Baixe Fundamentos Básicos das Grupoterapias e outras Resumos em PDF para Psicologia, somente na Docsity! CAPÍTULO 7
Modalidades Grupais
O capítulo anterior, além de enfatizar a importância dos grupos e a possibilidade da utilização do
seu potencial dinâmico, dedicou-se a responder à pergunta: "O que é grupo? , “m continuidade a
ela, outras perguntas se impõem: Quem pode praticar tectos grupais? Para Abs gs destinam?
Quais são os seus objetivos? Como se processam na prática? Vamos tentar responde las indireta.
mente, ao longo do texto, partindo do principio de que os fenômenos grupais são sempre os mes
mos em qualquer grupo, variando as respostas às perguntas feitas, e essa variação é que jrá
determinar a finalidade e, portanto, a modalidade grupal. |
É tão largo o leque de aplicação das atividades grupais que poderiamos nomeá-las seguindo
a trilha quase completa do abecedário. Vamos exemplificar, somente a titulo de ilustração:
analítico; auto-ajuda; adolescente; alcoolistas...
Balint; borderline; bivenergêtico...
capacitação; casais; crianças...
dramatização; discussão; diagnóstico...
ensino-aprendizagem; egressos...
formação; família...
gestáltico; gestantes...
homogêneo; holístico...
integração; institucional; idosos...
livre; laboratório (de relações humanas)...
maratona...
numeroso (refere-se ao grande número de participantes)...
Operativo, orientação; organizacional; obesos...
Psicodrama; Psicossomático...
questionamento...
reflexão; reabilitação...
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Foro
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FUNDAMENTOS pA
TS BÁScOs DAS GRUPOTERAPAS 9
= —
s: saúde mental (comunitária); sobrevivência socia] (gays, etc); sensibilização; sala d
+ dy b do, a de
espera...
T; treinamento; (com pacientes) terminais,
U: união...
v vivências.
Por esta pálida amostragem podemos percel) o
estar Se referindo a uma mesma finalidade grupal e mesma o denominações diferentes podem
designando atividades que, em sua essência, são diferentos, Ademais, mtas nome pode estar
pal permite à criação de novas táticas, inclusive com a combinação de algu ol e eu
aliado à um largo espectro de aplicações, pode Berar uma confusa rede É mas a e tudo isso,
Para atenuêr, este estado de coisas impõe-se q necessidade de uma assi ção d
qualquer intento classificatório sempre partirá de um determinado ponto de via, CU ea o oh
ser o de uma VEnGIRE MOTICA, COMO O Lipo de setting instituída a finalidade a ser alem das tipo
dos integrantes, O tipo de vinculo com o coordenador, e assim pot diante é cançada; o tipo
Assim, muitos autores Costumam catalogar os grupos de acordo cam a técnica emprevada
pelo coordenador € com O tipo de vínculo que ele estabeleceu com os indivíduos integrantes.
Exemplo disso é o conhecido critério de classificar os cinco tipos seguintes: E! .
* Pelo grupo: seguindo um modelo chamado exortativo, o grupo funciona gravitando em
torno do lider, através do recurso da sugestão, ou de uma identificação com esse lider,
tal como acontecia nos “Grupos Pratt”, ou como acontece nos “Grupos de Apoia" com
pacientes excessivamente regressivos. Em outras palavras, mercê de seu carisma, 0 te-
rapeuta trabalha pelo grupo, que unicamente orbita em torno dele,
Em grupo: neste caso, os pacientes estão reunidos em um grupo, porém os assinalamen-
tos e interpretações do terapeuta são dirigidos separadamente a cada paciente em par-
ticular. [De certa forma, trata-se de um tratamento individual feito na presença dos
demais)
Do grupo: aqui, o enfoque interpretativo do grupoterapenta está sempre dirigido ao
grupo como uma totalidade, como se essa totalidade constituisse uma nova individua-
lidade. Por exemplo, diante de um determinado conflito ou emergência de angústia, o
terapeuta, de forma sistemática, interpreta mais ou menos assim: “o grupo está me
dizendo que...; o ataque a mim, que vem do grupo, está mostrando que o grupo sente
inveja de mim porque...” Nessa época, havia uma clara recomendação de que o grupo-
terapeuta nunca particularizasse qualquer assinalamento.
De grupo: nesse caso, o interesse do grupoterapeuta pelos relatos de cada um, € a sua
atividade interpretativa, tanto privilegia as individualidades, e a partir dessas abrange
a generalidade, como também, partindo da generalidade do grupo, há sempre uma
Valorização da participação e contribuição de cada indivíduo, o que diferencia da técni-
ca habitual da análise individual, porquanto ela assume caracteristicas próprias e se
constitui como uma análise de grupo. .
Com a grupo: atualmente, está ficando cada vez mais consensualmente aceito o fato de
que os. pacientes do grupo devem interagir ativamente entre eles e com o terapeuta,
sendo que um dos critérios de crescimento do grupo consiste justamente no fato de que
cada paciente tem a liberdade de exercer uma capacidade interpretativa para o seus
Pares e junto com todos eles, o que evidencia que eles estão ineo ade o
te a “função psicanalítica” do seu grupoterapeuta. Uma excelente descrição dessa an
lise de grupo, funcionando com o grupo, aparece no livro Psiconnálisis compartido, de
Gerardo Stein.
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92 pavio E
Grupos Comun!
Grupos de Reflexão
a
itários
saúde mental.
no campo da satid ,
0M5 deu à saúde, como sendo “um completo bem-estar
mplo se encontra
que as técnicas grupais encontram (ou deveriam ento
| xe
on jo a definição que à
mind
: e E raida em comunidades?
ilização, sobretu o o
rea de utilizaç o utilizados na prestação tanto de cuidados primários de sajá
Esses grupos comunitários sá a
â secundários (tratamento) € terciários (reabilitação).
(prevenção). sam comprovada utilidade à realização de grupos, por exemplo, com gestar
Assim, ai lideres naturais da comunidade, pais, et. Um bom exemplo da ttlizs
adolescents dos comunitário é o excelente trabalho com adolescentes desenvolvido em Ft;
gática de grupos os celent o
pi his pelo psiquiatra Francisco Baptista Neto (19 ). de msi o
ope cos de distintas áreas de especialização (além de psiquiatras, outros médicos não pg,
i esto os, assistentes sociais, enfermeiros, sanitaristas, etc.) podem, com relativa ao
quiatras, a qinados para essa importante tarefa de integração e de incentivo às capacidades
ser Ri E io
peceis desde que fiquem unicamente centrados na tarefa proposta e conheçam os seus limites
fisico,
Ntrar)
tes,
ção
Ta.
ton!
Em relação ao termo “reflexão”, é preciso esclarecer que muitas outras denominações costumam
«er utilizadas para este mesmo fim de a ividade grupal. Desta forma, é de uso corrente O emprego
de “grupo F (leira inicial das palavras inglesas free e formation, às quais, por siso, caracterizam a
ideologia destes grupos); assim como o de'“grupo de discussão”, ou grupo de imegração”, ec,
Particularmente, prefiro à terminologia(”grupo de reflexão”, proposta pelo psicanalista ar-
gentino Dellarossa (1979), pelas seguintes duas razões: à primeira está contida em sua etimologia,
(composta a partir de re+flexão, ou seja: sugere que cada um & todos do grupo façam uma renova-
da e continuada flexão sobre si próprios, assumindo as responsabilidades que lhes são próprias. A
segunda razão é o faro de que à palavra “reflexão” indica a propriedade de um espelho, ou seja: o
fato de que também este tipo de grupo comporta-se como uma “galeria de espelhos” onde cada um
pode refletir-se de forma especular, nos demais e vice-versa.)
Para completar a conceituação de "grupo de reflexão”, vale acrescentar mais dois aspectos:
o primeiro se refere à sua ubicação: este tipo de grupo pertence à categoria mais abrangente de
grupos operativos”, nome cunhado por Pichon Riviête (1977) que traçou os pilares fundamemais
de seu esquema conceitual referencial operativo. Assim, o grupo de reflexão é uma das modalida-
a pai é segue as regras básicas deste, sendo que o segundo aspecto que 0 carat-
de primeira grandeza paro ar rellexivo tema finalidade precipua de servir como um instrumento
A Demo destes pia rea do ensino-aprendizagem, isto é, da educação. E
midi ias, pode-se dizer que o grupo de reflexão é uma indicação prioritária
todos os programas educacionais, que visam fundamentalmente a aliar 20 propósito da infor-
mação o da formação, especialmente no fere à aquisiçã e : :
Nesta ahura, alguém poderia obj que se refere à aquisição de atitudes internas, ace
ques emocionais de certa profundidade que DE mudança de atitudes implica em "E ie
rápico, Issa é da competência d Ade que, por sua vez, implicam em um processamento PS
a dos grupos de reflexão?”. Minha resposta seria esta: ainda que 9
grupo de reflexão não sej
não E:
€ nem sequer seja e um Va de psicoterapia analítica, e não siga as regras básicas deso
: inalidade é inenio cs des
SXtrce uma definida ação terapê idade, é inegável que, por seus mecanismos espeíficos
Tenho comprovado isso tica, que se traduz em modificações na atitude e nã conduta. a
estudantes de medicina; com Re experiência com grupos de reflexão, principalmente con
tom médicos residentes em diversos cursos de especialização; com equi:
——
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FUND
a —AMENTOS Básicos pas GRUPOTERAPIAS 93
, * multidisciplinares; e co)
alivalentes € “É COMO parte Inerento À
o Continuada que temos em andamento. “0Emédulos dos programas de educa.
No entanto, cabe à pergunta: quais são os Mecanismos pelos quis
ais os
inam as mudanças de atitudes internas indivi o
as gerais, pode-se esponder que 3 quo e Como são as mesmas?
os individuos “aprendam a aprender" (Bion, 1957 M Pdamental à ser desenvolvida é ade
Na funda significaçã | "oo E Mais do que Uma simples frase bonita, isso
tom uma protunci significação, e implica CM Que se trabalhe com as seguintes quatro funcõe d
Ego: percepção, Pnnento, conhecimento e comunicação. q unções do
À percepção TO Ri o o indivíduo, OU UM grupo, percebe os estímulos provindos do
mundo exterior, e isso Varia de acordo com q natureza É O grau das possiveis ansiedades de qe
eles sejam portadores. Dessa forma, se a ansiedade predominante em um individuo for de ia
2a paranóide, por [e qe perceberá de tima forma distorcida tudo q que seus órgãos dos
sentidos capiarem. feet a Chique, Contrariamente à realidade objetiva, ele verá caras feias à
seprová-lo ou ouvirá frases agrossivas ME visam à atingilo, Outras seriam as distorções se as
ansiedades prevalentes fossem de narnreza depressiva, ou confusional, e assim por diante. Não é
dificil concluir o quanto um grupo de reilexão Propicia trabalhar nessa área,
Inimamente ligada q essa função Perceptiva está à do Pensamento, coluna mestra das fun-
ções do Ega voltadas para o aprendizado, O estudo da normalidade e da patologia da gênese é
funcionamento do pensamento é muito complexo e fascinante, mas não cabe aqui esmiuçá-lo.
Podemos encontrar uma excelente abordagem relativa à sua importância no trabalho Grupos ope-
rativos no ensirto, de J. Bleger (1987). Nele, 0 autor “estaca a inter-relação que há entre o processo
do pensamento e O narcisimo e à onipotência, assim como a atitude de um encontro obsessivo
através de condutas estereotipadas.
Uma das finalidades mais importantes de um grupo de reflexão é a de possibilitar aos indi-
víduos uma forma mais adequada de utilização do pensamento, Os participantes de um grupo
dessa natureza têm a oportunidade de flagrar o quanto podem pensar que estão pensando criativa-
mente, quando na verdade estão gastando o melhor de suas energias mentais voltados contra o
pensamento de um outro; ou submetidos ao pensamento de alguém, fora ou dentro dele; ou nar-
cisisticamente voltados a impor a sua verdade absoluta; ou, ainda, fazendo um emprego maciço de
racionalizações para impedir o surgimento de qualquer fato novo que venha a pôr em risco a sua
segurança, e assim por diante. .
Este último aspecto nos remete à importante função do conhecimento. Sabemos todos que,
na evolução normal da criança, existe um natural e sadio impulso epistemofílico destinado a que-
ser conhecer as verdades das coisas e dos [atos que lhe cercam. No entanto, também existe em todo
ser humano uma tendência ao desconhecimento das verdades penosas, tanto as externas como as
nternas, . o
E variável q intensidade e a modalidade dos recursos de negação do Ego que têm o propósito
inconsciente de evitação do conhecimento, sendo gue em um grupo de reflexão fica pi
capacidade de reconhecer o elevado preço que cada individuo paga ad a amputaç,
Parcial ou até mesmo total dessa importante função do contato com as verda o dosmpo, da
Para tanto, cresce de importância o desenvolvimento, em cada um e em grupo,
tapacidade de fazer indagações de ordem dialética. e ed E
Já aludimos aos processos de percepção de pensamento e de = ma ns pe eta j
função de comunicação que um grupo de reflexão encontra a sua uti ação m do!
Não é demais repisar que “o grande mal da humanidade é Apa Da aa ias
a o ani orem lá Ei Ee rias relações interpessoais. Cada
especialmente do emprego excessivo de identificações projethas na pot ao nao
Pessoa costuma depositar e atribuir a outra tudo aquilo que Gi que nos levariam, ineitavel
Também não cabe, aqui, fazer um aprofundamento Neo e ideificações, et
Mente, aos problemas de inveja, ciúme, rivalidades, ansie )
ção
grupos de reflexão
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94 DAVIDE TIMEBMAN O
Nesse ponto cabe uma pergunta de ordem técnica: estes aspectos devem sor
êr cotada? A resposta é a seguinte; de forma sistemática, não, No entanto, a
aspess estiverem muito emergentes, à ponto de estarem interferindo no liv
a
Que aç
ô conscientização e a elaboraç; Te Cursa das a
explícita proposta pelo grupo, impoe-se à conscientizaça a elaboração dos Mesmos arofa
Linguagem
A linguagem empregada pelas pessoas, quer quando transmitem as mensagens ou
bem, depende fundamentalmente da significação que as mesmas adquirem, tanto
como para 9 receptor, a qual está intimamente ligada aos padres socioculturais
determinada época e geografia, tal como será explicitado no capítulo que aborda à “Comunicação
Ainda em relação à comunicação, não é demais lembrar que cla pode se processar = ar,
linguagem tanto verbal como pré-verbal, como a dos actings e somatizações, por exemplo, E
que a capacidade de verbalização pode e deve ser desenvolvida em um grupo de refleção, .
« Outra atribuição importante do grupo de reflexão diz respeito aos papéis, por pare E
integrantes do grupo, especialmente se os mesmos se mantiverem fixos e estereotipados, Exemplos
disso podem ser a assunção de um papel permanente de “bode expiatório”, ou de “Donziaho”, oy
de “delegado” da prática de actings, ou de porta-voz da agressividade dos demais, etc.
Antes de encerrar, vale fazer mais umas duas ou três breves observações, Uma é q fato de
que toda autêntica mudança de atitude e de conduta implica em um sofrimento e incremento de
ansiedades. Decorre dai uma segunda observação: a de que o coordenador de um grupo de ref.
xão deve ter um preparo adequado para essa tarefa. Faz parte desse preparo uma aptidão para |
possibilitar que o grupo de reflexão transcorra em um clima de liberdade, fator que considero
como essencial no processo de ensino-aprendizagem. Liberdade para contestar, criar e amar, assim
como também para errar e experimentar a sua agressão. Isto só se consegue a partir de uma
liberdade interior,
Em outras palavras: o grupo de reflexão não tem uma finalidade explícita de obtenção de
resultado psicoterápico, mas implicitamente atinge esse objetivo, especialmente ao possibilitar
que os individuos saiam da condição de sujeitadores, ou de sujeitados, e se tornem sujeitos livres
para pensar e criar.
Exemplos práticos da aplicação e funcionamento de grupos de reflexão aparecem no capitu-
lo que trata de sua aplicação na área médica.
quando as rece
Para o emissor
“gentes numa
Grupos Terapêuticos
Grupos de Auto-Ajuda
É .
+ Esta modalidade grupal merece ser destacada tanto pela razão de uma inequivoca comprovação é
sua eficiência como pelo largo âmbito de áreas beneficiadas e a sua incrível expansão: Sai”
nos Estados Unidos, no campo da saúde mental, estão em pleno andamento mais de 800 progra
mas oficiais baseados neste tipo de aplicação grupal,
Os grupos de auto-ajuda, como o nome designa, são compostos por pessoas P
Uma mesma categoria de necessidades, as quais, em linhas gerais, especialmente no *º“
Medicina, podem ser enquadradas nos seguintes seis tipos de objetivos da tarefa do grupo”
ortadoras de
o campo dá
* Adicios (obesos, fuma
* Cuidados primários d
Reabilitação (infarta
htes, toxicômanos, alcoolistas, etc.)
e saúde (programas preventivos, dinbéticos,
dos, espancados, colostomizados, etc.).
hipertensos, etc.)
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