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Olavo de Carvalho - O que é psique?, Notas de estudo de Psicologia

Olavo de Carvalho - O que é psique?

Tipologia: Notas de estudo

2019

Compartilhado em 14/08/2019

michell-marins
michell-marins 🇧🇷

4.9

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Baixe Olavo de Carvalho - O que é psique? e outras Notas de estudo em PDF para Psicologia, somente na Docsity! A PSIQUE OLAVO DE CARVALHO SUMÁRIO A PSIQUE 1 SUMÁRIO 2 INTRODUÇÃO 3 1 A QUESTÃO DA DEFINIÇÃO DA PSIQUE.................................................................4 2 PERGUNTAS COLOCADAS PARA A ELABORAÇÃO DO CONCEITO DE PSIQUE..........5 3 AS QUATRO CAUSAS..............................................................................................5 3.1 Causa Física..................................................................................................5 3.2 Causa Lógica.................................................................................................5 3.3 Acaso..............................................................................................................6 4 A DEFINIÇÃO DE PSIQUE........................................................................................6 5 A DISTINÇÃO ENTRE PSIQUE E ACASO...................................................................7 6 A PSICOPATOLOGIA................................................................................................7 8 CARATERÍSTICAS DA PSIQUE..................................................................................9 9 PROCESSOS DE ATUAÇÃO DA PSIQUE....................................................................9 10 VONTADE DE PODER..........................................................................................10 11 O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO DA PSIQUE..........................................................10 12 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA PSIQUE.....................................................11 13 CONSCIÊNCIA.....................................................................................................11 14 AUTOLIMITAÇÃO DA PSIQUE E O EGO................................................................12 15 AS NOÇÕES DE INCONSCIENTE..........................................................................14 16 RESUMO E CONCLUSÕES....................................................................................14 2 2 elas, coloridas por este tema inicial da investigação. Além do mais nenhum deles colocou questões como: existe psique? o que é psique? Atualmente, contentamo-nos com dois tipos de definição de psique: as clássicas, tomadas de Aristóteles ou da Escolástica que são, portanto, anteriores ao desenvolvimento da psicologia moderna e, as definições por enumeração. Quando perguntamos a um psicólogo moderno o que é psique ele nos responde designando fatos psicológicos: a memória, atenção, fala, desejo, intenção etc., raramente nos responde com uma definição, mas sempre com designações enumerativas, isto é, enumeram vários elementos que fazem parte da psique, o que, evidentemente, permite a distinção daqueles que não fazem. Contudo, não se fica sabendo se esta enumeração está completa, ou se, por outro lado, não entram nesta enumeração alguns elementos que são de ordem extrapsicológica (fisiológica, fisioquímica, neurológica e outros). 2 PERGUNTAS COLOCADAS PARA A ELABORAÇÃO DO CONCEITO DE PSIQUE Para a elaboração/construção do conceito de psique, parti das seguintes indagações:  Quando o psicólogo usa o termo "psíquico", o que exatamente ele está querendo dizer? Qual é a intenção subentendida, mesmo obscuramente, na sua mente? O que ele tem em mente?  Como é que ele sabe se uma coisa é ou não psíquica? Embora dizendo não saber exatamente o que é psíquico ou que esta é uma coisa quase impossível de ser claramente definida, ele nunca erra, nunca trata de outro assunto. Embora dizendo não saber definir a psique, de alguma forma parece sempre estar sabendo do que se trata, não de maneira reflexiva, mas de maneira empírica, usual, costumeira.  O que o psicólogo quer dizer quando atribui a um determinado comportamento uma causa psíquica? Quando diz que tal ou qual ato é psíquico? Ou seja, o que quer dizer quando atribui a um ato, a um comportamento, a uma resposta humana, uma causa psíquica? Onde ele localiza esta causa psíquica dentro de uma constelação de outras causas possíveis? E que outras causas um ato humano pode ter? Resumindo, conclui que não há nenhuma causa para estes atos que não possa ser classificada dentro do quadro de causas físicas, lógica, do acaso e psíquicas (psicológicas). 3 AS QUATRO CAUSAS 3.1 CAUSA FÍSICA Dizemos que a causa é física quando, por exemplo, alguém encosta a brasa do cigarro na ponta do dedo e o braço recua, ou seja, o sujeito é impelido a fazer isso por uma necessidade física, tanto é assim que até uma ameba faria o mesmo. A causa deste ato não pode ser dita psicológica. Ou: quando alguém lhe empurra, você perde o equilíbrio e cai. 3.2 CAUSA LÓGICA Ao pagar a tarifa de ônibus, o sujeito dá ao cobrador duas notas de R$ 1,00 e não uma de R$ 1,00. Se perguntarmos ao sujeito porque ele não deu apenas uma nota de R$ 1,00, ele diz que 5 5 a tarifa custa R$ 1,10 e R$ 1,00 não cobre esta tarifa. Tal ato também não pode ser dito psicológico, uma vez que obedece a uma norma que é idêntica e a mesma para todos os seres humanos. Qualquer um, na mesma situação teria de fazer mais ou menos a mesma coisa, a não ser que esteja impedido de fazê-lo por alguma outra causa, essa sim poderíamos classificar como sendo psicológica. Todas as ações que são baseadas em motivos lógicos evidentes para qualquer ser humano, não podem ser ditas como tendo sido causadas psicologicamente, pois são causadas por alguma coisa que está, evidentemente, para além da psique. Ao fazer a conta 2+2, obtenho o resultado 4, que não foi determinado por mim, pois não se trata de algo psicológico, e sim da estrutura do próprio número. Tal como o teorema de Pitágoras: "o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dois catetos". Não se chega a esta conclusão por um motivo psicológico, ela nos é imposta pela estrutura do triângulo retângulo. Atos lógicos são aqueles que obedecem a uma necessidade que não é impositiva como a necessidade física, mas que é livremente aceita pelo indivíduo, ou seja, não há nada que o force desde dentro ou desde fora, a aderir a uma conclusão lógica. Não é nem o caso de não se conseguir chegar à uma conclusão lógica, é o caso de aderir a ela. Santo Alberto Magno já dizia que "as pessoas completam o silogismo mas ele não as convence". A partir do momento em que a necessidade lógica é aceita, o sujeito se submete a uma ordem de causas que já não é mais psicológica. Evidentemente, há um elemento psicológico na raiz da aceitação do comportamento lógico. Mas o comportamento em si mesmo não é mais psicológico, o que está fora de dúvida, ele é intelectual no sentido em que ele capta uma exigência ontológica, algo que está para além do indivíduo, para além de sua psique. 3.3 ACASO Seguindo o mesmo exemplo acima, esta terceira ordem de causas pode se dar quando o sujeito coloca a mão no bolso e puxa uma nota qualquer e coincide de essa nota ser de valor superior ao valor da tarifa. Isto não tem uma causa física determinada, pois acontece por uma combinatória aleatória de uma infinidade de causas a que chamamos "acaso", pelo fato de não conseguirmos reconstituir toda a cadeia causal. É evidente que para que o sujeito pegasse esta nota e não outra, esta mesma nota tinha de estar em cima das outras, a que era mais fácil de se pegar porque foi para aonde a mão se dirigiu etc.. Alguma causa tem, contudo, há um complexo de causas tão inesgotável que, fazer uma pesquisa a este respeito, tentando remontar toda a cadeia seria um trabalho tão exaustivo com um resultado tão irrelevante, que dizemos ter sido o acaso que determinou este ato. O acaso não é propriamente aquilo que não tem causa, mas o que tem uma multiplicidade de causas, sendo que algumas podem ser físicas, outras psicológicas, isto é, trata-se de uma constelação irreconstituível de causas. 4 A DEFINIÇÃO DE PSIQUE Saindo dessas três ordens de causas, dizemos que o ato teve uma causa psicológica. O mais característico da causa psicológica é que ela sempre age através das outras três e nunca diretamente. Define-se, então: a psique é uma zona de indeterminação onde o homem combina as causas de ordem física, lógica e causal. 6 6 5 A DISTINÇÃO ENTRE PSIQUE E ACASO Fica claro, nesta definição, que a psique comporta um elemento de liberdade, de indeterminação, surgindo, desta constatação, a seguinte pergunta: sendo assim, em que a psique se diferencia do acaso? Entendemos que na psique as coisas não se passam segundo uma ordem de necessidade, como na esfera física e lógica (necessidade = aquilo que não pode não ser), mas segundo um quadro de indeterminação que faz com que a psique se assemelhe ao acaso; ou seja, a psique é um fenômeno que pertence à ordem da liberdade e da indeterminação e não à ordem da necessidade. A diferença específica que permite distinguir a psique do acaso é que, embora ambos combinem as necessidades físicas e lógicas, a psique as combina de uma maneira eficiente, isto é, em proveito do interesse de um determinado organismo individual. Portanto, a psique é como se fosse uma causalidade eficiente, ou seja: é uma liberdade ou indeterminação dentro da qual podem se combinar, até certo ponto, as causas físicas, lógicas e o próprio acaso no sentido do interesse do organismo individual. 6 A PSICOPATOLOGIA Neste ponto da investigação surge a seguinte questão: Se a psique sempre opera no sentido do interesse do organismo, como se explica a psicopatologia? De maneira muitíssimo simples, no caso da psicopatologia, a psique retroage, recua, abandona ao domínio da necessidade física, ou do acaso, ou da lógica, um terreno que normalmente ela já teria conquistado. Existem doenças da psique mas elas não estão propriamente dentro da esfera da psique, mas representam uma retração, uma diminuição da esfera psíquica, algo como uma entrega, abdicação da liberdade do campo psíquico para outras causas. É muito fácil perceber que, nos doentes mentais, os processos mentais automáticos (que, neste caso, serão colocados sob o rótulo da necessidade física) têm um domínio muito maior sobre a totalidade da conduta, do que no indivíduo sadio. Considerando o automatismo como necessidade física, se ele toma a dianteira, há, portanto, um recuo da psique. Do mesmo modo, em certos processos esquizofrênicos, quando a conduta lógica toma a dianteira, isto é, quando o sujeito é dominado por uma lógica implacável, há uma perda da liberdade, no sentido de recuar de uma cadeia lógica, quando ela leva à conclusões que violam a integridade do organismo, como, por exemplo, no estado de catatonia, em que o sujeito não reage mais ao raciocínio lógico; sua psique vai se fechando, se retraindo, de maneira que o sujeito fica totalmente impedido de reagir, ou seja, fica num estado de paralisia que é de ordem lógica. Pode-se, então, fazer a seguinte representação: Este diagrama expressa somente as causas quando vistas de fora; mas quando, observando o comportamento de um indivíduo, perguntamos pela sua causa, olhando desde dentro, este 7 7 LÓGICO PSICOLOGICO FÍSICO Psique ACASO Sorte e azar são os dois nomes do acaso, então, dribla-se o acaso no sentido do interesse da psique. 10 VONTADE DE PODER Quanto à vontade de poder; na falta de um termo melhor, seguimos a Nietzsche, isto é, quanto mais territórios a psique domina, mais ela quer dominar. A psique é expansiva por sua própria natureza. A característica expansionista da psique é obtida por meio de uma contração, por mais paradoxal que isso pareça; ou seja, a psique adquire poder na medida em que se conforma com a necessidade física, lógica e com o acaso, aprendendo a contorná-los. Consegue isso quando introjeta o conjunto de determinações (dados pelas leis e possibilidades daquelas necessidades) que a cercam, fazendo desse conjunto um conteúdo dela mesma ao se adaptar às formas do mundo físico, das estruturas lógicas do mundo, bem como às determinações do próprio acaso. Assim, na medida em que se contrai para se adaptar, é que a psique se expande e adquire poder de ação sobre o mundo exterior e interior, inclusive. 11 O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO DA PSIQUE Essa adaptação da psique requer, em primeiro lugar, o concurso da percepção e da memória. No momento em que a memória entra em cena, pela retenção das experiências vividas e pela abstração que se realiza a partir dela (processo de generalização), o conjunto dessas abstrações e generalizações vai constituindo uma espécie de depósito, que se organiza segundo um quadro lógico na cabeça do indivíduo, formando sua imagem do mundo. No entanto, o indivíduo não só organiza sua experiência logicamente, como também cronologicamente; ou seja, ele conta sua própria história, sabe o que lhe aconteceu. Por exemplo, o sujeito age hoje com determinado objetivo e se não conseguir realizá-lo hoje, amanhã ele se lembra de que tentou e falhou, e tenta novamente, ou então muda sabendo que mudou e porque o fez. É como se ele fosse anotando tudo o que lhe acontece bem como as decisões que toma, colocando em linha seu desenvolvimento histórico. A isso se chama Ego. Então, a psique - não esquecendo que é sempre psique individual - expande-se para agir no mundo, para adquirir poder de ação no mundo na medida mesma em que retrai suas possibilidades. Vimos que a psique é inicialmente um conjunto de possibilidades indistinto, solto, caótico e, quando essas indefinidas possibilidades vão sendo limitadas (vão sofrendo certas determinações) é que surgem realizações possíveis, atos possíveis. Essas possibilidades vão sendo cortadas abandonadas, na medida em que se percebe que elas são incompatíveis com as necessidades lógicas, físicas e com o acaso, (que é o conjunto das condições presentes, que existem num determinado momento e que não podem ser fechadas dentro de um quadro delimitado, ou seja, o acaso está sempre em haver). Por exemplo, a criança que desiste de voar, ou que adia uma coisa difícil como, por exemplo, vê uma piscina e acha que pode entrar e já sair nadando como todo mundo, entra na água, se afoga e precisa ser retirada. Ela percebe, então, que tal ato é um pouco mais complicado do que tinha imaginado e desiste de nadar pela força do pensamento positivo ou se retrai, ficando traumatizada e nunca mais vai querer nadar, ou ainda, decide humildemente aprender como as demais pessoas. O que a criança fez, então, foi fechar uma porta a uma possibilidade que, naquelas condições presentes, não podia se realizar no plano da necessidade física, mas somente do plano da psique enquanto potência (no caso, possibilidade futura). Vê-se que, enquanto potência, a psique é destinada a não se realizar nunca. 10 10 Em relação à essas necessidades (lógicas, físicas) pouco importa se elas nos chegam por experiência direta ou através de aprendizagem. Por exemplo, a criança que aprendeu que não dá para sair voando: se este aprendizado se deu por uma tentativa frustrada ou se aprendeu seguindo o sábio conselho de sua mãe, tanto faz. Em ambos os casos, trata-se de uma limitação que lhe foi imposta. Neste caso, é fácil perceber que o aprendizado que não foi obtido por experiência própria, abrevia o sofrimento, ou seja, quanto mais for capaz de aprender com a experiência do outro, mais rápido aprende e quanto mais precisar repetir a experiência, menor é o rendimento do aprendizado. 12 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA PSIQUE O processo de aprendizagem consiste numa adaptação da psique às necessidades lógicas, físicas e do acaso. Essa adaptação se realiza pela introjeção das impossibilidades, ou seja, o indivíduo percebe que nem todas as coisas que limitam a sua ação são aleatórias, que há impossibilidades repetidas. Algumas são captadas da própria necessidade física, outras são abstraídas e percebidas como necessidades lógicas. E, finalmente, outras que, não percebendo como sendo repetidas, são ditas como sendo o acaso, pouco importando se o são ou não, isto é, pouco importando se filosoficamente existe ou não acaso. À medida que a psique vai se adaptando a essas condições externas, ela adquire um poder de ação. Se ela chegasse a se adaptar à totalidade das condições impostas pelas necessidades de ordem física, lógica e ao acaso, ela adquiriria um poder universal. Supondo que ela conhecesse o universo todo, que ela pudesse agir livremente em todas as esferas do real, ela teria engolido o cosmos e neste sentido deixaria de ser psique. Ela seria, por assim dizer, uma consciência, mas não mais uma psique. O que exatamente seria isso, é algo que caberia se perguntar a um teólogo. Podemos imaginar que a "psique" de Deus seria uma psique assim, isto é, uma psique onde não há mais potência. São Tomás de Aquino disse que "Deus é ato puro de ser", isto é, ato sem potência, onde nada existe como possibilidade a se realizar, tudo o que pode ser realizado está realizado. Se imaginássemos uma psique onde não há mais potência e que, sobretudo, é puro ato, esta seria a psique de Deus. 13 CONSCIÊNCIA Na medida em que avança o aprendizado, começa a haver a repetição da experiência. Porém, depois da repetição da experiência existe uma outra coisa mais sutil que é a repetição potencial da experiência; ou seja, é a recordação de uma mesma sensação, porém vivenciada agora de maneira atenuada e na ausência do estímulo que a provocou anteriormente. Como, por exemplo, uma dor e sua recordação: a recordação da dor é dolorosa, mas não tanto quanto a dor mesma; mais ainda, a dor era concomitante a uma alteração orgânica real, física e a sua recordação, não. O que caracteriza a recordação e o que a distingue da sensação é, primeiro, que ela é atenuada e, segundo, que ela ocorre na ausência do estímulo que a provocou. Resumindo, prosseguindo o aprendizado surge, primeiro, a experiência repetida, depois, a antecipação da repetição e, a esta antecipação chamamos recordação. Assim, quanto mais sensações o indivíduo é capaz de antecipar, mais facilmente ele será capaz de prever as situações. Portanto, quanto mais memória, mais hábil será o organismo, porque antevê as situações e se prepara para elas. 11 11 Quando toda a experiência passada é comprimida num determinado momento, em vista de uma situação futura próxima, dá-se o fenômeno a que chamamos consciência.4 A consciência se transforma em ego na medida em que o indivíduo conta para si mesmo suas experiências passadas e age numa linha de continuidade histórica biográfica; ou seja, ele reafirma seu desejo de continuar tentando as mesmas experiências já tentadas. A diferença estará em que desta vez ele não é forçado a essas experiências por uma repetição da situação externa, mas é ele quem as procura. Assim, na medida em que se forma essa continuidade, surge uma estrutura que também limita a psique. 14 AUTOLIMITAÇÃO DA PSIQUE E O EGO Além de ser limitada pelas necessidades de ordem física, lógica e pelo acaso (necessidades externas que reconhecemos), há uma quarta limitação, que é uma autolimitação, ou seja, o sujeito é limitado pela sua própria história, tal como a contou para si mesmo. É precisamente esta autolimitação que se chama ego. O ego abre para o indivíduo outra esfera de ação: a da ação social; assim, dá-se continuidade, coerência entre as ações passadas e as subseqüentes, o que permite que o indivíduo seja reconhecido pelos outros, não só pela aparência física mas como individualidade humana. Então, de todo o repertório de possibilidades que tem a psique, o indivíduo amputa, corta partes imensas, e o faz em parte pelas necessidades físicas, em parte pelo padrão das necessidades lógicas e, em parte, devido ao acaso, coisas que vai aprendendo à medida em que se desenvolve. Já , outra parte, o indivíduo amputa por vontade própria, por querer determinadas coisas e não outras; não interessando muito se essas escolhas são de sua livre iniciativa ou se são copiadas do exterior, interessa sim que ele persevere em algumas e em outras não. Essas coisas nas quais ele persevera são as suas escolhas e essa é a sua história. Dr. Freud dizia que aos cinco anos a criança já tem história, isto é, o ego já está formado. Pode-se dizer que o ego está constituído quando a história do sujeito começa a formar um conjunto e ele começa a repetir a totalidade da sua história. Determinadas experiências são tão repetitivas dentro de um ciclo amplo que o indivíduo pode prever que aquilo que lhe aconteceu vai continuar acontecendo eternamente, e que aquilo é ele. Esse momento é particularmente grave e é neste ponto preciso que se opera a seleção de que falava Arthur Ianov, segundo a qual determinadas necessidades que não são atendidas são, então abandonadas. O indivíduo acredita que, se uma determinada necessidade não foi atendida até aquele momento é porque ela não existe; como, por exemplo, no caso de uma criança que quer determinado brinquedo, pede-o repetidas vezes e nunca o recebe. Esta criança, então, acaba desistindo daquele brinquedo e, no momento mesmo em que desiste, ela se identifica não com o desejo pelo brinquedo, mas com a sua falta, que passa, então, a fazer parte de sua vida, de sua história. Até aquele momento a ausência do brinquedo era como se fosse uma causalidade, uma coisa externa; mas depois de um certo momento passa a fazer parte da sua história pessoal. Enquanto for um brinquedo tudo bem, porém existem coisas muito mais importantes e até necessárias do que brinquedos; tais como oportunidade de expressão, carinho, ou mesmo, às vezes, comida e até o mais elementar respeito humano. Tudo isso pode faltar e, aos cinco anos, se consolida uma carência como parte da história desta criança; e no momento em que isso se consolidou como parte da sua história, já não adianta mais a necessidade faltante ser atendida desde o mundo exterior, porque agora não há mais o órgão para receber a coisa faltante. É como o caso, por exemplo, de alguém que ficasse 40 dias sem comer (o limite parece ser de 44 dias), em que o indivíduo perde a aptidão para comer, não adiantando-lhe dar comida. É necessário dar-lhe soro para prepará-lo, torná-lo 4 Cf. Maurice Pradines. 12 12
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