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Guias e Dicas
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Revolta da Chibata, Notas de estudo de Atualidades

Revolta da Chibata

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 09/10/2010

ingrid-veras-10
ingrid-veras-10 🇧🇷

4.3

(4)

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Baixe Revolta da Chibata e outras Notas de estudo em PDF para Atualidades, somente na Docsity! O Líder Nascido na então Província do Rio Grande do Sul na cidade de encruzilhada, filho dos ex-escravos João Cândido Felisberto e Inácia Felisberto, apresentou-se na Escola de Aprendizes Marinheiros do Rio Grande do Sul, com uma recomendação de “atenção especial” escrita do Delegado da Capitania dos Portos em Porto Alegre. Esse cuidado devia-se à iniciativa de um velho amigo e protetor de Rio Pardo, o almirante Alexandrino de Alencar, que o encaminhara aquele delegado. Desse modo, numa época em que a maioria dos aprendizes era recrutada pela polícia, João Cândido alistou-se com o número 40 na Marinha do Brasil, em 1894, entrou, como grumete, em 10 de Dezembro de 1895, aos 13 anos de idade, fazendo a sua primeira viagem como Aprendiz de Marinheiro (GRANATO, 2000:7-8, 16). Em 1908 a Marinha Brasileira passa por uma reforma, João Cândido é enviado à Inglaterra para acompanhar a finalização do encoraçado Minas Gerais e entra em contacto com a Marinha Inglesa mais organizada e bem aparelhada do mundo, e conhece uma reunião sindical dos marinheiros ingleses. Foi convivendo com o politizado proletariado inglês, que toma conhecimento do legendário motim dos marinheiros do encouraçado russo Potemkin, ocorrido em 1905, motivado pela má alimentação a bordo. E também das reivindicações dos marinheiros ingleses de 1903 e 1906 por melhores condições de trabalho No Brasil o uso da chibata na marinha brasileira proibido desde 1889 ainda não havia desaparecido dos quadros da marinha sendo praticada de acordo com o julgamento do oficial superior. Depoimento de João Cândido ao jornalista Edmar Morel "Pensamos no dia 15 de novembro. Acontece que caiu forte temporal sobre a parada militar e o desfile naval. A marujada ficou cansada e muitos rapazes tiveram permissão para ir a terra. Ficou combinado, então, que a revolta seria entre 24 e 25. Mas o castigo de 250 chibatadas no Marcelino Rodrigues precipitou tudo. O Comitê Geral resolveu, por unanimidade, deflagrar o movimento no dia 22. O sinal seria a chamada da corneta das 22 horas. As “Minas Gerais", por ser muito grande, tinha todos os toques de comando repetidos na proa e popa. Naquela noite o clarim não pediria silêncio e sim combate. Cada um assumiu o seu posto e os oficiais de há muito já estavam presos em seus camarotes. Não houve afobação. Cada canhão ficou guarnecido por cinco marujos, com ordem de atirar para matar contra todo aquele que tentasse impedir o levante. Às 22h 50m, quando cessou a luta no convés, mandei disparar um tiro de canhão, sinal combinado para chamar à fala os navios comprometidos. Quem primeiro respondeu foi o "São Paulo", seguido do "Bahia". O "Deodoro", a princípio, ficou mudo. Ordenei que todos os holofotes iluminassem o Arsenal da Marinha, as praias e as fortalezas. “Expedi um rádio para o Catete, informando que a Esquadra estava levantada para acabar com os castigos corporais”. Edmar Morel. A Revolta da Chibata Causas Os castigos físicos, abolidos na Marinha do Brasil um dia após a Proclamação da República, foram restabelecidos no ano seguinte (1890), estando previstas: "Para as faltas leves, prisão a ferro na solitária, por um a cinco dias, a pão e água; faltas leves repetidas, idem, por seis dias, no mínimo; faltas graves, vinte e cinco chibatadas, no mínimo." Os marinheiros nacionais, quase todos negros ou mulatos comandados por um oficialato branco, em contato cotidiano com as marinhas de países mais desenvolvidos à época, não podiam deixar de notar que as mesmas não mais adotavam esse tipo de punição em suas belonaves, considerada como degradante. O uso de castigos físicos era semelhante aos maus-tratos da escravidão, abolida no país desde 1888. Paralelamente, a reforma e a renovação dos equipamentos e técnicas da Marinha do Brasil eram incompatíveis com um código disciplinar que remontava aos séculos XVIII e XIX. Essa diferença foi particularmente vivida com a estada dos marujos na Inglaterra, em1909, de onde voltaram influenciados não só pelas lutas dos colegas britânicos, mas também pela revolta dos marinheiros da Armada Imperial Russa, no Encouraçado Potemkin, ocorrida poucos anos antes, em 1905. Revolta em encouraçado brasileiro, 1910. Ainda na Inglaterra, o marinheiro João Cândido Felisberto formou clandestinamente um Comitê Geral para organizar a revolta, que se ramificaria depois em vários comitês revolucionários para cada navio a entrar em motim, e que se reuniam no Rio de Janeiro entre 1909 e 1910. Em 1910 juntou-se a este comitê o marinheiro Francisco Dias Martins, vulgo "Mão Negra", que tinha facilidade para escrever, e tinha ficado famoso por uma carta, sob este pseudônimo, aos oficiais contra a chibata em recente viagem ao Chile. Consequências O presidente Hermes da Fonseca vendo que a revolta dos marinheiros era forte interferiu e pediu a entrega das armas, com a promessa de que os marinheiros não sofreriam represálias. Os marinheiros confiaram no presidente, entregaram as armas e os navios rebelados, mas com o término do conflito o governante não cumpriu com a sua palavra e baniu alguns marinheiros que haviam feito parte do motim. Os marinheiros não se omitiram diante deste fato, estourando outro levante na Ilha das Cobras, o qual foi severamente abafado pelas tropas do governo. Muitos marujos morreram, outros tantos foram banidos da Marinha. Quanto a João Cândido, foi aprisionado e atirado em um calabouço na Ilha das Cobras. Quando se livrou da prisão, encontrava-se emocionalmente amargurado, considerado até mesmo meio alucinado. Em 1912 ele foi julgado e considerado inocente. Historicamente ficou conhecido como o Almirante Negro, aquele que aboliu o uso da chibata na Marinha brasileira. Homenagem de João Bosco e Aldir Blanc à "Revolta da Chibata" Sobre a censura à música, o compositor Aldir Blanc conta: "Tivemos diversos problemas com a censura. Ouvimos ameaças veladas de que a Marinha não toleraria loas e um marinheiro que quebrou a hierarquia e matou oficiais, etc. Fomos várias vezes censurados, apesar das mudanças que fazíamos, tentando não mutilar o que considerávamos as idéias principais da letra. Minha última ida ao Departamento de Censura, então funcionando no Palácio do Catete, me marcou profundamente. Um sujeito, bancando o durão, (...) mãos na cintura, eu sentado numa cadeira e ele de pé, com a coronha da arma no coldre há uns três centímetros do meu nariz. Aí, outro, bancando o "bonzinho", disse mais ou menos o seguinte: • Vocês não então entendendo... Estão trocando as palavras como revolta, sangue, etc. e não é aí que a coisa ‘tá’ pegando... • Eu, claro, perguntei educadamente se ele poderia me esclarecer melhor. E, como se tivesse levado um "telefone" nos tímpanos, ouvi, estarrecido a resposta, em voz mais baixa, gutural, cheia de mistério, como quem dá uma dica perigosa: - “O problema é essa história de negro, negro, negro...”
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