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A Presença da Televisão no Cotidiano Social: História e Impacto na Sociedade Brasileira, Notas de estudo de Relações Públicas

Este texto apresenta aspectos históricos sobre as relações entre as transmissões televisivas e nossa vida social, abordando os múltiplos significados alcançados pela influência da televisão na formação da nossa identidade cultural e capacidade comunicativa. O artigo reflete sobre as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais no brasil e o papel da televisão nessas mudanças. A história da televisão no país é discutida, desde sua primeira transmissão em 1950 até a consolidação na década de 60 e a mudança radical na relação entre a televisão e os receptores na década de 80.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Wanderlei
Wanderlei 🇧🇷

4.5

(131)

383 documentos

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Baixe A Presença da Televisão no Cotidiano Social: História e Impacto na Sociedade Brasileira e outras Notas de estudo em PDF para Relações Públicas, somente na Docsity! Sobre a Televisão – reflexões históricas Cenários da Comunicação Carlos Bauer Mestre e Doutor em História da Economia - USP; Professor de Comunicação Social na UNIABC e UNINOVE ‘Ser, dizia, Berkeley, é ser percebido’. Para alguns de nossos filósofos (e de nossos escritores), ser é ser percebido na televisão, isto é definitivamente, ser percebido pelos jornalistas, ser, como se diz, bem-visto pelos jornalistas (o que implica muitos compromissos e comprometimentos) – e é bem verdade que, não podendo se fiar muito em sua obra para existir com continuidade, eles não têm outro recurso senão aparecer tão freqüentemente quanto possível no vídeo, escrever, portanto, a intervalos regulares, etão breves quanto possível, obras que, como observa Gilles Deleuze, têm por função principal assegurar-lhes convites na televisão. Foi assim que a tela de televisão se tornou hoje uma espécie de espelho de Narciso, um lugar de exibição narcísica. (Pierre Bourdieu) Apresentamos, neste breve artigo, alguns aspectos históricos sobre as relações das transmissões televisivas e nosso cotidiano social. Trata-se de uma excelente oportunidade de refletirmos sobre os múltiplos significados alcançados pela inegável influência da televisão na formação de nossa identidade cultural e capacidade comunicativa, o que vem dando repercussão a estes temas tanto nos ambientes acadêmicos, quanto, principalmente, nos meios de comunicação de massa. Ainda mais quando temos a oportunidade de concordar com diferentes teóricos da comunicação, quando dizem, invariavelmente, que a comunicação expressa relações e trocas simbólicas ao nível pessoal, grupal e da sociedade como um todo. No que diz respeito às áreas acadêmicas que gravitam em torno da Comunicação Social – cursos de Publicidade e Propaganda, Rádio e TV, Cinema, Relações Públicas – esta temática é considerada de extrema importância. Afinal, sãoCenários da Comunicação 28 debates políticos, teatro e música ao vivo para dentro das casas de milhões de telespectadores. Podemos dizer que se operou uma revolução no comportamento cotidiano do brasileiro, principalmente o das grandes cidades, pois, no início, só nelas é que havia transmissão. Marcou época, nos primórdios da televisão brasileira, a apresentação do Sítio do Pica-pau Amarelo, inspirado na obra homônima do renomado e polêmico Monteiro Lobato. Esse programa foi extremamente popular, reeditando o sucesso dos livros do escritor entre 1930 e 1940. No momento exato de sua implantação, a televisão iria atingir um público recém-chegado dos ambientes rurais e formá-lo dentro dos padrões urbano-industriais modernos. Tratava-se de uma socialização profundamente nova, em termos de Brasil, e que mudou radicalmente a imagem que o país tinha de si mesmo. Numa perspectiva histórica, podemos dizer que a década de 60 marcou a consolidação da televisão no país como um meio de comunicação destinado a atingir os mais diversos segmentos da população brasileira. Segundo os apontamentos e observações feitas pelo professor Ciro Marcondes Filho (1994), da ECA-USP, essa fase vai prolongar- se até a década de 1970, em que especialmente a Rede Globo de Televisão assume a liderança absoluta e inquestionável da audiência. Principal beneficiária da introdução de um sofisticado sistema de produção e distribuição, da ampliação dos meios de reprodução de seus sinais pelo país inteiro e de uma filosofia nitidamente empresarial, caracterizada pela introdução de princípios de rentabilidade e eficiência até então desconhecidos, pode-se dizer que, conforme nos explica Marcondes Filho, a linguagem da televisão nasce aqui e, agora sim, a televisão amadurece: deixa de ser um meio de Ce ná rio s d a Co m un ic aç ão 31 comunicação que apenas dá uma nova roupagem às peças teatrais, ao humor radiofônico, ao jornal, para ser um sistema que cria sua própria forma de dizer as coisas. Este primeiro momento da história da televisão é o que coincide também com a polêmica em relação aos usos e abusos, o que pode ser atribuído ao controle privado dos meios de comunicação. De fato, conta-nos Marcondes Filho (op.cit.), é no final da década de 60 e especialmente no início dos anos 70 que aparecem os grandes questionamentos a respeito da magnitude da televisão e dos perigos sociais que dela podem advir. Constituem-se, particularmente em nosso país, as teorias críticas em relação à televisão, que falam da massificação da sociedade, do controle da opinião pública, da industrialização das culturas populares, e estas, por influência da televisão, vão se tornando cada vez mais padronizadas. Sobre esse processo de homogeneização da vida social, o cinema de Cacá Diegues produziu uma obra de inestimável valor: Bye-Bye Brasil. Estávamos diante de um cenário em que a televisão começava a ser vista como um grande inimigo público de toda a sociedade. Atacavam-se os donos das emissoras por serem proprietários de um grande sistema nacional de divulgação de opiniões e informações, que poderia comprometer a democracia, dada a sua grande capacidade de manipular as opiniões e movimentar amplos setores da população para favorecer a si ou a seus apaniguados. A crítica à televisão, baseada nesse princípio, tem a ver, portanto, com toda uma época. Vivia-se um momento político e ideológico, na passagem dos 60 aos 70, em que a própria sociedade também vivenciava intensamente, em todas as esferas da vida social, o debate ideológico, fortemente marcado pelos conflitos eCenários da Comunicação 32 desdobramentos da chamada Guerra Fria. É interessante notar que, no Brasil, nesse momento, as forças políticas oposicionistas voltavam-se contra o monopólio da televisão, levantando reivindicações democráticas como a concessão de canais de comunicação a outras entidades sociais, grupos de pressão ou associações de classe. Em plena vigência da ditadura militar, tratava-se de identificar que a bandeira de democratização dos usos da comunicação, por si só, provocaria um equilíbrio democrático na sociedade. A partir da década de 80, assistimos a uma mudança extraordinária na relação que a televisão passou a ter com os receptores e à transformação do próprio sentido da televisão para a sociedade em geral. Nessa fase – chamada de segunda por Ciro Marcondes Filho – desapareceram os juízos que haviam sido feitos a partir da implantação da televisão, ao mesmo tempo em que esta, como meio de comunicação, impunha-se de forma plena e absoluta. Em sua nova fase, a televisão se coloca na posição de domínio total do mercado de informações, modificando a relação com seu público, assim como a maneira de produzir seus programas. A nova época é marcada pela fragmentação, dispersão e atomização do controle do sistema televisivo. Esse fenômeno aconteceu inicialmente na Europa e na América do Norte, pela utilização dos novos sistemas eletrônicos e de sua aplicação na televisão, e chega ao Brasil tardiamente no fim dos anos 80. Agora temos, na verdade, a utilização de sofisticados sistemas eletrônicos que possibilitam a existência de múltiplos emissores de comunicação, de múltiplas mensagens e o fim daquilo que servia de base á época anterior – o monopólio em torno de um único transmissor. Ce ná rio s d a Co m un ic aç ão 33 aparelhos receptores instalados no mundo), de acordo com dados publicados pela revista Mercado Global, da Superintendência Comercial da Rede Globo. Hoje, existem, ao todo, 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas) no país e 2624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais recebidos). Isso sem contar as dezenas de operadoras de canais por assinatura. Recentemente, verificou-se uma impressionante disseminação de transmissão de sinais televisivos por cabo ou por meio de satélites sofisticadíssimos. Trata-se do fenômeno das TVs pagas e por assinatura, que ampliou, como nunca antes imaginado, o acesso do telespectador a todo e qualquer tipo de tema ou assunto desejado. Tudo indica que, em breve, tanto as empresas televisivas convencionais (TV aberta) quanto as por assinatura estarão trabalhando diretamente com os mais sofisticados provedores da Internet, tornando, assim, a influência da televisão no meio social bem maior do que já é. Evidentemente, a televisão exerce poderosa influência em todo o processo de nossa formação cultural. Reflete, recria e difunde o que se tornará socialmente importante, seja os acontecimentos rotineiros (processo de informação), seja o processo de formação do imaginário. A TV é a grande contadora de histórias, principalmente por meio das telenovelas, que preenchem o cotidiano das pessoas, na maioria dos casos, de forma mais rica, densa e emocionante do que a própria vida. Sobre está temática, Ciro Marcondes Filho (1994:08) observa que assistir à televisão é um hábito ligado a fatos muito antigos na história das sociedades humanas. Tem a ver com a experiência doCenários da Comunicação 36 homem de olhar objetos, cenas, a natureza e buscar por meio disso algum tipo de resposta, satisfação, distração, conhecimento. Hoje, é a televisão que funciona em primeiro lugar para dar estas respostas ao homem que diante dela se senta. Mas outrora eram outros os meios que possibilitavam esse tipo de informação. Por isso, falar de televisão remete a que se fale antes de outra coisa, bem mais antiga que ela, que é a própria imagem, a forma de o homem representar as coisas que deseja por intermédio de símbolos, sinais, traços, marcas e toda uma série de elementos visuais. Desde que aprendeu a caminhar, o homem baseia-se na visão para assegurar-se de seu meio ambiente e decidir a direção a tomar. Os outros sentidos informam-lhe sobre o ambiente, ao redor, mas é a visão, de qualquer maneira, o sentido mais preciso para sua orientação, como nos esclarece Marcondes Filho (1994:08): as imagens, quando construções mentais, fazem uma espécie de contraponto À prática de vida. São uns tipos de porta para outra dimensão, a dos sonhos, dos desejos, das fantasias. É uma dimensão que não está diretamente presente na vida das pessoas mas tem a ver com suas idéias e aspirações. É tão ou mais importante que a dimensão do dia-a-dia, já que enquanto essa vivência concreta do trabalho, do contato com outras pessoas, do lazer, das férias, da escola está marcada pelo agir regular, repetitivo, continuado, portanto mecânico de vida, a Ce ná rio s d a Co m un ic aç ão 37 dimensão das imagens (ou melhor: o imaginário de cada um) está ligado ao sentido do futuro, da criação, das buscas, daquilo que dá o élan à vida, aquilo que dá impulso para as pessoas irem ã frente, batalharem, avançarem. As imagens, portanto, nunca são gratuitas nem estão sozinhas. Quando aparecem para que o homem as veja, servem de meio de ligação com outro mundo, que é o imaginário da sociedade. E é neste espaço que se situa a televisão, assim como também, no passado, a pintura, a fotografia, o cinema – em suma, todas as formas de representação de mundo marcadas pela imagem. Esta avassaladora presença no cotidiano social manifesta a força da televisão, que se representa e se apresenta como um modo de vida ideologicamente desejável e desejado, colocado ao alcance de todos, a responder às necessidades e expectativas percebidas como reais. Diante dessa fascinação e da aparente neutralidade e transparência da televisão, temos que produzir um discurso crítico que possa permitir uma melhor compreensão de suas potencialidades societárias, ou seja, temos de ser capazes de produzir uma televisão como uma instituição também comprometida com a edificação e consolidação dos valores éticos mais elementares, valores estes fundamentais para que possamos superar a perversidade das lógicas racistas, excludentes, discriminatórias e tantas outras que nos afastam da possibilidade de instaurar um cotidiano social assentado na dignidade humana. Partindo dessas premissas, não é de outra forma, portanto, que devemos refletir tanto sobre a história da televisão no Brasil quanto sobre o significado de sua crescente capacidade deCenários da Comunicação 38 Referências bibliográficas BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Seguido de: A influência do jornalismo, e, Os Jogos Olímpicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. BUCCI, Eugênio. Brasil em tempo de TV. São Paulo: Boitempo, 1997. MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão. São Paulo: Scipione, 1994. Ce ná rio s d a Co m un ic aç ão 41 Cenários da Comunicação
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