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Fundamentos e Aplicação da Química Verde: História, Princípios e Exemplos, Notas de estudo de Química

Este artigo apresenta os fundamentos da química verde, seu histórico e aplicações na indústria, ensino e pesquisa básica. Além disso, discute eventos importantes na área e princípios essenciais, como a eficiência atômica, economia de átomos e uso de solventes verdes. O artigo também apresenta exemplos de reações verdes e marroms.

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 06/10/2010

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Baixe Fundamentos e Aplicação da Química Verde: História, Princípios e Exemplos e outras Notas de estudo em PDF para Química, somente na Docsity! Quim. Nova, Vol. 26, No. 1, 123-129, 2003 D iv ul ga çã o *e-mail: lenardao@ufpel.tche.br “GREEN CHEMISTRY” – OS 12 PRINCÍPIOS DA QUÍMICA VERDE E SUA INSERÇÃO NAS ATIVIDADES DE ENSINO E PESQUISA Eder João Lenardão* Departamento de Química Analítica e Inorgânica, Instituto de Química e Geociências, Universidade Federal de Pelotas, Campus do Capão do Leão, CP 354, 96010-900 Pelotas - RS Rogério Antônio Freitag Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química e Geociências, Universidade Federal de Pelotas, Campus do Capão do Leão, CP 354, 96010-900 Pelotas - RS Miguel J. Dabdoub e Antônio C. Ferreira Batista Departamento de Química, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Av. Bandeirantes, 3900, 14049-901 Ribeirão Preto - SP Claudio da Cruz Silveira Departamento de Química, Universidade Federal de Santa Maria, CP 5001, 97105-900 Santa Maria - RS Recebido em 13/3/02; aceito em 21/6/02 GREEN CHEMISTRY – THE 12 PRINCIPLES OF GREEN CHEMISTRY AND IT INSERTION IN THE TEACH AND RESEARCH ACTIVITIES. Green chemistry – defined as the design, development, and application of chemical processes and products to reduce or eliminate the use and generation of substances hazardous to human health and the environment. This article summarizes the 12 principles of green chemistry, describing how they have been applied to the academic, industrial and research activities around the world. Keywords: green chemistry; sustentable chemistry; environmentally benign chemistry. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, questões ambientais têm merecido destaque na mídia nacional e internacional e praticamente todas as reuniões entre Chefes de Estado contêm em sua pauta temas envolvendo a redução de emissões ou o controle da degradação de reservas ambientais – o desenvolvimento auto-sustentável (DS). DS pode ser definido como o progresso industrial que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações satis- fazerem às suas próprias necessidades1. Por outro lado, a atividade química é freqüentemente relacionada, direta ou indiretamente, à maioria dos chamados “desastres ambientais”, embora outras ativi- dades humanas também exerçam papel importante na degradação e poluição ambientais. Uma das principais ações no sentido de minimizar o impacto ambiental causado por atividades industriais que geram algum tipo de resíduo é o tratamento adequado do mesmo – a remediação, que, embora apresente baixa vantagem ambiental relativa se comparada com técnicas de redução na fonte, tem colabo- rado bastante para diminuir a velocidade de contaminação do ambi- ente por muitas atividades industriais2. No início da década de 90, uma nova tendência na maneira como a questão dos resíduos químicos deve ser tratada começou a tomar forma. Esta nova visão do problema, com a proposição de novas e desafiadoras soluções, considera que, fundamentalmente, é preciso buscar uma alternativa que evite ou miniminize a produção de resí- duos, em detrimento da preocupação exclusiva com o tratamento do resíduo no fim da linha de produção (“end of pipe”). Este novo direcionamento na questão da redução do impacto da atividade quí- mica ao ambiente vem sendo chamado de “green chemistry”, ou quí- mica verde, química limpa, química ambientalmente benigna, ou ain- da, química auto-sustentável3. Neste artigo serão apresentados e discutidos os fundamentos da química verde, além de um breve histórico sobre seu surgimento e desenvolvimento, mostrando ainda aplicações dos princípios da quí- mica verde na indústria, no ensino e na pesquisa básica em química. BREVE HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA QUÍMICA VERDE Alguns eventos recentes podem servir para ilustrar o desenvol- vimento histórico e o enorme potencial da química verde. Há pouco mais de 10 anos, em 1991, a agência ambiental norte- americana EPA (“Environmental Protection Agency”)4, através de seu escritório para prevenção de poluição lançou seu programa “Rotas Sintéticas Alternativas para Prevenção de Poluição”, uma linha de fi- nanciamento para projetos de pesquisa que incluíssem a prevenção de poluição em suas rotas sintéticas, caracterizando o nascimento da quí- mica verde. Alguns anos depois, em 1995, o Governo dos EUA insti- tuiu o programa de premiação “The Presidential Green Chemistry Challenge” (“PGCC”)5,6, com o objetivo de premiar inovações tecnológicas que possam vir a ser implementadas na indústria para a redução da produção de resíduos na fonte, em diferentes setores da produção. Anualmente são premiados trabalhos em cinco categorias: acadêmico, pequenos negócios, rotas sintéticas alternativas, condições alternativas de reação e desenho de produtos químicos mais seguros. Prêmios similares foram instituídos em vários países, como Inglater- ra, Itália, Austrália e Alemanha7. Em 1993, na Itália, foi estabelecido o Consórcio Universitário Química para o Ambiente (INCA), com o objetivo de reunir grupos acadêmicos envolvidos com química e am- biente; uma de suas áreas de atuação é a prevenção de poluição através da pesquisa em reações, produtos e processos mais limpos. Anual- mente, o INCA promove sua Escola Internacional de Verão em Quí- 124 Quim. NovaLenardão et al. mica Verde, que tem contado com a participação de jovens químicos de 20 países diferentes. Em 1997 foi criado o “Green Chemistry Institute” (GCI)8, que desde janeiro de 2001, atua em parceria com a Sociedade Americana de Química (“American Chemical Society, ACS”). Ainda em 1997, em setembro, a IUPAC (“International Union for Pure and Applied Chemistry”) organizou sua Primeira Conferên- cia Internacional em “Green Chemistry”, em Veneza; em julho de 2001 aprovou a criação do Sub-Comitê Interdivisional de “Green Chemistry” e em setembro do mesmo ano foi realizado o Workshop sobre Educa- ção em “Green Chemistry” da IUPAC9,10. Em 2001, ocorreu também a Conferência CHEMRAWN XIV (“The Chemical Research Applied To World Needs”), realizada na Universidade do Colorado (EUA), que teve como tema A Busca por Produtos e Processos Benignos ao Ambiente. Este evento, organizado pela IUPAC, ACS e GCI, contou com mais de 140 trabalhos relacionados ao tema11-13. A literatura relativa à química verde vem se expandindo vertigi- nosamente, através de livros14, periódicos e publicação direta na Internet. Em 2000 9 e 200113 a IUPAC publicou números especiais da revista Pure and Applied Chemistry dedicados à química verde. O número de artigos abordando o assunto ou envolvendo tecnologias mais limpas vem crescendo na literatura primária e esta tendência levou a Sociedade Real de Química Britânica (“UK Royal Society of Chemistry, RSC”) a lançar o periódico bimestral “Green Chemistry”15, que publica artigos descrevendo aspectos químicos de tecnologias limpas. Estes fatos recentes, somados ao número crescente de países que estão implantando políticas de incentivo a tecnologias verdes7, à realização de dezenas de eventos anuais abordando a química auto- sustentável16, além da tendência mundial em reduzir as emissões in- dustriais, levam a crer que o Brasil não pode ficar atrás nesta corrida. Neste artigo, apresentaremos os 12 tópicos principais da quími- ca verde, discutindo brevemente, através de exemplos, como técni- cas que utilizam reagentes e solventes clássicos ou, então, que con- somem quantidades excessivas de energia para produção (e trata- mento de seus resíduos), podem ser substituídas, de maneira rentá- vel, por técnicas limpas, benignas ao ambiente. O CONCEITO DE QUÍMICA VERDE Química verde pode ser definida como o desenho, desenvolvi- mento e implementação de produtos químicos e processos para re- duzir ou eliminar o uso ou geração de substâncias nocivas à saúde humana e ao ambiente13-15,17. Este conceito, que pode também ser atribuído à tecnologia limpa, já é relativamente comum em aplica- ções industriais, especialmente em países com indústria química bas- tante desenvolvida e que apresentam controle rigoroso na emissão de poluentes e vem, gradativamente, sendo incorporado ao meio aca- dêmico, no ensino e pesquisa18-22. Esta idéia, ética e politicamente poderosa, representa a suposi- ção de que processos químicos que geram problemas ambientais possam ser substituídos por alternativas menos poluentes ou não- poluentes. Tecnologia limpa, prevenção primária, redução na fonte, química ambientalmente benigna, ou ainda “green chemistry”, são termos que surgiram para definir esta importante idéia. “Green chemistry”, o termo mais utilizado atualmente, foi adotado pela IUPAC, talvez por ser o mais forte entre os demais, pois associa o desenvolvimento na química com o objetivo cada vez mais buscado pelo homem moderno: o desenvolvimento auto-sustentável19. Neste artigo, utilizaremos a tradução literal, química verde, para o termo em inglês “green chemistry”. Os produtos ou processos da química verde podem ser divididos em três grandes categorias: i) o uso de fontes renováveis ou recicladas de matéria-prima; ii) aumento da eficiência de energia, ou a utilização de menos ener- gia para produzir a mesma ou maior quantidade de produto; iii) evitar o uso de substâncias persistentes, bioacumulativas e tóxi- cas. Alguns autores procuraram, em seus trabalhos, definir os princi- pais pontos ou os princípios elementares da química verde. Basica- mente, há doze tópicos que precisam ser perseguidos quando se pre- tende implementar a química verde em uma indústria ou instituição de ensino e/ou pesquisa na área de química19: 1. Prevenção. Evitar a produção do resíduo é melhor do que tratá- lo ou “limpá-lo” após sua geração. 2. Economia de Átomos. Deve-se procurar desenhar metodologias sintéticas que possam maximizar a incorporação de todos os materiais de partida no produto final23-25. 3. Síntese de Produtos Menos Perigosos. Sempre que praticável, a síntese de um produto químico deve utilizar e gerar substânci- as que possuam pouca ou nenhuma toxicidade à saúde humana e ao ambiente. 4. Desenho de Produtos Seguros. Os produtos químicos devem ser desenhados de tal modo que realizem a função desejada e ao mesmo tempo não sejam tóxicos. 5. Solventes e Auxiliares mais Seguros. O uso de substâncias au- xiliares (solventes, agentes de separação, secantes, etc.) precisa, sempre que possível, tornar-se desnecessário e, quando utiliza- das, estas substâncias devem ser inócuas. 6. Busca pela Eficiência de Energia. A utilização de energia pe- los processos químicos precisa ser reconhecida pelos seus im- pactos ambientais e econômicos e deve ser minimizada. Se pos- sível, os processos químicos devem ser conduzidos à temperatu- ra e pressão ambientes. 7. Uso de Fontes Renováveis de Matéria-Prima. Sempre que téc- nica- e economicamente viável, a utilização de matérias-primas renováveis deve ser escolhida em detrimento de fontes não- renováveis. 8. Evitar a Formação de Derivados. A derivatização desnecessá- ria (uso de grupos bloqueadores, proteção/desproteção, modifi- cação temporária por processos físicos e químicos) deve ser minimizada ou, se possível, evitada, porque estas etapas reque- rem reagentes adicionais e podem gerar resíduos. 9. Catálise. Reagentes catalíticos (tão seletivos quanto possível) são melhores que reagentes estequiométricos23-25. 10. Desenho para a Degradação. Os produtos químicos precisam ser desenhados de tal modo que, ao final de sua função, se frag- mentem em produtos de degradação inócuos e não persistam no ambiente. 11. Análise em Tempo Real para a Prevenção da Poluição. Será necessário o desenvolvimento futuro de metodologias analíticas que viabilizem um monitoramento e controle dentro do proces- so, em tempo real, antes da formação de substâncias nocivas. 12. Química Intrinsecamente Segura para a Prevenção de Aci- dentes. As substâncias, bem como a maneira pela qual uma subs- tância é utilizada em um processo químico, devem ser escolhi- das a fim de minimizar o potencial para acidentes químicos, in- cluindo vazamentos, explosões e incêndios26. OS PRINCÍPIOS DA QUÍMICA VERDE E ALGUMAS DE SUAS APLICAÇÕES: DO CEPTICISMO À REALIDADE DA QUÍMICA AUTO-SUSTENTÁVEL Discutiremos a seguir, mais detalhadamente, os tópicos princi- pais da química verde, apresentados acima. A redução na fonte, de que trata o tópico # 1, é sem dúvida a maneira mais eficiente de 127“Green chemistry” – Os 12 Princípios da Química Verde e sua Inserção nas Atividades de Ensino e PesquisaVol. 26, No. 1 lações para isolamento do n-bromobutano28. Um dos desafios para os químicos e engenheiros químicos é o desenvolvimento de novas reações que possam ser efetuadas de maneira a minimizar o consu- mo de energia23-25,31,40. O sétimo princípio da química verde nos alerta para a necessida- de de utilização de fontes renováveis de matéria-prima (biomassa). Materiais derivados de plantas e outras fontes biológicas renováveis ou reciclados devem ser utilizados, sempre que possível. Embora não sejam efetivamente biomassas, CO 2 e metano são considerados renováveis, porque podem ser obtidos tanto por métodos sintéticos como naturais. Por outro lado, o n-butanol, utilizado na síntese des- crita na Equação 1, é obtido normalmente a partir do petróleo ou outras fontes não-renováveis. O recente avanço no interesse pelo biodiesel41 (um biocombustível, obtido através da alcoólise de óleos vegetais) pode ser considerado como um ganho ao ambiente, pois muitos geradores de energia hoje movidos a óleo derivado do petró- leo poderão ser substituídos por esse combustível verde42. Idealmente, uma síntese deve levar à molécula desejada a partir de materiais de partida de baixo custo, facilmente obtidos, de fonte renovável, em uma única etapa, simples e ambientalmente aceitável, que se processe rapidamente e em rendimento quantitativo. Além disso, o produto precisa ser separado da mistura da reação com 100% de pureza23,40,43. Obviamente, esta situação ainda é muito difícil de se conseguir. Entretanto, deve-se buscar esta situação ideal, evitando etapas desnecessárias, como a derivatização excessiva, como descre- ve o oitavo princípio da química verde. O princípio # 9 mostra que reações catalíticas são superiores às reações estequiométricas. O desenvolvimento, nos últimos anos, de catalisadores altamente seletivos e efetivos em transformações com- plexas e difíceis de serem previstas até então, nos aproximou um pouco mais da chamada “síntese ideal”23-25,43,44. Os trabalhos de K. Barry Sharpless, Ryoji Noyori e William S. Knowles, agraciados com o Prêmio Nobel de Química em 200145 são excelentes exemplos deste avanço. Na literatura, atualmente, há muitos exemplos descre- vendo as vantagens em substituir metodologias clássicas de obten- ção de fármacos, ou outras matérias-primas para indústria química, por técnicas catalíticas23-25,43,44,46. Em geral, reações que utilizam catalisadores heterogêneos são mais limpas, mais seletivas e, como há possibilidade de reciclar e reutilizar o catalisador por várias ve- zes, há, invariavelmente, vantagens econômicas. Além disso, gran- des quantidades de resíduos são evitadas, pois há redução na forma- ção de sais inorgânicos. Além do uso da catálise, a biocatálise31,43,47, a fotoquímica e a síntese biomimética43 também se enquadram na tecnologia limpa de processos químicos. Na Figura 3 são mostradas duas alternativas verdes para a preparação do ácido adípico46,48. O ácido adípico é um produto químico importante, utilizado na fabricação do nylon-6,6, presente em fibras de carpete, tapeçaria, reforço de pneus, partes de automóveis, etc. A produção mundial de ácido adípico gira em torno de 2,2 milhões de toneladas e utiliza, em geral, ácido nítrico como agente oxidante em uma de suas etapas49. Estes processos industriais são responsáveis pelo lançamento na at- mosfera de 5 a 8% de todo N 2 O antropogênico, considerado um dos principais contribuintes para o efeito estufa e a destruição da camada de ozônio50. Atuando em duas frentes diferentes, porém com o mes- mo objetivo (desenvolver um procedimento verde para a oxidação de hidrocarbonetos), Thomas e Noyori eliminaram a utilização de ácido nítrico na produção do ácido adípico. Mais importante, torna- ram o processo de produção mais eficiente e economicamente mais atraente. Thomas et al.46 utilizaram catálise heterogênea e ar como agente oxidante, enquanto que Noyori et al.48 empregaram condi- ções de catálise de transferência de fase (CTF) e água oxigenada aquosa como agente oxidante. Em ambos os casos, a necessidade de solventes e a produção de resíduos tóxicos foi eliminada. A síntese verde do ácido adípico pode ser considerada como um excelente exemplo onde os princípios da química verde foram alcan- çados, quase integralmente. Exceto pelo fato de que a matéria-prima utilizada (cicloexano e cicloexeno) não é de fonte renovável, os ga- nhos ambientais com as novas metodologias são enormes. Tanto do ponto de vista energético como da eficiência atômica (ou fator E) há um ganho bastante importante em relação aos métodos industriais atualmente em uso para a obtenção do ácido adípico. Um método alternativo, inspirado no trabalho de Noyori, foi desenvolvido para aplicação em um curso de química orgânica expe- rimental a nível de graduação na Universidade de Oregon (EUA). Esta iniciativa pode ser considerada um marco na inserção de tópi- cos de química verde no currículo de cursos de química51. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS Passados cerca de dez anos do surgimento da química verde, muito pouco ou quase nada tem sido discutido sobre o assunto no país. Espera-se, porém, que este artigo possa contribuir para instigar pesquisadores e educadores brasileiros a buscar o desenvolvimento de práticas de química verde, ou iniciar estudos no sentido de im- plantar tecnologias verdes em suas atividades de pesquisa e ensino. Embora no Brasil não exista atualmente uma política de incentivo ao desenvolvimento e implantação da química verde, um grande avan- ço foi obtido nos últimos anos com a iniciativa de algumas agências de fomento, que lançaram editais (graças a pressões da comunidade científica) para o financiamento de programas de gerenciamento e tratamento de resíduos. Algumas instituições de ensino e pesquisa já têm programas bem estruturados para gerenciamento de seus resí- duos químicos provenientes da pesquisa e do ensino52. Entretanto, faz-se necessária uma revisão na forma como é vista a questão dos resíduos químicos no Brasil. Embora já se note uma mobilização por parte de alguns setores da sociedade, é preciso que se discuta a criação de linhas de investimento para o desenvolvimento de tecnologias limpas e a implementação de políticas de redução na fonte, tanto no segmento industrial como acadêmico53. Esta política, Figura 3. Métodos de obtenção do ácido adípico: processo industrial clássico e duas alternativas de síntese verde 128 Quim. NovaLenardão et al. entretanto, precisa ser desenvolvida simultaneamente com a que se iniciou recentemente (a de remediar e/ou reciclar), que também é de grande importância, haja visto a enorme quantidade de resíduos pas- sivos existente por todo o país. O primeiro princípio da química ver- de resume de maneira precisa, embora simplista, o caminho a ser seguido: prevenir é melhor do que remediar. Aplicar os princípios da química verde pode parecer, em um pri- meiro momento, algo muito distante da realidade atual observada na maioria dos laboratórios de pesquisa em química e no parque indus- trial brasileiro. Entretanto, procurou-se mostrar aqui que há alterna- tivas verdes viáveis e que, com investimento em pesquisa, é possí- vel, talvez a médio prazo, eliminar o estigma que a química possui de estar relacionada à poluição e degradação ambiental (pesquisa recentemente publicada54 revelou que 76% da população brasileira considera a indústriaa química e petroquímica responsáveis pelos maiores problemas de poluição no país), esquecendo-se todas as contribuições para melhoria da qualidade de vida humana conseguidas pela química. Um profissional formado dentro dos princípios da química verde estará muito mais preparado para o desafio que a in- dústria e o meio acadêmico passaram a impor nos últimos anos: a busca pela química auto-sustentável. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Profa. D. C. R. de Oliveira, pela leitura do texto e sugestões apresentadas; à FAPERGS, FAPESP e CNPq. REFERÊNCIAS 1. World Comission on Environment and Development, Our Common Future, Oxford University Press: New York, 1987. 2. Mais informações sobre redução na fonte e vantagem ambiental relativa podem ser obtidas na página da CETESB: http://www.cetesb.sp.gov.br/ Ambiente/prevencao_poluicao/conceitos.htm, acessada em Fevereiro 2002. 3. Tundo, P.; Anastas, P.; Black, D.S.; Breen, J.; Collins, T.; Memoli, S.; Miyamoto, J.; Polyakoff, M.; Tumas, W.; Pure Appl. Chem. 2000, 72, 1207; Sanseverino, A. M.; Quim. Nova 2000, 23, 102; Sanseverino, A. M.; Ciência Hoje 2002, 31, 20. 4. U.S. Environmental Protection Agency. Um grande número de informações pode ser conseguido no site http://www.epa.gov/greenchemistry, acessada em Fevereiro 2002. 5. Presidencial Green Chemistry Challenge (PGCC) Awards Program. A página da EPA apresenta uma relação completa dos projetos premiados desde 1996, juntamente com um resumo do trabalho premiado: http:// www.epa.gov/greenchemistry/past.html, acessada em Fevereiro 2002. 6. Ryan, M.A.; Chem. Matters 1999, 17, 9. 7. Uma lista dos principais prêmios concedidos a iniciativas de química verde pode ser obtida na página da Rede Química Verde (Green Chemistry Network), iniciativa da Sociedade Real de Química (Royal Society of Chemistry) para divulgação da química verde: http://www.chemsoc.org/ networks/gcn/ awards.htm, acessada em Fevereiro 2002. 8. Dados sobre a história do GCI, além de um grande número de informções sobre química verde podem ser obtidos em: http://chemistry.org/portal/ C h e m i s t r y ? P I D = a c s d i s p l a y . h t m l & D O C = greenchemistryinstitute\index.html, acessada em Fevereiro 2002. 9. Uma edição especial da Pure and Applied Chemistry (Symposium-in-Print) tratando da química verde foi publicada em 2000: Pure Appl. Chem. 2000, 72, 1207. 10. Para saber mais sobre a inserção da química verde na IUPAC, visite a página http://www.iupac.org/ divisions/III/320_21_98/, acessada em Janeiro 2002. 11. Informações sobre a programação da CHEMRAWN XIV, bem como todos os resumos dos trabalhos apresentados podem ser obtidos na página do evento: http://cires.colorado.edu/env_prog /chemrawn/, acessada em Janeiro 2002. 12. Para uma matéria completa sobre o evento, veja: Ritter, S. K.; Chem. Eng. News 2001, 79, 27. 13. A edição de agosto/2001 da revista Pure and Applied Chemistry traz alguns trabalhos selecionados apresentados no CHEMRAWN XIV: Pure Appl. Chem. 2001, 73, 1243. 14. Benign by Design: Alternative Synthetic Design for Pollution Prevention; Anastas, P. T.; Farris, C. A., eds.; ACS Symp. Ser. n. 577; American Chemical Society: Washington, 1994; Green Chemistry: Frontiers in Benign Chemical Synthesis and Processes; Anastas, P.T.; Williamson, T.C., eds.; Oxford University Press: Oxford, 1998; Green Chemistry: Challenging and Perspectives; Tundo, P.; Anastas, P.T., eds.; Oxford University Press: Oxford, 2000. 15. Os abstracts dos artigos publicados na Green Chemistry, além de vários artigos na íntegra, estão disponíveis on-line e podem ser acessados gratuitamente na página da revista: http://www.rsc.org/is/ journals/current/ green/greenpub.htm, acessada em Fevereiro 2002. 16. Informações sobre eventos realizados desde 1996, bem como eventos futuros sobre química verde podem ser obtidos, por exemplo, em : http:// www.epa.gov/greenchemistry/calendar.htm, http://www.chemsoc.org/ networks/gcn/events.htm e http://chemistry.org/portal/Chemistry?PID= acsdisplay.html&DOC=greenchemistryinstitute\meetings.html, acessadas em Fevereiro 2002. 17. Green Chemistry: Designing Chemistry for the Environment; Anastas, P. T.; Williamson, T. C., eds.; ACS Symp. Ser. n. 626; American Chemical Society: Washington, 1996; Design Safer Chemicals: Green Chemistry for Pollution Prevention; DeVito, S. C.; Garret, R. L., eds.; ACS Symp. Ser. n. 640; American Chemical Society: Washington, 1996. 18. Collins, T.; Science 2001, 291, 48. 19. Anastas, P. T.; Warner, J.; Green Chemistry: Theory and Practice, Oxford University Press: Oxford, 1998. 20. Collins, T. J.; J. Chem. Educ. 1995, 72, 965. 21. Cann, M. C.; Connelly, M. E.; Real World Cases in Green Chemistry, American Chemical Society: Washington, DC, 2000; parte deste livro pode ser acessada em http://chemistry.org/portal/Chemistry?PID= acsdisplay.html&DOC=education%5Cgreenchem%5Ccases.html, acessada em Fevereiro 2002. 22. Singh, M. M.; Szafran, Z.; Pike, R. M.; J. Chem. Educ. 1999, 76, 1684; Cann, M. C.; J. Chem. Educ. 1999, 76, 1639; Matlack, A.; Green Chemistry 1999, 1, G19. 23. Para saber mais sobre economia de átomos e catálise veja: Dupont, J.; Quim. Nova 2000, 23, 825 e referências citadas. 24. Trost, B. M.; Angew. Chem., Int. Ed.; 1995, 34, 259. 25. Trost, B. M.; Science 1991, 254, 1471. 26. Para técnicas alternativas que reduzem o risco em síntese em escala comercial, veja: McCreedy, T.; Chem. Ind. 1999, 588. 27. Ver, por exemplo: Bettelheim, F. A.; Landesberg, J. A. K.; Experiments for Introduction to Organic Chemistry – A Miniscale Approach, Saunders College Publishing: New York, 1997; Zubrick, J.W.; The Organic Chem Lab Survival Manual, 4th ed., John Wiley & Sons: New York, 1997. 28. Vogel, A. I.; Química Orgânica, 3a ed., Ao Livro Técnico S/A: Rio de Janeiro, 1980, vol. 1. 29. March, J.; Advanced Organic Chemistry, 4th ed., Wiley: New York, 1992. 30. Sheldon, R. A.; J. Mol. Catal. A: Chem. 1996, 107, 75. 31. Sheldon, R. A.; Chem. Ind. 1997, 12. 32. Pesticide News no. 46. Disponível no endereço: http://www.pan-uk.org/ pestnews/pn46/ pn46p21b.htm, acessada em Fevereiro 2002. 33. Oakes, R. S.; Clifford, A. A.; Rayner, C. M.; J. Chem. Soc., Perkin Trans. I 2001, 917. 34. Para uma revisão sobre a utilização de CO 2 super crítico como solvente “verde” veja: Wells, S. L.; DeSimone, J.; Angew. Chem., Int. Ed. 2001, 40, 518. 35. Para informações sobre a utilização de água próxima do estado super crítico como solvente em reações orgânicas, veja: Eckert, C.A.; Liotta, C.L.; Brown, J. S.; Chem. Ind. 2000, 94. 36. Para exemplos de síntese empregando líquidos iônicos como solventes veja: Earle, M. J.; McCormac, P.B.; Seddon, K. R.; Green Chemistry 1999, 1, 23; Adams, C. J.; Earle, M. J.; Roberts, G; Seddon, K. R.; J. Chem. Soc., Chem. Commun. 1998, 2097; Chauvin, Y. L.; Musmann, L.; Olivier, H.; Angew. Chem., Int. Ed. 1996, 34, 2698. 37. Para exemplos da utilização de fluidos perfluorados como solvente, veja, por exemplo: Horváth, I. T.; Jábai, J.; Science 1994, 266, 72; Halida, S.; Curran, D. P.; J. Am. Chem. Soc. 1996, 118, 2531; Hoshino, M.; Degenkolb, P.; Curran, D. P.; J. Org. Chem. 1997, 62, 8341. 38. Lubineau, A.; Chem. Ind. 1996, 123. 39. Varma, R. S.; Green Chemistry 1999, 1, 43 e referências citadas; Metzer, J. O.; Angew. Chem., Int. Ed. 1998, 37, 2975; Miyamoto, H.; Yasaka, S.; Tanaka, K.; Bull. Chem. Soc. Jpn. 2001, 74, 185. 40. Clark, J. H.; Green Chemistry 1999, 1, 1. 41. Costa Neto, P. R.; Rossi, L.F.S.; Zagonel, G. F.; Ramos, L.P.; Quim. Nova 2000, 23, 531 e referências citadas. 42. No Brasil, o Ministério da Ciência e Tecnologia, juntamente com a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva e representantes de segmentos industriais (setor automotivo e oleígeno) promoveram o 129“Green chemistry” – Os 12 Princípios da Química Verde e sua Inserção nas Atividades de Ensino e PesquisaVol. 26, No. 1 Seminário Biodiesel, no dia 4 de dezembro de 2001, no Auditório da AEA em São Paulo/SP. O objetivo do Seminário foi identificar o potencial do País para a produção e comercialização do biodiesel e criar um grupo que possa desenvolver um programa nacional para o setor. 43. Wender, P. A.; Handy, S. T.; Wright, D. L.; Chem. Ind. 1997, 765 e referências citadas. 44. Lerner, B. A.; Chem. Ind. 1997, 16. 45. Informações sobre os ganhadores de 2001 e de anos anteriores podem ser obtidas no Nobel e-Museum: http://www.nobel.se/chemistry/laureates/2001/ index.html, acessada em Fevereiro 2002. 46. Thomas, J. M.; Raja, R.; Sankar, G.; Bell, R. G.; Lewis, D. W.; Pure Appl. Chem. 2001, 73, 1087. 47. Para uma revisão sobre a aplicação de biocatalisadores em processos industriais veja: Sime, J. T.; J. Chem. Educ. 1999, 76, 1658. 48. Sato, K.; Aoki, M.; Noyori, R.; Science 1998, 281, 1646. 49. Scott, A.; Chem. Week 1998, 160 (no. 6), 37. 50. Dickinson, R.E. Cicerone, R.J.; Nature 1986, 319, 109. 51. Reed, S.M.; Hutchison, J.E.; J. Chem. Educ. 2000, 77, 1627. 52. Jardim, W.F.; Quim. Nova 1998, 21, 671; Amaral, S.T.; Machado, P.F.L.; Peralba, M.C.R.; Camara, M.R.; Santos, T.dos; Berleze, A.L.; Falcão, H.L.; Martinelli, M.; Gonçalves, R.S.; Oliveira, E.R.de; Brasil, J.L.; Araújo, M.A.de; Borges, A.C.; Quim. Nova 2001, 24, 419. Cunha, C.J.da; Quím. Nova 2001, 24, 424. 53. A CETESB (Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Básico e de Defesa do Meio Ambiente do Estado de São Paulo) possui, desde 1998, um programa de tecnologias limpas, no qual a química verde é fortemente recomendada para as atividades industriais naquele Estado. Um resumo do Programa de Prevenção à Poluição da CETESB pode ser encontrado em http: / /www.cetesb.sp.gov.br /Ambiente/prevencao_poluicao/ documentos.htm, acessada em Janeiro 2002. 54. Furtado, M.; Química e Derivados 2001, agosto, 12.
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