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Angústia: Um Estudo Sobre a Identidade e a Literatura, Resumos de Literatura Ensino Médio

Angústia é um texto complexo que explora a intenção de um homem, luís da silva, que confessa o assassinato de seu rival por causa de uma quenga. O texto é uma confissão difusa, investigação pessoal, relato minucioso do universo interior, e uma obra literária inovadora. Luís, que saiu da roça e virou escritor, busca recuperar sua identidade, enquanto registra sua relação com marina, sua vizinha, e seu envolvimento com ela. O texto também explora temas políticos durante a ditadura vargas.

Tipologia: Resumos

2020

Compartilhado em 21/11/2022

adrianotvdias
adrianotvdias 🇧🇷

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Pré-visualização parcial do texto

Baixe Angústia: Um Estudo Sobre a Identidade e a Literatura e outras Resumos em PDF para Literatura Ensino Médio, somente na Docsity! Angústia é a crise dum cabra que matou outro cabra por causa duma quenga e para provar a si mesmo que é cabra. Mas a angústia também é o tentar entender desse ato, o assassinato, registrando tudo o que vem à cabeça. Desde o ato simultâneo à escrita até o delírio mais surreal de uma febre. Angústia ainda é a construção da obra, uma vez que o autor luta contra as dificuldades de concepção de algo novo, tenta a consagração artística pela originalidade e o faz em/por meio a uma relação metalinguística. Então é uma confissão difusa, pois mistura fato com memória com especulação, mas também é uma investigação, mas também é um relato minucioso do universo interior, mas também é uma obra literária que se busca inovadora! É difícil classificar a intenção do texto, mas essas possibilidades permitem que ele seja colocado ao lado de obras grandiosas da história da literatura. O personagem principal é o narrador que deixa claro estar escrevendo para ser lido. Há passagens em que dialoga com o leitor. Escreve a história de seu envolvimento com uma vizinha piriguete, ele 35, ela uns 18, ou menos. Toma-lhe um chifre descarado, dum cara que já odiava, seboso, arrogante, o símbolo máximo de tudo o que detesta (ricaço, poeta babaovo, ufanista, um rato), a amada ainda fica grávida e é abandonada. Acaba abortando. O protagonista, o tempo todo, lutando contra, mas ainda é apaixonado pela danada. Injuriado, depois de saber que o canalha está engrupindo outra otária, faz uma tocaia, de madrugada na quebrada, e o enforca com uma corda. Pendura o gordão numa árvore para simular suicídio, volta pra casa noiado, surta numa febre nervosa, e não pega nada. Ele registra tudo o que lembra, misturando as memórias desde o primeiro lance com Marina até a corda no pescoço do moço; com as viagens que passavam na cabeça na hora de cada gesto, se fosse delírio, o delírio, se fosse a expectativa, registra o que esperava como se tivesse acontecendo; mas a tentativa de restaurar a própria identidade, quem ele é, recuperando a infância como uma referência (em várias digressões ao longo do texto), um ponto de apoio que explique porque fez o que fez: matou um cabra por causa duma quenga. As pistas vão parecendo como um quebra-cabeças, cujas peças precisam ser recordadas o tempo todo, por isso o texto é muito repetitivo (algo faz lembrar o filme Amnésia, em que o protagonista, após um acidente que o sequela com uma memória de apenas alguns minutos de duração, passa a tatuar o corpo com pistas que o permitam desvendar o que aconteceu com ele). Mas esse tipo de leitura é complexo, gerando uma angústia também no leitor. O salto que o texto dá entre planos, por exemplo, é muito sutil, exigindo que a gente volte a leitura várias vezes para esclarecer se está falando no presente, se é uma memória, um devaneio. A aflição em acompanhar o fio condutor fragmentado dessa história é o que a personagem parece querer expressar. O tal Luís da Silva foi leitor, saiu da roça e virou escritor, quer fazer um romance e ficar famoso pela dimensão dessa obra. E detesta livro tosco, botando nesse critério todos os românticos. Um cara instruído assim sabe que a estrutura de um texto é uma ferramenta fundamental para o sucesso (não necessariamente comercial, mas de reconhecimento artístico, que é o que ele busca). Está na cara que há ciúme, inveja, autoestima abalada, ódio ao sistema, rancor vazando nas palavras do narrador-escritor-protagonista. Angústia também é o registro de um cabra querendo recuperar sua condição de cabra. Luís saiu da roça, criado como cabra da peste, neto de coroné (falido, mas ainda cheio de respeito, com histórias de jagunços, de desmandos) que mudou de posição, virou intelectual, escritor (depois de ter “desasnado” na escola, dado aulas nas fazendas, trabalhado de tudo e mendigado, acabou funcionário público e redator de artigos). Mas se sente menos homem (queria ter os músculos do caboclo do bar), menos humano (percebe que é tratado de forma distinta pelas pessoas simples como ele, mas não letradas). Quando mata Julião Tavares, em seu delírio, Luís está conversando com o jagunço de seu avô, José Bafa, que matava a mando de seu Trajano, e matava onça. Há uma dose intensa de respeito a esse cabra valente. Luís expressa ter sentido uma sublimação, sentindo-se reconciliado com seu identidade mais primeva (matou um homem com uma corda, como uma cobra enrolada no pescoço) e, ao mesmo tempo, transcendente (“Tive um deslumbramento. O homenzinho da repartição e do jornal não era eu. Esta convicção afastou qualquer receio de perigo. Uma alegria enorme encheu-me.”), que reverbera na sua percepção social: ”Em trinta e cinco anos haviam-me convencido de que só me podia mexer pela vontade dos outros.” Um romance revolucionário na tessitura (deve ter sido um inferno ao meticuloso Graciliano decidir qual repetição ficava, qual excedia. Ele mesmo afirma não gostar do resultado, mas pode ser falsa modéstia). É instigante na leitura, fomentando reflexões bem profundas sobre a existência subjetiva. Livraço! Angústia – Graciliano Ramos Anotações de análise Enredo: Luís da Silva escreve o texto em que confessa o assassinato de seu rival (no amor por Marina, sua vizinha) Julião Tavares, enquanto revisita analiticamente sua relação com Marina e com a própria identidade, reconstituindo o conjunto de fatos, sensações, especulações e delírios que o levaram a praticar o crime. A redação do texto ocorre cerca de um mês após o crime, dando a entender que não foi descoberto. Como revela a pretensão de compor um livro grandioso, que seria polêmico, incompreendido, a obra pode ser entendida como a realização desse intento, justificando as estranhezas estilísticas da narrativa (constante mudança de plano concreto para psicológico, de memória para especulação, ou delírio). Nessa medida, a obra é metalinguística, ao refletir sobre o ato de escrita de um texto. Tal característica implica a permanente desconfiança sobre o que o autor narra, sobre o quanto de suas memórias não são “estilizadas” ao serem transcritas. O texto salta entre planos (real, imaginário, memória, especulação, delírio) o tempo todo, tornando o recurso elemento fundamental na estrutura do romance. O recurso mostra-se eficaz como estratégia discursiva, ao exigir do leitor um percurso de leitura semelhante ao caos mental (como um enorme solilóquio). Também é pertinente ao enredo, uma vez que a composição do texto ocorre ainda sob efeito psicológico de um fato traumático. Relação com o sexo/mulheres: Tem uma relação conflituosa com o sexo. Pudoroso, tende a tratar o desejo como algo vil. Entende o sexo pelo prisma simplório das relações da roça, em que o desejo não é pertinente à mulher, o sexo é um compromisso. Assim, julga como degradação as manifestações femininas de desejo. Comumente usa do zoomorfismo para se referir a comportamentos sexuais. “Antigamente era uma existência de cachorro. As mulheres tinham cheiros excessivos, e eu me sentia impelido violentamente para elas.” “Havia no Cavalo Morto uma rapariga desbragadíssima. Não tinha de com, amava aos gritos, como os gatos e os ciganos. Em horas de recolhimento natural berrava danadamente : - Rasga, diabo! Vai fazer isso com tua mãe peste! Eu era muito moço, e aquela fúria me espantava. Amores selvagens.” “Quando me aparecem esses acessos, fico assim uma semana, calado, murcho, pensando em safadezas.” Antônia: “É uma criatura ingênua, meio selvagem. Acredita em tudo quanto lhe dizem e tem grande necessidade de machos.” “E sinhá Germana, doente ou com saúde, quisesse ou não quisesse, lá estava pronta, livre de desejos, tranquila, para o rápido amor dos brutos. Malícia nenhuma.(...) O amor para mim sempre fora uma coisa dolorosa, complicada e incompleta.”; “Lembrava-me de sinha Germana, de Quitéria, das negras da fazenda. Sinha Germana só tinha conhecido um homem. As pretas não se envergonhavam de conhecer muitos homens. Que diferença! Descendo de sinhá Germana, que dormiu meio século numa cama dura e nunca teve desejos” Tara: “. (Bastava dez minutos escovando os dentes. Pancadas de água no cimento e o chiar da escova, interrompido por palavras soltas, que não tinham sentido. Em seguida mijava. Eu continha a respiração e aguçava o ouvido para aquela mijada longa que me tornava Marina preciosa. Mesmo depois que ela brigou comigo, nunca deixei de esperar aquele momento e dedicar a ele uma atenção concentrada.” Zoomorfismo “A fome desaparecera mas a falta de mulher atormentava me. As que passavam na rua tinham cheiros violentos, e eu andava com as narinas muito abertas, farejando-as, como um bode.” Autorretrato físico e psicológico: “Uma criaturinha insignificante, um percevejo social, acanhado, encolhido para não ser empurrado pelos que entram e pelos que saem.”; “Trinta e cinco anos, funcionário público, homem de ocupações marcadas pelo regulamento.” “Além de tudo sei que sou feio. Perfeitamente, tenho espelho em casa. Os olhos baços, a boca muito grande, o nariz grosso.” “A minha camisa estufa no peito, é um desastre. Quando caminho, a cabeça baixa, como a procurar dinheiro perdido no chão, há sempre muito pano subindo-me na barriga, machucando-se, e é necessário puxá-lo, ajeitá-lo, sujeitá-lo com o cinto, que se afrouxa. Estes movimentos contínuos dão-me a aparência de um boneco desengonçado, uma criatura mordida pelas pulgas. A camisa sobe constantemente, não há meio de conservá-la estirada. Também não é possível manter a espinha direita. O diabo tomba para a frente, e lá vou marchando como se fosse encostar as mãos no chão. Levanto-me. Sou um bípede, é preciso ter a dignidade dos bípedes” Distraído (divaga); “Entro na realidade cheio de vergonha, prometo corrigir-me. - "Perdão! Perdão!" Descendência / Racismo: “O chicote do feitor num avô negro, há duzentos anos, a emboscada dos brancos a outro avô, caboclo, em tempo mais remoto . . . Estudava-me ao espelho, via, por entre as linhas dos anúncios, os beiços franzidos, os dentes acavalados, os olhos sem brilho, a testa enrugada. Procurava os vestígios das duas raças infelizes. Foram elas que me tornaram a vida amarga e me fizeram rolar por este mundo, faminto, esmolambado e cheio de sonhos.” Envolvimento com Marina A personagem Marina surge aparece fragmentada, como se nunca houvesse composto uma visão completa da moça. A cena em que Marina o seduz é marcada por sinédoques, descrevendo as partes que conseguia ver dela no campo limitado de sua visão. 1. Fragmentação: “Em duas horas escrevo uma palavra: Marina. Depois, aproveitando letras deste nome, arranjo coisa, absurdas: ar, mar, rima, arma, ira, amar.” (início do texto; um mês após o assassinato. Presente da narrativa. “Veio-me o pensamento maluco de que tinham dividido Marina. Serrada viva, como se fazia antigamente. Esta ideia absurda e sanguinária deu-me grande satisfação. Nádegas e pernas para um lado, cabeça e tronco para outro.” “Antes de eu conhecer a mocinha dos cabelos de fogo, ela me aparecia dividida numa grande quantidade de pedaços de mulher, e às vezes os pedaços não se combinavam bem, davam-me a impressão de que a vizinha estava desconjuntada. Agora mesmo temo deixar aqui uma sucessão de peças e de qualidades: nádegas, coxas, olhos, braços, inquietação, vivacidade, amor ao luxo, quentura, admiração a d. Mercedes. Foi difícil reunir essas coisas e muitas outras, formar com elas a máquina que ia encontrar-me à noite, ao pé da mangueira. Preguiçosa, ingrata, leviana.” 2. Reincidência do sentimento: “Que estará fazendo Marina? Procuro afastar de mim essa criatura. Uma viagem, embriaguez, suicídio.” 3. Caracterização: pelo pai “- Trabalhar em quê, meu amigo? Só se for em pintar a cara, que é o que ela sabe fazer.” “Se eu pudesse fazer o mesmo com Marina, afogá-la devagar, trazendo-a para a superfície quando ela estivesse perdendo o fôlego, prolongar o suplício um dia inteiro...” “pernão bem feito. Ótimas pernas. As coxas e as nádegas, apertadas na saia estreita, estavam com vontade de rebentar as costuras.” 4. Platonismo: “Naturalmente gastei meses construindo esta Marina que vive dentro de mim, que é diferente da outra, mas se confunde com ela.” 5. Ambiente da relação: empesteado “De todo aquele romance as particularidades que melhor guardei na memória foram os montes de cisco, a água empapando a terra, o cheiro dos monturos, urubus nos galhos da mangueira farejando ratos em decomposição no lixo. Tão morno, tão chato! Nesse ambiente empestado Marina continuava a oferecer-se negaceando.” Críticas sociais: 1. Ditadura Vargas (Graciliano escreveu preso): “Os coqueiros empertigados ficam para trás. Penso numa ditadura militar, em paradas, em disciplina” (descrevendo paisagem); “- Escrevi muito atacando a república velha, doutor; sacrifiquei-me, endividei-me, estive preso por causa da ideologia, doutor. Afinal, para se livrarem de mim, atiraram-me este osso que vou roendo com ódio.”; “Muitos crimes depois da revolução de 30. Valeria a pena escrever isto? Impossível, porque eu trabalhava em jornal do governo. Moisés se tinha ausentado: a polícia incomodava os rapazes que liam livros suspeitos e falavam baixo.” Diálogo sobre subversão com dono do bar em frente à dna. Albertina (abortadeira): “- Andam muitos agitadores por aqui, não? - An? - Pessoas descontentes que pretendem arrasar isto, construir de novo. Que acha? Apontei a inscrição violenta. O sujeito cabeludo espiou-me com o rabo do olho e amoitou- se: - Aquela sempre esteve ali. “Ameaças de greves, pedaços da Internacional” Marcas de Oralidade: “Meteram-me na escola de seu Antônio Justino, para desasnar, pois, como disse Camilo quando me apresentou ao mestre, eu era um cavalo de dez anos e não conhecia a mão direita.”; “- Ô seu Luís, eu queria pedir-lhe um favor. Faz uma semana que estou matutando e sem coragem. Hoje botei a vergonha de banda. - Que é que há, d. Adélia? D. Adélia reeditou o suspiro : - Estive pensando . . . Se o senhor puder, ouviu? Pedir não é desonra. A gente faz das tripas coração.” Recuperação da infância: imagem medonha que me apareceu. O pescoço do homem estirava-se, os ossos afastavam-se, os beiços entreabriram-se, roxos, intumescidos, mostrando a língua escura e os dentinhos de rato.” “Agora era uma figura importante demais. Tavares & Cia., negociantes de secos e molhados na Rua do Comércio, eram uns ratos” Marina: barulho de seu riso “- Chi, chi, chi. O cochicho risonho afastava-se, chegava- me aos ouvidos como o chiar de um rato. Chiar de rato, exatamente. Chiar de rato ou carne assada na grelha. “; Quando a acompanha após o aborto, xingando-a de puta “O filho de Marina morria, talvez já tivesse morrido. Pensei nos ratos, em d. Mercedes, no quintal cheio de lixo, na mulher que lava garrafas e no homem que enche dornas. Estas lembranças me produziram um aperto no coração. Quase todas me pareceram regulares, mas a idéia dos ratos era extravagante, e isto me enfureceu. Que vinham fazer os ratos ali, àquela hora? - Puta! exclamei metendo com raiva os pés na areia. Talvez não me referisse a Marina: referia-me aos ratos, a coisas vagas.” Ratos de verdade em sua casa: “Os ratos não me deixavam fixar a atenção no trabalho. Eu pegava o papel, e eles começavam a dar uns gritinhos que me aperreavam. Tinham aberto um buraco no guarda-comidas, viviam lá dentro, numa chiadeira infernal. Às vezes havia um cheiro de podridão. Vitória se enfrenesiava, andava para cima e para baixo, manejando um regador com água e creolina, molhando tudo. Mas o fedor resistia. Afinal íamos encontrar o armário dos livros transformado em cemitério de ratos.” 2. Parafuso: função repetitiva do homem na sociedade (Tempos Modernos) “Alguns, raros, teriam conseguido, como eu, um emprego público, seriam parafusos insignificantes na máquina do Estado e estariam visitando outras favelas, desajeitados, ignorando tudo, olhando com assombro as pessoas e as coisas. Teriam as suas pequeninas almas de parafusos fazendo voltas num lugar só.”; “As crianças dançavam e cantavam na rua molhada. Dentro de vinte anos as que gostassem de torcer-se no mesmo canto seriam parafusos. Ignorariam o que existisse longe delas, mas conheceriam perfeitamente as coisas por onde passassem as suas roscas.” “Eu era um sujeito de fala arrevesada e modos de parafuso.” Cabeça baixa na vida: “Assim, não vejo ninguém, caminho batendo nos transeuntes, enrolando palavras de desculpa, entrando no futuro como um parafuso. – “Camarada Luis da Silva, antes da revolução você elogiava os políticos safados do interior, os prefeitos ladrões. Onde está o dinheiro que essa gente lhe deu?" Sabia lá!” 3. Cobra/corda: evoca a recordação da morte, o risco da morte. “O cano estirava-se como uma corda grossa bem esticada, uma corda muito comprida.” Imaginação ao olhar para a parede que divide sua casa com a de Marina. “Às vezes eu estava certo de que Julião Tavares se tinha calado, mas a voz não deixava de perseguir-me. Mexia-me, tossia. E olhava com insistência o cano que se estirava ao pé da parede, como uma corda.” ” Às vezes seu Ramalho puxava uma cadeira, sentava-se à porta. Eu olhava distraído os arames, que balançavam como cordas bambas. Esta comparação dos arames a cordas vinham-me ao espírito com insistência.” “Andava sujo, as calças com os fundilhos rotos e as bainhas esfiapadas, a gravata feita uma corda.” “Gente indo e vindo, crianças brincando, roncos de automóveis. O homem tinha os olhos esbugalhados e estrebuchava, pedaço de corda amarrado - e duas mãos - parecia que o seguravam: a gordura balançava, oscilava no balcão gorduroso.” Cobra - “Quem ia tirar a cascavel que chocalhava no pescoço do velho? Eu era miúdo e olhava aquilo com espanto. Parecia-me que a cobra era um enfeite, um coisa que Trajano enrolara no pescoço para ficar diferente dos outros velhos. Quem ia tocar nela? - Tira, tira, tira. Quitéria puxava o rosário de contas brancas e azuis: - "Misericórdia!" Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva dançava no chão de terra batida. Afinal a cobra se soltou, Camilo Pereira da Silva matou-a com o macete de capar boi e Quitéria levou-a pendurada num pau, a cabeça encostada ao rabo, balançando como uma corda” Seu Ivo traz uma corda: “E pôs em cima da mesa uma peça de corda. - Para que me serve isso, seu Ivo? Onde foi que você furtou isso?” Passa a andar com ela dentro do bolso (planejando jogar fora, mas não o faz – acabará enforcando Julião com ela).
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