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O ritual do batismo e as possibilidades da construção de identidade religiosa., Trabalhos de Antropologia da Religião

Este artigo tem por objetivo discutir o papel do batismo nos processos de construção das identidades religiosas dos membros da Primeira Igreja Batista de Trindade. Ele é baseado sobre tudo na etnografia produzida na Primeira Igreja Batista de Trindade, localizada na cidade de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Partindo da noção de batismo como um rito de passagem (VAN GENNEP [1909], 2011).

Tipologia: Trabalhos

2020

Compartilhado em 10/01/2020

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Baixe O ritual do batismo e as possibilidades da construção de identidade religiosa. e outras Trabalhos em PDF para Antropologia da Religião, somente na Docsity! O ritual do batismo e as possibilidades da construção de identidade religiosa. Este artigo tem por objetivo discutir o papel do batismo nos processos de construção das identidades religiosas dos membros da Primeira Igreja Batista de Trindade. Ele é baseado sobre tudo na etnografia produzida na Primeira Igreja Batista de Trindade, localizada na cidade de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Partindo da noção de batismo como um rito de passagem (VAN GENNEP [1909], 2011), e sendo o batismo um dos rituais centrais do Cristianismo creio que pode ser um importante ponto de acesso para o entendimento das formas de vida religiosa articuladas ao Cristianismo, de forma geral, e à Tradição Batista, de forma particular, uma vez que, concepções e rituais sobre batismos são elementos de divergência entre as várias tradições cristãs. O foco deste estudo é compreender como novas subjetividades religiosas são criadas através da participação do batizante em diferentes arenas pedagógicas e da vida cotidiana que antecedem e sucedem o ritual em tela. Creio ser de suma importância, nos debruçar sobre estudos dessa parcela da sociedade brasileira e entender como os sujeitos são construídos neste circulo crescente da sociedade. The ritual of baptism and the possibilities of religious identity construction. This article aims to discuss or discuss the processes of construction of religious identities of members of the First Trinity Baptist Church. It is based on everything in the ethnography selected at the First Baptist Church of Trinity, located in the city of São Gonçalo, Rio de Janeiro's metropolitan region. Starting from the notion of baptism as a way of passage (VAN GENNEP [1909], 2011), and being a baptism of central rituals of Christianity, which can be an important access point for understanding the religious life forms articulated to Christianity, in general, and the Baptist Tradition in particular, since conceptions and rituals about baptisms are elements of divergence between the various Christian traditions. The focus of this study is to understand how new religious subjectivities are realized through the baptizer's participation in different pedagogical arenas and in daily life preceding and succeeding or on-screen rituals. Create a great importance, looking at studies of this portion of Brazilian society and understanding how individuals are built in this growing circle of society. Palavras-chave: 1. Ritual. 2. Batismo. 3. Primeira Igreja Batista de Trindade. 4. Identidade. 5. Conversão Keywords: 1. Ritual. 2. Baptism. 3. First Trinity Baptist Church. 4. Identity. 5. Conversion O batismo é um dos rituais centrais do Cristianismo, por isso despertou em mim o interesse de pesquisá-lo. Como objeto de estudo antropológico, creio que pode ser um importante ponto de acesso para o entendimento das formas de vida religiosa articuladas ao Cristianismo, de forma geral, e à Tradição Batista, de forma particular, uma vez que, concepções e rituais sobre batismos são elementos de divergência entre as várias tradições cristãs. Nesta linha, este artigo tem por objetivo discutir o papel do batismo nos processos de construção das identidades religiosas dos membros da Primeira Igreja Batista de Trindade, localizada na cidade de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Partindo da noção de batismo como um rito de passagem (VAN GENNEP, [1909] 2011), o foco deste estudo é compreender como novas subjetividades e sentidos de pertencimento religiosos são criadas através da participação do batizante1 em diferentes arenas pedagógicas que antecedem e sucedem o ritual em tela. A pesquisa etnográfica foi realizada entre 2016 e 2017, onde participei de atividades rituais e pedagógicas realizadas na Primeira Igreja Batista de Trindade, frequentando, dentre outros, cultos, cursos preparatórios para o batismo e aulas de religião oferecidas na Escola Bíblica Dominical. Historicamente, os Batistas têm sua origem na Reforma Protestante liderada por Martinho Lutero em 1517, a qual formulou uma crítica e posterior rompimento com a Igreja Católica. Em 1609, um grupo que sofria perseguição na Inglaterra por discordância religiosa foge para a Holanda em busca de liberdade de credo, e lá organizam uma igreja de doutrina batista, que foi liderada por John Smith, conhecido como “O Pregador”, e Thomas Helwys, um advogado. Este, regressou à Inglaterra com mais dez companheiros e em 1612, nos arredores de Londres, num lugar chamado Spitalfields, organizou a primeira igreja batista em solo inglês. (DANTAS, 2007, p. 61). Segundo Clauder Pereira Maciel (2010, p. 16) Os batistas são mencionados pela primeira vez na historiografia da cristandade quando da instituição da primeira igreja batista organizada pelos ingleses em Amsterdã em 1609, congregando aqueles que se diziam separatistas entre os anglicanos. Essa interpretação corrobora com a visão que os agentes do campo religioso batista brasileiro têm da construção de sua história institucional, pois grande parte dos 1 - Aquele que está em preparação para o batismo mas que pode ser exercido por qualquer membro da igreja; já num nível hierárquico abaixo, estão os pastores auxiliares, que atualmente são 4. Após isso, é o grupo de diáconos e diaconisas, que somam um total de 37. Este grupo é dividido entre 10 mulheres e 27 homens. No mesmo nível hierárquico dos diáconos, estão os líderes de departamentos e ministérios, que são as subdivisões da igreja, como por exemplo, União de Adolescentes, União da Juventude, União Feminina e etc. Existem outros cargos, que também exercem poder na hierarquia, mas estes anteriormente colocados seriam a coluna principal da hierarquia da igreja. Todavia, nem sempre ocupar um cargo na hierarquia da igreja garante que o ocupante desfrute do prestígio que é atrelado à posição, uma vez que no cotidiano da instituição existem disputas simbólicas baseadas no prestígio adquirido de outras formas, sobretudo a partir das demonstrações públicas de conhecimento das doutrinas e práticas da tradição batista local e de sua manipulação satisfatória, a qual produz eficácia da ação religiosa. Na linha do que Pierre Bourdieu (1998) definiu como capital político, que seria é uma forma de capital simbólico, um crédito firmado na crença e no reconhecimento, aqueles que são membros antigos na igreja e têm suas habilidades religiosas reconhecidas pelos demais membros, dão “Bom Testemunho10”, participam das atividades da congregação e demonstram conhecimento dos ritos, mesmo não ocupando cargos formais de liderança, têm mais prestígio que alguns membros que fazem parte da hierarquia da igreja. Metodologia A classe de EBD (Escola Bíblica Dominical) denominada classe de batismo ou novo convertido, acontece aos domingos (como o nome já informa), o aluno terá que assistir no mínimo 9 das 16 lições ministradas para poder ser batizado. Cada lição tem a duração de uma hora, essas lições são em sua maioria sobre doutrinas bíblicas, como por exemplo, o que é a Bíblia? Como posso ter certeza da Vida Cristã? O que é Igreja? etc. . Minhas primeiras participações nesta classe não foram como eu tinha planejado, eu pretendia fazer inicialmente algumas observações sem chamar muito atenção ou alterar rotina da classe, então fui participar como qualquer aluno normal e não informei ao professor o que estava fazendo ali, apenas sentei-me na carteira e observei a aula como qualquer aluno, fazendo anotações. Para os alunos, eu passei despercebido (como começaram a frequentar a igreja 10 - Bom testemunho é uma categoria nativa que designa uma forma moral de viver que não traga escândalos ou possa denegrir a imagem da igreja e, desta forma, impeça a evangelização. há pouco tempo, conhecem poucas pessoas), mas percebi, que a minha presença produzia desconforto para o professor. Durante a aula, ele perguntou se eu queria falar algo, respondi que não. Por isso entendi que seria impossível assistir aula como um aluno comum, então ficou claro que fazer campo nos moldes que tinha pretendido era impossível, começar como despercebido, e aos poucos passar para observação participante, mas não foi possível, porque a todo tempo, minha posição na instituição na hierarquia era marcada, seja pela desconfiança, seja pela afinidade, então modifiquei a minha entrada para um participante observante. Deste modo, passei a comunicar aos professores o que estava fazendo ali, e em uma aula em que o professor era um amigo particular, pedi 5 minutos da aula, e expliquei para os alunos o que eu estava fazendo ali, falei sobre a pesquisa, e porque escolhi falar sobre o ritual do batismo, por ser um dos rituais centrais do cristianismo, e assim minha posição no campo mudou radicalmente, mas de certa maneira, tentava não interferir na rotina da classe, mas quando era necessário e ou acionado, não hesitava em exercer a função, por isso creio, que o meu papel foi de um participante observante. Conversão como parte pré-ritual Durante meu trabalho de campo, percebi que para compreender o papel do ritual do batismo na construção das identidades, subjetividades e sensos de pertencimento religiosos entre os membros da PIB Trindade, seria necessário tratar de um assunto que está diretamente ligado àquele ritual, que é o da conversão religiosa. Isto porque uma parcela dos meus interlocutores eram recém-convertidos e não faziam parte, portanto, do grupo dos membros dos “nascidos na igreja”, os quais já teriam sido socializados desde a infância nos elementos doutrinais Batista. Mas o que significaria esse conceito de conversão? Usarei aqui a definição dada por Freitas e Furtado ( 2014): Entendemos por conversão o sentido de “mudança”, “transformação” tanto no nível de ideias como no nível de práticas. Como descreve Gomes (2011), além daquele que muda de uma religião para outra distinta, “o termo conversão é utilizado também para caracterizar a entrada em uma nova religião, capaz de transformar a cosmovisão do sujeito, mudar a identidade do converso e alterar sua relação com a realidade e o mundo” (p. 158). Para os meus interlocutores, o batismo é entendido como consequência direta da conversão, isto é, ele seria a confirmação daquilo que é localmente entendido como a última etapa de um processo de salvação que fora iniciado através conversão. Fiz a seguinte pergunta para algumas pessoas que frequentavam o curso de preparação para o batismo: Para que serve o batismo e qual o seu objetivo? Seguem algumas das respostas que os batizantes formularam: Vagner:19 “Para que haja salvação e renascimento através do Espírito Santo. Recomeço Jesus Cristo” Adriana: “Para a purificação, e a santificação em Cristo Jesus para buscar a nossa salvação. O batismo também serve para que você seja uma nova criatura em Jesus. Para nascer de novo”. Augusto: “Para “firmar”, “testemunhar” a salvação em Cristo. Nos Batizamos, porque já nos batizamos em espírito nas águas” Também fiz a seguinte pergunta: O que significa Conversão? Seguem algumas respostas. José: “Conversão é uma ponte para salvação”. Alexandra: “Conversão é temor do senhor Jesus, pois eu vim da Igreja Católica, muitos dizem que tem fé, alguns dizem que tem fé até em Jesus, mas se não temerem o que Jesus fez por nós, o que ele fez, não vão obedecer, conversão é obedecer a Jesus”. Outra pergunta que fiz aos meus interlocutores era sobre se consideravam conversão como a mesma coisa que salvação. A maioria respondeu que não, mas apenas um justificou a resposta. Fernando: Conversão não é a mesma coisa que salvação, mas produz a salvação. Na perspectiva nativa, o convertido é aquele que recebeu a Jesus, aquele que “Deus agora vê como inocente, como alguém tem paz com Deus, consigo mesmo e com o seu semelhante”. De acordo com os ensinamentos da aula, isso também é parte da ideia de salvação, tal como localmente pregada. Nas palavras do professor, “como convertidos e salvos, devemos santificar a nossa mente, que precisa ser protegida pela 19 - Todos os nomes são fictícios, foram trocados para preservar a intimidade e imagem dos meus interlocutores. Abordar a conversão nesta perspectiva, seguindo a ideia de uma mudança paulatina e gradual, com troca gradual do léxico explicativo do mundo por outro é muito mais lógica e racional para uma perspectiva antropológica do que trabalhar com conversão como uma mudança radical e abrupta. No entanto, caso analisasse o fenômeno da conversão seguindo a primeira abordagem (conversão gradual), criaria um problema metodológica para realizar a interpretação de meus dados etnográficos, já que boa parte dos meus interlocutores afirmam que sua conversão foi abrupta e radical. A conversão como ruptura e reorganização biográfica A conversão religiosa, tal como estou aqui considerando, é uma renúncia abrupta da história de vida pregressa da pessoa até o momento da conversão. Isso ocorre de forma consciente, impelindo ao convertido a ressignificar seu mundo e a reorganizar, a partir da nova cosmovisão, a forma como ele vai se relacionar com o mundo e com quem forma sua rede de relações pessoais. Se entendermos a conversão como ato abrupto e radical, como renúncia de sua história pregressa, como os nativos falam, conversão passa a significar arrependimento e reconhecimento que é pecador, ou seja, uma total renúncia de sua história de vida, alguns dados etnográficos corroboram para essa interpretação; Andrelina: “Na verdade, acho que mudei mesmo a partir do momento que aceitei Jesus...” Josefina: “Quando aceitei Deus como meu salvador.” Giovana: “No dia que aceitei a Jesus em minha vida... Vou deixar de fazer as coisas [erradas] que eu fazia no passado.” Existe essa renegação da vida pregressa, reconhecendo que ela era algo errado e desagradava a Deus. Os dados etnográficos também apontam para ruptura, mostrando que, para o nativo, a conversão é esse momento da ruptura abrupta e radical, nesse momento que se inicia a reorganização biográfica. Normalmente é uma separação de qualquer coisa que possa profanar ou contaminar o momento ritual, isso pode ser uma separação fisiogeográfica, ou biológica, ou algum tipo de separação ritual, que produza uma purificação do estado anterior, e o prepare para etapa ritual posterior, isso pode ser aferido nos dados etnográfico que seguem; Antonia: “Tudo já estava mudando antes, agora sinto que estou limpa para receber as palavras de Deus”. Antonia por que você não se batizou antes? “Estava muito errada na vida e não tinha certeza se conseguiria me manter longe do pecado. Hoje tenho certeza do que não quero para minha vida.” Então neste período ritual de separação o indivíduo entra em um momento de separação ritual de qualquer coisa que possa profanar o período ritual. Existe o fenômeno do achatamento de sua cosmologia dos convertidos, - o uso do termo achatamento, é por uma questão conceitual, pois pelos dados etnográficos obtidos em meu trabalho de campo pude notar que não existe uma substituição cosmológica total - mas uma sobreposição da nova, pois “o/a velho/a homem/mulher” é tido como mal, é a “velha natureza” que deve ser combatida constantemente ao mesmo tempo em que a “nova natureza cristã” deve ser cultivada e reforçada, essa nova natureza é a nova cosmologia. É comum ouvir, e ser ensinado na Escola Bíblica Dominical, que essa é a luta do crente, matar a velha natureza, o velho homem e cultivar o novo homem. Deste modo, levando a sério a narrativa dos meus interlocutores, conversão é melhor entendida como categoria nativa, empírica, real, específica e singular. Aprender a religião: a liminaridade dos batizantes Ao falar deste período, que entendo contemplar a análise dos antropólogos, que descrevem um processo paulatino, como algo que vai acontecendo de forma metódica e processual, não estamos falando da conversão, mas do período da margem, o período em que, durante meu trabalho de campo, os convertidos estavam em preparação para receber o batismo. Para isso, uma arena pedagógica é estruturada na PIB Trindade, através dos cursos de batismo e dos rituais da igreja. Esse momento de margem que o indivíduo se encontra, segundo Turner, é o momento que produz sentimentos díspares, tanto na pessoa que será alvo do ritual, quanto no grupo que a assiste, pois, por ser um período marcado pela incerteza e pela ambiguidade, as possibilidades de mudança que esse período ritual pode proporcionar são vistas como um risco, e por isso, o quanto antes a experiência do processo ritual seja finalizada, melhor para o grupo. A marca deste período ritual de liminaridade é o reforço para o esquecimento de uma cosmologia anterior, para que seja possível o aprendizado de outra cosmologia, mas o que James chama a atenção é que não é somente do apagamento de história pregressa do indivíduo que a religião se ocupa, mas do apagamento da própria história da experiência da conversão do indivíduo, isso com a intenção de manter essa experiência sob as égides da religião. Para Willian James, bem como Rudolf Otto, autor do clássico da fenomenologia da religião O Sagrado, os mitos, ritos, as doutrinas, as liturgias, as teologias, são racionalizações que produzem o esquecimento da experiência emocional instável e insegura, que liga originalmente as pessoas à religião, esquecimento que é produzido em benefício da manutenção da institucionalidade religiosa (e institucionalidade da própria experiência do convertido), esquecimento que é produzido em benefício da manutenção da institucionalidade religiosa, seus poderes constituídos e suas práticas partilhadas pela coletividade. (TRABUCO, 2009, p. 142) Mas eu discordo do ponto de vista do apagamento ou esquecimento da experiência de conversão. Primeiro porque são dessas histórias que a religião vive e se reproduz, então seria contraproducente fazer isso; e segundo os meus dados dizem outra coisa. Quando percebia na classe de novos convertidos, que havia uma controvérsia entre a versão oficial e opinião do batizante, a versão do batizante era combatida e apresentada a versão da igreja como “verdade”. No entanto, quando a questão versada era sobre o tema da conversão, não existia esse combate, o que acontecia era uma reorganização desta experiência a partir da chave explicativa da instituição, então a manutenção da institucionalidade não vem pelo apagamento ou esquecimento, mas sim pela reorganização da experiência do neófito. A questão pedagógica em ensinar os princípios religiosos normativos da igreja é fazer uma reorganização cognitiva nos significados de conversão dos batizantes, a fim de que esses significados possam ser inteligíveis dentro do sistema de valores da Igreja. O ensino reorganiza a experiência do batizante, Dias aponta para algo parecido: Fica claro, nesta óptica, que o indivíduo se aproxima do grupo religioso de uma forma lenta e gradual, estabelecendo, aos poucos laços afetivos, comprometendo-se com os seus valores e com as suas práticas e moldando, gradativamente, sua identidade de acordo com os padrões propostos e esperados pelo novo grupo ao qual passa a pertencer. (DIAS, 2008, p. 104) Dias apresenta a experiência acima como sendo “conversão”, mas como foi anteriormente discutido, entendo que está se falando, na verdade, da fase de liminaridade, e é sobre essa ótica que interpretarei os dados etnográficos aqui somente por sua própria leitura da experiência pela qual passou, mas por ela, juntamente com lógica que absorveu do grupo. Costa (2014), ao falar da salvação, também enxerga nela, além do poder reorganizador da história de vida, um papel importante como forma de aprendizagem, representando um aspecto organizacional da forma de aprender e, por assim dizer, existe uma pedagogia no processo ritual. Assim essa nova aprendizagem e classificação do mundo reorganizam a experiência do batizante, segundo pude apreender com a pesquisa de campo realizada. A partir da lógica absorvida da comunidade, uma vez que é neste processo pedagógico que tal lógica, pouco a pouco, vai sendo absorvida como sendo a própria lógica do batizante e sua forma de enxergar suas experiências e o mundo. É com ela que o indivíduo vai organizar tanto a sua razão quanto suas emoções. Considerações finais O batismo com todas suas fases precedentes e subsequentes, é um importante caminho para uma construção de uma antropologia do ritual cristão. Infelizmente é um campo antropológico pouco explorado no Brasil, mas apesar o escopo deste trabalho ser altamente limitado, entendo que ele ajudou no propósito de jogar luz sobre algumas questões importante sobre a forma como os primeiros passos para construção identidade religiosa dos membros da PIB de Trindade são dados, com certeza isso pode nos ajudar a entender esse processo em diversos ramos do cristianismo, mas existe uma necessidade de pesquisas mais aprofundadas, principalmente sobre o fenômeno da conversão, creio que caso ela seja abordada na perspectiva dos meus interlocutores como uma ruptura abrupta e radical, seja uma caminho muito promissor para compreendermos esse fenômeno tão controverso na literatura antropológica. O ritual do batismo ocupa a centralidade na experiência religiosa cristã, seja ela de qualquer ramo, ele tem um forte poder aglutinador das experiências religiosas e das emoções advindo desta religião. O batismo continua operando como agente de significação religiosa não somente no momento do ritual, mas ele é constantemente uma agente de ressignificação da experiência religiosa do membro da igreja evangélica, por isso, pode muito nos informar sobre o ser evangélico, ele é um importante ponto de acesso para o entendimento das formas de vida religiosa articuladas ao Cristianismo em geral e em específico dos evangélicos. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Cláudio Roberto dos Santos de. O caminho do senhor: conversão pentecostal e transformação da experiência na periferia de salvador. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas PPGCS, Universidade Federal da Bahia, Salvador 2011. Disponível em: <http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/19648>, acesso em 17/12/17. BANAGGIA, Gabriel. Conversão, com versões: A respeito de modelos de conversão religiosa. 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