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Reforçamento Positivo na Terapia Comportamental: História, Processo e Efeitos, Notas de aula de História

Psicologia SocialTerapia ComportamentalPsicologia Clínica

Este documento discute a importância do princípio do reforçamento positivo na terapia comportamental, sua história, processo e efeitos positivos. O texto também apresenta as dificuldades que podem ocorrer ao aplicar este princípio e como superá-las. Além disso, são discutidos exemplos práticos de aplicação do reforçamento positivo na prática clínica.

O que você vai aprender

  • Quais são os efeitos positivos do Reforçamento Positivo?
  • Como funciona o processo de Reforçamento Positivo?
  • Como superar as dificuldades encontradas ao aplicar o Reforçamento Positivo na prática clínica?
  • Quais são as dificuldades encontradas ao aplicar o Reforçamento Positivo na prática clínica?
  • Qual é a importância do Reforçamento Positivo na Terapia Comportamental?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Tapioca_1 🇧🇷

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Baixe Reforçamento Positivo na Terapia Comportamental: História, Processo e Efeitos e outras Notas de aula em PDF para História, somente na Docsity! CAPITULO T _■ ■HÉiilMl i iM l É h PiiiiPTiiihMilhilP jilPi P Reforçamento Positivo: Princípio, Aplicação e Efeitos Desejáveis M a r ia B e a t r iz B a r b o s a P in h o M a d i1 “A terapia bem-sucedida constrói comportamentos fortes, removendo reforçadores negativos des-necessários e multiplicando os positivos. Inde-pendentemente de as pessoas que tiveram seus comportamentos fortalecidos dessa maneira vive-rem, ou não, mais que as outras, ao menos pode-se dizer que vivem bem” (Skinner, 1989, pág. 114). Essa afirmação expressa a importância que o terapeuta comportamental precisa atribuir às contingências de Refor-çamento Positivo ao definir os procedimentos terapêuticos para promover mudanças no repertório comportamental de seus clientes.Neste capítulo, pretende-se apresentar um breve histó-rico do princípio do Reforçamento Positivo, o processo comportamental pela descrição de possíveis efeitos das contingências de Reforçamento Positivo na instalação, no fortalecimento e na manutenção de repertórios compor-tamentais e aspectos relevantes do procedimento para sua aplicação como técnica terapêutica dentro do modelo de Terapia por Contingências (Guilhardi, 1997).A partir de experimentos realizados com animais, Skinner publicou seu primeiro livro, O Comportamento dos Organismos, em 1938, no qual descreveu conceitos que definiram o condido- 1 Agradeço a Hélio José Guilhardi pelos comentários feitos durante a pre- paração do texto. 42 ■ Terapia Comportamental namento operante como um tipo de aprendizagem que se contrapõe ao condiciona-mento clássico, no qual o comportamento é modificado por suas conseqüências.Assim, os comportamentos que operam no ambiente geram conseqüências e são, por sua vez, modificados por elas e denominados comportamentos operantes.As conseqüências podem alterar o comportamento de diferentes maneiras, es-tabelecendo relações específicas entre o comportamento emitido e o ambiente que o controla. Uma das relações observadas é descrita pelo princípio do reforçamento: “A força (do operante) aumenta se a ocorrência de um operante for acompanhada da apresentação de um estímulo reforçador” (Skinner, 1938).Em Bjork (1993) encontra-se uma citação de Skinner justificando a origem da escolha do termo reforçamento: “Eu adotei a palavra de Pavlov e sinto que ela tem uma vantagem clara sobre 'recom pen sa ' por id en tificar o efeito de um a conseqüência do com portam ento no fortalecim ento do com portam ento, isto é, em tornar o comportamento mais provável de ocorrer novamente. A velha idéia de pra-zer e dor e os termos de Thorndike - \satisfação’ e \desconforto' - referem-se a sentimentos, o que na m inha opinião é um equívoco” (pág. 99). Keller e Schoenfeld (1973), no clássico Princípios de Psicologia, descrevemhis- toricamente a diferenciação dos procedimentos desenvolvidos por Skinner desde a “lei do efeito” descrita por Thorndike até o princípio do reforçamento e a noção de comportamento operante.Em Ciência e Comportamento Humano, Skinner (1970), afirma: “Os eventos que se verificam ser reforçadores são de dois tipos. Alguns reforços consistem na apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa... Esses são denomina-dos reforços positivos. Outros consistem na remoção de alguma coisa... Esses deno-minam-se reforços negativos. Em ambos os casos, o efeito do reforço é o mesmo: a probabilidade da resposta será aumentada” (pág. 49).É importante salientar que, ao lado de termos como operante, os termos re-forço, reforçador e reforçamento são identificadores imediatos da proposta skinneriana que, muitas vezes, é conhecida como Teoria do Reforço.Para Catania (1999), “o princípio é simples, mas à medida que evoluiu... trouxe consigo alguns problemas de linguagem lógica” (pág. 90). Ele propôs a terminolo-gia do reforço apresentada resumidamente abaixo: Princípio do reforço O responder aumenta quando produz reforçadores.Reforçador (substantivo) Um estímulo.Reforçador (adjetivo) Uma propriedade de um estímulo.Reforço (substantivo) Como uma operação - apresentar conseqüênciasquando uma resposta ocorre.Como um processo - o aumento das respostas que resultam do reforço.Reforçar (verbo) Como uma operação - apresentar conseqüênciasquando uma resposta ocorre: as respostas são re-forçadas, não organismos*Como um processo - aumentar o responder me-diante a operação de reforço. Reforçamento Positivo: Principio, Aplicação e Efeitos Desejáveis ■ 45 penho-reforço gerar estados corporais agradáveis, poderá produzir padrões bem fortalecidos que se manterão por longos períodos. Esquemas de intervalo: Determinado tempo mínimo constante (FI) ou variávelem torno de um valor médio (VI) deve transcorrer des-de a ultima resposta reforçada para, então, a resposta emitida ser reforçada. Em geral, o intervalo de tempo é medido a partir do reforçamento anterior. Nos esque-mas de FI, o desempenho típico é de pausa após reforçador seguida por uma aceleração gradual ou abrupta, atingindo uma taxa moderada de respostas. O desempenho em VI gera taxa de respostas relativamente constante entre os reforços. O comportamento humano operante produz mais conseqüências nos esque-mas de reforçamento em razão que em esquemas de intervalo, no qual um único desempenho pode ser emitido para liberar o reforço.Existem vários esquemas de reforçamento mais complexos que combinam cri-térios temporais e/ou número de desempenhos. Uma descrição detalhada de seus efeitos sobre o comportamento pode ser encontrada em Catania (1999) ou em Ferster, Culbertson e Perrot Boren (1982).Em função da contingência, o comportamento, submetido a cada tipo de es-quema em vigor, varia de maneira significativa e característica. Para identificar o esquema vigente, o terapeuta precisa especificar o desempenho de interesse, o reforçador que o segue e o mantém e a relação funcional entre eles. Conhecer o padrão típico do desempenho em cada esquema facilita a tarefa.Valores atribuídos pelo cliente ao seu próprio comportamento, por exemplo, dizer que algum desempenho é fácil, sugere reforçamento contínuo, ou difícil, indica reforçamento intermitente. Ambos oferecem pistas importantes para o le-vantamento de hipóteses explicativas e, conseqüentemente, para os procedimen-tos clínicos a serem adotados. O esquema de reforçamento vigente pode ser o principal determinante para a explicação de uma queixa.Muitos sentimentos (“estados corporais” produzidos pelas contingências) re-latados pelos clientes estão relacionados com mudanças nos esquemas de Reforçamento Positivo em vigor.A “perda de confiança” é um sentimento que aparece com freqüência na prá-tica clínica, e pode ser analisado como um estado corporal resultante da diminui-ção drástica do Reforçamento Positivo produzido anteriormente por um comportamento reforçado continuamente.Skinner (1974) refere-se à “expectativa frustrada” como uma condição gerada quando o Reforçamento Positivo costumeiro deixa de ocorrer (extinção). A “sau-dade” é descrita como a ausência da ocasião apropriada para a emissão do com-portamento anteriormente reforçado. A “abulia” (falta de “força de vontade”) é proveniente de esquemas de razão fixa cuja relação entre resposta e reforço tenha sido alta demais, tornando-se desfavorável para o organismo que se apresenta inapto para reiniciar o responder ou seu desempenho ocorre em baixa freqüência e o indivíduo passa a relatar incapacidade de agir e de tomar decisões. 46 ■ Terapia Comportamental Outro efeito que pode ser nocivo gerado por esquemas de reforçamento em razão é o comportamento de “jogar compulsivo” que se mantém a despeito da razão variável, altamente desfavorável, entre desempenho e reforço. O desem-penho se mantém em taxas altas, mesmo quando o reforçamento não é freqüente. CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO POSITIVO Em geral, os clientes buscam ajuda terapêutica em função de contingências coercitivas presentes em sua vida e das dificuldades para eliminar, escapar ou evi-tar esses estímulos aversivos que geram sofrimento descritos, muitas vezes, como respostas emocionais. Desse modo, os sentimentos como medo, ansiedade, culpa e raiva indicam a presença de contingências aversivas na história de vida passada e/ou atual do cliente e suas dificuldades para lidar com elas.As contingências de Reforçamento Positivo, por sua vez, aparecem nas quei-xas quando estão escassas nas relações do indivíduo com seu ambiente. Apare-cem nos relatos de sentimentos de angústia ou depressão, sugerindo diminuição ou perda de Reforçamento Positivo em processos de punição negativa (perda de agente reforçador, diminuição dos reforços etc.) ou extinção (comportamentos que deixam de produzir reforçadores).E importante salientar que as contingências de Reforçamento Positivo são fun-damentais para promover sentimentos de auto-estima e de autoconfiança e faci-litar a instalação de repertório de auto-observação, um pré-requisito para tornar o cliente um agente de sua própria mudança.Qualquer proposta terapêutica, em especial as embasadas no modelo de Te-rapia por Contingências (Guilhardi, 1997), precisa conter, entre seus principais objetivos, procedimentos que façam o cliente identificar contingências de Reforçamento Positivo operando em suas relações com o seu ambiente e promo-ver para si e para os outros reforçadores positivos genuínos. IDENTIFICANDO AS CONTINGÊNCIAS “As pessoas usualmente procuram a terapêutica m édica ou comportamental em função daquilo que estão sentindo. O médico m uda o que elas sentem de m aneiras médicas; os terapeutas com portam entais alteram as contingên-cias das quais os sentimentos são fun ção” (Skinner, 1991, pág. 114). O cliente, ao procurar a terapia, descreve sua queixa usando os termos insta-lados pela comunidade verbal presente enquanto vigoravam as contingências das quais seu comportamento é função. uDiferentes com unidades geram tipos e quantidades diferentes de au to-conhecimento e diferentes maneiras de uma pessoa explicar-se a si mesma e aos outros” (Skinner, 1974, pág. 186). Reforçamento Positivo: Principio, Aplicação e Efeitos Desejáveis ■ 47 A tarefa inicial do terapeuta é alterar possíveis descrições incompletas ou im-precisas e instalar um novo repertório que gere descrições acuradas das contin-gências relevantes ao comportamento a ser modificado.Embora pareça uma questão simples, isso requer muita atenção por tratar-se de desenvolver um repertório verbal que concorre com outros termos não técnicos, reforçados pela comunidade social leiga. IDENTIFICANDO OS REFORÇADORES “A única m aneira de dizer se um dado evento é reforçador ou não para umdado organismo, sob dadas condições, é fazer um teste direto. Observamosa freqüência de um a resposta selecionada, depois tornamos um evento aela contingente e observam os qualquer m udança na freqüência” (Skinner, 1970, pág. 48). O procedimento sugerido acima, para a classificação de um evento como reforçador, é possível quando a atuação acontece em ambiente planejado para o controle das variáveis relevantes. Em geral, são ambientes “de laboratório” onde o rigor experimental exigido é possível.Na prática clínica, o terapeuta tem disponível apenas o relato verbal do clien-te sobre seus comportamentos-problema, uma pequena parcela das dificuldades, em geral os déficits comportamentais ou excessos emitidos durante a sessão e, principalmente, poucos reforçadores positivos, geralmente os eventos disponí-veis nos episódios verbais, provenientes do falante e/ou do ouvinte, ou seja, reforçadores sociais generalizados verbais tipo elogio e aprovação e não verbais na forma de gestos, atenção, carinho etc. Para Skinner (1991) “aquilo que o cliente fa z na clínica não é a preocupação básica. O que lá acontece é uma preparação para um mundo que não está sob o controle do terapeuta. Em vez de arranjar contingências correntes de reforçamento, como acontece no lar, na escola, no local de trabalho ou no hospital, os terapeutas dão conselhos. (...) Ele pode assumir a form a de uma ordem (...) ou pode descrever contingências de reforçam ento(...)” (pág. 111). Assim, o terapeuta parte do relato do cliente sobre suas interações sociais, aju-dando-o a identificar as contingências de reforçamento, os reforçadores positivos efetivos ou potenciais para o seu próprio comportamento ou para o comporta-mento de outros relevantes na sua vida.Existem muitos textos básicos disponíveis na literatura que classificam e des-crevem tipos de eventos que podem ter a função de reforçadores positivos.Martin e Pear (1999) sugerem procedimentos para selecioná-los que são úteis para os analistas do comportamento que atuam em instituições, nas escolas, na área esportiva ou em clínica, diretamente com crianças ou orientação de pais.No entanto, o procedimento mais apropriado é a observação das contingên-cias detalhadamente, buscando as relações funcionais entre o desempenho e os reforçadores que o mantém. 50 ■ Terapia Comportamental Além disso, considerando-se novamente a imediaticidade como uma variável poderosa, ela pode dificultar a identificação das causas “reais” do comportamen-to a ser analisado. O ambiente social leigo, enquanto comunidade verbal e as prá-ticas terapêuticas mentalistas influenciadas pelo efeito do prazer, tendem a fortalecer explicações que levam o cliente ä relatar o que sente a partir da obser-vação de estados internos como as possíveis causas do seu comportamento.O terapeuta, enquanto analista de comportamento, pode funcionar como facilitador para descrições que diferenciem os dois efeitos, ampliando com isto o repertório de auto-observação do cliente, ou seja, levando-o a relatar como senti-mentos diferentes o estado corporal gerado pelo reforçamento negativo, prazer do tipo alívio e o estado corporal de prazer típico das contingências de Reforça-mento Positivo, como alegria, felicidade ou contentamento. Com isso, ele estará também aumentando o repertório de autoconhecimento do cliente, em especial ao ensiná-lo a identificar e descrever o fortalecimento do desempenho que pro-duziu o reforçador, como o aumento da tendência em se comportar da mesma maneira no futuro, quando condições semelhantes estiverem presentes.Os dois efeitos do reforçamento podem ocorrer como conseqüência de qual-quer comportamento que gere um reforçador, independente da adequacidade do comportamento que o antecedeu ou do tipo de reforçador produzido. “O efeito reforçador de uma conseqüência particular pode ter se desenvolvido sob condições que já não vigoram. Por exemplo, a m aioria de nós é forte-mente reforçada por alimentos salgados ou doces, não porque grandes quan-tidades são atualmente boas para nós, mas porque alimentos salgados e doces foram escassos na história da espécie" (Skinner; 1991, pág. 105). A sensibilidade alterada de um organismo para o reforçamento por eventos com alto valor evolucionário para a espécie humana pode facilitar a instalação e a ma-nutenção de excessos comportamentais com graves conseqüências para a sobrevi-vência do indivíduo. O comer excessivo, o comer compulsivo, distúrbios como diabetes, obesidade, hipertensão podem estar relacionados a essa questão. uPor outro lado, há problemas que se originam do fato de alguns reforçadores nunca terem tido nenhuma vantagem evolucionáriaC..) os efeitos reforçadores do álcool, da heroína, da cocaína e de outras drogas são presumivelmente acidentaisC * J A necessidade intensa de que padecem os toxicômanos é um estado corporal devido a um reforçador anôm alo” (Skinner, 1991, pág. 106). Nesse caso, o efeito de prazer imediato é gerado a partir do uso de uma droga e os efeitos nocivos podem aparecer somente após um determinado tempo, fun-cionando como uma conseqüência aversiva atrasada que, para controlar o com-portamento que a gerou, requer a mediação de uma regra.Assim, as dificuldades comportamentais que evidenciam mais especificamente o efeito do prazer, podem ser modificadas partindo-se da construção de novas regras que descrevam contingências mais favoráveis ao indivíduo e com o uso de técnicas que promovam o autocontrole. Reforçamento Positivo: Principio, Aplicação e Efeitos Desejáveis ■ 51 Por outro lado, os excessos comportamentais que explicitam claramente o efei-to do fortalecimento, tais como padrões de comportamento bem estabelecidos que consomem muito tempo do indivíduo, podem ser modificados a partir de procedimentos que reforcem padrões incompatíveis e/ou ampliem as classes de comportamentos que possam promover Reforçamento Positivo. QUANDO O REFORÇAMENTO POSITIVO PODE DIFICULTAR Guilhardi (2002) afirma existir, pelo menos, três condições relacionadas às contingências de Reforçamento Positivo que dificultam o processo de mudança do cliente: 1. Reforçamento Positivo muito freqüente. “Desenvolve um repertório fraco (os comportamentos entram facilmente em extinção, quando as condições atuais provêem poucos e esporádicos reforçadores positivos ou quando são aumentadas as exigências para obtenção dos reforços), muito sensível àfrus-tração (quando a densidade de reforços positivos cai, a pessoa apresenta reações emocionais perturbadoras para ela e para os que a cercam)(...)”2. Reforçamento Positivo muito infreqüente. “Sob este sistema de contingên-cias, as pessoas têm alta tolerância à frustração. Às vezes, exageradamente alta. Tendem a se mobilizar pouco para a mudança, uma vez que se habitua-ram a suportar condições adversas extremas(...) Mantém os padrões de com-portamento praticamente inalterados, independente das conseqüências aversivas que produzem... Quando entram em contato com contingências reforçadoras significativas ou freqüentes, sentem-se culpadas(...)”3. Reforçamento Positivo não contingente. “Nas relações não contingentes, o com-portamento e o evento que se segue são associados apenas seqüencialmente - primeiro um, depois o outro - e com proximidade temporal, um imediatamen-te após o outro. As relações não contingentes tendem a desenvolver padrões de resposta supersticiosa.(...) Buscam soluções mágicas para suas dificuldades e pouco se empenham em descobrir as possíveis relações entre seu próprio com-portamento e as reações do ambiente que a cercam(...)” (pág. 136). Cada contingência de reforçamento anteriormente descrita requer um proce-dimento específico para alterar a história comportamental gerada e instalar re-pertórios alternativos que possam contrapor os efeitos indesejáveis dessas contingências anteriores. No entanto, a relação comportamento-conseqüência precisa ser alterada através da mudança gradual nos esquemas de reforçamento vigentes nas três condições citadas.Quando o reforço positivo foi muito freqüente na história de vida do cliente, o procedimento indicado pode ser a mudança no esquema de reforçamento pas-sando-o de “quase” reforçamento contínuo para um esquema intermitente, inicia-do com uma densidade média de reforços bastante favorável para reduzir os possíveis efeitos aversivos imediatos, que possam gerar reações emocionais típi-cas de contingências de punição negativa (perda de reforços). 52 ■ Terapia Comportamental Ferster afirma que “a adolescência é o momento em que os esquemas de reforçamento, que prevaleciam para o comportamento da criança, se alteram por-que as práticas da comunidade mudam” (pág. 454).Na clínica, muitas das dificuldades observadas no repertório comportamental do adolescente são produtos do aumento das exigências para obtenção de refor-ços positivos. Além da transição para esquemas com menor densidade de reforços, mudanças repentinas ou drásticas dificultam o fortalecimento de repertórios alternativos. A exposição a outras comunidades sociais além da família, tais como: mudan-ça de escola, novos colegas, convívio com novos parceiros conjugais dos pais se-parados, mudança de cidade etc., também podem enfraquecer a variabilidade comportamental e dificultar a seleção de comportamentos que possam repor os reforços positivos perdidos. Contingências de Reforçamento Positivo pouco freqüentes podem gerar além de um repertório fraco em produzir reforçadores, sugerindo um déficit com-portamental social importante, pouca familiaridade com sentimentos mediados pelo comportamento de outras pessoas que acompanham os reforçadores do tipo afeto, carinho, aprovação, amor. Por outro lado, o Reforçamento Positivo não contingente implica praticamen-te no estabelecimento de relações entre comportamento e conseqüência que não são produzidas naturalmente na vida cotidiana. Sendo assim, os repertórios são construídos partindo-se de relações de contigüidade e se manterão dependentes de um ambiente provedor. As contingências de Reforçamento Positivo são poderosos instrumentos dispo-níveis para promover o bem-estar dos clientes, principalmente, em função da imediaticidade de seus efeitos, em especial daquele que é sentido (efeito do prazer).Portanto, atentar apenas para esse efeito pode gerar repertórios pobres e fra-cos na produção de reforçadores genuinamente prazerosos e com alto valor de sobrevivência para o cliente. Micheletto (1997), ao analisar o fazer humano do ponto de vista de Skinner, afirma: “O problema da busca exclusiva do prazer, por exemplo, é que ele ocorre quando pouca coisa é feita e um comportamento muito simples é reforçado. O fato de culturas ocidentais criarem oportunidade para privilegiar o efeito de pra-zer nas práticas culturais em detrimento do efeito de força tem levado a ‘corrosão das contingências de reforçamento’ (Skinner, 1986, pág. 569), uma vez que as pes-soas perdem a inclinação para agir” (pág. 123). PROMOVENDO OS EFEITOS DESEJÁVEIS DAS CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO POSITIVO . .Nem todo problema pode ser resolvido mediante a aplicação de uma regra, sendo assim, os terapeutas precisam ir um passo à frente e ensinar a seus clien-tes como construir suas próprias regras. Isso significa ensinar-lhes algo sobre a análise do comportamento, uma tarefa usualmente mais fácil do que ensiná- los a alterar seus sentimentos ou estados da mente” (Skinner, 1991, pág. 112). ........... .................. ....................................CAPÍTULO Reforçamento Negativo na Prática Clínica: Aplicações e Implicações M a l y D e l i t t i .. Cá s s ia R o b e r t a d a C u n h a Th o m a z As respostas são, decisivamente, influenciadas por suas conseqüências. Segundo Skinner (1967), as conseqüências de uma resposta podem retroagir sobre ela e, quando isso acontece, alteram a probabilidade de ocorrência futura des-sa resposta.Os eventos que aumentam essa probabilidade são cha-mados de estímulos reforçadores e possuem duas caracte-rísticas definidoras; (a) Um estímulo reforçador deve seguir uma resposta; e (b) Fazer essa resposta ocorrer mais freqüentemente, isto é, ser mais provável no futuro.Skinner (1967) afirma que os eventos reforçadores são de dois tipos. Os reforços que consistem na apresentação de um estímulo pela emissão da resposta são denominados positivos e aqueles que são removidos pela emissão da res-posta são chamados negativos. O termo reforçador, refere- se, então, aos estímulos e a expressão reforçamento faz referência a um processo ou uma operação de fortalecimen-to ou manutenção de uma resposta por um S.O Reforçamento Positivo pode ser entendido como uma re-lação “se... então”, por exemplo: se resposta “X”, reforçador “Y”, se resposta “não X”, não reforçador “Y” Essa noção de contin-gência (seguir-se a...) é fundamental ao conceito de reforçador.No Reforçamento Positivo, a resposta de uma pessoa aumenta de freqüência porque é seguida de um evento que não existia antes. Exemplificando, a resposta de um 56 ■ Terapia Comportamental rato de pressionar a barra é seguida de água no bebedouro ou a resposta de es-tudar de um sujeito é seguida de aprendizagem e boas notas nas provas.Entretanto, grande parte das respostas não é mantida por conseqüências po-sitivas. Encontram-se, também, respostas mantidas por Reforçamento Negativo. O termo Reforçamento Negativo é definido como um procedimento no qual há a retirada ou a evitação de um estímulo aversivo contingente a uma resposta, que aumenta de freqüência posteriormente.Existem, basicamente, dois tipos de operações que se caracterizam como Reforçamento Negativo: fuga e esquiva. Respostas de fuga produzem o fim do con-tato com um estímulo aversivo e respostas de esquiva evitam o contato com esse estímulo. Se estas respostas aumentarem de freqüência no futuro, considera-se que foram reforçadas negativamente.A idéia central a ser esclarecida é a de que o reforçamento sempre significa aumento de freqüência de resposta e que o termo negativo refere-se ao fato de uma resposta específica remover, ou eliminar, um evento aversivo.Na vida, os estímulos aversivos são tão ubíquos quanto as respostas de fuga e esquiva que produzem. Sempre que houver um estímulo aversivo, potencialmen-te ocorrerá alguma resposta que lhe dará término ou o evitará.Procurar a sombra para sair do calor do sol, tomar um remédio para aliviar ador, estudar muito para evitar bronca e punição dos pais e procurar um terapeutapara resolver um problema conjugal, são exemplos de respostas mantidas por Reforçamento Negativo.Especificamente em relação à situação clínica, parece que, freqüentemente, o indivíduo procura um terapeuta porque encontra-se em alguma situação aversiva. Conforme afirma Sidman (1995), uma pessoa mantida principalmente por Reforçamento Negativo, ou seja, que escapa de estímulos aversivos e/ou os evita, acaba tendo suas interações com outras pessoas influenciadas por esse tipo de controle coercitivo, o que poderia alterar sua visão geral da vida. Nesse sentido, além de se observar o controle por Reforçamento Negativo como uma variável relevante da queixa da pessoa que procura a terapia, encontram-se, também, res-postas mantidas por Reforçamento Negativo na história de vida dela e na sua interação com o terapeuta.De qualquer maneira, deve-se investigar o controle vigente em determinada situação pois, segundo Sidman (1995), algumas vezes é difícil dizer qual é o con-trole: Reforçamento Positivo, Negativo ou ambos. Em uma situação de laborató-rio, determinados procedimentos poderiam demonstrar o controle em vigor mas, fora desse ambiente, não é simples saber o que mantém a(s) resposta(s), apesar da importância de se descobrir isso.Uma história de vida caracterizada por controle aversivo leva ao desenvolvi-mento de um repertório de fuga-esquiva e de respostas emocionais decorrentes da punição, como agressão, frustração e ansiedade.Essas respostas emocionais são consideradas efeitos colaterais da punição e, segundo Sidman (1995), freqüentemente, têm significação comportamental con-siderável como os efeitos principais.Um outro efeito colateral da punição é possibilitar, a qualquer sinal de puni-ção, a capacidade para punir por si mesmo. Isso acaba por aumentar, para uma Reforçamento Negdtivo na Prática Clínica: Aplicações e Implicações ■ 57 pessoa, o número de eventos ambientais aversivos, o que tornaria a vida menos satisfatória, uma vez que a pessoa possivelmente irá se deparar com mais estí-mulos que os sinalizam e, por encontrar eventos aversivos com freqüência, aprenderá que é mais seguro ficar quieta e fazer o mínimo possível. Então, o Re-forçamento Negativo pode limitar o repertório comportamental, ao tornar o am-biente coercitivo. Alguns efeitos da exposição a eventos aversivos, conceituados como formas de medo e de ansiedade, envolvem atos de esquiva desnecessários. Assim, o terapeuta não deve desviar a atenção dos eventos observáveis causadores dos es-tados internos e das respostas abertas. Um exemplo característico de Reforçamento Negativo pode ocorrer na interação verbal entre o terapeuta e o cliente, durante a sessão. O terapeuta per-gunta sobre um determinado assunto, que é aversivo para o cliente e esse, ao invés de falar sobre o tema, muda de assunto. Nesse caso, poder-se-á supor que a res-posta do cliente, ao mudar de assunto, talvez tenha sido reforçada negativamente porque ela eliminou a estimulação aversiva de falar sobre aquele assunto. Isto é, se o terapeuta permite que cliente deixe de falar sobre o assunto supostamenteaversivo, a R “mudar de assunto” mudou este S supostamente aversivo e foi, por-tanto, reforçada negativamente. O terapeuta, sabendo que a cessação da estimulação aversiva reforça negati-vamente a resposta, deveria descrever esse tipo de controle para o cliente e expli-car para ele a função da terapia que, nesse caso, não é a de repetir o padrão domundo frente a isso, mas a de, por exemplo, investigar e discutir as contingências consideradas aversivas. Outro padrão de respostas do cliente que indicaria uma estimulação aversiva na relação terapeuta-cliente ocorre quando há faltas e/ou atrasos repetidos, indi-cando uma possível esquiva. Portanto, o terapeuta também deveria descrever a contingência e analisá-la, identificando o evento aversivo presente na terapia, con-forme descrito anteriormente. Em geral, não é a relação com o terapeuta (a interação) a variável aversiva (em ambos os casos), mas o assunto no qual a tera-pia chegou. Então, cabe ao terapeuta propor a análise desse tema na vida do cliente e as alternativas de respostas excluindo as de fuga-esquiva.Uma outra situação clínica na qual aparece o Reforçamento Negativo seria,por exemplo, quando um cliente queixa-se que a situação presente é aversiva. Essase caracteriza quando o cliente, por exemplo, relata que a vida está aversiva, isto é,vários aspectos da vida, como relação com o marido, os filhos e o chefe, são aversivos. Frente a esse tipo de situação, o terapeuta investigaria, em um primeiro momento, como ocorre a relação do sujeito com o mundo. O cliente poderia relatar, por exemplo, suas queixas constantes para o marido, que não dá atenção a ela. Caberia ao terapeuta mostrar que o marido pode não prestar aten-ção porque ela, freqüentemente, se queixa e, a resposta dele (de não ir para casa, por exemplo), pode ser negativamente reforçada pela eliminação do even-to aversivo “mulher reclamando’'. Além disso, poderia mostrar que a resposta de se queixar pode ser reforçada negativamente e que isso não produz uma mudança no mundo (reforçador positivo). Discutiria, então, quais os refor-
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