Germinal” ba- seado no romance de Émile Zola. Nele você = Ne ! i e. perceberá o contexto Fonte: http:/Avww.ensp.unl.pt/lgra- [7 k que envolve a referida ca/history cars jakob highres.jpg VV | A REST Fonte: http://en wikipedia. org/wiki/File:Karl. Marx 001.jpg Karl Heinrich Marx (1818 Tréveris / Ale- [uol Lual RM ERA RO Te ço / Inglaterra). Intelec- tual fundador da dou- trina comunista. Con- siderado pela BBC de Londres, em 2005, o maior filosofo de todos os tempos. Sua obra Caia LE REU) a exemplo da história, da ciência política, da economia, da comu- nicação, da geografia e principalmente da Antropologia e da So- ciologia, da qual é um dos principais teóricos. JET late] clic) Jg] são: O Manifesto Co- munista (1848) e O Ca- [ici GRAR Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 25 Pode-se dizer que os precurso- res da Sociologia eram militantes po- líticos, indivíduos que participavam e se envolviam profundamente com os problemas da sociedade de que faziam parte. Eram pensadores, homens de ação que queriam entender os novos fenômenos que estavam surgindo, dentre eles, a oferta elevada de produ- tos e o alto índice de desempregados. Com a Revolução Francesa, ou in- telectual, ou burguesa, a transformação mental que vinha acontecendo desde o século XVI aflorou ainda mais. Embora os burgueses, ao tomar o poder em 1789, procurassem construir um Estado que assegurasse sua autonomia em face da Igreja e que protegesse e incentivasse a empresa capitalista, marginalizando o trabalhador, igual ou pior que os aristo- cratas; o progresso da forma de pensar, [ETR lu aa Ri E dpress.com/2009/03/rev-franc.jpg 26 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos fruto das novas maneiras de produzir e viver contribuía para afastar inter- pretações baseadas em superstições e crenças infundadas, bem como, abria um espaço para a constituição de um estudo científico da sociedade. Para entender melhor essa revolução indico o filme Danton, “o pro- cesso da evolução” dirigido por Andrzej Wajdao. O estranhamento dessa sociedade, por sua vez, não era privi- légio de filósofos e homens que se dedicavam ao conhecimento, o homem simples também perguntava o porquê das coisas. Em suma, não fossem as revoluções, talvez dora o RC on o coneidaiEdo não existisse a ciência social. Foi aaa co oc SR por causa do estado de desorgani- orina aaa zação que estas revoluções trouxe- no dia 19 de janeiro de 1798 e faleceu ram à sociedade que homens como Pitt [Ejt= 0 etojaaj1=] (1798-857), Saint — em Paris/França, | Simon (1760-1825), Frederiz le Play popa saio (1806-1882) sentiram a necessidade bro de 1857. de racionalizar a nova ordem, encon- *. pediaorg trar um estado de equilíbrio na nova sociedade, conhecer as leis que re- giam os fatos sociais e, para isso, foi instituída a So- ciologia. Bastava agora difundi-la e praticá-la. E assim o fizeram. Estudaram as instituições como a autorida- de, a família e a hierarquia social que desempenharam papéis importantes na integração e na coesão da vida social, tentando um equilíbrio numa sociedade cindida pelos conflitos de classe. Seu criador foi o francês Auguste Comte, considerado o pai da Sociologia. Para ele a sociedade só poderia ser convenientemente reorganizada através de uma completa reforma intelectual do homem. Para isso propôs uma ciência estruturada em três pontos centrais: 1 - Mostrar as razões pelas quais certa maneira de pensar, o que ele denominou de filosofia positiva ou pensamento positivo, deve imperar entre os homens. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 29 Quanto a Marx e Engels, foram eles que despertaram a voca- ção crítica da Sociologia, unindo explicações e alteração da so- ciedade, e ligando-a aos movimentos de transformação da ordem existente. Eles não concordavam com os positivistas que queriam restabelecer a ordem e viam na divisão do trabalho uma fonte de solidariedade. Para eles era hora da realização de transformações radicais na sociedade e foi o socialismo marxista que apregoou tal teoria. Para Marx o que constituía a realidade concreta da socieda- de capitalista era a luta de classes e a divisão do trabalho era uma fonte de exploração, antagonismo e alienação e baseando-se nes- sa premissa Marx e seu companheiro Engels desenvolveram seus trabalhos, deixando claro que a ciência pode ligar teoria e prática e que a sociedade poderia se tornar um empreendimento crítico e militante, desmistificador da socialização burguesa e também um compromisso com a construção de uma ordem social na qual fos- sem eliminadas as relações de exploração entre classes sociais. Mas foi Weber quem deu à Sociologia um caráter profissional, na medida em que propôs uma ciência neutra, isolada dos movimentos revolucionários, uma ciência que oferecesse ao homem de ação um entendimento claro de sua conduta, das motivações e das consequências dos seus atos. A ideia de uma ciência social neutra seria um argumento favorável e atraente para aqueles que viviam e queriam viver da Sociologia como profissão. A concepção sociológica desenvolvida por Weber, a chamada Sociologia do conhecimento, é influenciada pelo contexto intelectual da época. Ele incorporou em seu trabalho ideias de Kant, Nietzche (1724-1804) e Sombart (1836-1941). Com Kant compartilhou a ideia de que todo ser humano é dotado de capacidade e vontade para assumir uma posição consciente diante do mundo, aliou à visão pessimista da modernidade que era peculiar de Nietzche, de Sombart herdou a preocupação de desvendar as origens do capitalismo. E isto sem contar com a influência do pensamento marxista que, na época, já havia penetrado o pensamento político e a academia. 30 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Foi Weber quem desenvolveu uma sociologia que considerava o indivíduo e a sua ação como ponto chave da investigação. Com isso ele queria salientar que o ponto de partida para a Sociologia era a compreensão da ação dos indivíduos e não a análise das “instituições sociais” ou do grupo social, tão enfatizada pelo pensamento conservador. A busca pela objetividade e pela neutralidade valorativa marcou seu estilo e contribuiu para a elaboração da sociologia compreensiva. Para ele, conhecimento e opinião tinham que estar separados, pois só assim se conseguiria chegar a um conhecimento verificável, só a isenção de pré-noções, de pré-conceitos por parte do observador marcaria um compromisso com a ciência. Weber buscou delimitar a autonomia e as especificidades das esferas econômica, política e cultural, em sua interdependência, buscando, com isso, compreender o sentido que cada ator atribui a sua própria ação. Sua metodologia consistia na precisa crítica dos textos, dos inquéritos, dos documentos e na determinação das relações de causalidade, construindo com isso o tipo ideal e depois fazia as devidas comparações com a realidade, extraindo da comparação a compreensão e explicação de determinado fenômeno. O que fica claro ao longo da trajetória da Sociologia é que apesar de todos estes homens de ciência divergirem teoricamente, todos colocaram uma mesma interrogação inquietante sobre o futuro do homem na sociedade moderna e isto é o que constitui o objeto da Sociologia. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 31 1.3 O HOMEM COMO SER CULTURAL E SOCIAL Do ponto de vista da Antropologia e da Sociologia, é a partir do conceito de cultura que podemos entender o homem como ser cultural e social. Inserido numa comunidade, e esta por sua vez dotada de sua cultura, o homem, independentemente de sua base biológica, acaba detendo um componente cultural e seu comportamento é essencialmente determinado por ele. Para entender esse homem, há que se entender também suas interações, seja com os outros homens, seja com o grupo a que pertence. Pois é o seu grupo quem dita as regras de conví- vio social. Ao nascer, começa o seu processo de socialização, ou seja, a interiorização dos elemen- tos socioculturais que lhe per- há mitem adaptar-se à sociedade, FOTU A Lê PM u vencendo os obstáculos das si- [ETTA RO AA Rr tuações novas e amadurecendo download&id= 1191196 (Guillermo Ossa) a sua maneira de ser e de estar. O processo de socialização, nesse sentido, sedimenta no novo homem ou no homem novo os modelos de comportamentos anteriormente definidos e aceitos. Se atentarmos para a natureza do homem nos depararemos com um dilema, já posto na história pelos filósofos Jean Jacques Rousseau(1712-1778)e Thomas Hobbes (1588-1679).ParaRousseau, o homem nasce puro e a sociedade o corrompe, enquanto que para Hobbes o homem nasce mau e a sociedade o molda, diminuindo essa maldade. 34 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Por certo, movimentos como esse são encontrados em várias partes do mundo, e que, não por isso, deixam de ser julgados, deixam de ser vistos sob a ótica do observador, a partir dos valores do observador, como um fenômeno estranho, como algo que vai de encontro a sua cultura, a sua forma de pensar, de realizar, de se portar. A esse “estranhamento”, a esse julgamento, a Antropologia denomina CjdoleJe=njidEiaç o), que nada mais é do que o ato de eu analisar o outro ou Etnocentrismo Para saber mais, ler LAPLANTINE, François. apranean topo toi! sua sociedade a partir dos meus valo- res e, consequentemente, de minha sociedade. São Paulo: Brasiliense, 2009. Um caso trazido por Reinaldo Dias (2008) em seu livro “Introdução à Sociologia” é representativo para um exercício etnocêntrico. O caso é o seguinte: Uma menina indiana de 9 anos casou-se com um cachorro. Isso porque seus dentes nasceram primeiro em sua gengiva superior, o que para sua tribo era sinal de mau agouro. O pai da menina, não tendo os recursos necessários para financiar o casamento convencional, entre homem e mulher, transformou um vira- lata no noivo. À tribo aceitou o casamento e o caso circula no mundo como um absurdo, pois aos nossos olhos aquela tribo comete um pecado. Fonte: http://images.ig.com.br/publicador/ultimosegundo/456/205/3/440334. us indiano cao casamento india mundo 360 418.jpg Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 35 Há também o modo como vemos as mulheres girafas da Tailân- dia ou as indianas vestidas de burka, ou os alimentos exóticos servidos pelos chineses, a falta de higiene de determinados grupos indígenas, dentre outros exemplos tão signi- ficativos e esclarecedores do que se entende por etnocentrismo. Em contrapartida ao etnocentris- Para entender melhor, leia: DA- MATA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia mo tem-se o ismo cultural ur: nto social. Petrópolis: Vozes, 1990. que nada mais é do que o princí- pio que prega que uma crença ou qualquer atividade humana individual deva ser interpretada a partir do referencial da sua própria cultura. PARA REFLETIR * Como você compreende o relativismo cultural? * O relativismo cultural evita os pré-conceitos? Reflita sobre estas questões e debata com os colegas no AVA. Fonte: http://3.bp.blogspot. com/ F2g IMSOSGOO/SGI6-pU4jxl/ AAAAAAAAADw/yuhD 1z79VOI/s320/ ecumenismo 02.jpg Fonte: http:/Imww.virginiacosta.com/ blog/uploaded images/8-kilos-no- pesco%3Bo-maisperna-781755.jpg 36 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos O relativismo cultural é o responsável por grande parte da diversidade comportamental entre os homens provenientes de diferentes culturas. Ele defende que o bem e o mal, o certo e o errado, e outras categorias de valores são relativos a cada cultura. Em suma, não existe o bem e o mal, e sim o homem cultural e social. Para dar continuidade a nossa reflexão, trago a seguir o resumo do filme “O enigma de Kasper Hauser”, baseado em fatos reais, do cineasta Wener Herzog. Resumo Por Luís Simões e Susana Salvado Kaspar Hauser é revelado ao mundo a 26 de maio de 1828, cerca das cinco horas da tarde, quando surge na Unschlittplatz de Nuremberga. Usava nesse dia um chapéu de feltro guarnecido a couro vermelho, um cachecol de seda preta, casaco desbotado, camisa de tecido espesso, calça cinzenta de pano grosseiro e botas reviradas e com ferraduras nas solas. No bolso tinha um lenço com as suas inicias, várias orações católicas manuscritas, opúsculos, um rosário e ouro em pó. Segurava na mão uma carta dirigida a “Sua Excelência o Capitão de Cavalaria do 4º Esquadrão do 6º Regimento de Nuremberga”. A carta dizia, em resumo, o seguinte: “Este rapaz querfazer o serviço militar. A mãe mandou-o para minha casa. Nunca o deixei sair. Ensinei-lhe a ler e a escrever. Levei-o a Nuremberga à noite... A criança está baptizada e chama-se Kaspar. Nasceu a 30 de Abril de 1812”. Kaspar tinha 17 anos, os seus olhos estavam avermelhados e pouco habituados à luz e a pele da sola dos pés era muito suave e macia. Reproduzia verbalmente o seu nome e algumas expressões cujo significado desconhecia pois usava-as em situações díspares, tais como “quero ser um cavaleiro tal como o meu pai”. Também Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 39 PARA REFLEXÃO Que ideias o roteiro/resumo do vídeo pretende discutir? Como entender a vida de Kaspar Hauser dentro do contexto antropológico e sociológico? Reflita sobre as questões e procure anotar os argumentos que considerar importantes. Você poderá compartilhar as suas observações com o colega, com o tutor e o professor no AVA. 1.4 À RELAÇÃO INDIVÍDUO E SOCIEDADE A Antropologia e a Sociologia procuram definir as várias relações que surgem na sociedade, em meio às quais fica cada vez mais difícil e complicado determinar quem é quem e qual o seu papel dentro do todo social. Buscar respostas para entendermos o que somos a partir da imagem refletida pelo “outro” é atentar para o fato de que estamos situados na fronteira de vários mundos sociais e culturais, ora fazendo ligações entre eles, ora impedindo que o diferente se torne comum aos nossos olhos. Pensar a relação indivíduo e sociedade em uma tribo indígena, em um país miserável, em um país subdesenvolvido ou mesmo em um país de primeiro mundo nos ajuda a alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares e humanos. Entretanto, não se pode negar que cada um desses recortes tem dentro de si suas particularidades, seus diferenciais, além do poder das circunstâncias, como afirmou Ortega y Gasset (1993). Um caso para que se perceba o que apregoou Ortega y Gasset: Lembra-se de que na história do Brasil, não fossem as cond do mar e do tempo, Cabral não chegaria às costas brasil Consegue perceber o poder das circunstâncias? 40 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Ao abordar o caso do compositor Mozart, em “Sociologia de um gênio”, Norbert Elias (1994) leva a relação indiví- duo-sociedade às últimas consequências. Ao estudar a vida do indivíduo Elias atenta para os limites e as formas de relação possíveis entre um homem e a sociedade a qual pertence, entre a sua condição e as suas possibilidades, entre a sua vontade e os parâmetros sociais. Como menino pobre, mas talentoso, Mozart sedimenta emsi umtemperamento difícil, o que para alguns entendidos é próprio de artistas. Filho de um músico de segundo Wolfgang Amadeus Mozart nasceu em Sal- zburgo, na Áustria em 1756 e morreu em Vie- na, no ano de 1791, Foi um compositor brilhan- te de música clássica. Considerado um gênio, suas composições são até hoje reverenciadas pelos conhecedores do gênero. escalão, Mozart e sua família passam por várias dificuldades, até que sua vocação e talento são revelados, tornando-se ele um músico bem requisitado. Não fossem seu temperamento e sua má relação com os seus pares, suas finanças seriam proporcionais ao seu talento musical. Atender às regras impostas pela sociedade da qual faz parte, às vezes não se revela tarefa fácil, principalmente se o que for exigido do indivíduo com potencial seja a manutenção do status quo (situação vigente). Permanecer mesmo nível dale lagle [= Sfejatel| de alguns, principalmente dos que no em que nasceu, exige, estão no topo, um constante investimento, seja educacional, seja financeiro, tecnológico ou em novas ideias, e, do indivíduo que está na base, a total apatia. sociedade humana Brasil primeira década do séc XXI sociedade ideal 2-alta 3-média 4-base rica 3 média alta Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 41 Que tal enveredar pela música clássica e pela vida de Mozart assistindo ao filme “Amadeus Mozart - o filme” dirigido por Milos Forman e baseado na vida do compositor? Em sua obra “A sociedade dos indivíduos” (1994), o mesmo Norbert Elias deixa claro que a sociedade é formada por indivíduos e estes constituem a sociedade, estando ambas irremediavelmente entrelaçadas, não sendo possível considerar os termos separada- mente. Afirma ele que não há sociedade sem indivíduos e, conse- quentemente, não há indivíduos sem sociedade. Como a sociedade é composta de indivíduos, necessário se faz centrar-se no indivíduo. E acredito que seria muito interessante tentar pro- Concepção que prega a blematizar a questão do indivíduo, res- ideia de que todo homem tituindo-lhe seu caráter ativo, mutável e ROC oa inconstante e de ElZElL Es uns dos outros. Cabe aqui uma pergunta: - Quantos casos iguais ao de Mozart você conhece? Apostaria que muitos. Levar em conta o vínculo existente entre as maneiras de sentir, de se comportar, de aceitar, de negar, de ver, de ouvir, é um exercício bastante pertinente, principalmente se o que estiver em jogo / for o entendimento da relação entre o indivíduo e a sociedade. Diante da crescente industrialização e da consequente troca do homem pelas máquinas, diante das exigências cada vez mais rí- gidas de aperfeiçoamento e especialização, / comunicação, diante das novas doenças sociais, diante do baixo salário, diante da carestia, diante dos impostos por vezes abu- sivos, diante das epidemias, diante da liberdade sexual, diante do uso abusivo das drogas, enfim, diante de tantos problemas sociais, fica mais fá- cil conceber as formas de diferenciação social e suas implicações. Não é verdade? 44 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Joênia, que é a primeira índia da história a se pronunciar no plenário do STF, afirmou que espera que o julgamento desta quarta coloque um ponto final em toda a violência que tem sido vivida em terras indígenas brasileiras. “Estamos vivendo um momento histórico no Brasil hoje. A Raposa Serra do Sol representa a voz dos povos indígenas hoje”, destacou, emocionada. A advogada acrescentou que a comunidade indígena da Raposa Serra do Sol questiona o porquê de estarem querendo tirar a terra dos índios. “Muitas das comunidades de Roraima perguntam , discursou. para a gente: 'o que nós cometemos para ser julgados! “Nós somos acusados de ladrão dentro de nossa própria terra. Somos caluniados, discriminados e tem que se colocar um fim nisso. Cabe ao STF aplicar o que já falamos há muito tempo”, concluiu. A índia wapishana Joênia representa no julgamento as comunidades indígenas Barro, Maturuca, Jawari, Tamanduá, Jacarezinho e Manalai. AGU Anteriormente, o Advogado-Geral da União, José Antônio Dias Toffoli, defendeu a manutenção dos limites contínuos da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Para Toffoli, a ação que contesta o laudo antropológico que o governo usou para definir a demarcação afronta o ex-ministro, que tratou do assunto, refletiu e dialogou com diversos setores da sociedade sobre o assunto. “Não acredito que Bastos tenha praticado algum ato leviano e se há algum ato aqui, não é leviano”, defendeu. O Advogado-Geral da União afirmoutambém que asdiscussões sobre a demarcação da reserva se iniciaram em 1992, durante o governo do ex-presidente Itamar Franco, e que a demarcação só foi homologada em 2005, após o processo ser amplamente discutido. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 45 Toffoli retrucou as acusações feitas pelo advogado do estado de Roraima, Francisco Rezek, que, em sua sustentação oral no plenário, havia dito que o governo federal não tem dado tratamento adequado ao estado. Rezek havia reclamado que apenas 10% da área total do território de Roraima pertencem ao estado. “Eu não sabia que para ser estado da União é preciso ser latifundiário”, contra-atacou o Advogado-Geral da União. “Não procede a acusação de que o governo federal não dá o preciso tratamento àquela unidade da federação”, disse Toffoli. Segundo ele, o investimento per-capita do governo no estado no ano passado foi de R$ 2.264, enquanto, de acordo com o advogado, a média nacional é de R$ 775. Ação O advogado dos senadores que impetraram ação no STF a favor da revisão da demarcação dos limites da reserva, Antônio Glaucius de Moraes, defendeu, no início dasessão, que ademarcação de forma contínua da área coloca em risco diferentes costumes, crenças e tradições dos indígenas. Segundo ele, há cinco etnias na região, sendo que todas são isoladas umas das outras. Moraes foi o primeiro a fazer a sustentação oral no plenário do STF, durante o julgamento desta quarta. Segundo ele, o relatório antropológico que serviu como base para o governo homologar os limites da reserva é falho. “O relatório é grosseiro. A comissão (de peritos, da Justiça Federal de Roraima) encontrou erros e vícios insanáveis”, acusou. Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,MUL738639-5598,00-ADVOGADA- INDIA + DIZ + QUE+ LIDERANCAS + INDIGENAS + FORAM + MORTAS + EM + ANOS.html 46 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos PARA REFLEXÃO Esta ação revela a atual situação dos índios da Reserva Raposa Serra do Sole sua relação com os representantes do Estado. A partir dela, o que você diria sobre as marcas que são impressas nesses índios? Registre sua opinião no AVA. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 49 Espero que esteja percebendo que, às vezes, o modo como esta- mos organizados passa a largo dos nossos entendimentos, entretanto vale registrar que o indivíduo que não conhece a estrutura social na qual está inserido, não conseguirá atuar no espaço social de maneira significativa. Ao longo da história da humanidade percebemos vários tipos de sociedade. De castas, na Índia, de estamentos, durante o regime feudal, a escravatura, em várias partes do mundo, até mais ou menos o século XIX, e as classes. No Brasil, por exemplo, já tivemos a sociedade escravocrata PWaale [== um indivíduo era proprietário de outro, e hoje, temos a sociedade de classes baseada na hierarquia das classes sociais marcadas pelo poder econômico, cultural e social dos indivíduos que a compõem. FERE É Fonte: http://www.asminasgerais.com .br/Zona %20da %20Mata/Biblioteca/ Personagens/Escravos/1112001005%20Escravos% 20no %20Porto JPG Você poderia perguntar: Por que alguns grupos são mais ricos e poderosos que outros? Que grau de igualdade e de desigualdade há nas sociedades moder- nas? Que possibilidades têm de ascender socialmente as pessoas de procedência humilde? Por que perdura a pobreza em países ricos? Perguntas como es- sas não podem ser respon- didas sem que se leve em consideração a cultura de cada grupo. Como assim? 50 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Poderia ainda se perguntar: - Por incrível que pareça há por parte de muitos indivíduos aceitação da hierarquia, seja ela econômica ou cultural. São poucos os indivíduos que se mudam de uma classe para outra. O suposto comodismo que faz com que um pobre per- maneça pobre durante toda a vida, sem nenhuma prática concreta que o faça ascender na pirâmide social, é um fator decisivo para permanência da sociedade de classes. Não que não existam aqueles que batalham por melhores condições de vida e conseguem ascender na pirâmide social. Posso até arriscar dizendo que, com certeza, você conhece uma ou várias pessoas que têm origem humilde, mas que de algum modo ascen- dem econômica e socialmente. De modo que as desigualdades estruturais que existem entre diferentes grupos de indivíduos ficam muito bem evidenciadas em cada classe correspondente. Há os poucos que estão na classe alta, um número grande que perfaz a classe média e um número maior ainda que compõe a classe baixa. Claro que cada uma dessas classes tem suas subdivisões e assim temos as classes alta alta, média alta, média baixa e miseráveis. Comstatus social similar, os componentes dessas classes não se estabelecem por meio de disposições jurídicas ou religiosas. É um sistema mais escorreito que o de castas ou estamentos. No sistema de castas na Índia, os interesses de cada casta coincidem com os interesses da família, já nas sociedades de classes os interesses da classe podem não coincidir com os da família. No sistema de castas da Índia, o indivíduo nasce e morre na mesma posição social. Quem nasce na casta de brâmane (sacerdote) necessariamente morre brâmane. A posição social é praticamente in natura, é igual a natural. Já nas sociedades de classes ocidentais a posição social é adquirida, seja pela ocupação profissional, pela conta bancária, pelas posses materiais, pelas interações sociais, pela consciência de classe ou pelo capital cultural. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 51 Os limites entre as classes são muito bem demarcados, mas nada que impeça a ascensão ou decadência dos indivíduos que a compõem. Afinal, pessoas de diferentes classes podem se casar, jogadores podem ganhar na loteria, um estudante pode superar as dificuldades diárias, formar-se, passar num concurso rentável e estabelecer-se na vida. Um exemplo disso é o do pernambucano Ubirajara Gomes da Silva, menino de rua, que estudando em bibliotecas públicas, passou no concurso público do Banco do Brasil e ascendeu da classe dos miseráveis para a classe média. Em 2008, por exemplo, o valor do prêmio da Loteria Fede- ral girou em torno de R$ 1,76 bilhão. Só a Mega-Se- na pagou R$ 714 milhões e para 2009 as previsões con- templam um valor ainda maior, | o de R$ 6,2 bilhões. Certamente | alguns brasileiros ascenderão à pirâmide social. Deste modo, podemos atestar que, diferente das so- ciedades de castas, nas socie- dades de classes o status é, em parte, adquirido, pois esse tipo de so- ciedade permite a mobilidade social ascendente ou descendente. Por certo, não só o fator econômico ou de posse material é decisivo para que o indivíduo pertença a uma ou outra classe. Há também aquele baseado no capital cultural entendido aqui como o conhecimento adquirido ao longo da vida, seja ele formal ou in- formal. É assim, por exemplo, com um grupo de intelectuais que não necessariamente tem poder econômico, mas que é visto como pertencente a um lugar elevado na hierarquia social. 54 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos de coletiva em detrimento da individual, a exemplo das socieda- des primitivas onde as pessoas estariam unidas pela amizade, vi- O direito repressivo corres- ponde àquele cuja ruptura constitui o crime e sua sanção é a perda de algo de que des- fruta a exemplo da honra, for- tunae liberdade. zinhança, parentesco, etc., como se tudo isso fosse externo ao indivíduo. Em sociedades onde predominam esse tipo de solida- riedade, o direito estaria neste tipo de sociedade dominado por sanções repressivas. A solidariedade orgânica, por sua vez, implica uma diferença entre os indivíduos que derivam da divisão social, da especialização no trabalho e da interdependência. Através da solidariedade orgânica O direito restitutivo correspon- cada indivíduo tem um campo de à exigência da reparação próprio de ação. Nestas sociedades, das relações perturbadas por cuja solidariedade é evidentemente atos do infrator As sanções orgânica, o direito é mais que repressivo. podem ser a recondução à for- ça ao tipo que a desviou ou a privação de todo e qualquer valor social. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 55 A seguir, para reflexão, um artigo que evidencia a estrutura social brasileira: Inadimplência atinge extremos da pirâmide social, de forma diferente fm Autor: Bruno Rosa O Globo - 26/04/2009 Ao contrário de outros anos, a inadimplência está batendo à porta com mais frequência das famílias que ficam nos extremos da pirâmide social brasileira. O que muda é o tipo da dívida, revela pesquisa da Fecomércio-RJ em parceria com a consultoria Ipsos. Entre os mais ricos, as compras são parceladas com cartão de crédito e cheque especial. Já nos lares de menor renda, as dívidas se concentram nas mãos de agiotas, amigos e em financeiras. O brasileiro também tem ficado pendurado em dívidas por mais tempo. Segundo o Banco Central (BC), a dívida do cartão de crédito demorou 52 dias para ser quitada em março. Em janeiro, eram necessários 43 dias. Em março de 2008, o consumidor levava um mês. No cheque especial, passou de 20 dias, em fevereiro, para 21 dias no mês passado. No empréstimo pessoal, o tempo para sanear a dívida passou de 484 dias, em março de 2008, para 560 dias no mês passado. -- Há um efeito de contaminação, por isso as restrições ao conceder crédito aumentaram. A classe AB contraiu dívidas no cartão de crédito e no cheque especial. Eles compraram carros e se surpreenderam com a alta do dólar, depois de viagens ao exterior. A compra de imóvel aparece como custo fixo. Já as classes C e DE se endividaram com eletrodomésticos e roupas -- diz Alcides Leite, professor da Trevisan e consultor da Equifax. 56 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Lojista evita cheques e parcelamentos longos Segundo a Fecomércio-RJ, as dívidas feitas no cartão de crédito entre as famílias da classe AB do país já representam 64% do endividamento do grupo, contra 43% do registrado em 2008. Em empréstimos feitos em financeiras, a fatia pulou de zero para 5% no período. Entre a classe C, a representatividade do empréstimo feito com amigos e agiotas pulou de 7% para 18%. Na classe DE, o mesmo tipo de dívida pulou de 12% para 14%. A TeleCheque mostra outro dado preocupante. O número de inclusão de cheques no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF) está em alta, após dois anos em queda. - Isso mostra tendência maior ao calote. Entre janeiro e março, o total de cheques no estoque do CCF (inclusão menos exclusão) aumentou em 100 mil. No mesmo período de 2008, o estoque teve queda líquida de 13 mil - afirma Antônio Praxedes, vice-presidente da TeleCheque. A loja de calçados Vica Maros, no Via Parque Shopping, tem evitado o cheque e parcelamentos longos no cartão de crédito, já que as administradoras de cartão aumentaram suas taxas para a antecipação de pagamento parcelado. Marcelo Barbosa, presidente do Grupo Pragmática, diz que as empresas devem ter mais velocidade na hora de constatar a inadimplência. Fonte: https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/ noticias/2009/4/26/inadimplencia-atinge-extremos-da-piramide-social-de- forma-diferente/ PARA REFLEXÃO Neste texto, o autor traz informações cruciais para entendermos a situação econômica real do brasileiro. Reflita sobre ela e compartilhe com seus colegas no AVA. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 59 Gráfico 1 - Rendimento Médio Real Habitual, por cor ou raça, março de 2003 e março de 2009 18000 18000 14000 12000 10000 Rendimento Médio Real Habiual de Pretos Rendimento Médio Real Hatitual de. é Pardos. Brancos E mar/03 Emariod Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Goordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Mensal de Emprego. Através desses gráficos pode-se perceber a disparidade salarial entre as raças. A que você acha que se atribui isso? Faça uma pesquisa sobre essa diferença no seu município e compartilhe com seus colegas. Gráfico 2 - Escolaridade Média, por cor ou raça - março de 2003 e março de 2009, em anos de estudos Escolaridade Média de Brancos. Escolaridade Média de Pretos e Pardos E mar/03 7] mar/09 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Renimento, Pesquisa Mensal de Emprego. Neste segundo gráfico é possível ver claramente o decréscimo na escolaridade das duas raças. 60 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Gráfico 3- Indicadores de atividade e trabalho das pessoas de cor preta ou parda no conjunto das seis Regiões Metropolitanas - março 2003 e março 2009 Popudação em ode Ama de Pegulcanescupafa de Tata dacpação de peos Tsihadaras Demésicos Trsbahadors Pros o Prassas Parcos'PIA Total Pardos'PO Total Pretmse PadosrTrataladores Contrução Trebahadores Doméscos Tuta Gersirução Tera E mari03 E meros Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Mensal de Emprego. Com este gráfico nota-se que com exceção da taxa de desocupação, todos os outros itens tiveram aumento, deixando ainda clara a diferença entre pretos e pardos. Sugiro comparar este gráfico com o gráfico 4e compartilhar o resultado com seus colegas no AVA. Gráfico 4 - Indicadores de atividade e trabalhos das pessoas de cor branca no conjunto das seis Regiões Metropolitanas - março 2003 e março 2009 49,8% Rc 3% 10,6% 8,2% População em liade de População descpadado Toca dsocpsção do Trade Domésicos— Tbadores Bacana ElaocosIPA Tea ExsrorsiPO Toa rancor dps ass Coruço Themes sete Total oração Total E mar/03 E mar/09 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa Mensal de Emprego. Fonte: http:/Avww.ibge.gov.br/home /estatistica/indicadores trabalho erendimento/ pme, nova/marco2009.pdf Fundamentos Antropológicos eSociológicos 61 Se levarmos em consideração que as desigualdades sociais não são acidentais, e sim produzidas por um conjunto de circunstâncias que abrangem as esferas da vida social, perceberemos que a exploração do trabalho e a concentração da riqueza nas mãos de poucos é algo consentido. ão: is. — Mas tenção: - amentais. e merece à' ' overmi Um exemplo d se vê excluído das decisões 9 xcluído ou prefere se mi o povo , ído, se sento 8) Na política, o ovo é exclui [o tante? p 4 isso mesmo? O P' iracõ seu represen cofoae o nsabilidade da fiscalização do . spo! isentar da re A resposta somente cada um de nós pode dar, mas, dadas as circunstâncias atuais, a resposta é clara: farei o que for mais fácil e, por vezes, o que é mais fácil é isentar-se da responsabilidade, é deixar que o outro decida, é fazer de conta que o problema está além das possibilidades de resolução pessoal. Enfim, o problema passa a ser do outro e somente dele. No Brasil, a industrialização, implantada a partir da década de 30, criou condições para a acumulação de capital e a política econômica, por conseguinte, voltou-se para os setores de produção, deixando de lado a pecuária e a agricultura tão caras ao Brasil. O resultado foi o desemprego, a precária condição de vida, visto que boa parte dos desempregados do campo, ao deslocarem-se para as cidades em busca de emprego, acabaram criando uma massa periférica, fazendo reinar o subemprego, a pobreza e, por vezes, a marginalidade. A seguir, para reflexão, um exemplo que pode ser seguido. 54 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos No município de Vitória de Santo Antão, centro comercial do interior pernambucano, distante 42 km da capital, foram implantadas duas unidades pedagógicas, uma delas na Escola Agrotécnica Federal. “A unidade da escola agrotécnica, inclusive, estará sendo também utilizada como parâmetro para um doutorado sobre plantio de plantas medicinais”, conta Nazaré. A outra unidade do município está localizada no Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), entidade que integra o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), coordenado pela EMBRAPA A terceira unidade pedagógica do PAIS da zona da mata, por sua vez, está em Glória de Goitá, município a cerca de 46 km de Recife, implantada no Campo da Sementeira - sede da ONG Serviço de Tecnologia Alternativa - Sertão. A tecnologia social PAIS, presente em 12 estados brasileiros, continua atraindo prefeituras e técnicos em Pernambuco: “O projeto vem fomentando o interesse de outros atores, para a implementação de unidades pedagógicas ou unidades de agricultura familiar em seus municípios”, conta a técnica da Assocene. No Estado, 296 unidades familiares estão sendo implantadas. Por Cláudia Moreira, da Fundação Banco do Brasil Fonte: http:/Avww.rts.org.br/noticias/destaque-2/unidade-pedagogica-do- pais-combate-exodo-rural-na-zona-da-mata-pernambucana PARA REFLEXÃO O que acha dessetipo de projeto? Conhece algum? Participa de algum? Se não, por que não lança um parecido em seu município? Fundamentos Antropológicos eSociológicos 65 Na década de 50 o subdesenvolvimento latino-americano torno u- se pauta de discussões. Foi então criada a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), pois acreditavam que o aprofundamento indus- trial e algumas reformas sociais criariam condições econômicas para acabar com o subdesenvolvimento. A CEPAL acreditava também que o aprofundamento da industrialização inverteria o quadro de pobreza da população. Uma de suas me- tas era criar meios de inserir Entenda por Subdesenvolvimento esse contingente populacional no mercado consumidor. Mas a denominação empregada para designar países com baixo Índice não aconteceu. O que houve foi um predomínio de grandes grupos econômicos, um tipo de Desenvolvimento Humano — IDH. Através dos índices de anal- fabetismo, taxa de mortalidade in- de produção voltada para o atendimento de uma estrita fantil, taxa de natalidade, renda per capita, qualidade de vida da popu- faixa da população e o uso de lação, aquisição ao conhecimento máquinas que economizavam mão-de-obra. e expectativa de vida, organismos . internacionais como a Organiza- O resultado foi a acentu- ções das Nações Unidas - ONU e ação do Pais a Organizações das Nações Unidas E, assim como na Inglaterra para a Educação, Ciência e Cultura da revolução industrial, o Bra- — UNESCO classificam os países. silficou com suas ruas lotadas de desempregados que, não tendo outra solução, transformaram-se em ambulantes, em pedintes, em marginais, em prostitutas e em várias outras expressões de miséria. As desigualdades sociais são assustadoras, elas são identifi- cadas não apenas pela miséria e pela exclusão de boa parte da popu- lação. Elas também podem ser notadas nas expressões culturais, no uso das tecnologias disponíveis, nos Entedam por utensilagens | transportes utilizados, no uso das mentais a composição de tudo utensilagens mentais, EaiasMa tas cfe=s que foi vivido e estudado pelo re de elementos que diferenciam um e indivíduo. outro ser humano e sua condição social. 66 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Do ponto de vista político, as disparidades sociais sempre favorecem alguns setores. Não há disparidade por haver. Ela tem um sentido, alguém sempre se eleva e um outro alguém sempre desce um degrau. É assim até nas expressões artísticas. Basta que percebamos o grau de incentivo que as expressões artísticas recebem. Não que atores renomados não mereçam patrocínio ou que não devam ser favorecidos pela Lei de Incentivo à Cultura, mas o mesmo empenho não acontece por parte dos patrocinadores ou mesmo do Governo Federal para com os grupos de taieira, de bacamarteiros, de reisado e de tantos outros grupos folclóricos autênticos. ara saber mais acesse o site P:/Awww.cu ura.gov.br P, b te: htt; ht v.b Sobre cultura po pular veja a Car- ta da Comissão Nacional de Fol- clore no site: http:/Avww.fundaj. gov.br/geral/folclore/carta. pdf As desigualdades também são notórias nos setores de moradia, da educação, da saúde, da raça, do gênero e da idade. Vale ressaltar que o desenvolvimento de alguns setores e a pouca organização dos que os representam para melhorar as condições de trabalho, são elementos elucidativos da marca da desigualdade. Se atentarmos para os bens de consumo duráveis, perceberemos um ponto positivo no Brasil. As linhas de crédito proporcionadas pelo governo Lula, desde o início do primeiro mandato em 20083, deram a muitos brasileiros o poder de compra nunca antes visto. Hoje muitos brasileiros conseguiram comprar sua televisão, sua geladeira, seu fogão e tantos outros conseguiram montar seu próprio negócio. Por certo, muitos trabalhadores são informais, mas não se pode negar que muitos legalizaram seus negócios, tornando-os melhores e maiores. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 69 IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V-o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 22º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: | - construir uma sociedade livre, justa e solidária; Il - garantir o desenvolvimento nacional; Ill - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: | - independência nacional; Il - prevalência dos direitos humanos; Ill - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino- americana de nações. 70 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos TÍTULO Il Dos Direitos e Garantias Fundamentais CAPÍTULO | DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: | - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; Il - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; PARA REFLEXÃO Analise criticamente tais artigos constitucionais e compartilhe com seus colegas no AVA. 2.3 O HomEM E suas INSTITUIÇÕES SOCIAIS Peter L. Berger e Brigitte Berger (1990) definem instituição como um padrão de controle, ou mesmo uma programação da conduta indi- vidual imposta pela sociedade. Muito diferente daquela definição que usualmente empregamos, não é? Para a grande maioria de nós, quan- do falamos de instituição, pensamos logo numa prisão, numa bibliote- ca, numa multinacional, num hospital, numa universidade, enfim, num prédio onde está representado um determinado serviço que, por sua vez, é executado por um conjunto de profissionais que fazem com que o trabalho flua. Há ainda aqueles que alargam o conceito e entendem a família, o Estado, a economia, o sistema educacional, o judiciário, o legislativo, dentre outros como uma instituição social. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 71 Acontece, porém, que a acepção co- mum do termo parte de uma visão unilate- ral. Ela estabelece ligação entre o termo e as instituições sociais reconhecidas e reguladas por lei. Talvez isso constitua um exemplo da influência que os legisladores exercem em nossa maneira de pensar e agir. Seja como for, o conceito de insituição social é bem mais amplo do que possamos definir apenas e simplesmente baseado no senso comum. É por isso que os Bergers (1990) entendem a linguagem como uma instituição e uma instituição fundamental à sociedade. Para eles, muito provavelmente a linguagem é a primeira instituição introjetada no indivíduo. É ela quem viabiliza a prática das outras instituições. É ela quem dá um arcabouço linguístico e conceitos dirigidos ao modo de ser e agir do indivíduo. Por certo, é elatambém a primeira instituição com a qual o indivíduo se defronta. 7 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos perdão mútuo, sincero e fraterno, aceitando e respeitando a riqueza da plu- ralidade, e a luta para não sucumbir à tentação e não ser escravos do mal (n. 8.1). A Quaresma nos convida a lutar sem esmorecimento para fazer o bem precisamente por sabermos como é difícil que nós, os homens, nos decidamos seriamente a praticar a justiça — e ainda falta muito para que a convivência se inspire na paz e no amor, e não no ódio ou na indiferença. Não ignoramos também que, embora se consiga atingir uma razoável distribuição dos bens e uma harmoniosa organização da sociedade, jamais desaparecerá a dor da doença, da incompreensão ou da solidão, da morte das pessoas que amamos, da experiência das nossas limitações. Nosso Senhorabomina as injustiças e condena quem as comete. Mas respeita a liberdade de cada indivíduo e por isso permite que elas existam, pois fazem parte da condição humana, após o pecado original. Contudo, seu coração cheio de amor pelos homens levou-o a carregar, juntamente com a cruz, todos esses tormentos: o nosso sofrimento, a nossa tristeza, a nossa fome e sede de justiça. Vamos pedir-lhe que saibamos testemunhar os sentimentos de paz e de reconciliação que O inspiraram no Sermão da Montanha, para alcançar a eterna Bem-aventurança. Com estes auspícios, invoco a proteção do Altíssimo, para que sua mão benfazeja se estenda por todo o Brasil, e que a vida nova em Cristo alcance a todos em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural, derramando os dons da paz e da prosperidade, despertando em cada coração sentimentos de fraternidade e de viva cooperação. Com uma especial Bênção Apostólica. Benedictus PR XVI Vaticano, 8 de dezembro de 2008. Fonte:http:/Avww.cnbb.org.br/ns/modules/news/article.php?storyid= 1034 PARA REFLETIR Percebe como a Instituição Igreja molda certas ações dos indivíduos? Consegue perceber isso também como a Instituição Escola, a Instituição Família dentre outras? Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 75 2.4 Dinâmica Econômica E TRABALHO A relação economia e trabalho é caracterizada pelo estabelecimento dos proprietários de dinheiro e meios de produção dispostos a investir na força de trabalho, de um lado e do outro de trabalhadores “livres” vendedores da força de trabalho. «fm O modo como os grupos de produtores realizam atividades específicas em consequência do avanço de certo grau de desenvolvimento das forças produtivas e de organização interna das comunidades foi o marco para o que Durkheim chamou de divisão social do trabalho. O modo como se distribuiu o trabalho nas diferentes sociedades ou estruturas socioeconômicas e de acordo com a sua implantação no processo de produção diferenciaram os grupos sociais que adquiriram, dentro da sociedade, seu status (posição social). Nos primórdios da relação empregador-empregado, a divisão do trabalho limitava-se a uma distribuição de tarefas entre homens e mulheres ou entre idosos, adultos e crianças, em função das necessidades de cada serviço. Paratrabalhos domésticos, por exemplo, era e continua sendo melhor que seja feito por mulheres, pois são elas reconhecidamente mais prendadas. Para limpar chaminés eram preferíveis crianças, dado o seu tamanho e destreza ao entrar e sair do cano. Já ao homem ficava reservado o trabalho braçal. 76 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos De modo que em virtude da força fi- sica, das necessidades ou do acaso, sem que tal conduzisse ao aparecimento de grupos especializados de pessoas com os seus próprios interesses ou caracteris- ticas, a relação se dava de maneira prá- tica. Sem reservas, é verdade, mas tam- bém sem interesses maiores. Tal estrutu- ra, entretanto, propiciou uma diferença Fonte: http://blog.fte.br/ . ftodigital/wp-content/uploa- de natureza social. ds/2008/08/desmatamento.jog Com o desenvolvimento da agri- , cultura, várias mudanças foram se im- la plementando e várias foram as divisões sociais no trabalho. Os desmatamentos florestais, os aterramentos e saneamen- tos de zonas pantanosas e a tração ani- mal para lavrar a terra, tornaram-se tra- balhos demasiadamente pesados que acentuaram ainda mais uma separação de atividades entre homens, mulheres e crianças. [ate a CEM iate A A VA ella lale PENA les LV AS CEZAR Er Fonte: http://Awww.ma- cae.rj.gov.br/noticias/fotos/ «x SaneamentoB%C3%AlsicoNoBarreto- ; R 1176jpg Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 79 A dinâmica econômica e a divisão do trabalho também se mani- festam no trabalho intelectual e este, apesar de se encontrar num pata- mar diferenciado da hierarquia social, tem nas relações sociais, nos fatos sociais e nas ações sociais o seu quadro de interesses e, de igual manei- ra, contribui para elevar significativamente a produtividade do trabalho. Como se pode perceber, a divisão social do trabalho desenvol- veu-se espontaneamente, com um avanço enorme nos diferentes ra- mos de produção. Exemplo disso é a quantidade de novos cursos que vêm sendo oferecidos pelas escolas profissionalizantes, pelas faculda- des e universidades que, por sua vez, estão acompanhadas de uma luta constante e competitiva no mercado de trabalho. Afinal, os limites das economias nacionais são ultrapassados pelo desenvolvimento do comércio internacional, circunstância que dá lugar a uma divisão inter- nacional de trabalho e elas, as universidades, têm que as acompanhar. Em meio aos tradicionais cursos de medicina, direito, enge- nharia e as licenciaturas, vários outros cursos, principalmente tec- nológicos, surgem e dão conta de uma grande e emergente parce- la do mercado de trabalho. Como você percebe a criação de novos cursos? O que tem mudado em termo de aplicação, atuação e con- cepção dos cursos considerados tradicionais: Direito, Med Informática e Pedagogia? Escreva suas ideias e compartilhe no AVA. Há ainda que se considerar que a economia, como ciência humana que se dedica à produção, distribuição e consumo de bens e serviços, teve em Karl Marx um de seus principais teóricos. Segundo ele o homem foi o primeiro ser a conquistar a liberdade e isso se deu graças ao seu trabalho. Foi colocando a natureza a seu serviço que o homem conseguiu dominá-la e usufruir das suas benesses. Baseando-se em Marx pode-se dizer que é da necessidade de superar o próprio meio que o homem define e projeta os meios para alcançar os seus objetivos. so Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Trago à luz um trecho da sua maior obra, oa O Capital: crítica da economia polí- Trata-se da seção 4 do capítulo || denominado “Mercadoria”. tica é um conjunto de livros escritos por Karl Marx como crítica ao capita- Nesse livro ele objetivou revelar lismo. Considerado por muitos estu- a lei econômica da sociedade diosos como o marco do pensamen- moderna. to socialista marxista, ele tem como foco uma análise sobre o trabalho, sobre a acumulação, sobre os modos de produção e sobre o valor do traba- lho e o preço das mercadorias. O Fetichismo da Mercadoria e o Seu Segredo A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostrámos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas. Enquanto valor-de-uso, nada de misterioso existe nela, quer satisfaça pelas suas propriedades as necessidades do homem, quer as suas propriedades sejam produto do trabalho humano. É evidente que a actividade do homem transforma as matérias que a natureza fornece de modo a torná-las úteis. Por exemplo, a forma da madeira é alterada, ao fazer-se dela uma mesa. Contudo, a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material. Mas a partir do momento em que surge como mercadoria, as coisas mudam completamente de figura: transforma-se numa coisa a um tempo palpável e impalpável. [6] O carácter místico da mercadoria não provém, pois, do seu valor-de-uso. Não provém tão pouco dos factores determinantes do valor. Com efeito, em primeiro lugar, por mais variados que sejam Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 81 os trabalhos úteis ou as actividades produtivas, é uma verdade fisiológica que eles são, antes de tudo, funções do organismo humano e que toda a função semelhante, quaisquer que sejam o seu conteúdo e a sua forma, é essencialmente um dispêndio de cérebro, de nervos, de músculos, de órgãos, de sentidos, etc., do homem. Em segundo lugar, no que respeita àquilo que determina a grandeza do valor - isto é, a duração daquele dispêndio ou a quantidade de trabalho -, não se pode negar que essa quantidade de trabalho se distingue claramente da sua qualidade. Em todas as épocas sociais, o tempo necessário para produzir os meios de subsistência interessou necessariamente os homens, embora de modo desigual, de acordo com o estádio de desenvolvimento da civilização. [bc] [O carácter misterioso daforma-mercadoria consiste, portanto, simplesmente em que ela apresenta aos homens as características sociais do seu próprio trabalho como se fossem características objectivas dos próprios produtos do trabalho, como se fossem propriedades sociais inerentes a essas coisas; e, portanto, reflecte também a relação social dos produtores com o trabalho global como se fosse uma relação social de coisas existentes para além deles.] [bc] [...] a forma mercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho [na qual aquela se representa] não tem a ver absolutamente nada com a sua natureza física [nem com as relações materiais dela resultantes). É somente uma relação social determinada entre os próprios homens que adquire aos olhos deles a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. [bc] Ê o que se pode chamar o fetichismo que se aferra aos produtos do trabalho logo que se apresentam como mercadorias, sendo, portanto, inseparável deste modo-de-produção. [Este carácter fetiche do mundo das mercadorias decorre, 84 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos (0) Se pudessem falar, as mercadorias diriam: “Pode o nosso valor- de-uso interessar ao homem, que para nós, enquanto, objectos, isso é-nos indiferente. O que nos interessa é o nosso valor. Demonstra-o a nossa relação recíproca como coisas de venda e de compra. Só nos relacionamos umas com as outras como valores-de-troca”. O economista parece exprimir a própria alma das mercadorias, quando diz: “o valor [valor-de-troca] é uma propriedade das coisas; a riqueza [valor-de-uso] é uma propriedade do homem. O valor, neste sentido, pressupõe necessariamente a troca, a riqueza, não”. (0) Uma pérola ou um diamante possuem valor enquanto pérola ou diamante”. Até hoje nenhum químico descobriu ainda valor- de-troca numa pérola ou num diamante. Os economistas que descobriram ou inventaram substâncias químicas deste género e que se reclamam da sua profundidade, acham que o valor-de-uso das coisas lhes pertence, inde pendentemente das suas propriedades materiais; enquanto que o valor lhes pertence na sua qualidade de coisas. O que lhes vem confirmar esta opinião, é a circunstância particular de o valor útil das coisas se realizar para o homem sem troca, quer dizer, numa relação imediata entre a coisa e o homem, enquanto que, ao invés, o seu valor apenas se realiza na troca, isto é, numa relação social. Fonte: http:/Avww.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vollcap01.htmitc1s4 PARA REFLEXÃO E aí, como se sentiu ao ler um texto cuja 13 edição foi em 1867? O que achou do seu conteúdo? Compartilhe suas impressões com seus colegas no AVA. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 89 Por certo há muito mais para saber sobre populações do que somente quantas pessoas existem. Vários aspectos devem ser computados como idade, moradia, dados socioeconômicos e raça. A idade de uma população pode nos dizer muito sobre o que ela está fazendo e o que fará no futuro. Um aumento repentino da taxa de natalidade resulta em um “inchaço” da população. Uma porcentagem maior do que o normal da população fica concentrada dentro de uma certa faixa etária, e a depender dela, pode haver uma pressão nos hospitais, nas escolas, nas universidades ou na previdência social, gerando, por certo, problemas sociais. Saber onde as pessoas vivem é outro elemento revelador não só do padrão monetário da população, mas também uma das formas de descobrir o padrão de vida das pessoas em determinadas regiões. Sabendo-se a cidade, o bairro, a casa, os vizinhos, melhores chances se tem de determinar o padrão socioeconômico e cultural do indivíduo e, consequentemente, entender as demandas sociais. Os dados socioeconômicos, por sua vez, combinados com os dados da população, podem mostrar arquétipos, fornecendo indícios, por exemplo, para problemas ocultos. Tais cruzamentos podem indicar altas concentrações de pessoas com câncer próximas de certas áreas industriais, ou um maior potencial para determinado empreendimento. O estudo da raça, por sua vez, apesar de controverso, visto raça não se explicar cientificamente, possui um papel importante em nossas sociedades. Nós nos identificamos, por razões culturais, como sendo de uma ou outra raça. É justamente pela compreensão dessas diferenças que ocorreram ao longo da história, que hoje se elaboram algumas políticas públicas que visam ao nivelamento social entre as classes. Quando uma população cresce, ela é colocada sob pressão. Essa pressão pode vir pela falta de alimentos, moradia e serviços, ou mesmo pelo descontrole de doenças, e dos espaços, mas a migração, as doenças, a guerra e mesmo a fome podem diminuir a pressão na medida em que provocam uma diminuição, seja pela migração, seja por morte. O economista britânico Thomas Malthus (1766-1834), desen- volveu uma teoria bastante pertinente sobre a população. Segundo so Fundamentos Antropológicos e Sociológicos ele a população inevitavelmente iria aumentar além da capacidade da terra, resultando em pressões auto-corretivas. Para ele o aumen- to da população era a causa de todos os males da sociedade. Sua ideia, reconhecida como “a Bomba Populacional” ou Teoria Popu- lacional Maltusiana, ganhou notoriedade com o crescimento do movimento ambiental dos anos 1970. Para ele, com o superpovoamento mundial poderia não haver comida para alimentar as populações; o espaço seria insuficiente para todos; o excesso de gente provocaria danos ao ambiente e não haveria infraestrutura social para atender a todas as pessoas. Bastante criticada, por não considerar os progressos tecnológicos e as benesses da industrialização, a teoria malthusiana deu lugar a várias outras que fizeram dos problemas previstos por Malthus simples variá- veis de um problema maior que é o da educação. Não educação formal, escolar, mas uma educação familiar, que diga ou que preveja que tem que haver o controle de natalidade, não necessariamente para o bem de todos, mas para o bem da família, para o próprio bem do indivíduo. Se atentarmos para áreas de países como a Índia e a China perceberemos que a densidade populacional é extremamente alta e nematecnologia nem a revolução industrial foram ou são suficientes para melhorar as condições de vida daqueles conglomerados. Não que ambos os países não possuam suas riquezas e tradições, mas a alta densidade populacional sem os serviços necessários a sua cidadania desestrutura qualquer cultura. O sociólogo francês Pierre Bourdain em seu livro “A miséria do mundo” contempla três anos de pesquisa em conjuntos habitacionais populares franceses. Nesta obra ele traz uma série de entrevistas com moradores que, por algum motivo, são obrigados a coabitarem nos mesmos lugares. O resultado, mesmo sendo baseado em pesquisa em outro país, é revelador também do que representa o choque de diferentes visões de mundo e que serve para compreende a realidade, também brasileira, ou seja, de todo o sofrimento decorrente das condições de produção das formas de miséria social contemporânea. Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 91 Nesse sentido, o controle populacional não só se faz necessário como é imprescindível nos tempos modernos. Com uma população maior do que o previsto pelas políticas públicas as pessoas se tornam menos saudáveis e os problemas que daí decorrem podem ser infinitos. De modo que a pressão populacional pode gerar conflitos e as condições insalubres e a proximidade uns dos outrostende a gerar epidemias e isso tudo impõe melhoramentos na geração de recursos e na infraestrutura, para aumentar a capacidade de sustentação. Não há dúvidas que os custos são enormes. Por isso a neces- sidade do controle seja interno ou externo são essenciais.. No Brasil, por exemplo, no ano de 2009, o presidente Lula, através do Ministério da Saúde, implantou a Campanha de Planejamento Familiar. Vejamos: á 9 jamento familiar sera reforçado em 200! Planej Publicado em 04/01/2009 | Agência O Globo Brasília - O Ministério da Saúde decidiu reforçar, em 2009, a política de investimento maciço em ações de planejamento familiar. Entre os carros-chefes da ofensiva, estarão a compra de 1,2 bilhão de camisinhas, um recorde em todo o mundo, e a distribuição da maior parte do estoque de 458 mil pílulas do dia seguinte, iniciada em dezembro. Também são previstas novas licitações para a compra de anticonce pcionais injetáveis e pílulas convencionais — só no ano passado, foram distribuídas 5O milhões de cartelas. s4 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos No Brasil, por exemplo, os noticiários a toda hora revelam crimes em casas de show, em bares, dentro do ônibus, do metrô, na rua, em estádios de futebol, até em Igrejas a violência se fez presente, como foi o caso da garotinha de 2 anos que foi violentada e assassinada em um templo religioso de Joinville-SC. As universidades e os órgãos representativos do povo, como as câmaras de vereadores, também não ficaram livres de depredações, saques e vandalismos. Muitos dos atos têm por desculpa o medo, o protesto ou o inconformismo com a situação vigente. O que chamaaatenção, no entanto, é que determinadas manifestações violentas têm por propósito um ato político. Esse é um campo em que o protesto só tem sentido como protesto racional, movido por um projeto social e político. O comportamento planejamento despolitiza qualquer ato político. sem as E ca Fonte: http://oglobo.globo.com/ EEN EA Sc mangueira. 1.jpg Fonte: http://danadosabo.zip.net/ CEREAL RS] Fundamentos Antropológicos e Sociológicos 95 Os estudiosos que fizeram as primeiras análises sobre o tema definiam tais ações como comportamento coletivo. Mas nem toda multidão atua por comportamento despolitizado. Por isso, diferenciaram o comportamento coletivo para nele identificar os movimentos sociais, que são aquelas condutas que têm sentido e que destoam das irracionalidades próprias da multidão. O comportamento da multidão não tem necessariamente uma busca, um projeto. Um show de música, um jogo de futebol, uma missa campal, um culto, reúnem uma multidão, mas não a caracteriza como movimento social. O comportamento coletivo que caracteriza essas ocorrências, apesar de sua diversidade, segue um padrão meramente de aglutinação. Há, ainda, ocorrências geralmente súbitas, em que membros da multidão se destacam por atos bruscos e de repercussão geral, como é o caso das multidões reunidas em frente às delegacias para linchar criminosos hediondos que são presos. O que se pode notar, em casos como estes é que os valores de referência da conduta social perdem momentaneamente sua eficácia em face de um ato inusitado que desperta ações autodefensivas e de sobrevivência. A multidão, na qual os jovens têm participação maciça, sugere uma procura, uma busca de si mesmo nos outros, uma tentativa de fazer parte e do pertencer, sabendo que tudo aquilo é efêmero, pois se dissolverá ao fim do acontecimento. Já os movimentos que se propõem sociais se caracterizam por serem organizações estruturadas, que associam pessoas com interesses em comum, que visam à defesa ou promoção de certos objetivos, geralmente morais, éticos e legais, perante a sociedade. Fruto de determinados contextos históricos e sociais, os movimentos sociais encontram no associativismo, a exemplo das associações civis, dos movimentos comunitários e de algumas Organizações Não-Governamen- tais (ONGs), o respaldo necessário para se legitimarem como represen- tantes de determinada classe ou grupo social. É assim com o “Movimento Sem-terra”, com o “Movimento Sem-teto”, com o “Movimento Indígena”, com o “Movimento Negro” e com vários outros. 96 Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Algumas organizações menores, de representação local, como as associa- ções de bairro também vêm buscando se organizar nacionalmente e, na medida do possível, participar de redes transnacio- nais de movimentos. Constituídos em torno de uma iden- tidade, de um projeto e da visão nítida do que se deve combater, e não necessaria- mente no ganho econômico os movimen- tos sociais se organizam e se revelam úteis no que se propõem. Haja vista temos refor- mas agrárias (Movimento dos Sem-terra), políticas públicas de habitação (Movimen- to dos Sem-teto), reservas indígenas (Mo- vimento Indígena), cotas para afrodescen- dentes nas universidades (Movimento Ne- gro), dentre outras conquistas que devem, aos movimentos sociais, sua luta. Para ratificar tais ideias trago à luz a teoria de Alan Touraine, sociólogo francês contemporâneo que dedica-se ao estu- do de movimentos sociais de trabalha- dores em todo o mundo e, em especial, da América Latina. Para ele os conflitos sociais são generalizados pela sociedade pós-industrial na medida em que ela, em deferimento da indústria e do fator econô- mico, privilégia como elementos chave da produção, o conhecimento e a informa- ção e como consequência disso, os confli- tos sociais não se concentram apenas no elementos econômicos, mas também nos culturais. Daí os movimentos feminista, homossexual, estudantil, dentre outros. Agora, para reflexão, trago parte do texto de Marcel Gomes intitulado “Como funcionam os movimento sociais”. Fonte: http:/Avww.mostrataguatinga. com.briweb/fotos/8mostra/temp/ RE Toa ARTE] Fonte: http:/Avww alagoas24horas. combrilegba/admin/temp/Thumbs/ EC E Ud= DER Pi EIN 191bc1910d28%7D sem-teto%20 RTP EP vo ap UR
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