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Guias e Dicas
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Carisma e Liderança em Seitas Religiosas: Análise de Ellen G. White e a Igreja Adventista, Provas de Música

Este artigo explora o conceito de carisma e liderança em seitas religiosas através de uma análise detalhada do discurso de ellen g. White, fundadora da igreja adventista do sétimo dia. O texto aborda a dinâmica de multidão e exaltação emocional, a importância do líder na formação de identidades e a relação entre carisma e obediência cega. A análise é baseada em textos de lindholm, lauand e outros autores.

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Pele_89
Pele_89 🇧🇷

4.1

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Baixe Carisma e Liderança em Seitas Religiosas: Análise de Ellen G. White e a Igreja Adventista e outras Provas em PDF para Música, somente na Docsity! 105 Revista Internacional d’Humanitats 43 mai-ago 2018 CEMOrOc-Feusp / Univ. Autònoma de Barcelona Religiões e (des)caminhos – a Igreja Adventista do 7o. dia Alexandre Medeiros1 Resumo: Este artigo é o primeiro de uma série na qual pretendemos analisar seitas e fanatismos religiosos: abusos na regulamentação da vida do fiel; exclusão da cultura e do mundo fora da organização; caráter “revelado” absoluto da doutrina do fundador, profetisa ou líder etc.. Palavras Chave: Seitas. fanatismo. abuso religioso. Igreja Adventista do 7º. dia. Ellen Gold White. Abstract: In this article, the first of a series dedicated to examine sects, cults and religious fanaticism: psychological abuse, manipulative behavior, leaders that claim to speak for God etc.. Keywords: Sects. fanaticism. Religious abuse. Seventh-day Adventist Church. Ellen Gold White. Introdução Os descaminhos das seitas religiosas são muitos e variados, mas por detrás das diferenças externas parece haver certas constantes e é sobre elas que versarão nossas análises, a partir de casos concretos: neste artigo pretendo analisar alguns textos da “Profetisa” da Igreja Adventista do 7º. Dia, explorando inicialmente uma visão geral do discurso de Ellen G. White repleto de inimizade com a cultura e com o mundo fora da Seita. Como muito bem mostrou Étienne Gilson, em seu clássico “La unidad de la experiencia filosófica” (1998) as três grandes religiões produzem um espectro de tendências, nas quais sempre há lugar para radicalismos e fanatismos... No caso do Cristianismo, já em torno do ano 200 aparece o patriarca dos fanáticos cristãos, um herege chamado Tertuliano (essa formulação é de S. Tomás de Aquino), não por acaso tido ainda hoje como um dos Pais da Igreja por diversas seitas. Como se trata do paradigma do fanatismo, vale a pena recolher a síntese que faz Josef Pieper (2010, 242-243) Essa falsa doctrina aparece especialmente clara nos escritos montanistas de Tertuliano. A posição ambígua de que Tertuliano goza na história de la Teología de medio-Padre da Igreja faz com que continue sendo, ainda hoje, o antepassado direto e o mais autorizado testimunho desses desvios doutrinais na doutrina da temperanza. Para Santo Tomás, porém, não é mais do que un herege: «... haereticus, Tertulianus nomine». Basta ler os títulos de sus escritos: «Sobre a penitência», «Sobre o uso do véu das virgens», «Sobre os enfeites das mulheres», «Sobre o jejum e a abstinência», «Exortação à castidade», «Sobre os espetáculos», «Sobre o repúdio das segundas núpcias após a morte do cônjuge» [...] Tertuliano separou-se da Igreja, pois não podia tolerar, que o Papa Calisto recibesse de novo no seio da Igreja os pecadores luxuriosos que arrependidos tivessem cumprido a penitência exigida. Comentando a carta do Papa na qual se anuncia esta medida, 1 Especialista em Estudos Teológicos – UNASP; Mestre em Ciências da Religião – UMESP; Doutorando em Ciências da Religião – UMESP; 106 Tertuliano diz que com ela se mancha a Igreja; e que deveria ser publicada não nos templos, mas sim «nos antros do pecado, nas tabuletas dos prostíbulos ». É com Tertuliano que se começa a notar a tendência a legislar sobre os actos externos, principalmente sobre os que têm relação com a castidade: deviam ser marcados dias de jejum e abstinência, deve-se impor o véu às mulheres e às moças, deve-se proibir os cristãos de frequentar os espetáculos. Feita essa introdução, passaremos a analisar alguns textos da “Profetisa” da Igreja Adventista do 7º. Dia. Transitaremos por alguns textos da Profetisa Ellen G White (1827-1915), analisando-os em diálogo com pensadores das áreas da Antropologia, Filosofia, Sociologia e Educação. E cotejando-os, por vezes com o livro de Lauand (2009), sobre os procedimentos “de bastidores” de outra instituição, o Opus Dei, análises que podem, em boa medida, aplicar-se às seitas em geral. Por não comportar nestas poucas linhas todas as facetas deste movimento, exploraremos inicialmente somente uma visão geral do discurso de Ellen G. White, repleto de inimizade com a cultura e com o mundo fora da Seita. 1. Ellen Gold White (1827-1915): Líder Carismática De acordo com Charles Lindholm2 a psicologia tem entendido o líder carismático “como um tipo neurótico” (LINDHOLM, 1993, p. 80). Segundo Lindholm embora o carisma seja pensado como algo intrínseco ao indivíduo, uma pessoa não pode revelar esta qualidade estando isolada. Ela só aparece na interação com aqueles que são por ela afetados. Carisma é, sobretudo, um relacionamento, uma mútua ligação íntima entre o líder e o seguidor [...] Assim que a multidão se aglutina em torno do líder (ou o amante é atraído pelo ser amado), ela assume características particulares de exaltação, desprendimento e intensidade emocional que estão além daquelas da consciência comum dos indivíduos envolvidos, que, em função do sentimento de atração, perdem suas identidades pessoais (LINDHOLM, 1993, p. 19). Ellen G. White estava entre o grupo do advento (Guilherme Miller, batista que pregava a volta de Jesus em 1844) que lutava para reter sua fé e compreender seu desapontamento (depois que Jesus não voltou em 22/10/1844). Foi então que através de visões proféticas recebidas por esta frágil menina, de 17 anos, de Portland - Maine/USA. Ellen Harmon, ela e sua família, foram excluídos da Igreja Metodista, por causa de suas crenças no advento. Embora de saúde débil, em dezembro de 1844, enquanto orava com quatro irmãs adventistas, sentiu o poder de Deus como nunca havia sentido antes, perdendo de vista o ambiente, ela parecia arrebatada acima da terra. Terminada a visão, o mundo lhe parecia escuro, mas logo ela e aqueles a quem relatou sua experiência ficaram convencidos de que Deus escolhera esse meio para consolar e fortalecer seu povo. O movimento foi fortalecido, o ânimo retornou aos que permaneceram fieis. As doutrinas da Igreja Adventista foram elaboradas. Ellen G. White (nome que passou a usar após seu casamento com Tiago White em 30/08/1846), diz que não podia compreender os textos em discussão e os problemas envolvidos. Ela 2 Departamento de Antropologia e Estudos Sociais da Universidade de Harvard. 109 como Tertuliano (160 d.C – 220 d.C), um fruto do maniqueísmo3, enfatizava para o “cristão verdadeiro”: Não irás ao circo, nem ao teatro, nem às competições, não irás ver jogos [...] Feliz o homem que não foi para a assembleia dos ímpios nem foi visto no caminho dos pecadores nem se sentou na cátedra dos grandes trastes (Apud LAUAND, 2003, p. 16). Assim também Ellen G. White (1827-1915) em O Lar Adventista escreve que: Satanás [...] por meio da arte dramática, ele tem operado durante séculos para excitar a paixão e glorificar o vício. A ópera com sua fascinadora ostentação e música sedutora, o baile de máscaras, a dança, o jogo de cartas, Satanás emprega para derribar as barreiras dos princípios, e abrir a porta à satisfação sensual [...] O verdadeiro cristão não desejará entrar em qualquer lugar de divertimento [...] Ele não será encontrado nos teatros, nem nos salões de jogos. Não se unirá com os alegres valsistas nem tolerará qualquer outro sedutor prazer [...] A benção de Deus não poderia ser invocada sobre o tempo gasto no teatro ou na dança [...] Entre os mais perigosos lugares de diversão, acha-se o teatro. Em vez de ser uma escola de moralidade e virtude , como muitas vezes se pretendem, é um verdadeiro foco de imoralidade [...] O único caminho seguro é abster-nos de ir ao teatro ao circo e a qualquer outro lugar de diversão duvidosa [...] Em muitas famílias religiosas a dança e o jogo de cartas são feitos um passatempo familiar [...] Mas todas são passos no caminho da dissipação (WHITE, 2003, p.515-516). Estas mesmas orientações para os adventistas continuam válidas no século 21. O Pastor Ted Wilson, presidente da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em 03 de julho de 2010, enfatizou a importância do dom profético na história do povo de Deus e afirmou que o Espírito de Profecia (Ellen G. White) continua vivo em nossos dias (WILSON, 2010, p. 26). Ou seja, o que ela escreveu deve ser cumprido até hoje. Portanto é vedado aos jovens se divertirem. Em O lar Adventista ela escreve: Sinto-me alarmada ao testemunhar em toda a parte a frivolidade de moços e moças que professam crer na verdade. Deus não parece estar em seus pensamentos. Sua mente está cheia de insensatez. Sua conversação é inteiramente vazia e vã. Eles têm um agudo ouvido para a música, e Satanás sabe que órgãos excitar para animar, absorver e seduzir a mente [...] A introdução de música em seus lares, em vez de incitá-los à santidade e espiritualidade, tem sido um meio de desviar- lhes a mente da verdade. Canções frívolas e peças de música popular [...] parecem compatíveis com seus gostos. Os instrumentos de música têm tomado o tempo que devia ter sido dedicado à oração (WHITE, 2003, 407-408). 3 Maniqueísmo vem de Manes (215 d.C – 276 d.C), “um antigo líder persa que dividia o mundo em luz (espírito) e trevas (matéria). Há dois princípios positivos dos quais tudo decorre: o bem (espírito) e o mal (matéria). Não tardou a que o cristianismo se contaminasse por essa heresia, por assim dizer, permanente” (LAUAND, 2009, p. 14). 110 Segundo Jean Lauand, com esta “divisão irredutível entre dois setores opostos e excludentes: o bom e o mal”, já dá para imaginar “o fascínio reducionista que tal simplificação pode exercer sobre espíritos pouco abertos, de modo especial sobre jovens com insuficiente preparo intelectual”. Somente estes aspectos bem e mal, nós e eles, já “dá conta de alguns aspectos do fanatismo” (LAUAND, 2009, p. 13). Mediante uma total abstinência de leituras frívolas e excitantes (WHITE, 2003, p. 414-415), total abstinência de divertimentos como teatro, música, dança (WHITE, 2003, p.515-516), segue uma pesada carga de obrigações na Igreja: reuniões, programas especiais, cargos e responsabilidades que deixam os membros extenuados. Além de diversos compromissos com a igreja, existe também os compromissos com a organização: treinamentos e programas de capacitação de discípulos. Mesmo cansados, os membros não ousam recusar cumprir suas obrigações, pois como escreveu Ellen G. White em Conselhos sobre Mordomia: Passam para a eternidade os últimos anos de graça. O grande dia do Senhor está-nos iminente. Toda energia que possuímos deve ser agora usada para despertar os que estão mortos em ofensas e pecados [...] O povo de Deus é chamado para uma obra que requer dinheiro e consagração. As obrigações que sobre nós repousam trazem-nos a responsabilidade de trabalhar para Deus até o máximo de nossa capacidade. Exige Ele serviço não dividido, a inteira devoção do coração, alma, espírito e forças. Há apenas dois lugares no Universo onde poderemos colocar nossos tesouros – no celeiro de Deus ou no de Satanás (WHITE, 2001, p. 35). O discurso é enfático: “toda energia que possuímos”. Devemos “trabalhar para Deus até o máximo de nossa capacidade” (WHITE, 2001, p. 35). Como diz Jean Lauand, o excesso de atividades deixa o membro repleto de afazeres e assim, ele não tem tempo para pensar (LAUAND, 2005, p. 24-25 e 31). O membro tem o desejo de cumprir tudo o que lhe é solicitado, aceitar todos os cargos em que for nomeado, comparecer a todas as reuniões e programas da igreja, não faltar em nenhum compromisso da obra, pois gastar toda energia e vitalidade na obra é fazer a vontade de Deus (LAUAND, 2005, p. 79). 3. Seita Adventista: um perigo psicológico. Os membros de Seita estão totalmente alienados da realidade. Centralizam suas vidas num círculo que se resume a trabalho, [...] igreja, colégio da obra [...] e só [...] Vivem numa bolha de vidro, num rol de amizades consideradas as melhores, as mais corretas, são os bons [...] É culpa [da Seita] inculcar na cabeça do membro que o mundo é um antro de gente ruim, que a vida mundana nos afasta de Deus e que a vida longe da Obra não traz felicidade (LAUAND, 2005, p. 57). Emerson Giumbelli4 evidenciou que a Seita “pretende deter a exclusividade da verdade, cultivando em torno disso um elitismo, e uma intransigência característica, 4 Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRS 111 que podem conduzir ao fanatismo”. (GIUMBELLI, 2002, p. 78 e 67). De Acordo com Giumbelli a Seita tem a pretensão ao monopólio da verdade, intransigência e um ambiente que, se revelam necessidades reais por parte dos que são atraídos por esses grupos, criam adeptos que consentem em abdicar de sua liberdade [...] Em uma fórmula: pressão social, manipulação, intolerância, fanatismo, fundados sobre a certeza de deter a verdade revelada, exclusiva (GIUMBELLI, 2002, p. 81). Em Igreja Remanescente Ellen G. White diz: “Sou instruída a dizer aos adventistas do sétimo dia de todo o mundo: Deus nos chamou como um povo para ser um tesouro peculiar para Ele” (WHITE, 2000b, p. 64). No livro Eventos Finais o exclusivismo fica ainda mais evidente, além da criação de uma perseguição fictícia, e de uma atitude intransigente, disposta até mesmo a morrer pela causa. A História se repetirá. A religião falsa será exaltada. O primeiro dia da semana, um dia comum de trabalho que não possui santidade alguma, será estabelecido como foi a estátua de Babilônia. A todas as nações, línguas e povos se ordenará que venerem esse sábado espúrio... O decreto impondo a veneração deste dia se estenderá a todo o mundo [...] A questão do sábado será o ponto controverso no grande final conflito em que o mundo inteiro há de ser envolvido [...] A substituição do verdadeiro pelo falso é o último ato do drama [...] O mundo todo há de ser excitado à inimizade contra os adventistas do sétimo dia, porque eles não rendem homenagem [...] honrando o domingo, instituição desse poder anticristão [...] Quando esta substituição se tornar universal, Deus Se revelará. Ele Se erguerá em Sua majestade para sacudir terrivelmente a Terra [...] Satanás oferece aos homens os reinos do mundo se lhe concederem a supremacia. Muitos fazem isso e renunciam ao Céu. Antes morrer do que pecar; é melhor passar necessidade do que defraudar; melhor passar fome do que mentir (WHITE, 2004b, p. 118-119/124). A construção de um inimigo comum, de uma perseguição fictícia, de uma causa intransigente a ser defendida, e estar preparado até para a morte para defender esta causa, são perigos constantes e preparam os membros para se tornarem fanáticos. “A substituição do verdadeiro pelo falso é o último ato do drama [...] O mundo todo há de ser excitado à inimizade contra os adventistas do sétimo dia [...] Antes morrer do que pecar” (WHITE, 2004b, p. 118-119/124). Como escreve Charles Lindholm, Junto com a transcendência da morte e os sentimentos extasiados de amor desinteressado, que acompanham as relações carismáticas, surgem processos de violência, coerção, delírio e paranoia. Logo, o grupo e o líder não são vistos como saudáveis, mas como fundamentalmente doentes. A partir desse ponto de vista psicodinâmico, presume-se que não só os carismáticos são mais ou menos psicóticos, como também aqueles que sucumbem aos agrados 114 Tomam-se todas as providências para “imunizar” as crianças e jovens contra os ataques do mundo, uma verdadeira “doutrinação infantil” (DAWKINS, 2007, p. 29). Orienta-se para que os filhos sejam levados para as escolas e universidades adventistas. Assim eles “não correm perigo” de deixar a obra. Ellen G. White escreve: “Onde quer que haja alguns observadores do sábado, os pais se devem unir para providenciar um lugar para uma escola em que suas crianças e jovens possam ser instruídos. Empreguem um professor [...] que, como consagrado missionário, eduque as crianças de maneira que os induza a se tornarem missionários” (WHITE, 2000b, p. 34-35). Ela continua. Muito pouca atenção tem sido dispensada à educação de jovens para o ministério. Este era o principal objetivo do estabelecimento do colégio [...] O estudo das Escrituras deve ser o primeiro lugar em nosso sistema de educação [...] De Deus, a fonte da sabedoria, procede todo conhecimento valioso para o homem, tudo quanto a inteligência pode aprender e conservar. O fruto da árvore que representa o bem e o mal não deve ser ansiosamente apanhado [...] Ele [satanás] disse que, se o homem comer desse fruto, saberá o bem e o mal; deixai-o de lado, todavia. O verdadeiro conhecimento não provém de homens infiéis ou ímpios. A Palavra de Deus é Luz e verdade. A verdadeira luz irradia de Jesus Cristo [...] O grande objetivo da educação é habilitar-nos a empregar a religião da Bíblia (WHITE, 2000c, p. 86 e 360-361). Outra inspiração de Tertuliano é o desprezo pela cultura “fora da seita” e a abominação da inteligência extra-seita. Interessante imaginar os jovens (ou adultos) em uma universidade se recusando a ler um livro de matemática ou obra literária, por ser de um autor ateu ou “perigoso” para a doutrina da seita. Ellen G. White diz não para “a leitura de autores ateus”. Para ela, “tais obras são inspiradas pelo inimigo da verdade, e ninguém as pode ler sem fazer perigar a sua alma” (WHITE, 2000c, p. 133- 135). As crianças e jovens só podem estudar nas escolas e universidades da obra, fora isto, estão em perigo. Afinal somente a Bíblia e os livros chancelados pela Casa Publicadora Brasileira (Editora e Gráfica Adventista) são seguros. Somente livros que consagram e edificam merecem seu tempo. Romances e outros temas? É melhor não perder tempo com eles. Pois os leitores de contos frívolos e excitantes tornam-se inaptos para os deveres da vida prática. Vivem em um mundo irreal [...] Antes de aceitarem a verdade presente, alguns haviam formado o hábito de ler romances [...] Cedendo à tentação que sempre os acomete, logo perdem o gosto na leitura sadia. Não tem interesse no estudo da Bíblia. Debilita-se-lhes a força mental [...] Pervertendo-se o espírito, está ele pronto para prender-se a qualquer leitura de caráter estimulante. Assim se acha aberto o caminho para Satanás levar a alma sob seu domínio completo (WHITE, 2003, p. 414-415). O membro não tem escapatória. O membro de uma Seita como esta, tem que pensar 24 horas em temas sublimes. Nada de divertimentos ou frivolidades. Devem estudar nas escolas e universidades da igreja, devem ler somente os livros da igreja (CPB), devem assistir somente programas televisivos da Igreja (TV Novo Tempo), devem frequentar as igrejas de quarta-feira (noite), sábado (manhã e tarde) e domingo (noite), deve dar cursos bíblicos durante a semana, devem frequentar os grupos 115 evangelísticos que acontecem nas casas para arrebanhar novos membros. Fora toda a comunhão pessoal. Não sobra tempo para mais nada. Por falar em tempo, as seitas também controlam ou pretendem controlar a periodicidade (e intensidade) com que os casais se relacionam (sexualmente). Exercem assim controle sexual sobre seus membros. Existe um livro de Ellen G. White Testemunhos sobre conduta sexual, onde ela escreve para os casais: Mesmo homens e mulheres que professam piedade dão rédeas soltas a suas paixões sensuais, e se esquecem de que Deus os considera responsáveis pelo dispêndio de energia vital que lhes enfraquece o suporte da vida e lhes debilita todo organismo [...] Tão miserável é a existência vivida por uma grande classe, que a morte lhes seria preferível à vida [...] sacrificando a existência nessa obra inglória da excessiva condescendência com as paixões sensuais. Todavia por serem casados, julgam não cometer pecado [...] não possuem seu corpo em santificação e honra (WHITE, 2005, p. 110-111). Só podemos atribuir tal controle e destruição da identidade, com técnicas de intensa lavagem cerebral. É tão grande a perda de autonomia sobre a vida, que existem inclusive conselhos racistas que os membros não ousam debater ou discordar. Ellen G. White em Mensagens Escolhidas Vol II escreve: Devemos tratar o homem de cor com o mesmíssimo respeito com que tratamos o branco [...] Mas há uma objeção ao casamento da raça branca com a preta [...] Os filhos desses casamentos mistos têm um sentimento de amargura para os pais que lhes deram essa herança para toda a vida [...] Por esta razão, caso não houvesse outras, não deveria haver casamentos entre raças branca e de cor (WHITE, 2000a, p. 343- 344). Considerações finais Os sociólogos Rodney Stark5 e William Bainbridge6, traçaram alguns tópicos que estão presentes no surgimento das Seitas e Cultos. Eles chamaram de modelo psicopatológico das Seitas (cultos -“cults”): 1) Os cultos são novas respostas culturais a crises pessoais e sociais; 2) Novos cultos são inventados por indivíduos que sofrem de certas formas de doença mental; 3) Esses indivíduos normalmente têm suas novas visões durante episódios psicóticos; 4) Durante episódios como esses, o indivíduo inventa um novo pacote de compensadores para satisfazer suas próprias necessidades; 5) A doença do indivíduo o leva a ter sua nova visão: ou porque suas alucinações parecem demonstrar a verdade, ou porque seus desejos urgentes demandam satisfação imediata; 6) Após o episódio, o indivíduo provavelmente terá sucesso na formação de um culto em torno de sua visão se a sociedade possuir muitas outras pessoas que 5 Sociólogo – Professor da Universidade de Washington. 6 Ph.D em sociologia pela Universidade de Harvard (Pesquisador de sociologia das religiões e cult). 116 sofram de problemas similares aos dele, e a cuja solução, portanto, provavelmente reagirão; 7) Portanto, tais cultos frequentemente têm sucesso em tempos de crise social, quando grande número de pessoas sofre dos mesmos problemas; 8) Se o culto de fato conseguir atrair muitos seguidores, o indivíduo fundador poderá alcançar pelo menos uma cura parcial de sua doença, porque seus compensadores autogerados são legitimados por outras pessoas e porque ele agora recebe recompensas verdadeiras de seus seguidores (STARK; BAINBRIDGE, 2008, p. 203). Ellen White escreveu no livro O Grande Conflito uma justificativa para a crise do não cumprimento da Profecia. Para ela, este foi o marco para o surgimento dos Adventistas do 7º. Dia. Foi o desapontamento que culminou com seu dom profético. A Guilherme Miller e seus cooperadores coube a pregação desta advertência na América. Este país se tornou o centro da grande obra do advento [...] O testemunho das profecias que pareciam indicar a vinda de Cristo na primavera de 1844, apoderou-se profundamente do espírito do povo [...] Alguns pastores puseram de lado suas ideias e sentimentos [...] renunciando seus salários e suas igrejas, uniram-se na proclamação da vinda de Jesus [...] Algumas semanas antes do tempo, as ocupações seculares foram em sua maior parte postas de lado [...] Deus intentara provar o Seu povo. Sua mão ocultou um erro no cômputo dos períodos proféticos [...] Passou-se o tempo de expectação e Cristo não apareceu para o libertamento de Seu povo. Os que com fé e amor sinceros haviam esperado, o Salvador, experimentaram amargo desapontamento [...] Mas Jesus e toda hoste celestial olhavam com amor e simpatia os provados fiéis, embora decepcionados [...] Conquanto ninguém saiba o dia ou a hora de Sua vinda, somos instruídos quanto à sua proximidade, e isto nos é exigido saber [...] O engano fora não na contagem dos períodos proféticos, mas no acontecimento a ocorrer no fim dos 2300 dias” (WHITE, 2004a, p. 368/373/374/371/424). Ellen G. White dizia que neste tempo do desapontamento, ela e os outros seguidores de Miller começaram estudar novamente as Escrituras Sagradas. Quando chegava o ponto que não mais entendiam; “o Espírito do Senhor se apoderava de mim, eu era arrebatada em visão e me era dada uma clara explicação das passagens que estavam sendo estudadas, com instruções sobre como deveríamos trabalhar e ensinar” (Apud SHWARZ; GREENLEAF, 2009, p. 51 e 34; 61-62). O movimento Adventista surge em meio à grande decepção. Um líder religioso surge, dando novo rumo e novas diretrizes para aquele grupo abalado psicologicamente. Todos do grupo acolhem as ideias que aparentemente salvam o movimento. Depois incluem prontamente novas doutrinas que vão sendo geradas. Apesar da volta de Jesus continuar em voga, o grupo se fortalece e vai crescendo focado na restauração do sábado judaico. É por isso que recebem o nome de Adventistas (doutrinas Milleritas) do 7º. Dia (com as novas doutrinas chanceladas pela Profetisa de restauração do sábado judaico – 7º. Dia da semana). Em relação ao aliciamento de novos membros, eles ocorrem em Pequenos Grupos nos Lares (aqui o ambiente é amável, local para se fazer amizades), uma “imersão no amor” (LAUAND, 2005, p. 48) Love Bomb; Restaurantes Vegetarianos de membros da Igreja ou da obra (onde divulgam alimentação adventista, suas revistas 119 PFANDL, Gerard in: Symposium on Revelation - Book II, Editor Frans B. Holbrook, Silver Spring/EUA, Biblical Research Institute, General Conference of Seventh-day Adventist (Artigo de Gerhard Pfandl), 1992 SHWARZ, Richard W; GREENLEAF, Floyd. Portadores de Luz, Engenheiro Coelho/SP: Unaspress, 2009 STARK, Rodney; BAINBRIDGE, William Sims. Uma teoria da Religião, São Paulo/SP: Paulinas, 2008 TIMM, Alberto R. Teologia dos Escritos de Ellen G. White, Palestra apresentada no Concílio Ministerial Mundial da IASD, 29/06/2000, Toronto/Canadá, 2000 WILSON, TED. In Conferência Geral da Igreja Adventista do 7º. Dia – 03/07/2010 – Atlanta/USA (Presidente da Instituição), Revista Mais Destaque, São Paulo/SP, Ano 6, número 33, julho/agosto de 2010. WHITE, Ellen, G. Conselhos sobre mordomia, Tatuí/SP: CPB, 2001 WHITE, Ellen, G. Conselhos aos professores, pais e estudantes, Tatuí/SP: CPB, 2000c WHITE, Ellen, G. Conselhos sobre regime alimentar, Tatuí/SP: CPB, 2002 WHITE, Ellen, G. Evangelismo, Tatuí/SP: CPB, 1997 WHITE, Ellen, G. Eventos finais, Tatuí/SP: CPB, 2004b WHITE, Ellen, G. Igreja Remanescente, Tatuí/SP: CPB, 2000b WHITE, Ellen G. Mensagens Escolhidas Vol II, Tatuí/SP: CPB, 2000a WHITE, Ellen, G. Orientação da Criança, Tatuí/SP: CPB, 1996 WHITE, Ellen, G. O lar Adventista, Tatuí/SP: CPB, 2003 WHITE, Ellen, G. O Grande Conflito, Tatuí/SP: CPB, 2004a WHITE, Ellen, G. Testemunhos sobre conduta sexual, adultério e divórcio, Tatuí/SP: CPB, 2005 120 Bibliografia digital Divisão Sul Americana da Igreja Adventista do 7º. Dia. Estilo de Vida e Conduta Cristã, Documento oficial da Instituição – Formulado em 2012: http://www.adventistas.org/pt/institucional/organizacao/declaracoes-e-documentos- oficiais/estilo-vida-conduta-crista/ - acessado em 07/11/2017 SEITAS, La Tragedia de Waco, Texas/USA: History Chanel, https://www.youtube.com/watch?v=qsPfZT8elPM – publicado em 2016 - acessado em 31/10/2017 – fato ocorreu em 1993 Recebido para publicação em 19-10-17; aceito em 10-11-17
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